Goiânia, 07 de novembro de 2005.

O SER E O SENTIR-SE CUIDADORA NO DOMICÍLIO

Alda Martins Gonçalves

Roseni Rosângela de Sena

Carla Mendes Queiróz

Fernanda Ourives Barreto

O presente estudo origina-se do projeto de pesquisa “O cuidado domiciliar: o trabalho do cuidador informal e profissional”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Ensino e a Prática de Enfermagem - NUPEPE. O trabalho apresenta as percepções de cuidadoras domiciliares a respeito do que é ser cuidadora e os sentimentos relacionados à prática do cuidado. Justifica-se pelo crescente número de cuidadores no Brasil nas últimas décadas, devido ao processo de desospitalização. O objetivo consiste em compreender o significado de ser cuidadora, segundo a percepção dos cuidadores que exercem esse papel no domicílio e os sentimentos dos mesmos relacionados às atividades cuidativas. Estudo descritivo exploratório, de abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada em Contagem - MG. Foi aplicado o Índice de KATZ a 305 usuários que recebiam cuidados no domicílio. Após aplicado o índice, foram incluídas na pesquisa, como sujeitos, 32 cuidadoras domiciliares. Para coleta de dados foram realizadas três visitas domiciliares. No primeiro contato, realizou-se a entrevista para apreensão do cuidado e o sujeito foi orientado sobre o preenchimento do Diário do Cuidador, onde poderiam descrever suas atividades, sentimentos e dificuldades para desenvolver o cuidado no domicílio. A segunda visita foi realizada 15 dias após a primeira para esclarecer dúvidas da cuidadora e estimulá-la nas anotações diárias. Na terceira visita, 60 dias após a primeira, realizou-se outra entrevista, na qual a cuidadora relatou a experiência do uso do Diário do Cuidador, e os mesmos foram recolhidos. A análise dos discursos e diários revela que, segundo os sujeitos, é essencial ser gentil, paciente, carinhosa e sensível para ser cuidadora. As percepções sobre ser cuidadora envolvem espiritualidade e religiosidade e desempenhar esse papel requer responsabilidade e conhecimento. Algumas, porém, não souberam definir o que é ser cuidadora. Os depoimentos mostram que elas sentem-se contentes, satisfeitas e úteis por cuidar de uma pessoa que demanda cuidados. Entretanto, algumas revelam momentos de depressão e estresse em relação a ser cuidadora. Os dados colaboram na compreensão do cotidiano das cuidadoras com um papel social que desempenham como complementar aos serviços de saúde. Conclui-se que deve haver uma aproximação entre a Equipe de Saúde da Família e a cuidadora, a fim de valorizar o trabalho que ela realiza e ajudá-la a prevenir agravos à saúde, como a exaustão física e mental.

Correspondência para: Alda Martins Gonçalves, e-mail: alda@enf.ufmg.br