1.3.2 Doença de Chagas
 

Foram considerados como os cinco temas prioritários:

1. Amazônia

2. Estudo de vetores

3. Busca de novas drogas e aperfeiçoamento da quimioterapia

4. Busca de marcadores de evolução e prognóstico da Doença de Chagas crônica e de resistência do Trypanosoma cruzi a drogas.

 

Levantamento das necessidades de P&D&I

Na etapa anterior à realização da oficina foram convidados especialistas reconhecidos para destacar as necessidades de P&D na área de Doença de Chagas, conforme descrição abaixo:

Considerações Iniciais: Apesar da Doença Chagas estar classificada pelo TDR como sendo Categoria III, a questão da quimioterapia a colocaria na Categoria I, devido à falta de medicamentos eficazes para o tratamento desta enfermidade, sendo então uma prioridade a realização de ensaios clínicos para o desenvolvimento de novos medicamentos. Outras prioridades: Resistência do parasito às drogas utilizadas; estudo de fatores de risco, incluindo a desnutrição, que está associada à infecção; pesquisa básica em dinâmica de transmissão como forma de combate ao vetor.

Área técnica do Ministério da Saúde apontou como prioridades para a área:

  1. Estudo de validação da PCR como metodologia confirmatória para Doença de Chagas.
  2. Estudo de avaliação dos efeitos teratogênicos e reprodutivos da doença de Chagas e tratamento com benzonidazol.
  3. Avaliação da resposta terapêutica das diferentes cepas de T. cruzi nas diversas regiões geográficas.
  4. Avaliação da resistência do T. cruzi a diferentes temperaturas.
  5. Estudo da resposta terapêutica do T. cruzi de acordo com a forma de transmissão (oral, vetorial, transfusional, congênita).

Metodologia

A metodologia proposta foi adaptada e parcialmente utilizada pelo grupo de trabalho. Concentraram o trabalho na definição de cinco temas prioritários e dentro de cada um deles os subtemas e as recomendações pertinentes. Decidiram destacar a Região da Amazônia e percorrer as prioridades de estudos específicos para a região.

Definição de Prioridades de Pesquisa em Saúde - Resultados

Foram considerados como os cinco temas prioritários:

  1. AMAZÔNIA
  2. Estudo de vetores
  3. Busca de novas drogas e aperfeiçoamento da quimioterapia
  4. Busca de marcadores de evolução e prognóstico da Doença de Chagas crônica e de resistência do Trypanosoma cruzi a drogas.

Considerações sobre a Carga da doença e as tendências epidemiológicas:

a. As estimativas atuais sugerem a existência de dois a três milhões de infectados.

b. Nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste reduziu-se acentuadamente a transmissão vetorial intradomiciliar e transfusional. Há alguns focos de T. infestans remanescentes na Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

c. Por outro lado, a presença de Doença de Chagas na Amazônia passou a ser claramente evidenciada, seja a partir do diagnóstico de microepidemias de casos agudos, seja a partir da integração da vigilância de Chagas ao programa de vigilância em malária (diagnóstico por gota espessa).

d. Foram registrados cerca de 480 casos de Chagas agudo sintomático na Amazônia Ocidental nos últimos 40 anos, numa área considerada INDENE. Nos últimos dois meses, três casos. Cerca de 1% dos casos febris, negativos para malária, são T. cruzi. Aparentemente não há barbeiros domiciliados. Dos casos agudos, 70% por via oral e 30% vetorial.

Linhas Prioritárias

1. Amazônia

  • Determinação dos mecanismos de transmissão de T. cruzi para humanos.
  • Ecologia dos ciclos de transmissão e avaliação de riscos e impacto do desmatamento.
  • Caracterização das espécies de triatomíneos; Relações sistemáticas e filogenéticas das populações; Mapeamento de ecótopos; Processo de domiciliação e potencial vetorial.
  • Isolamento de cepas de T. cruzi e genotipagem. Determinação da suscetibilidade a Benzonidazo ntes de casos autóctones; Com ênfase na clínica da fase aguda por transmissão oral.
  • Inovação em tecnologias de controle e vigilância entomológica.
  • Estudos de geo-referenciamento de casos agudos e transmissão vetorial.
  • Desenvolvimento de sistemas de integração e disponibilização de dados (casos humanos e vetores).

Nota: Recomenda-se que o estudo seja desenvolvido por REDES, articulando grupos emergentes e consolidados da região.

Controle da Doença e Controle do Vetor Extra-Amazônia – Considerações:

a. Transmissão vetorial intradomiciliar por Triatoma infestans, controlada. Lembrar que há 52 espécies de vetores.

b. Conhecemos pouco da biologia de nossos vetores. Daí, incertezas quanto a estratégias de controle.

c. Problema relacionado com uma doença de baixa incidência:

Sustentabilidade da Vigilância Epidemiológica

d. Transmissão transfusional controlada.

e. Transmissão oral é a via natural de infecção no ambiente silvestre e responsável por diversos surtos recentes.

f. Transmissão Congênita – baixa (em média cerca de 1%). Grande variabilidade regional. Maior taxa na região Sul. No Brasil a transmissão é bem menor que em outros países como (Bolívia e Paraguai). No entanto, a razão desta característica “brasileira” é desconhecida.

