Goiânia, 07 de novembro de 2005.

PROCESSO DE DESGASTE: O ENTARDECER PRECOCE DAS ENFERMEIRAS

Anialcy Barbosa Faria

José Helder Alves Aragão

Algumas profissões, dentre elas a enfermagem, trazem sobre si o estigma da sensualidade. Embora alguns autores apontem algumas vertentes para tais motivações, acredita-se que algumas relacionam-se ao toque, à capacidade de desnudar os corpos, ao seu contingente ser majoritariamente feminino, dentre outras. A enfermagem é por excelência uma profissão feminina, no entanto as mulheres que fizeram parte de sua história, nem sempre foram protótipos de beleza. Algumas eram idosas e o seu cuidar era semelhante ao dos antigos xamãs, ou seja, empírico e mesclado de religiosidade. Embora, com um perfil histórico tão peculiar, é difícil acreditar que a enfermeira, ainda povoe o imaginário masculino, já que é uma profissão que promove desgaste físico e mental de suas profissionais. Enfermeiras levantam peso, caminham longas distâncias, passam a maior parte do tempo em pé, possuem mais de um emprego e lidam com doentes. Este estudo objetivou-se a identificar nos discursos das enfermeiras, com mais de dez anos de atuação, processos de desgaste em virtude de suas atividades profissionais. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa do tipo explicativo. Utilizou-se um questionário contendo quatorze perguntas abertas. A amostra constou de vinte enfermeiras que atuam em dois hospitais da rede pública do Rio de Janeiro. Os dados coletados foram categorizados e analisados a partir dos pressupostos de Bardin para análise do discurso. Foram encontradas as seguintes categorias para análise: opiniões sobre a sensualidade na enfermagem; relação entre desgaste físico e a profissão; problemas de saúde atuais, cuidados e descuidados com a saúde. O referencial teórico que deu suporte a análise foram os pressupostos de Dejours, Silva e Pitta para as relações no trabalho além de Taylor e Fayol para caracterizar o processo mecanicista da profissão. Os resultados apontaram que a maioria dos enfermeiros não concordam que a profissão possui uma mística ligada ao imaginário masculino; relacionam o desgaste físico à profissão. As patologias mais freqüentes foram as ligadas ao aparelho cárdio-vascular e músculo-esquelético, além de casos de depressão. Embora a amostra tenha sido colhida em hospitais diferentes observou-se que não houve respostas díspares dos grupos. Percebe-se que estas profissionais carecem de estruturas de apoio bio-psico-sociais em suas instituições, além de reconhecimento, e bons salários para minimizar o excesso de trabalho.


Correspondência para: Anialcy Barbosa Faria, e-mail: anyfaria@predialnet.com.br