Goiânia, 07 de novembro de 2005.

CUIDADO DOMICILIÁRIO E PESSOA COM DEFICIÊNCIA: A INTEGRALIDADE NAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM – UM ESTUDO DE CASO

Wiliam César Alves Machado

Leandro Dias Gonçalves Ruffoni

Patrícia do Carmo Mello

Ana Paula Scramin

Maria de Fátima de Souza

Grazielle Lima Araújo

INTRODUÇÃO: Não é de hoje que os serviços públicos de saúde no Brasil, além de não disporem de recursos humanos e materiais suficientes para prestar atendimento digno e de boa qualidade à população, reafirmam uma estrutura que compromete sobremaneira as necessidades de cidadãos e cidadãs das classes sociais menos favorecidas, seja em decorrência da controversa alocação dos escassos investimentos aplicados pelos governos federal, estaduais e municipais no setor, seja pelo destinamento tendencioso na aplicação do disponível para fins políticos e assistencialistas. Com o agravante de esses serviços também se caracterizarem pela falta de articulação entre eles, impondo imensas barreiras atitudinais, comunicacionais, programáticas e arquitetônicas, associadas a uma variedade de exigências questionáveis que restringem ainda mais a possibilidade de as pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida deles fazerem uso quando precisam. Conjuntura adversa ao princípio da integralidade dimensionado às práticas de saúde, conforme dispõe a Constituição da República. Acreditando que nossas intervenções para cuidar no âmbito da comunidade representam formas de conquistar credibilidade das pessoas, e, consequentemente, de ampliar a compreensão da sociedade acerca de nossas funções sociais, representadas por um conjunto de ações indissociáveis ao compromisso de interagir com os clientes para lhes prestar cuidados eqüitativos, partimos do princípio que é fundamental atuar junto de quem necessite, onde quer que esteja, nesse caso, investindo para proporcionar melhor qualidade de vida e saúde aos deficientes que vivem numa comunidade vizinha ao nosso campus universitário. OBJETIVO: discutir as dificuldades cotidianas enfrentadas pelo enfermeiro na prática do cuidado domiciliário junto às pessoas com deficiência e de poucos recursos, tendo em vista a integralidade como perspectiva capaz de articular os serviços públicos e de saúde disponíveis na sociedade, com enfoque nas intervenções clínico-sociais e educativas no âmbito da enfermagem. METODOLOGIA: A presente investigação é de cunho descritivo e exploratório do tipo estudo de um único caso, referente a uma pessoa com deficiência e de poucos recursos, residente na Comunidade de Granjas Bethânia, na cidade de Juiz de Fora - MG, cadastrada na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Parque Guarani, responsável pelo atendimento e acompanhamento dos moradores de Granjas Bethânia. A coleta dos dados ocorreu no período de 2 agosto a 18 de outubro de 2004, após consentimento do cliente e família. Para preservar a identidade do cliente participante da pesquisa, decidimos atribuir a ele apenas a letra G, a primeira letra de seu nome. O projeto deste estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, tendo sido observados os preceitos éticos e legais, conforme as normas de pesquisas com seres humanos estabelecidas na Resolução Nº 196/96, do Ministério da Saúde. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados reportam a um diário de campo, especialmente criado para registro das visitas em seu domicílio e nos acompanhamentos externos, observação participante do pesquisador e equipe, além dos registros nas fichas de atendimento da UBS. RESULTADOS: Referem-se ao que foi alcançado para melhoria da condição de vida e saúde do Sr. G, a despeito de a sua família pouco haver se mostrado envolvida no processo de educação e orientação para o autocuidado, ainda assim, buscou-se ao máximo trazer seus familiares para junto ao grupo e as atividades desenvolvidas. Tratamento de saúde - Havia muito tempo que o Sr. G não fazia uma consulta médica, pois sempre perdia a hora ou a data da consulta e dependia de outros para acompanhá-lo. Então, nos dispusemos ajudá-lo, fomos a UBS de seu bairro, marcamos e o acompanhamos durante a consulta, levantando questões, levando informações e fazendo sugestões pertinentes, inclusive aceitas pela médica que o atendeu. A partir dessa consulta foi possível chegar ao diagnóstico preciso da patologia do cliente, através de posterior avaliação do especialista e solicitação dos respectivos exames, além do encaminhamento para tratamento clínico fisioterápico. Da Família do cliente - Agrava-se com o fato de dois de seus filhos estarem envolvidos com drogas e alcoolismo, por isso não param em casa para cuidar do pai. Sua esposa sai para trabalhar cedo e leva consigo o filho mais novo, na tentativa de poupá-lo de seguir o mesmo caminho dos maiores. No que concerne ao aspecto independência funcional, poucos ganhos foram objetivamente alcançados em função de sua grave dificuldade de locomoção, posto que no máximo ele consegue chegar ao portão de madeira improvisado, na entrada da casa, ainda que seja para dar uma olhadela no fluxo de transeuntes. CONCLUSÃO: É necessário ter em conta que a integralidade nunca será plena em qualquer serviço de saúde isolado, por melhor que seja a equipe, por melhores que sejam os trabalhadores, por melhor que seja a comunicação entre eles e a coordenação de suas práticas. Em particular, a batalha pela melhoria das condições de vida e pelo acesso a todas as tecnologias para melhorar e prolongar a vida, por mais competente e comprometida que seja a equipe, jamais poderá ser plenamente bem-sucedida no espaço singular do serviço. O Sr. G continua dependente da visita e ajuda dos agentes comunitários de saúde e dos estudantes de enfermagem para cuidar de suas necessidades e dependências funcionais, confirmando o indispensável papel da enfermagem ao prestar cuidados domiciliários aos clientes dela dependentes, ainda que muito tenhamos a avançar para que a integralidade seja consolidada no setor saúde da comunidade.

Correspondência para: Wiliam César Alves Machado, e-mail:

wilmachado@uol.com.br