IV CONFERÊNCIA DAS CIDADES

A CIDADE CIDADÃ: as diversas formas de superação da violência

 

RELATÓRIO

OFICINA DE TRABALHO

VIOLÊNCIA urbana E SAÚDE

Relatora: Sarah Escorel

Apresentação

No dia 3 de dezembro de 2002, no Plenário 14 da Ala das Comissões da Câmara dos Deputados, Brasília (DF), foi realizada a Oficina de Trabalho sobre Violência Urbana e Saúde, promovida pela Comissão Interinstitucional de Trauma e Violência (CITV) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sob a coordenação do conselheiro José Carvalho de Noronha, preparatória da IV Conferência das Cidades – "A cidade cidadã: as diversas formas de superação da violência", realizada pela Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior da Câmara dos Deputados.

A oficina teve como objetivos:

Os debates da parte da manhã foram precedidos por quatro exposições. Miguel Mallo, representando a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) apresentou o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em outubro do presente ano. Guilherme de Almeida, assessor especial da Secretaria de Estado de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), analisou os direitos humanos como forma de combate à violência, assinalou a mudança da idéia de igualdade que nasce com a perspectiva de universalidade mas cujo desenvolvimento incluiu as diferenças e especificidades de cada sujeito de direito, e ressaltou o exercício cívico da tolerância que envolve a responsabilidade individual na proteção dos direitos humanos. Maria Cecília de Souza Minayo, coordenadora do Centro Latino-americano sobre Violência e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Fiocruz) apresentou e analisou dados e indicadores de mortalidade e morbidade (internações) por causas externas, indicando que os números expressavam apenas a "ponta do iceberg", estando ainda submersos os fenômenos que permitem evidenciar a presença da violência em cada um de nós, nas formas de relacionamento, na cultura e nas relações sociais brasileiras. Cláudia Araújo, coordenadora de Trauma e Violência da Secretaria de Assistência à Saúde (SAS/MS), apresentou os resultados do primeiro ano de implantação da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências.

Os debates da parte da tarde foram precedidos por três exposições. Oswaldo Gonçalves Cruz da CICT/Fiocruz, apresentou modelos estatísticos que permitem construir mapas dinâmicos indicadores no tempo, no espaço e na interação do tempo com o espaço sobre a evolução de homicídios na região Sudeste, assinalando que os modelos têm as vantagens de permitir a realização de análises e também a construção de cenários orientadores das ações das políticas públicas. Maria Natividade Santana, representante da Federação de Trabalhadores de Saúde (Fentas) e integrante do Conselho Nacional de Saúde, abordou a violência a partir das redações de crianças e jovens nas quais observou consciência e conhecimento das causas e conseqüências das violências assim como a percepção da necessidade de transformar os indivíduos naquilo que pensam e na forma que agem em relação à violência. Leda Dantas, representante da Confederação de Aposentados e Pensionistas (Cobap) e integrante do Conselho Nacional de Saúde, analisou as diversas formas de pensar sobre o fenômeno, a importância da comunicação e das trocas intersubjetivas na formação da consciência e conhecimento sobre violências, enfatizando a importância da eqüidade entre gerações.

Os debates realizados tanto na parte da manhã quanto na parte da tarde abordaram vários aspectos relativos às políticas de saúde, ao Sistema Único de Saúde, e às especificidades municipais e estaduais, além dos assuntos relacionados com violências e saúde. As propostas apresentadas na Oficina de Trabalho foram consolidadas com as proposições oriundas dos Seminários Macrorregionais, sistematizadas por Maria Cecília de Souza Minayo et cols., e organizadas tendo por referência as diretrizes da Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências. Nos anexos estão contidos documentos e propostas realizadas tanto nos seminários macrorregionais quanto na Oficina de Trabalho que não puderam ser incorporadas à estrutura do presente Relatório.

Introdução

"Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida" (Brasil, Conferência Nacional de Saúde, 8ª Relatório Final. Brasília: Ministério da Saúde, 1986).

Parte-se da premissa de que é possível modificar a cultura, os comportamentos e as atitudes que reproduzem a violência social.

Compreende-se que o protagonismo do setor saúde na Política de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências está legitimado pela própria população que demanda das políticas de saúde, dos profissionais e do serviços do SUS a prevenção dos acidentes e violências, e o atendimento, a recuperação e a reabilitação física e mental das vítimas de violência. No entanto, o setor saúde de forma isolada não conseguirá desenvolver políticas que reduzam a morbimortalidade por acidentes e violências, devendo atuar de forma permanente na articulação e no incentivo da implementação de políticas intersetoriais. Também está claro que a atuação do setor saúde não deverá limitar-se àquilo que lhe é específico, interferindo por todos os meios para interromper a propagação da violência social em geral, da violência familiar e sexual que são propulsoras das demais formas de violência, nas relações no trânsito, e nas ações de educação, informação e comunicação promovendo uma ética humanitária e uma cultura de paz e tolerância na promoção da qualidade de vida e de saúde da população brasileira.

As propostas mais gerais, nesse sentido, foram:

  1. Promoção da adoção de comportamentos e de ambientes seguros e saudáveis

Coerente com o conceito ampliado de saúde, a definição de ‘ambientes seguros e saudáveis’ envolve o contexto social, econômico, urbano e rural, os espaços doméstico e do trabalho, as vias e logradouros públicos, o ambiente de lazer, o meio ambiente, o acesso aos direitos e à participação, e os deveres de cidadania e civilidade. A criação de ambientes seguros e saudáveis exige por um lado, políticas públicas comprometidas com a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável e, por outro lado, a co-responsabilidade do cidadão na adoção de comportamentos e atitudes que por sua vez envolvem acesso à educação, formação e informação continuada, e sua participação nos movimentos sociais e coletivos promotores do desenvolvimento social.

