IV CONFERÊNCIA DAS CIDADES
A CIDADE CIDADÃ: as diversas formas de superação da
violência
RELATÓRIO
OFICINA DE TRABALHO
VIOLÊNCIA urbana E SAÚDE
Relatora: Sarah Escorel
Apresentação
No dia 3 de dezembro de 2002, no Plenário 14 da Ala
das Comissões da Câmara dos Deputados, Brasília (DF), foi
realizada a Oficina de Trabalho sobre Violência Urbana e Saúde,
promovida pela Comissão Interinstitucional de Trauma e Violência
(CITV) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sob a coordenação
do conselheiro José Carvalho de Noronha, preparatória da IV Conferência
das Cidades – "A cidade cidadã: as diversas formas de superação
da violência", realizada pela Comissão de Desenvolvimento
Urbano e Interior da Câmara dos Deputados.
A oficina teve como objetivos:
- apresentar os resultados do processo de implantação da Política
Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências;
- analisar e complementar as propostas e recomendações emanadas
dos Seminários Macrorregionais sobre Violência Urbana e Saúde
Pública realizados em Belo Horizonte (MG) nos dias 20 e 21 de maio,
em Recife (PE) nos dias 27 e 28 de maio, em Curitiba (PR) nos dias 10 e 11
de junho e em Belém (PA) nos dias 19 e 20 de junho de 2002; e,
- definir estratégias para o desenvolvimento de propostas visando a
elaboração da agenda 2003 para redução de morbimortalidade
por acidentes e violências.
Os debates da parte da manhã foram precedidos por quatro
exposições. Miguel Mallo, representando a Organização
Pan-americana de Saúde (OPAS) apresentou o Relatório Mundial sobre
Violência e Saúde, elaborado pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), em outubro do presente ano. Guilherme de Almeida, assessor
especial da Secretaria de Estado de Direitos Humanos do Ministério da
Justiça e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência
da Universidade de São Paulo (NEV/USP), analisou os direitos humanos
como forma de combate à violência, assinalou a mudança da
idéia de igualdade que nasce com a perspectiva de universalidade mas
cujo desenvolvimento incluiu as diferenças e especificidades de cada
sujeito de direito, e ressaltou o exercício cívico da tolerância
que envolve a responsabilidade individual na proteção dos direitos
humanos. Maria Cecília de Souza Minayo, coordenadora do Centro Latino-americano
sobre Violência e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz
(Claves/Fiocruz) apresentou e analisou dados e indicadores de mortalidade e
morbidade (internações) por causas externas, indicando que os
números expressavam apenas a "ponta do iceberg", estando ainda
submersos os fenômenos que permitem evidenciar a presença da violência
em cada um de nós, nas formas de relacionamento, na cultura e nas relações
sociais brasileiras. Cláudia Araújo, coordenadora de Trauma e
Violência da Secretaria de Assistência à Saúde (SAS/MS),
apresentou os resultados do primeiro ano de implantação da Política
Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências.
Os debates da parte da tarde foram precedidos por três
exposições. Oswaldo Gonçalves Cruz da CICT/Fiocruz, apresentou
modelos estatísticos que permitem construir mapas dinâmicos indicadores
no tempo, no espaço e na interação do tempo com o espaço
sobre a evolução de homicídios na região Sudeste,
assinalando que os modelos têm as vantagens de permitir a realização
de análises e também a construção de cenários
orientadores das ações das políticas públicas. Maria
Natividade Santana, representante da Federação de Trabalhadores
de Saúde (Fentas) e integrante do Conselho Nacional de Saúde,
abordou a violência a partir das redações de crianças
e jovens nas quais observou consciência e conhecimento das causas e conseqüências
das violências assim como a percepção da necessidade de
transformar os indivíduos naquilo que pensam e na forma que agem em relação
à violência. Leda Dantas, representante da Confederação
de Aposentados e Pensionistas (Cobap) e integrante do Conselho Nacional de Saúde,
analisou as diversas formas de pensar sobre o fenômeno, a importância
da comunicação e das trocas intersubjetivas na formação
da consciência e conhecimento sobre violências, enfatizando a importância
da eqüidade entre gerações.
Os debates realizados tanto na parte da manhã quanto
na parte da tarde abordaram vários aspectos relativos às políticas
de saúde, ao Sistema Único de Saúde, e às especificidades
municipais e estaduais, além dos assuntos relacionados com violências
e saúde. As propostas apresentadas na Oficina de Trabalho foram consolidadas
com as proposições oriundas dos Seminários Macrorregionais,
sistematizadas por Maria Cecília de Souza Minayo et cols., e organizadas
tendo por referência as diretrizes da Política Nacional de Redução
de Morbimortalidade por Acidentes e Violências. Nos anexos estão
contidos documentos e propostas realizadas tanto nos seminários macrorregionais
quanto na Oficina de Trabalho que não puderam ser incorporadas à
estrutura do presente Relatório.
Introdução
"Em seu sentido mais abrangente, a saúde é
a resultante das condições de alimentação, habitação,
educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,
lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde.
É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização
social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades
nos níveis de vida" (Brasil, Conferência Nacional de Saúde,
8ª Relatório Final. Brasília: Ministério da
Saúde, 1986).
Parte-se da premissa de que é possível modificar
a cultura, os comportamentos e as atitudes que reproduzem a violência
social.
Compreende-se que o protagonismo do setor saúde na Política
de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências
está legitimado pela própria população que demanda
das políticas de saúde, dos profissionais e do serviços
do SUS a prevenção dos acidentes e violências, e o atendimento,
a recuperação e a reabilitação física e mental
das vítimas de violência. No entanto, o setor saúde de forma
isolada não conseguirá desenvolver políticas que reduzam
a morbimortalidade por acidentes e violências, devendo atuar de forma
permanente na articulação e no incentivo da implementação
de políticas intersetoriais. Também está claro que a atuação
do setor saúde não deverá limitar-se àquilo que
lhe é específico, interferindo por todos os meios para interromper
a propagação da violência social em geral, da violência
familiar e sexual que são propulsoras das demais formas de violência,
nas relações no trânsito, e nas ações de educação,
informação e comunicação promovendo uma ética
humanitária e uma cultura de paz e tolerância na promoção
da qualidade de vida e de saúde da população brasileira.
As propostas mais gerais, nesse sentido, foram:
- Referendar a Carta de Brasília, promovendo a realização
de um balanço do que foi implementado desde a sua aprovação
e analisando as dificuldades encontradas para sua implementação;
- Promover a real implementação da Política Nacional
de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências
a partir de uma série de ações articuladas e integradas
de diversos setores do governo e da sociedade para minimizar o impacto da
violência.
- Promoção da adoção de comportamentos e de ambientes
seguros e saudáveis
Coerente com o conceito ampliado de saúde, a definição
de ‘ambientes seguros e saudáveis’ envolve o contexto social, econômico,
urbano e rural, os espaços doméstico e do trabalho, as vias e
logradouros públicos, o ambiente de lazer, o meio ambiente, o acesso
aos direitos e à participação, e os deveres de cidadania
e civilidade. A criação de ambientes seguros e saudáveis
exige por um lado, políticas públicas comprometidas com a qualidade
de vida e o desenvolvimento sustentável e, por outro lado, a co-responsabilidade
do cidadão na adoção de comportamentos e atitudes que por
sua vez envolvem acesso à educação, formação
e informação continuada, e sua participação nos
movimentos sociais e coletivos promotores do desenvolvimento social.
As propostas relativas à esta diretriz foram divididas
em dois conjuntos: os que abordam as políticas mais gerais e políticas
setoriais específicas que não do setor saúde, e políticas
intersetoriais e de saúde para a redução da morbimortalidade
por acidentes e violências.
1.1. Políticas públicas em geral e políticas
específicas de outros setores
- Implementar políticas de distribuição de renda e ampliação
do acesso a bens e serviços;
- Estimular formas eficientes de combate à pobreza e à desigualdade,
para que a cidade deixe de ser o retrato de uma cidade sonegadora de direitos;
- Criar políticas públicas especificas para as grandes metrópoles
e regiões metropolitanas;
- Estabelecer políticas públicas para a melhoria das pequenas
cidades;
- Promover a reforma agrária e desenvolver políticas agrícolas
estimulando pequenos produtores e a agricultura familiar;
- Articular todas as políticas públicas como saúde, educação,
habitação, emprego e renda, assistência social e segurança
pública, e investir na melhoria da qualidade de vida da população;
- Criar um Sistema Nacional Integrado de Informação das Políticas
Sociais;
- Resgatar o conceito constitucional de Seguridade Social que compreende um
conjunto integrado de ações dos poderes públicos e da
sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde,
à previdência e à assistência social;
- Analisar as políticas públicas como fontes de violência,
tanto as de origem nacional quanto as impostas por organismos internacionais;
- Criar fóruns de discussão sobre a dívida externa e
de incentivo a um novo modelo de financiamento de políticas públicas;
efetivar o controle social nas áreas econômica e financeira dos
três níveis de governo, conforme o disposto na Lei 8142/90;
- Estimular a participação popular por meio das Comissões
de Participação Legislativa da Câmara dos Deputados e
do Congresso Nacional apresentando sugestões e recebendo informações;
- Criar alternativas de subsistência para as famílias, não
bastando somente coibir o trabalho da criança e do adolescente na rua;
garantir que a erradicação do trabalho infantil seja acompanhada
da garantia de escolas com qualidade; promover o debate público sobre
o trabalho do adolescente, distinguindo-o da exploração de mão-de-obra
infantil;
- Popularizar o Estatuto da Cidade, dando-lhe maior transparência e
fazendo com que prefeitos e vereadores deles se apropriem, permitindo a participação
popular;
- Garantir programas de moradia a todos os cidadãos, principalmente
para as classes sociais menos favorecidas;
- Desenvolver estratégias e políticas urbanas democráticas
de melhoria de infra-estrutura para a promoção de saúde
e da qualidade de vida;
- Implementar ações de saneamento básico que ofereçam
cobertura integral de serviços de água, esgoto e coleta de lixo
para toda a população brasileira, incluindo a implantação
de banheiros públicos nas cidades;
- Mobilizar a população para intensificar o controle das ações
de defesa do meio ambiente urbano, garantindo os direitos das gerações
futuras;
- Enfrentar a violência ‘velada’, não explícita, que dificulta
o acesso à cidadania, tais como barreiras físicas, falta de
iluminação e constituição de guetos;
- Formular políticas urbanas com a população,
estimular a participação da população por meio
de conselhos municipais, orçamento participativo, consulta popular
e plebiscito, e implementar as diretrizes do Estatuto da Cidade em relação
ao direito à cidadania, à função social da propriedade
e à gestão democrática do Estado;
- Mobilizar as Câmaras Municipais e a sociedade organizada dos municípios
com mais de 20 mil habitantes, a fim de garantir, junto com os respectivos
poderes municipais, a implementação dos Planos Diretores, com
a participação da população a partir de seus conselhos
municipais;
- Realizar um grande esforço nacional para reduzir acentuadamente os
índices de acidentes de trânsito que, no Brasil, estão
constituídos por atropelamentos (e não por colisão de
veículos como nos demais países), evidenciando falta de respeito
e incivilidade;
- Implementar políticas de trânsito e transportes, visando tornar
o trânsito mais humanitário, diminuir a violência e impedir
a impunidade de seus infratores, ampliando e melhorando a aplicação
dos recursos necessários;
- Reorganizar os sistemas viários urbano e rural; garantir a construção
de novos metrôs, viadutos e rodovias; melhorar a sinalização,
recuperar e manter as rodovias e realizar as demais medidas de prevenção
de acidentes, dando mais segurança a pedestres e motoristas;
- Municipalizar e melhorar a engenharia de trânsito, dando-lhe estrutura
e poder de gerenciamento, permitindo-lhe ficar mais perto dos cidadãos;
utilizar preventivamente o ‘bafômetro’, garantido em legislação
específica, em casos suspeitos de alcoolismo;
- Articular o Ministério da Saúde com o setor de transporte
público, objetivando a realização de treinamentos e orientações
aos motoristas em relação ao respeito e ao cuidado com o aumento
da população idosa nas ruas das cidades.
Foram enfatizadas e freqüentemente assinaladas propostas
de ação relacionadas com a educação, consideradas
fundamentais para sensibilizar a todos da importância do respeito às
pessoas, a criação de uma cultura de tolerância e a prevenção
de acidentes e violências contra todos os grupos e segmentos populacionais.
A garantia do acesso à educação em todos
os níveis é, portanto, uma premissa básica exigindo a inclusão
na rede de ensino de todos os alunos que ainda estão fora da escola,
o aumento dos investimentos em educação, a ampliação
do número de escolas públicas na zona rural, a criação
de cursos profissionalizantes gratuitos, e proporcionar oportunidades para que
os alunos de baixa renda possam concorrer a vagas nas universidades públicas
em igualdade de condições.
