2.3 .3 Estudo sobre carga de doença no Brasil: estado atual e perspectivas

Iuri Leite
Pesquisador da ENSP/FIOCRUZ

Estudo de Carga Global de Doença no Brasil, em 1998
 

Pesquisadores -ENSP/FIOCRUZ

Angela Maria Jourdan Gadelha, Iúri da Costa Leite, Joaquim Gonçalves Valente

Joyce Mendes Andrade Schramm, Margareth Crisostomo Portela,Mônica Rodrigues Campos

O indicador utilizado no estudo da carga de doença é o DALY, e a idéia central é que, embora muitas das pesquisas na área de saúde os indicadores sejam baseados na mortalidade, as informações de mortalidade são insuficientes para dar um panorama da qualidade de vida. Então o DALY procura combinar dois indicadores: mortalidade e morbidade. O indicador, na verdade, procura medir simultaneamente tanto o efeito da mortalidade quanto da morbidade.

Mensuração nos Estudos de Carga Global de Doença

  • O indicador utilizado é o DALY ( Disability Adjusted Life Years - Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade).
  • Mede-se, simultaneamente, o efeito da mortalidade e dos problemas de saúde que afetam a qualidade de vida dos indivíduos.

Unidade de medida

Disability Ajusted Life Year ( DALY )

1 Daly = 1 ano de vida sadia perdido

Incorpora os conceitos de:

  • Morte prematura
  • Anos vividos com incapacidade

Morte prematura

A parcela de mortalidade é medida pelos YLL ( Years of Life Lost ) ou anos de vida perdidos por morte prematura. Por exemplo, se eu tenho uma expectativa de vida aos quarenta anos de viver mais trinta anos e morro aos quarenta anos, perdi trinta anos.

Anos vividos com incapacidade

A parcela de morbidade é medida pelos YLD ( Years Lived with Disability ) ou anos vividos com incapacidade.

Para calcular a carga da incapacidade

É preciso ponderar cada momento da vida onde a saúde não seja total.

Nesse processo de “ ponderação da qualidade de vida ” é preciso utilizar “ pesos ” para quantificar a “ perda de saúde

 
 

Exemplo do cálculo acidente de trânsito

No Acidente

  • Morre um homem de 50 anos;
  • Morre uma mulher de 40 anos;
  • Uma mulher de 30 anos fica paraplégica

Exemplo do cálculo

  • O homem morrendo aos 50 anos, digamos que sua expectativa de vida seja de 31 anos. Logo, ele perde 31 YLL por morte prematura.
  • Digamos que a expectativa de vida da mulher (40 anos) seja de 44 anos. Logo, ela perde 44 YLL por morte prematura.

Exemplo do cálculo

A mulher ficando paraplégica aos 30 anos

Digamos, que viva 44 anos paraplégica . E digamos que o peso da paraplegia seja 0,5

Logo, perderá 44 anos * 0,5 ou 22 anos; Portanto, perde 22 YLD, por perda de qualidade de vida.

 
Exemplo do cálculo
Total de DALY
Morte
Homem perdeu

31YLL

Mulher perdeu

44YLL

Total

75YLL

Seqüela (paraplegia)
A mulher perdeu

44YLL

DALY

119 DALY

 

DALY: Calculado para 113 doenças

Grande Grupo I - Infecciosas e parasitárias, condições maternas, condições perinatais e deficiências nutricionais

Grande Grupo II - Não-transmissíveis

Grande Grupo III – Externas

CARGA GLOBAL DE DOENÇA NO BRASIL, 1998

Processo de estimação - Aspectos metodológicos

Componente de Mortalidade (YLL)

Fonte de dados

O banco do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) foi utilizado para calcular: número de YLLs perdidos por: sexo, faixa etária, causa de doença, e grande região do País. Em 1998: 929.023 óbitos.

Problemas a serem resolvidos

Sub-registro de óbitos;

Identificação e distribuição dos códigos-lixo;

Distribuição das causas mal definidas.

Correção do sub-registro de óbitos

A existência de sub-registro de óbitos no Brasil inviabiliza o cálculo direto da mortalidade.

  • Técnicas indiretas têm que ser utilizadas.

Correção do sub-registro de óbitos

  • Optou-se por corrigir separadamente o sub-registro de óbitos dos menores de um ano e daqueles com um ano de vida ou mais.
  • Assumiu-se que o grau de cobertura dos óbitos devido às causas externas é próximo de 100%.
 
 
 
 

Redistribuição dos códigos-lixo
Identificação e redistribuição dos códigos-lixo

Exemplo da redistribuição de códigos-Lixo(5.384 óbitos)

K92.0-Hematêmese

K92.1-Melena

K92.2-Hemorragia gastrointestinal SOE

Redistribuídos dentre

K25 – Úlcera gástrica

K26 – Úlcera duodenal

K27 – Úlcera péptica de localização não especificada

K28 – Úlcera gastrojejunal

K29 – Gastrite e duodenite

K70 – Doença alcoólica do fígado

K74 – Fibrose e cirrose hepáticas

Redistribuição dos códigos mal definidos

Redistribuição dos óbitos com causas mal definidas

As causas mal definidas representavam aproximadamente

201.956 óbitos (18% do total de óbitos do país).

Utilizou-se o mesmo método empregado para a distribuição dos códigos-lixo

Estimação da Morbidade

Processo de estimação da MORBIDADE (YLD)

Para estimar o YLD dos agravos e condições incapacitantes, são utilizados vários parâmetros clínico-epidemiológicos.

São utilizadas: Incidência,Prevalência,Letalidade,Remissão,Duração e Proporção de casos tratados

Processo de estimação da Morbidade (YLD)

Foram coletados os parâmetros de 502 morbidades segundo sexo, faixa etária, e UF

Fonte de dados utilizadas: SINAN,IDB – 1998,SIH-SUS,Banco APAC,Banco da Saúde,Bucal – 1996,Banco SISMAL – Malária,PNDS - BENFAM, 1996,Pesquisa Nacional de Bócio-95,Sistema de Nascidos Vivos,Censo Psiquiátrico do Município do Rio de Janeiro

Revisão sistemática da literatura científica

  • Foram definidos alguns critérios na seleção dos materiais que fariam parte do ‘banco de dados' de indicadores para cada doença.
  • Foram criados critérios de prioridade na seleção de fontes de informação.

Elaboração dos “diários de bordo”

São documentos padronizados que registram todo o processo decisório utilizado na construção ou aferição dos parâmetros clínico-epidemiológicos dos agravos e seqüelas, assim como a síntese dos contatos com os diferentes especialistas.

Cada pesquisador-extrator produziu um “diário de bordo” para cada agravo.

Utilização do DISMOD

  • As informações armazenadas no “Sistema de Morbidades” foram avaliadas quanto à sua consistência interna através de um software disponibilizado pela OMS, para estudos de carga global de doença (DISMOD).
  • O DISMOD foi projetado para produzir e/ou avaliar a consistência interna de parâmetros clínico-epidemiológicos obtidos para cada um dos agravos e incapacidades (taxas de incidência, prevalência, duração e letalidade).

Deliberações

Deliberações do estudo

  • Utilizou-se uma taxa de desconto de 3% ao ano.
  • A função de ponderação de idade não foi utilizada, pois a não havia sido validada em grandes populações e geraria complexidade extra no método.

Deliberações do estudo

Considerando os resultados encontrados na análise de consistência para avaliar as estimativas dos pesos das incapacidades, optou-se por usar os pesos propostos pelo GBD ou pelo estudo de Carga Global de Doença da Austrália.