Goiânia, 07 de novembro de 2005.

AS MÚLTIPLAS FORMAS DE VIOLÊNCIA NO TRABALHO DE ENFERMAGEM

Aldenan Lima Ribeiro Corrêa da Costa

Maria Helena Palucci Marziale

Pesquisa qualitativa realizada com o objetivo de apreender e analisar as formas de violência operantes no trabalho de enfermagem em um serviço de emergência e urgência clínica de Mato Grosso com 1200 trabalhadores, dos quais 400 são de enfermagem e desses, 42 são escalados nos 03 turnos de trabalho do setor pesquisado. Os dados foram colhidos por observação participante, entrevista e análise documental, no período de março a outubro de 2003 junto a 10 enfermeiras(os), 3 técnicas(os), e 3 auxiliares de enfermagem, Durante esse período observou-se no setor investigado o atendimento de 45. 318 pessoas, sendo 646 (2%) doentes graves e dos quais 336 (52%) morreram. A média diária de atendimentos foi de 249 pessoas, sendo que, aproximadamente, 3 a 4 delas exigiram ressucitação cardíaca e cuidados intensivos. A análise dos dados foi organizada tematicamente conforme orientação de Bardin (1977) e respaldada teoricamente por autores da corrente de estudos marxistas, da psicopatologia do trabalho, da filosofia, da sociologia e da enfermagem. Quatro grandes temas foram evidenciados: a organização do trabalho, das palavras aos atos técnicos – as racionalidadees operantes, o espaço/lugar do trabalho na dinâmica da violência e o tempo no trabalho. Constatou-se que a violência no contexto de trabalho de enfermagem em emergência e urgência clínica opera por duas vias distintas: estrutural/institucional e comportamental/relacional se explicitando em quatro tipos de violência: estrutural, manifesta na imposição de sobrecarga física e mental aos trabalhadores; repressiva, evidenciada na negação do direito de exercer com segurança as atividades assistenciais e a um ambiente de trabalho seguro; alienação, explicitada pela obstaculização aos trabalhadores de usufruir o prazer de uma realização profissional competente, eficaz e de ser valorizados socialmente junto aos usuários e a sociedade; e clássica, revelada nas agressões físicas e verbais de membros da equipe de saúde e de usuários. Esses quatro tipos de violência desencadeiam e perpetuam “violências menores”: práticas profissionais traumatizantes, omissões, negligências, imperícias, atendimento fragmentado, informações parciais ou negadas, indiferença ao sofrimento e a dor, baixa auto-estima, dentre outras. As “pequenas violências” cotidianamente praticadas, por sua vez apóiam e fortificam as grandes violências estruturais e comportamentais, numa circularidade viciosa.

Correspondência para: Aldenan Lima Ribeiro Corrêa da Costa, e-mail: aldenan@yahoo.com.br