- Incluir temas e atitudes que valorizem a ética e as relações
humanas; incluir a disciplina Direitos Humanos nos currículos escolares;
promover a educação para o trânsito nas escolas de todos
os níveis de ensino; desenvolver desde a pré-escola programas
e disciplinas de prevenção e combate às violências
e ao uso indevido de drogas;
- Desenvolver ações educativas que conscientizem sobre a inadequação
da ingestão de bebidas alcoólicas e direção de
veículos automotores;
- Ampliar as atividades educativas sobre prevenção de acidentes
e de violências, não se restringindo ao espaço das escolas
e incluindo os locais de trabalho, lazer, as organizações sociais
e a mídia;
- Implementar as orientações dos parâmetros curriculares
que preconizam a inclusão da história e cultura das diversas
raças e etnias que compõem o povo brasileiro e do enfoque de
gênero, propiciando referências para a criação de
identidades positivas e promovendo a auto-estima de todos os segmentos;
- Proporcionar às instituições de ensino e aos profissionais
de educação condições e instrumentos de trabalho
para a abordagem de temas relacionados às violências;
- Intensificar a mobilização e fiscalização no
setor da educação, conscientizando e preparando alunos e professores
para a prevenção da violência;
- Promover a interação entre a escola e a família; realizar
trabalho de conscientização dos pais e jovens; discutir com
a família e apoiá-la em relação às suas
responsabilidades na formação e conduta de seus filhos;
- Ampliar a discussão sobre as cotas nas universidades públicas
para negros e estudantes de escolas públicas, transferindo esse debate
do campus universitário para as associações comunitárias.
As propostas relativas a segurança pública transmitem
a idéia de asseguramento da cidadania, principalmente por meio do respeito
aos direitos humanos, aos direitos civis e do combate à impunidade. As
forças policiais, por diversas vezes, foram caracterizadas como agentes
da violência e de discriminação nas comunidades, nas delegacias
e nas vias públicas.
- Para diminuir a violência é necessário coibir com firmeza
os abusos – práticas de torturas, corrupção e desrespeito
aos direitos humanos – e a omissão de parte do próprio Estado;
- Investir maciçamente na reformulação da segurança
pública e no sistema penitenciário de todo o País; ampliar
e melhorar a aplicação de recursos na área de segurança
pública, investindo na humanização e capacitação
dos recursos humanos;
- Articular o Programa de Segurança Pública a outros programas
sociais;
- Possibilitar que os jovens sejam protagonistas da política de segurança
pública, especialmente por serem eles as maiores vítimas e também
por constituírem o grupo que mais comete transgressões sociais;
- Criar instâncias de controle social na área de segurança
pública; garantir a presença de gestores públicos na
discussão com a sociedade civil das questões relativas à
segurança e à violência; promover de forma mais ampla
e qualificada a interlocução entre governo e sociedade no que
tange à violação dos direitos humanos;
- Incentivar a procura dos mecanismos existentes para garantir a defesa dos
direitos humanos como Comissões Legislativas e Conselhos Municipais
de Direitos Humanos;
- Garantir a presença ostensiva e preventiva da polícia em todas
as áreas urbanas, com qualidade, quantidade e sob o modelo comunitário,
submetida ao controle social; alterar o sistema de policiamento de ruas, privilegiando
o policiamento comunitário;
- Direcionar a função do policial na defesa da sociedade, e
não do patrimônio das elites; reordenar a presença dos
órgãos de segurança pública a partir dos índices
de desenvolvimento humano; divulgar e respaldar a importância do trabalho
da polícia nas comunidades;
- Unificar as Polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros e Detran
num comando único sob a direção do Secretário
de Segurança Pública; articular Exército, Marinha e Aeronáutica
nas ações de combate à violência condizentes com
suas funções;
- Inverter a lógica atual de intervenção, passando a
conferir maior importância ao poder de decisão do órgão
local de segurança;
- Transferir a responsabilidade pelos sistemas prisionais da Secretaria de
Estado de Segurança Pública para a Secretaria de Justiça
e Direitos Humanos; criar estratégias para socializar e ressocializar
os presidiários, a fim de conter a reincidência criminal, implementando
programas de formação profissional para a população
carcerária, compatível com as possibilidades do mercado, valores
humanos e cidadania;
- Aprimorar as Corregedorias das instituições policiais, exigindo
a investigação e julgamento dos crimes policiais, isentos de
corporativismo; estabelecer cadastro único das forças policiais
para evitar que os desligados da Polícia Militar sejam aprovados na
Polícia Civil; aprimorar a seleção de policiais;
- Combater o comércio de armas; controlar o uso das armas pelos policiais,
garantindo que apenas portem armamento de suas instituições;
- Desenvolver métodos eficazes para combater o comércio de drogas;
- Consolidar um Sistema Nacional de Proteção às Vítimas
de Violência; garantir a proteção e reintegração
social das vítimas de violência mediante mecanismos de segurança
como casas-abrigo, devidamente equipadas, com estrutura multidisciplinar e
multissetorial, providas de recursos humanos capacitados, que ofereçam
formação profissional e encaminhamento para o emprego;
- Capacitar e melhorar as condições de trabalho e os salários
dos policiais civis e militares; promover a modernização tecnológica
das polícias;
- Incluir na formação dos policiais militares e civis, bem como
de guardas municipais, as temáticas de combate à discriminação
contra mulheres, negros e homossexuais e a afirmação de direitos
humanos; reforçar a importância dos órgãos de segurança
pública apoiarem as entidades que combatem o racismo e demais formas
de discriminação;
- Capacitar todos os policiais para o correto atendimento à sociedade
de forma que, em médio prazo, não haja mais a necessidade de
delegacias especializadas;
- Criar delegacia especializada para o registro de queixas de homossexuais
vítimas de violência;
- Capacitar as equipes de segurança pública para o atendimento
humanizado e integrado às vítimas de violência sexual;
- Garantir a segurança das lideranças comunitárias.
