IV CONFERÊNCIA DAS CIDADES
AS DIVERSAS FORMAS DE SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
Relatório do Grupo Temático " A Cidade e a Saúde Pública"
Relatores: Fernando Cartaxo
Tarsila Crusius
Esta síntese de propostas do setor saúde sobre violência reflete as discussões e deliberações do Seminário Nacional sobre Violência Urbana e Segurança Pública realizado pela Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior, em parceria com o Conselho Nacional de Saúde, nos dias 30 e 31 de outubro de 2001; dos 4 Seminários Regionais sobre Violência Urbana e Saúde Pública, realizado no primeiro semestre de 2002 nas cidades de Belo Horizonte-MG, Recife-PE, Curitiba-PR e Belém-PA; da Oficina de Trabalho preparatória e do Grupo de Trabalho " A Cidade e a Saúde Pública" da IV Conferência das Cidades, realizado nos dias 03, 04 e 05 de dezembro de 2002, na Câmara dos Deputados, em Brasília.
A abordagem da problemática dos acidentes e violências tem como princípio o conceito de que tratam-se de fenômenos complexos, derivados de múltiplas causas, surgindo como consequência de uma série de fatores sociais, econômicos e culturais. A escalada da violência é compreendida no contexto dos desajustes do modelo econômico e de urbanização desordenado, que promovem profundas desigualdades sociais na sociedade brasileira e incapacita o Estado para um maior aporte de recursos nas políticas públicas.
A ampliação do conceito de violência implica no reconhecimento de que a superação de suas causas é, muito além de uma questão de segurança pública, uma questão social que exige a articulação e o fortalecimento das diferentes políticas públicas.
Os acidentes e violências surgem como um problema de saúde pública a partir de seu impacto nos índices de morbidade e mortalidade, especialmente devido aos trágicos indicadores de homicídios e acidentes de trânsito, que configuram um quadro de verdadeira guerra civil, vitimando cerca de 120 mil brasileiros a cada ano. Além do sofrimento humano e social, esta realidade representa um elevado custo econômico, numa crescente demanda por serviços de assistência e recuperação das vítimas dessa violência.
A saúde trabalha pelo princípio da prevenção e da promoção da qualidade de vida, entendendo que os acidentes e violências podem ser superados através de ações intersetoriais centradas na focalização e tratamento de suas causas.
Com este objetivo, apresentamos uma síntese de propostas prioritárias elaboradas ao longo dos debates realizados nos seminários nacional e regionais, na oficina e grupo de trabalho da IV Conferência das Cidades:
Considerando, no que diz respeito à saúde e à violência, que as chamadas "causas externas", que provocam o trauma, e incluem os homicídios, acidentes de trânsito, acidentes de trabalho e domésticos, os suicídios e outras lesões e envenenamentos, constituem hoje, em nosso país, o segundo grupo de causa de morte, respondendo por 120 mil óbitos a cada ano e a 13% do total de mortes. Considerando também que os fatores associados a esse crescimento vertiginoso da violência não têm uma causa isolada, pois, na verdade, são a confuência de vários fatores, tais como a desigualdade social, o tráfico de drogas e de armas, propõe-se: 1) a implementação da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências a partir de uma série de ações articuladas e integradas de diversos setores do Governo e da Sociedade para minimizar o impacto da violência; 2) a implementação de um conjunto de providências que toquem as causas subjacentes desse problema, como: a) o controle e a limitação do comércio internacional de armas; b) a redução de promoção, uso e disponibilidade de arma de fogo; c) o desenvolvimento de métodos eficazes de lidar com o comércio de drogas; d) o combate a glorificação e à mercantilização da violência, particularmente por intermédio dos meios de comunicação; e) a promoção de uma cultura de tolerância e a administração de conflitos sem recurso à violência; f) a promoção da igualdade entre os gêneros; g) a educação para a garantia do respeito aos direitos humanos; h) a redução da pobreza, em particular das desigualdades intra-societárias; i) a criação de um núcleo interdisciplinar de estudo do trânsito; j) a criação de uma base de dados sobre trauma e violências como início de um esforço nacional de dar prioridade à informação visando à implementação das políticas públicas de combate à violência; I) o desenvolvimento de ações educativas que conscientizem acerca da inadequação da ingestão de bebidas alcoólicas e a direção de veículos automotores; m) o empreendimento de campanhas de massa visando à apreensão do conteúdo do Código de Trânsito Brasileiro, contrapondo a movimentos pelo abrandamento das punições relativas aos delitos de trânsito.