Goiânia, 07 de novembro de 2005.

REFLEXO DA VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

Isabela Silva Câncio Velloso

Meiriele Tavares Araújo

Marília Alves

Adelaide de Mattia Rocha

A violência pode ser entendida como um fenômeno biopsicossocial definido a partir das relações de forças em uma determinada sociedade. A nova organização do trabalho em saúde, com a criação dos Programas de Saúde da Família, propiciou maior aproximação dos trabalhadores com a realidade cotidiana da população. Assim, a problemática da violência vivenciada pelas comunidades ganhou nova dimensão e maior visibilidade para os trabalhadores, que passam a ser atingidos, ainda que indiretamente, pelos problemas e realidades da população com a qual trabalham. Este estudo busca compreender a percepção dos profissionais de saúde sobre o reflexo da violência em uma Unidade Básica de Saúde. Trata-se de um estudo qualitativo realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas com trabalhadores de Equipes de Saúde da Família (ESF). O Cenário escolhido foi uma Unidade Básica de Saúde do Distrito Sanitário Oeste de Belo Horizonte, próximo a um aglomerado com altos índices de violência. As entrevistas foram submetidas à análise de discurso, com leitura exaustiva dos textos para apreensão das estruturas de relevância. Os resultados mostram o reconhecimento do risco a que estão expostos os profissionais, principalmente nas visitas domiciliarias, embora o risco exista, também, no trabalho cotidiano na unidade de saúde. Acreditam no reconhecimento, apoio e proteção da ESF pela comunidade no desenvolvimento de suas atividades, embora sejam insuficientes para conter o risco em determinadas situações. Os entrevistados apontam estratégias de enfrentamento das dificuldades pelos trabalhadores, tendo em vista que continuam trabalhando mesmo estando apreensivos, contam com o fator sorte para levar a termo o trabalho, interrompem as visitas domiciliarias em situações extremas de tiroteio, os trabalhadores mais qualificados evitam realizar visita domiciliária e, na Unidade Básica, em situações extremas, priorizam o atendimento de pessoas que colocam em risco profissionais e usuários. Nesse sentido, o poder instituído das ESF se defronta com uma outra forma de poder paralelo, cujas regras e objetivos são distintos e opostos: o primeiro visa a manutenção da saúde da população e o segundo visa a sustentação do poder de grupos específicos, independente dos métodos adotados. Assim, a violência social dificulta a construção de vínculos e práticas associativas na comunidade, limitando o campo de atuação das ESF, que necessitam desenvolver estratégias e definir prioridades de atendimento.

Correspondência para: Meiriele Tavares Araújo, e-mail:

meirieleta@yahoo.com.br