As propostas dos seminários regionais relativas à
Justiça foram sistematizadas em quatro grandes conjuntos: a modificação
e aplicação de leis, a ampliação do papel do Ministério
Público e Defensorias Públicas, controle do uso de álcool
e trânsito, garantia dos direitos e formas de tratamento de pessoas em
condições especiais. No presente Relatório estão
consolidadas por temas e segmentos populacionais:
- Alterar as legislações que tratam de diversos aspectos envolvendo
a segurança pública e a violência urbana como a lei do
crime organizado, o Código Penal e o Código de Processo Penal;
- Estabelecer programas que reforcem, na sociedade e nas autoridades, o cumprimento
da legislação existente como forma de combate à impunidade;
extinguir a imunidade dos políticos e a impunidade que alimenta o crime;
- Intensificar a presença do Ministério Público e da
Defensoria Pública na comunidade, como forma de aproximação
e comprometimento desses órgãos com seus problemas mais freqüentes;
divulgar nas comunidades o papel desempenhado pelo Ministério Público;
- Aprovar projetos de lei que restrinjam e controlem a produção,
comercialização e tráfico de armas, com rigor nas penalidades
legais;
- Penalizar crianças e adolescentes infratores com trabalhos voluntários
na comunidade;
- Punir os crimes de latifúndio;
- Questionar a Lei de Responsabilidade Fiscal;
- Atualizar os códigos de ética profissional;
- Impostos e tributos – proibir, com instrumentos legais, a utilização
dos Refis da Seguridade Social junto ao INSS; aumentar os impostos nas bebidas
alcoólicas;
- Saúde – exigir o cumprimento das leis que regulamentam o SUS, em
conformidade com o disposto no capítulo Saúde da Constituição
Federal; exigir o cumprimento da Emenda Constitucional no
29 nas três esferas de governo; solicitar ao Ministério Público
o acompanhamento do cumprimento da Emenda Constitucional no
29, divulgando o percentual de recursos aplicado em saúde por cada
estado;
- Trânsito – agilizar o julgamento dos casos de acidentes de trânsito
e estabelecer maior rigor no cumprimento do Código Nacional de Trânsito;
garantir a indenização às vítimas de acidentes
de trânsito, paga pelo infrator; aumentar a fiscalização
e as estratégias de conscientização no trânsito;
- Cultura – convocar o Ministério Público, o Ministério
da Cultura e as secretarias estaduais e municipais de Cultura a priorizar
a promoção da cultura em toda a sua abrangência, no âmbito
do cotidiano e não apenas do setor artístico;
- Mulheres – interiorizar as estruturas, fortalecer as ações
e os mecanismos jurídicos de atendimento nos municípios para
coibir a violência contra os grupos discriminados, principalmente contra
a mulher, a criança e o adolescente, e propor mecanismos jurídicos
de acompanhamento e segurança; incentivar estratégias que promovam
a igualdade entre os gêneros;
- Homossexuais e transexuais – criar um corpo jurídico para prestação
de assessoria e de apoio aos homossexuais e transexuais, em caso de discriminação;
garantir que a orientação sexual não seja um fator discriminatório
ao acesso e à permanência no emprego;
- População carcerária – promover a defesa dos direitos
humanos dos presidiários; ampliar a redução de penas
para detentos com rendimento escolar em cursos profissionalizantes e também
por aqueles que freqüentam cursos de alfabetização e outros
do sistema formal de educação; criar o direito de voto do preso
albergado; apoiar as Pastorais carcerárias para que possam atuar mais
e melhor em benefício dos presidiários; promover estratégias
de apoio às famílias dos encarcerados;
- Uso de álcool - inibir os horários de comercialização
de bebidas alcoólicas; fiscalizar os pontos de venda de bebidas alcoólicas
a crianças e adolescentes próximos as escolas, fazendo cumprir
as leis existentes;.
As propostas relacionadas aos meios de comunicação
de massa reconhecem sua importância numa sociedade democrática
e sua influência na formação de opinião pública.
Por isso mesmo, foi enfatizada a necessidade do controle social sobre a qualidade
da informação prestada pela mídia e maior empenho dos meios
de comunicação na sensibilização da população
para a importância dos acidentes e violências no País assim
como sua participação na promoção de campanhas anti-discriminatórias
de segmentos populacionais.
- Fortalecer o controle social democrático sobre os sistemas de comunicação
de massa para coibir a banalização da violência; ao invés
de mecanismos e instrumentos de censura, debater a aplicação
de taxas e multas elevadas para os veículos de comunicação
e os patrocinadores de programas contrários à política
nacional de combate à violência;
- Coibir a glorificação e mercantilização da violência
e da exploração sexual, particularmente por intermédio
dos meios de comunicação;
- Implementar, imediatamente, o Conselho Nacional de Comunicação,
garantindo a participação da sociedade organizada e representativa,
visando por meio dele coibir a divulgação de estereótipos
diversos;
- Mobilizar os meios de comunicação para a importância
dos acidentes e das violências;
- Intervir quando os direitos humanos forem violados pela mídia, em
todas as suas formas;
- Reduzir a violência na mídia em geral visando a educação
dos jovens com lições de cidadania, ao invés de fomentar
a agressividade, e orientando como se proteger de violências; o aprimoramento
educacional da população interferirá reduzindo a audiência
de programas que mercantilizam e banalizam a violência;
- Regulamentar a propaganda de bebidas alcoólicas, restringindo o horário
e proibindo sua veiculação em meios de comunicação
de massa;
- Liberar a concessão de rádios comunitárias para todos
os bairros.
As proposições de realização de
Campanhas envolvem a participação dos meios de comunicação
embora não sejam de sua exclusiva responsabilidade. Foram propostas Campanhas
para:
- Sensibilizar e reduzir o preconceito e a conseqüente violência
sobre gênero, raça, idade e opção sexual;
- Promover o desarmamento da população;
- Promover o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente;
- Prevenir acidentes na infância e na velhice;
- Reduzir o consumo de álcool e drogas;
- Divulgar as temáticas de violência doméstica e drogas,
envolvendo universidades, igrejas, centros comunitários, gestores,
usuários, trabalhadores de saúde, polícia militar, comerciantes
e outros setores sociais.
Foi considerado de grande importância o papel da sociedade
civil no enfrentamento da violência. A participação da população
e o controle social foram enfatizados de diversas formas e em várias
propostas consolidadas nos tópicos do presente Relatório. As proposições
mais gerais referentes ao papel da sociedade civil, participação
da população e controle social foram:
- Estimular a criação e o fortalecimento de redes sociais; promover
a solidariedade social; priorizar as necessidades coletivas, dando-lhes mais
atenção do que às necessidades pessoais ou corporativas;
- Incentivar a sociedade civil a posicionar-se como protagonista das políticas
públicas, e não apenas como beneficiária;
- Garantir a ampla divulgação de todos os recursos financeiros
transferidos para estados e municípios, em todos os setores, permitindo
o controle social; estabelecer controle rigoroso da utilização
dos recursos financeiros; garantir formas de divulgação pelo
poder público para as lideranças comunitárias que não
têm acesso à internet; debater uma lei que obrigue o poder
público a divulgar as informações necessárias
ao controle social;
- Criar mecanismos que possibilitem à sociedade civil tornar-se a melhor
parceira das medidas sócio-educativas já definidas em lei;
- Estimular as empresas a exercerem sua responsabilidade social mediante a
realização de programas que promovam hábitos saudáveis
e uma cultura da paz; cobrar das empresas privatizadas seu compromisso com
as questões sociais.
1.2. Políticas intersetoriais e de saúde de redução
dos acidentes e das violências
- Instituir como Lei Federal a Política Nacional de Redução
de Morbimortalidade de Acidentes e Violências, com definição
de data e responsabilidades para sua implementação;
- Cobrar as responsabilidades institucionais previstas na Política
Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências,
principalmente do Ministério da Educação, reiterando
a importância de sua participação ativa no desenvolvimento
da Política e na Comissão de Trauma e Violência do Conselho
Nacional de Saúde (CTV/CNS);
- Introduzir nos currículos dos cursos das áreas de saúde,
educação e assistência social o tema das violências
e dos acidentes como problemas de saúde pública no Brasil, de
forma a formar os profissionais para o atendimento dessa demanda social; promover
maior articulação com as universidades visando a formação
de recursos humanos que atuam nos serviços de emergência;
- Formular políticas públicas intersetoriais de atendimento,
acompanhamento e prevenção destinadas às vítimas
de violências e suas famílias, especialmente aos jovens e às
crianças mais pobres e àqueles em situação de
risco social e dependência de drogas;
- Incluir as áreas econômicas e financeiras dos governos no conceito
e prática da intersetorialidade de políticas públicas;
- Incentivar a articulação entre as entidades governamentais,
não-governamentais e diferentes conselhos para a atuação
conjunta na prevenção de todas as formas de violências
e na assistência às suas vítimas, otimizando os recursos
com trabalhos multiprofissionais e interdisciplinares, visando minimizar os
danos a curto e longo prazos, com a perspectiva de inclusão social;
- Envolver ativamente a população, por meio de comitês
locais, na identificação dos tipos de violências mais
comuns e dos segmentos sociais mais atingidos em suas localidades de residência,
no estabelecimento de estratégias e ações locais de prevenção
e redução das violências e acidentes de acordo com sua
realidade; realizar atividades educativas solidárias periódicas
sobre as temáticas da violência doméstica e drogas nos
bairros com maior incidência de violência;
- Incentivar os segmentos organizados da sociedade a atuar junto à
população visando reduzir as discriminações e
buscar o atendimento ao conjunto de necessidades especiais da população
em suas diversas faixas etárias; levar a sociedade civil a participar
do debate sobre a violência e a contribuir com o Estado, sugerindo formas
de ação para inibir a violência e atuando na ressocialização
do adolescente infrator;
- Criar Fóruns Permanentes contra a Violência, nos níveis
nacional, regional, estadual e municipal, em busca da paz e da melhoria da
qualidade de vida da população, com ações preventivas
sobre acidentes e violências; criar fóruns, comitês, redes
permanentes de discussão nos três níveis de governo envolvendo
os setores de Segurança, Saúde, Educação e outros,
com participação popular paritária, sobre o Sistema de
Justiça e Segurança Pública visando à proposição
de ações preventivas de combate à violência, conferindo
prioridade à juventude e à violência doméstica;
- Mobilizar as entidades públicas e da sociedade para a promoção
de debates, seminários e reflexões acerca do tema da violência,
procurando encontrar soluções em conjunto, aproveitando o conhecimento
de todos os setores e segmentos, da universidade ao conhecimento empírico
da população, na busca de ações efetivas de prevenção,
controle e combate à violência;
- Estabelecer estratégias, planos e programas para redução
da morbimortalidade por violências nos grandes centros urbanos e, principalmente,
nas regiões metropolitanas, pólos dinâmicos da economia
nacional, onde concentram-se vítimas e agentes das violências;
articular ações entre os municípios com problemas inter-relacionados,
em especial nas regiões metropolitanas;
- Sensibilizar ONG e comunidade em geral para identificar e encaminhar casos
de violência familiar, de forma a originar uma ação terapêutica
a partir da denúncia;
- Sensibilizar a Defensoria Pública para integrar a rede de serviços
de atendimento às vítimas de acidentes e violências e
suas famílias;
- Divulgar amplamente a Política Nacional de Redução
de Morbimortalidade por Acidentes e Violências, em parceria com os Conselhos
Estaduais e Municipais de Saúde, programando para 2003 um amplo movimento
de divulgação e debate que promova a elaboração
de propostas a partir do nível local, de forma ascendente, até
o nível nacional;
- Divulgar os aspectos básicos da Política Nacional para Redução
da Morbimortalidade por Acidentes e Violências nas crianças e
adolescentes em especial, e sobre experiências bem sucedidas na prevenção
ou redução da violência;
- Elaborar e divulgar materiais educativos sobre acidentes e violências
condizentes com as realidades e culturas locais, em linguagem acessível
para toda a população;
- Estabelecer estratégias de divulgação e discussão
dos diagnósticos sobre violências e acidentes nas escolas e nos
serviços de saúde, não restringindo a discussão
ao âmbito municipal;
- Identificar outros mecanismos capazes de tornar acessíveis as informações
sobre violências para os movimentos sociais organizados considerando
a enorme ‘exclusão digital’ da população brasileira que
impede o seu acesso e dos movimentos populares à obtenção
de informações por meio de internet;
- Produzir publicações regionais, com apoio de entidades governamentais
e não governamentais, para trabalhos em escolas e na comunidade, com
orientações sobre a cultura de paz e na busca da redução
da violência;
- Incluir no Código de Saúde um capítulo específico
sobre violências;
- Tratar a problemática das drogas como questão de saúde
pública;
- Estabelecer uma política efetiva de prevenção de acidentes
domésticos;
- Estabelecer uma política de assistência integral às
pessoas em condições especiais em decorrência de acidentes
de trânsito e de trabalho;
- Promover e intensificar a vigilância da saúde de crianças,
adolescentes, jovens, portadores de deficiência física e mental
e idosos em condição asilar, por serem freqüentes focos
de violência institucional e de abandono;
- Estabelecer mecanismos e instrumentos para identificar as violências
produzidas nos próprios serviços de saúde e por profissionais
de saúde, como a recusa de atendimento, definição de
precedência no atendimento por falta de recursos para oferecer assistência
a todos os pacientes, omissão dos cuidados necessários (ex.:
clínicas geriátricas, hospícios), e participação
em cirurgias relacionadas com o roubo de órgãos e tecidos;
- Promover o intercâmbio de informações e de experiências
bem sucedidas sobre prevenção e assistência de situações
de violências cometidas contra crianças e de acidentes de trânsito;
- Discutir a violência nos ambientes de trabalho e implementar políticas
de saúde do trabalhador;
- Incluir psicólogos nos serviços de atenção básica,
incorporando este profissional nas atividades de prevenção de
violências, particularmente as auto-inflingidas, e de assistência
e recuperação de vítimas de violência;
- Incluir assistentes sociais nas equipes de Saúde da Família,
para garantir a assistência integral às famílias e às
comunidades com programas de prevenção de acidentes e violências;
- Garantir uma política de tratamento e acompanhamento dos agressores
mediante a aplicação de penas alternativas de prestação
de trabalhos sociais e atenção terapêutica, de forma integrada
entre as secretarias de Segurança Pública e da Saúde;
- Garantir posturas éticas na divulgação das informações
sobre violências nos três níveis de governo;
- Garantir a divulgação para todos os conselhos estaduais e
municipais de saúde das portarias, normas, manuais e resoluções
do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Saúde;
- Incentivar as ações integradas entre os níveis municipal,
estadual e federal, evitando a verticalização dos programas
e campanhas do governo federal, que têm sua atuação limitada
no tempo e no espaço; desburocratizar e descentralizar a gestão
do SUS, com a redução de normas e portarias do Ministério
da Saúde;
- Integrar as diversas Secretarias de Estado, com vistas à busca de
soluções compartilhadas;
- Aprimorar a atuação do Conselho Nacional de Saúde no
monitoramento dos Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde visando
garantir a representação de todos os segmentos populacionais
a partir da livre escolha de suas organizações, coibindo a exclusão
dos movimentos populares e a seleção pelo executivo dos representantes
de outros segmentos, principalmente dos usuários, e garantindo o efetivo
controle social; recuperar o espaço de participação dos
movimentos populares nos Conselhos de Saúde;
- Integrar os conselhos de saúde com os demais conselhos das áreas
sociais;
- Estimular a criação de comissões temáticas permanentes
com a representação de mulheres negras e homossexuais nos Conselhos
Estaduais e Municipais de Saúde, Educação, Ação
Social e Direitos da Criança e do Adolescente;
- Incentivar a implantação de Conselhos Locais ou Conselhos
Gestores em todas as unidades de saúde integrantes do SUS e garantir
a possibilidade de sua participação na elaboração
do plano de trabalho e de atividades dos serviços;
- Incentivar o controle social nas três esferas de governo, salientando
o caráter propositivo, fiscalizador e avaliador dos Conselhos de Saúde;
estimular a participação da população nos Conselhos
fortalecendo-os;
- Compreender o tratamento de saúde como um trabalho multidisciplinar
que se realiza em equipe;
- Mudar a forma tradicional de tratamento das doenças por um modelo
que privilegie a promoção da saúde e a prevenção;
inverter a lógica exclusiva de atendimento/medicação
e a excessiva tendência de medicalização, utilização
de equipamentos tecnológicos e hospitalização;
- Garantir o acesso aos programas de planejamento familiar, com foco educativo
e preventivo;
- Considerar as necessidades especiais dos idosos em relação
à assistência de saúde e à qualidade de vida, garantindo
seu atendimento em todos os níveis do sistema de saúde;
- Articular o Ministério da Saúde com setores da construção
civil, visando desenvolver materiais e equipamentos domésticos que
dêem segurança aos idosos;
- Incentivar financeiramente, de forma diferenciada, as equipes de Saúde
da Família que atuam em regiões metropolitanas.
- Monitoramento da ocorrência de acidentes e de violências
- Criar Comissão Nacional com os três poderes e sociedade civil
para diagnosticar o problema da violência, inclusive em zonas rurais,
e orientar o orçamento para potencializar ações e estratégias;
incentivar o Executivo a apropriar-se da epidemiologia como instrumento de
construção de estratégias para reduzir a morbimortalidade
por acidentes e violências;
- Realizar um mapeamento dos dados sobre violência, articulando as várias
instâncias que tratam do problema, incluindo hospitais, profissionais
de saúde, institutos de medicina legal e organismos policiais;
- Criar um Sistema Nacional de Informações sobre acidentes e
violências integrando os diversos setores envolvidos nos três
níveis de governo: saúde (serviços de emergência,
ambulatórios, atendimento pré-hospitalar, hospitais, mortalidade),
segurança pública, justiça e demais áreas sociais,
incluindo os acidentes de trabalho, e com dados padronizados para permitir
a compatibilização das informações, que apoiem
a implementação e avaliação das políticas
públicas de redução de acidentes e violências;
- Estabelecer como exigência que os municípios levantem seus
dados sobre violências e os fatores que as causam, definindo e padronizando
indicadores e fontes de informação para que possam ser realizadas
comparações e monitoramento;
- Melhorar a qualidade do diagnóstico da violência familiar e
sexual pelos órgãos da saúde e de segurança pública
por meio da homogeneização conceitual, integração
das diversas bases dos dados e sistemas de informação, estabelecendo
uma prática regular de análise e divulgação de
dados;
- Criar mecanismos legais e/ou normativos que assegurem o cumprimento da obrigatoriedade
da notificação compulsória de violências, sobretudo
as cometidas contra crianças, adolescentes e idosos;
- Orientar os profissionais das equipes de Saúde da Família,
incluindo os agentes comunitários de saúde, para a adequada
notificação de acidentes e violências;
- Estimular o adequado preenchimento dos formulários e prontuários
médicos informando as circunstâncias dos agravos (ex.: sinais
e sintomas do uso de álcool e drogas);
- Pontuar o aborto provocado por causas externas para adoção
de providências.
- Sistematização, ampliação e consolidação
do atendimento pré-hospitalar
"A prestação do atendimento às vítimas
requererá a estruturação e a organização
da rede de serviços do SUS, de forma que possa diagnosticar as violências
e acidentes entre os usuários e acolher demandas, prestando-lhes atenção
digna, de qualidade e resolutiva, desde o primeiro nível de atenção.
A consecução desse atendimento dar-se-á, sobretudo, mediante
o estabelecimento de sistemas de referência entre o setor saúde
e as áreas jurídicas e de segurança, para o que será
provida a respectiva assessoria técnica no tocante à definição,
implantação e avaliação das ações.
Neste particular, ainda, deverão ser apoiados projetos e repasses de
recursos voltados à estruturação e à organização
mencionadas" (Brasil, Ministério da Saúde, Política
Nacional de Redução de Morbimortalidade de Acidentes e Violências,
2001 [2002], p. 32)
- Ampliar e aperfeiçoar os serviços telefônicos de emergência
e denúncia, do tipo 0800, com funcionamento 24 horas, viabilizar o
acesso à internet para o atendimento de casos de acidentes e
violências e criar página (site) na internet para
denúncias de violências contra mulheres, crianças, homossexuais
e índios, por serem os alvos mais habituais de agressões e discriminações;
- Organizar e implantar serviços de atendimento pré-hospitalar
(APH) e aprimorar os serviços existentes, identificando fontes de recursos
destinados à preparação de pessoal e à aquisição
de materiais;
- Ampliar o atendimento do Serviço Integrado de Atendimento aos Traumas
e Emergências (SIATE) – uma experiência bem sucedida, para as
localidades onde os dados de morbidade e de mortalidade mostram situações
críticas;
- Melhorar os equipamentos das ambulâncias.