As propostas relativas à esta diretriz foram divididas em dois conjuntos: os que abordam as políticas mais gerais e políticas setoriais específicas que não do setor saúde, e políticas intersetoriais e de saúde para a redução da morbimortalidade por acidentes e violências.

1.1. Políticas públicas em geral e políticas específicas de outros setores

Foram enfatizadas e freqüentemente assinaladas propostas de ação relacionadas com a educação, consideradas fundamentais para sensibilizar a todos da importância do respeito às pessoas, a criação de uma cultura de tolerância e a prevenção de acidentes e violências contra todos os grupos e segmentos populacionais.

A garantia do acesso à educação em todos os níveis é, portanto, uma premissa básica exigindo a inclusão na rede de ensino de todos os alunos que ainda estão fora da escola, o aumento dos investimentos em educação, a ampliação do número de escolas públicas na zona rural, a criação de cursos profissionalizantes gratuitos, e proporcionar oportunidades para que os alunos de baixa renda possam concorrer a vagas nas universidades públicas em igualdade de condições.

As propostas relativas a segurança pública transmitem a idéia de asseguramento da cidadania, principalmente por meio do respeito aos direitos humanos, aos direitos civis e do combate à impunidade. As forças policiais, por diversas vezes, foram caracterizadas como agentes da violência e de discriminação nas comunidades, nas delegacias e nas vias públicas.

As propostas dos seminários regionais relativas à Justiça foram sistematizadas em quatro grandes conjuntos: a modificação e aplicação de leis, a ampliação do papel do Ministério Público e Defensorias Públicas, controle do uso de álcool e trânsito, garantia dos direitos e formas de tratamento de pessoas em condições especiais. No presente Relatório estão consolidadas por temas e segmentos populacionais:

As propostas relacionadas aos meios de comunicação de massa reconhecem sua importância numa sociedade democrática e sua influência na formação de opinião pública. Por isso mesmo, foi enfatizada a necessidade do controle social sobre a qualidade da informação prestada pela mídia e maior empenho dos meios de comunicação na sensibilização da população para a importância dos acidentes e violências no País assim como sua participação na promoção de campanhas anti-discriminatórias de segmentos populacionais.

As proposições de realização de Campanhas envolvem a participação dos meios de comunicação embora não sejam de sua exclusiva responsabilidade. Foram propostas Campanhas para:

Foi considerado de grande importância o papel da sociedade civil no enfrentamento da violência. A participação da população e o controle social foram enfatizados de diversas formas e em várias propostas consolidadas nos tópicos do presente Relatório. As proposições mais gerais referentes ao papel da sociedade civil, participação da população e controle social foram:

 

1.2. Políticas intersetoriais e de saúde de redução dos acidentes e das violências

  1. Monitoramento da ocorrência de acidentes e de violências

  1. Sistematização, ampliação e consolidação do atendimento pré-hospitalar

"A prestação do atendimento às vítimas requererá a estruturação e a organização da rede de serviços do SUS, de forma que possa diagnosticar as violências e acidentes entre os usuários e acolher demandas, prestando-lhes atenção digna, de qualidade e resolutiva, desde o primeiro nível de atenção. A consecução desse atendimento dar-se-á, sobretudo, mediante o estabelecimento de sistemas de referência entre o setor saúde e as áreas jurídicas e de segurança, para o que será provida a respectiva assessoria técnica no tocante à definição, implantação e avaliação das ações. Neste particular, ainda, deverão ser apoiados projetos e repasses de recursos voltados à estruturação e à organização mencionadas" (Brasil, Ministério da Saúde, Política Nacional de Redução de Morbimortalidade de Acidentes e Violências, 2001 [2002], p. 32)

 

4. Assistência interdisciplinar e intersetorial às vítimas de acidentes e de violências

As propostas, tanto de escopo geral quanto direcionadas para tipos e grupos específicos, revelaram concepções abrangentes das estratégias necessárias para o enfrentamento das violências ressaltando os temas da humanização, inversão da lógica médica dominante, melhor distribuição de recursos financeiros e humanos e da desburocratização. Exceto nos casos em que as propostas são específicas para tipos de violência e grupos de pessoas atingidas, são apresentadas em formulações genéricas que incluem a violência doméstica, acidentes e violências no trânsito, drogas e álcool, violência contra as mulheres, idosos e pessoas em condições especiais.

5. Estruturação e consolidação do atendimento voltado à recuperação e à reabilitação

 

6. Capacitação de recursos humanos

 

7. Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas

 

 

Anexos

  1. Associação de mães e familiares de vítimas de violência do estado do Espírito Santo (Amafavv/ES). Dossiê das vítimas de violência do Espirito Santo: crime organizado. Vitória, 2 de dezembro de 2002. 12 p.
  2. Sobre modelo econômico, trabalho e renda:

  1. Sobre o planejamento urbano:

  1. Sobre trânsito e transportes:

  1. Sobre áreas rurais:

  1. Sobre educação:

  1. Sobre grupos em situações especiais:

  1. Sobre saúde:

8. Outras: