Goiânia, 07 de novembro de 2005.

HIV/AIDS NA GESTAÇÃO: VULNERABILIDADE CONJUGAL E CONFLITO

Anamaria Ferreira Azevedo

INTRODUÇÃO: As teorias da bioética crítica apontam o enfrentamento das desigualdades sociais como identidade e perspectiva da disciplina. A desigualdade de gênero envolve conceitos de poder, autonomia humana e justiça e é visibilizada no contexto da aids por fatores de vulnerabilidade especialmente para gestantes e gerações futuras. A conjugalidade como palco de conflitos e negociações espelha a diversidade moral e se mostra como campo fértil para este estudo. OBJETIVO: Investigar a vinculação entre desigualdade de gênero e a vulnerabilidade conjugal da gestante com HIV/AIDS. MÉTODO: Estudo qualitativo a partir de entrevista aberta com quatorze casais em que a gestante é diagnosticada com infecção pelo HIV/AIDS, realizado entre julho de 2003 e 2004 em Brasília, utilizando-se da técnica de análise de conteúdo. RESULTADOS: 1. Categorias das mulheres: Trajetória de vida conturbada; Relacionamento conjugal: eu tinha esse sonho; Doença: tenho até medo de pensar; Gestação que dói; Família, valores e opiniões; Religiosidade e cura; Falta de apoio e informações. 2. Categorias dos homens: Vida Difícil; Doença da companheira: como vai ser?; Doença do casal: a vida tem que continuar; Segurança X insegurança no relacionamento; Preocupação com a gestação e o filho; Valores e opiniões sobre a mulher: colocar um filho no mundo. CONCLUSÕES: A gestante com HIV é vulnerável pela desigualdade de gênero que marca sua trajetória e situação de vida atual. Observam-se padrões já estabelecidos: amor romântico, ideal da maternidade, vivência do projeto do homem pela mulher implicando em baixa autonomia e pouco cuidado consigo. A eticidade feminina segue o padrão da responsabilidade como cuidadora dos filhos e do companheiro com pouco retorno para si. No entanto, manifestam desejo de mudanças. A gestação é marcada pela pressão e pouco vivenciada no cotidiano de crise. Há ambivalência no casal sobre o direito de ter filhos. O homem também é vulnerável em relação aos seus padrões morais e na situação de doença e para os casais sorodiscordantes, ele oscila entre o papel de julgador moral e a solidariedade. A vivência da doença confronta as divergências do casal ou aumenta sua cumplicidade contribuindo para reflexão e reorganização, individual ou conjugal. O estudo reorienta estratégias de atenção em saúde, que incluam o casal nesta situação, sob uma perspectiva de gênero, assim como sugere o aprofundamento de estudos sobre a vulnerabilidade masculina e o amor no contexto da aids.

Correspondência para: Anamaria Ferreira Azevedo, e-mail: anamfa@brturbo.com.br