4. Assistência interdisciplinar e intersetorial às
vítimas de acidentes e de violências
As propostas, tanto de escopo geral quanto direcionadas para
tipos e grupos específicos, revelaram concepções abrangentes
das estratégias necessárias para o enfrentamento das violências
ressaltando os temas da humanização, inversão da lógica
médica dominante, melhor distribuição de recursos financeiros
e humanos e da desburocratização. Exceto nos casos em que as propostas
são específicas para tipos de violência e grupos de pessoas
atingidas, são apresentadas em formulações genéricas
que incluem a violência doméstica, acidentes e violências
no trânsito, drogas e álcool, violência contra as mulheres,
idosos e pessoas em condições especiais.
- Criar estratégias de atendimento rápido às vítimas
de violências e estabelecer fluxos de encaminhamento para serviços
de referência;
- Criar e melhorar os serviços de saúde para o desenvolvimento
de ações intersetoriais das políticas públicas
e para o atendimento intersetorial das vítimas de violências
e usuários de drogas; reequipar as unidades de saúde para garantir
um melhor atendimento às vítimas de violência, conferindo
atenção especial aos prontos-socorros já existentes e
criando novas unidades desse tipo; melhorar as condições de
trabalho dos profissionais de saúde que atuam no atendimento às
vítimas da violência, bem como as condições físicas
das unidades de serviços;
- Criar redes multisetoriais de apoio às vítimas de violência;
- Promover o atendimento psicossocial às vítimas de violência
e às suas famílias;
- Garantir a implantação e a implementação das
redes de serviços locais e regionais para o encaminhamento e atendimento
das vítimas de violências doméstica e sexual, assim como
dos agressores, com os insumos necessários (medicamentos, anti-retrovirais,
anticoncepção de emergência) para a realização
do aborto legal;
- Ampliar a capacidade de atendimento às vítimas de violência
doméstica e sexual com a criação de serviços ambulatoriais
com especialistas trabalhando em equipes multidisciplinares;
- Criar centros de referência para violências com a participação
do Estado e setores da sociedade civil;
- Incentivar a implantação de centros de referência para
homossexuais e transexuais nos municípios-pólo;
- Integrar a assistência às vítimas de acidentes e violências
ao conjunto das atividades desenvolvidas pelas equipes de Saúde da
Família e agentes comunitários de saúde, além
daquelas compreendidas no atendimento ambulatorial, emergencial e hospitalar,
com definição de mecanismos de referência entre estes
serviços; incluir a meta de redução dos acidentes e violências
entre as atividades desenvolvidas pela equipe de Saúde da Família;
- Implantar as normas técnicas do Ministério da Saúde
para os setores que atendem mulheres vítimas de violências;
- Melhorar o acolhimento dos usuários nas unidades de saúde,
na abordagem relacional e nas intervenções operacionais da saúde
pública;
- Humanizar o tratamento dispensado aos pacientes; permitir a livre entrada
dos familiares nos hospitais, em qualquer horário; promover a prestação
de tratamento digno aos pacientes.
5. Estruturação e consolidação
do atendimento voltado à recuperação e à reabilitação
- Criar centros de convivência de apoio às vítimas e suas
famílias que atendam a todas as faixas etárias (crianças,
adolescentes, adultos e idosos);
- Criar centros de recuperação de dependentes químicos,
e apoiar e garantir o funcionamento dos já existentes;
- Criar um programa permanente de trabalho com as famílias de usuários
de drogas na comunidade; criar um programa de apoio e orientação
a familiares de homossexuais e transexuais;
- Criar centros de convivência e de lazer para homossexuais e transexuais;
- Criar e manter casas-abrigo para acolhimento de homossexuais em situação
de risco de vida nas diferentes regiões dos estados.
6. Capacitação de recursos humanos
- Criar programa de valorização do servidor público visando
sua motivação, integração e envolvimento no processo
de melhoria das políticas públicas;
- Incentivar a realização de concursos públicos fortalecendo
o papel do Estado na implementação das políticas públicas
e coibindo a precarização dos contratos de trabalho no serviço
público;
- Qualificar e capacitar permanentemente os profissionais de educação
sobre temas relacionados à violência, direitos humanos, cidadania
e paz, respeitando suas realidades; qualificar os profissionais de educação
para lidar com a diversidade dos seus alunos e com as experiências de
violências que integram seus cotidianos;
- Preparar os profissionais de educação e de saúde para
discutir, analisar de forma mais qualitativa os diagnósticos sobre
violências e acidentes e elaborar estratégias intersetoriais
de ação, com participação da comunidade, no âmbito
das escolas e dos serviços de saúde;
- Capacitar os profissionais da atenção básica para desenvolver
ações e estratégias de promoção da saúde
(trabalho intersetorial da comunidade, estímulo à autonomia
etc.) para potencializar o trabalho de prevenção da violência
e de construção de uma vida saudável;
- Programar estratégias de educação continuada para profissionais
de saúde e áreas afins, visando efetivar uma política
eficaz de prevenção e redução da violência;
- Desenvolver medidas específicas para sensibilizar e informar os profissionais
e gestores de saúde quanto ao seu papel na orientação
dos portadores de seqüelas e deficiências de acidentes e violências,
bem como seus familiares, oferecendo adequadas condições de
trabalho;
- Sensibilizar os profissionais dos serviços de saúde para a
prevenção da violência institucional cometida pelos próprios
serviços de saúde: centrados nos processo patológico
sem considerar as condições de vida do paciente, que acham naturais
as longas esperas por atendimento, que atuam burocraticamente e com descaso,
e que atendem mal a população que usa o SUS;
- Realizar investimentos na promoção de estratégias de
sensibilização, capacitação, treinamento e educação
continuada dos profissionais de saúde para o atendimento com qualidade
às vítimas de violências doméstica e sexual;
- Capacitar as equipes de saúde em geral e, principalmente, os agentes
comunitários de saúde (ACS) e os profissionais das equipes de
Saúde da Família, a identificar a violência familiar e
maus-tratos, para o atendimento e encaminhamento devidos aos casos, acionando
os serviços existentes de proteção das vítimas
e acompanhando os casos identificados, e garantir condições
adequadas para a realização das atividades, tais como tempo
para reuniões de equipe e infra-estrutura;
- Apoiar a realização de estágios de integrantes das
ONG em centros de referência para violências.
7. Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas
- Apoiar o desenvolvimento de projetos de pesquisa conjuntos entre órgãos
governamentais e organizações não governamentais sobre
acidentes e violências;
- Estimular as universidades e entidades de pesquisa a aprofundar os estudos
sobre violência em suas diversas formas, estabelecendo parâmetros
de incidência nos diversos segmentos sociais e refletindo sobre suas
origens e conseqüências;
- Implantar núcleos de estudos sobre a violência;
- Criar núcleo de estudos interdisciplinares sobre trânsito;
- Estimular a criação de núcleos de estudo e trabalho
sobre acidentes e violências nas secretarias estaduais e municipais
de Saúde, nas sociedades científicas, nas instituições
e serviços públicos e privados, bem como em grupos organizados
da sociedade civil;
- Avaliar o impacto dos atuais programas, desenvolvidos pelo governo e pela
sociedade civil, no combate e na prevenção das violências;
- Avaliar a violência na zona rural;
- Realizar pesquisas de vitimização;
- Aprofundar estudos específicos sobre a relação entre
drogas, violência e população de baixa renda;
- Apoiar e promover a realização de seminários, oficinas
de trabalho e a divulgação dos dados e informações
sobre acidentes e violências, principalmente em áreas com maiores
índices de violência;
- Elaborar, nos estados, pesquisas dos índices de desenvolvimento humano,
nas perspectivas de gênero, etnia e classe social;
- Destinar recursos dos orçamentos da União, dos estados e dos
municípios para o desenvolvimento de pesquisas sobre as manifestações
relacionadas à cultura de origem africana e à cultura popular
de rua;
- Revigorar as universidades públicas como centros de produção
de conhecimento, acessíveis aos cidadãos, independentemente
de suas condições financeiras;
- Incentivar a maior participação das universidades em pesquisas
e levantamentos de dados estatísticos que possam subsidiar análises
e decisões voltadas para a cidadania.
Anexos
- Associação de mães e familiares de vítimas de
violência do estado do Espírito Santo (Amafavv/ES). Dossiê
das vítimas de violência do Espirito Santo: crime organizado.
Vitória, 2 de dezembro de 2002. 12 p.
- Sobre modelo econômico, trabalho e renda:
- Mudar o modelo econômico, reformular o Estado e garantir recursos
para investir nas cidades;
- Incrementar políticas de geração de emprego e renda,
exigindo sua prioridade em todos os níveis de governo, visando fixar
a população em seu local de origem, com qualidade de vida;
- Promover ocupação e renda para jovens fornecendo-lhes oportunidades
de trabalho; ampliar projetos como o "Jovem Total", desenvolvidos
em 54 comunidades da cidade do Rio de Janeiro, no qual os jovens recebem 100
reais mensais para aprender uma profissão;
- Usar os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) na capacitação
do jovem aprendiz para o mercado de trabalho.
- Sobre o planejamento urbano:
- Romper com o modelo ‘centro/periferia’ no planejamento urbano;
- Reverter a lógica de arquitetura da cidade, transformando a assimetria
das áreas privilegiadas versus áreas degradadas, humanizando
as cidades;
- Garantir que o cidadão retome a ocupação dos espaços
da cidade, gerenciando seu uso;
- Democratizar os espaços públicos mediante instrumentos de
planejamento urbano, em particular, do Plano Diretor;
- Prever, instalar e ampliar espaços comunitários e áreas
de lazer, esporte, recreação, cultura e orientação
psicossocial, utilizando melhor os espaços públicos em atividades
voltadas às comunidades;
- Investir em espaços para jovens de modo a permitir sua plena socialização;
criar espaços de lazer para crianças e jovens carentes.
- Sobre trânsito e transportes:
- Prevenir acidentes de trânsito, terminando obras como a BR-040, trecho
Juiz de Fora/Belo Horizonte;
- Aplicar metodologias para avaliar o impacto de obras sobre a comunidade
(estradas, avenidas, indústrias, shoppings etc.) e na qualidade
de vida das pessoas;
- Exigir air-bags em carros populares.
- Sobre áreas rurais:
- Desenvolver efetivo programa social para o campo que permita a manutenção
das famílias, com a criação de um programa de renda mínima
com valores correspondentes a 90% do salário mínimo;
- Garantir salário mínimo, 13º salário, FGTS
e férias na zona rural.
- Sobre educação:
- Transformar o ato de aprender em uma atividade que proporcione prazer, que
dê satisfação pessoal ao aluno;
- Unir centros e associações comunitárias com escolas
municipais e estaduais para buscar soluções para os problemas
da educação;
- Universalizar a educação infantil em horário integral,
com atendimento específico para cada faixa etária e indicador
de cobertura para avaliação;
- Ampliar os programas que complementem a carga horária como esporte,
lazer, teatro, entre outros;
- Desenvolver programas para as famílias dos alunos e capacitar profissionais
para lidar com essas famílias;
- Iniciar a alfabetização aos cinco anos;
- Inserir na escola a discussão sobre as informações
divulgadas pela mídia e sobre o seu papel na formação
do jovem, com o envolvimento de pais e alunos;
- Dar competência deliberativa aos Conselhos de Educação;
- Reformular os Conselhos Escolares para garantir a participação
efetiva da comunidade;
- Mobilizar a sociedade civil organizada para exigir o efetivo funcionamento
dos Conselhos Escolares Municipais e Estaduais de Educação,
ampliando o controle social sobre a educação e integrando as
escolas em suas comunidades;
- Fortalecer a participação juvenil nas decisões internas
da escola, por meio de grêmios e outras associações.
- Sobre grupos em situações especiais:
- Estabelecer mecanismos para agilizar e antecipar a consolidação
do Plano para as Minorias, divulgado pelo presidente da República,
no que diz respeito à Parceria Civil Registrada e à adoção
de crianças por casais do mesmo sexo;
- Estimular o debate sobre a criação de Comissões Permanentes
de Relações Étnicas, de Gênero e Orientação
Sexual nas Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais.
- Sobre saúde:
- Criar mecanismos que facilitem o acesso à política de assistência
farmacêutica e de medicamentos do SUS;
- Aumentar a oferta de cirurgias eletivas;
- Implantar com urgência a assistência plena odontológica
para a população carente;
- Criar mecanismos que facilitem o acesso a tratamentos alternativos como
fitoterapia, homeopatia, acupuntura e outros;
- Promover sindicâncias e auditorias para aferir a qualidade do atendimento
nos hospitais;
- Acabar como a ‘ambulancioterapia’ e com a desativação dos
hospitais com menos de 50 leitos;
- Redimensionar os recursos humanos do SUS;
- Implementar a Norma Operacional de Recursos Humanos do SUS, de acordo com
as diretrizes aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde;
- Democratizar a administração dos hospitais.
8. Outras:
- Reverter a privatização dos cemitérios que exigem o
pagamento de mensalidades para manter o sepultamento dos familiares;
- Fortalecer a família.