2. Estudos de vetores

  • Reconhecimento de espécies características da distribuição em ecótopos naturais e peri-domicílio, estudo da capacidade e competência vetorial, em especial das espécies P megistus, T. braziliensis, T. pseudomaculata, T. sordida, T. rubrovaria, P. lutzi.
  • Sensibilidade e resistência de espécies de triatomíneos a inseticidas.
  • Estudo sobre os padrões físicos das moradias e sua vulnerabilidade à invasão ou instalação do vetor.
  • Identificação de vetores potencialmente relacionados com surtos (micro-epidemias)
  • Estudos de biologia do vetor, fonte alimentar e/ou de sua interação com grupos de T. cruzi.

Manejo de pacientes /Terapia – Considerações

a. Benzonidazol: cura de 10% de formas antigas (fase crônica); 50-60% de crianças (10-12 anos, fase recente); > 80% de fase aguda.

b. Efeitos colaterais. BZ em vistas de ser produzido por LAFEPE.

c. Posaconazol, em fase de ensaio clínico.

d. Necessidade de desenvolvimento de novas drogas para tratamento. O Brasil deve assumir liderança nas Américas por associar potencial científico e produtor. Carga da Doença nas Américas (10-16 milhões) e países que ainda não interromperam a transmissão. Aproveitar a situação do Mercosul, parcerias entre instituições produtoras de medicamento e outros produtos.

Oportunidade: Os dados do seqüenciamento do genoma dos três Tryps mostram cerca de 6000 genes comuns e conservados. Alguns constituem alvos para o desenvolvimento de novas terapias que podem ser comuns aos três Tryps.

3. Busca de novas drogas e aperfeiçoamento da quimioterapia

Pesquisa básica

  • Utilização de dados do genoma para definição de vias metabólicas específicas. Bioinformática, genômica, proteômica, bioquímica e biologia celular na identificação de novos alvos de drogas.
  • Padronização de ensaios de monitoramento da eficácia de cura parasitológica para avaliação de tratamento (em rede associada com pesquisa clínica).

Pesquisa pré-clínica e clínica

  • Ensaios clínicos em pacientes crônicos de drogas com potencial terapêutico para T. cruzi e já existentes no mercado.
  • Estudos de otimização do uso do benzonidazol em associação a outros potenciais tripanocidas e/ou imunomoduladores.

Marcadores de evolução da Doença e prognóstico - Considerações

  • Há grande diversidade na distribuição geográfica das manifestações da Doença de Chagas (forma indeterminada, cardíaca e digestiva). Como também há heterogeneidade na gravidade das manifestações.
  • Há evidências que sugerem que a diversidade genética do parasita e a carga parasitária seriam responsáveis pelas diferentes manifestações e sua gravidade.
  • Também há evidências de que certos loci genéticos do humano estariam associados com maior gravidade de manifestações cardíacas e menor sobrevida.
  • Não há método padronizado e validado para a determinação de carga parasitária.
  • Há pouco conhecimento do controle da replicação intracelular do parasita e da transição entre os estágios de evolução clínica. Não há marcadores de prognóstico.

4. Busca de Marcadores de evolução e prognóstico da Doença de Chagas crônica e de resistência do Trypanosoma cruzi a drogas

  • Busca de marcadores moleculares em isolados do parasita e em pacientes chagásicos que possibilitem a identificação da transição entre os estágios clínicos da doença crônica, com uso de genômica, proteômica, e novas tecnologias, com vistas ao desenvolvimento de indicadores de prognóstico.
  • Estudos para esclarecimento da fisiopatologia e da imunopatologia da doença crônica, em especial quanto a mecanismos de controle da multiplicação do T. cruzi.
  • Estudos do perfil de resistência a drogas dos parasitas isolados de diferentes formas clínicas, regiões geográficas e sua associação aos grupos de T. cruzi.

Recomendações

  • Projetos de médio (apoio individual ou de redes) e grande porte (apoio a redes).
  • Coordenador de projeto com experiência e produção científica no tema do projeto.
  • Equipes de pesquisa com, pelo menos, um doutor ou com a participação certificada de um consultor sênior.
  • Não priorizamos estudos multicêntricos.
 
Grupo de Trabalho
 
Alejandro O. Luquetti UFGO- Universidade Federal de Goiás
Bianca Zingales (Relatora) USP- Universidade de São Paulo
Edécio Cunha Neto USP - Universidade de São Paulo
Egler Chiari UFMG -Universidade Federal de Minas gerais
José O. Previato UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
José Rodrigues Coura IOC/FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz
Sebastião Aldo Valente IEC/SVS/MS- Instituto Evandro Chagas da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde
Soraya Santos FUNASA - Fundação Nacional de Saúde
Tânia C. A. Jorge (Coordenadora) IOC/FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz
Wanderley de Souza SCTI/RJ - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro