Este texto não substitui o publicado no Diário Oficial da União
O Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
no uso de suas atribuições legais,
Considerando a necessidade de estabelecer o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas para o tratamento da Hepatite Autoimune, que contenha critérios
de diagnóstico e tratamento, racionalize a dispensação
dos medicamentos preconizados para o tratamento da doença, regulamente
suas indicações e seus esquemas terapêuticos e estabeleça
mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados,
garantindo assim a prescrição segura e eficaz;
Considerando a Consulta Pública GM/MS nº 14, de 04 de novembro
de 2004, a que foi submetido o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
- Hepatite Autoimune, que promoveu ampla discussão e possibilitou a
participação efetiva da comunidade técnico científica,
sociedades médicas, profissionais de saúde e gestores do Sistema
Único de Saúde na sua formulação, resolve:
Art. 1º - Aprovar o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS
- HEPATITE AUTOIMUNE, na forma do
Anexo desta Portaria.
§ 1º Este Protocolo, que contém o conceito
geral da doença, os critérios de inclusão/exclusão
de pacientes no tratamento, critérios de diagnóstico, esquema
terapêutico preconizado e mecanismos de acompanhamento e avaliação
deste tratamento, é de caráter nacional, devendo ser utilizado
pelas Secretarias de Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios,
na regulação da dispensação dos medicamentos nele
previstos.
§ 2º As Secretarias de Saúde que já
tenham definido Protocolo próprio com a mesma finalidade, deverão
adequá-lo de forma a observar a totalidade dos critérios técnicos
estabelecidos no Protocolo aprovado pela presente Portaria;
§ 3º É obrigatória a observância
deste Protocolo para fins de autorização e dispensação
dos medicamentos nele previstos;
§ 4º É obrigatória a cientificação
do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos
colaterais relacionados ao uso dos medicamentos preconizados para o tratamento
da Hepatite Autoimune, o que deverá ser formalizado através
da assinatura do respectivo Termo de Consentimento Informado, conforme o modelo
integrante do Protocolo.
Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário
ANEXO
PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS HEPATITE AUTOIMUNE
AZATIOPRINA
1.INTRODUÇÃO
Em 1950 foi descrita por Waldenström uma série de casos de mulheres
jovens com uma forma de hepatite grave, associada a “rash” acneiforme,
aranhas vasculares, amenorréia e uma elevação marcada
das concentrações séricas de gama-globulina. Após
ter se estabelecido a origem imunológica da doença, ela passou
a ser conhecida por “hepatite lupóide” ou “hepatite
autoimune crônica ativa”. Em dois encontros internacionais de
especialistas, em 1992 em Brighton
no Reino Unido e em 1994 em Los Angeles nos Estados Unidos, foi reconhecido
que os termos crônica e ativa eram desnecessários, pois a doença
é a priori crônica e nem sempre é ativa, devido ao seu
caráter flutuante. Desse modo foi recomendada a utilização
do termo “Hepatite autoimune” para a sua designação.1
A prevalência dessa doença, baseada em estatísticas internacionais
realizadas na Europa setentrional, situa-se em cerca de 17 casos por 100.000
habitantes, com uma incidência anual de 1,9 casos por 100.000 habitantes.1,2
No Brasil a incidência não é plenamente conhecida. Em
um Inquérito Nacional sobre Hepatite Autoimune, apresentado no XVI
Congresso Brasileiro de Hepatologia em 2001, dentre as causas de hepatopatia
crônica, sua prevalência foi de 3,3%.3 As principais características
da hepatite autoimune são um quadro histológico de hepatite
de interface (periportal e/ou periseptal), a hipergamaglobulinemia, a presença
de autoanticorpos tissulares e a responsividade a terapia imunossupressora
na maioria dos casos.1 Dentre os principais anticorpos estão o fator
antinuclear (FAN), o anti-músculo liso (AML) e o os anticorpos microssomais
expressos no fígado e nos rins (anti-LKM1). Outros anticorpos também
foram caracterizados, principalmente do grupo anti-actina, sendo um dos principais
o anti-SLA/LP3, contudo os anticorpos desse grupo são considerados
investigacionais, não são normalmente disponíveis e seus
métodos de identificação ainda não foram padronizados.
A positividade do FAN e/ou do AML caracterizam a hepatite autoimune tipo 1,
o anti-LKM1 a tipo 2 e o anti-SLA/LP a tipo 3. Pacientes com hepatite autoimune
tipo 1 têm maiores chances de sucesso com o tratamento e maiores chances
de remissão do que pacientes com hepatite autoimune tipo 24, embora
a importância prática para o tratamento ou para o prognóstico
da utilização dessa classificação ainda não
esteja determinada.1
Em cerca de 50% dos casos o início da doença é insidioso,
com os pacientes apresentando fadiga, náuseas, anorexia, perda de peso,
dor ou desconforto abdominais, icterícia, rash cutâneo, artralgias
e mialgias. No exame físico podem estar presentes hepatoesplenomegalia,
ascite, eritema palmar, aranhas vasculares, edema periférico e encefalopatia.1,5
Cerca de 30% dos pacientes apresentam-se com um quadro agudo, com icterícia
marcada, sendo essencial a identificação precoce e tratamento
adequado para evitar-se progressão para insuficiência hepática.
O restante dos casos são assintomáticos e são identificados
pelo achado incidental de aumento de transaminases. 1
A história natural e o prognóstico da hepatite autoimune dependem
do grau de atividade da doença e da presença ou não de
cirrose. Elevação sustentada de aminotransferases séricas
(ALT ou AST) acima de 10 vezes o limite superior da normalidade ou elevação
de 5 vezes das mesmas enzimas associada a elevação de 2 vezes
o normal nos valores de gamaglobulina, associam-se com aumento na mortalidade,
que pode chegar a 90% em 10 anos.6,7 A mortalidade chega a 40% nos primeiros
seis meses para pacientes com doença grave que não recebem terapia
imunossupressora.7 A mortalidade em pacientes com cirrose não tratados
é de 58% em cinco anos, sendo que a presença de cirrose parece
não influenciar na resposta terapêutica.8
Três ensaios clínicos clássicos avaliaram a utilidade
da terapia imunossupressora na Hepatite autoimune. O primeiro, publicado em
1971, avaliou 49 pacientes com o diagnóstico de “Hepatite Crônica
Ativa”. Os pacientes foram randomizados para receberem 15mg de prednisolona
ou permanecerem em acompanhamento sem tratamento. Houve diminuição
significativa na bilirrubina sérica e globulinas totais com aumento
na albumina sérica dos pacientes recebendo prednisolona em relação
aos controles. Após 6 anos de acompanhamento, 3 (13,6%) dos 22 pacientes
do grupo prednisolona morreram em comparação com 15 (55,6%)
dos 27 pacientes no grupo controle (p<0,01).9 Um segundo estudo realizado
em 63 pacientes com “doença hepática crônica ativa
acentuada” comparou o tratamento com o prednisona 20mg por dia, prednisona
10mg por dia associado a azatioprina 50mg, azatioprina 100mg por dia ou placebo.
O estudo foi duplo-cego, mas não fica claro na publicação
se os grupos foram randomizados. Houve aumento na sobrevida, resolução
dos exames de bioquímica hepática e melhora histológica
nos pacientes recebendo prednisona ou associação de prednisona
e azatioprina em relação ao grupo azatioprina monoterapia e
ao grupo placebo.6 Um terceiro estudo randomizado com 47 pacientes comparou
a eficácia da prednisona 15mg por dia em relação a azatioprina
75mg na terapia de manutenção de pacientes com “hepatite
crônica ativa” após tratamento de indução
com prednisona 30mg por dia e azatioprina 112,5mg por dia por 4 semanas. O
estudo foi interrompido após 2 anos de seguimento pois a sobrevida
no grupo prednisona neste momento era de 95% e no grupo azatioprina era de
72%. Os autores não calcularam a significância estatística
exata, pois os dados não tinham uma distribuição normal.10
Analisando-se os resultados desses estudos, fica claro o benefício
da prednisona monoterapia ou associada a azatioprina, mas não da azatioprina
isoladamente, em induzir remissão e aumentar a expectativa de vida
desses pacientes. Não está determinado o papel de outros imunossupressores,
como ciclosporina ou micofenolato de mofetila, no tratamento da hepatite auto-imune.4
Havia uma dúvida quanto ao impacto da insuficiência hepática
na biotransformação de prednisona a prednisolona, que é
o seu metabólito ativo, o que poderia diminuir a eficácia da
prednisona em pacientes hepatopatas. Um estudo avaliou os parâmetros
farmacocinéticos da prednisona em comparação com os mesmos
parâmetros em voluntários sadios. Não foi encontrada nenhuma
diferença no metabolismo da prednisona em pacientes com doença
hepática crônica ativa11 , concluindo-se que ela pode ser utilizada
com segurança em pacientes com hepatite autoimune.
2.CLASSIFICAÇÃO - CID 10
·K75.4 Hepatite autoimune
3.DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da hepatite autoimune é feito pela soma de informações
clínicas, bioquímicas, histológicas e de resposta ao
tratamento. É obrigatório que sejam afastadas causas virais,
tóxicas e metabólicas antes que se possa firmar o diagnóstico.
Corrobora o diagnóstico a presença de aumento expressivo nas
gamaglobulinas, grau de elevação das aminotransferases maior
do que o grau de elevação da fosfatase alcalina, presença
de FAN, AML ou anti-LKM1 positivos, ausência de anti-mitocôndria
e histologia com hepatite de interface com ausência de lesões
biliares, granulomas, ou alterações proeminentes sugestivas
de outra doença.
Em 1992 foi realizado um painel com 27 médicos especialistas em hepatites
autoimunes em que os critérios diagnósticos dessa doença
foram discutidos, tendo sido criado um escore diagnóstico, com a finalidade
de padronização da doença.12 Este escore foi estudado
em uma série de contextos. Com base nestes estudos, em 1998 nova reunião
foi realizada, sendo os critérios revisados e o escore levemente modificado,
principalmente com a finalidade de excluir com maior precisão as doenças
colestáticas.
Os critérios modificados podem ser vistos na tabela 1.
Tabela 1. Escore revisado para o diagnóstico de hepatite autoimune
(ERDHAI)13
a.Calculado com número de vezes acima do limite superior
da normalidade da FA dividido pelo número de vezes acima do limite
superior da normalidade da AST .
b.Títulos medidos por imunofluorescência indireta
em tecidos de roedores ou para o FAN em células Hep-2. Títulos
mais baixos em crianças podem ser significantes e devem pontuar pelo
menos 1 ponto (especialmente de anti-LKM1).
c.Considera-se como negativo resultado negativos de todos
a seguir: anti-HAV IgM, HBsAg, anti-HBc IgM, anti-HCV e reação
em cadeia da polimerase para HCV qualitativo. Se uma etiologia viral é
suspeitada pode-se considerar necesssária a exclusão do citomegalovírus
e do vírus Epstein-Barr.
d.Válidos para pontuação apenas se
FAN, AML e anti-LKM1 negativos.
e.Incluem anti-SLA/LP, p-ANCA, anti-ASGPR, anti-LC1 e anti-sulfatide.
f.HLA DR13 incluído no escore original de acordo
com resultados de estudo realizado em São Paulo.14
g.Se paciente ainda não foi tratado, desconsiderar
e utilizar ponto de corte pré-tratamento (ver a seguir). Incluir a
pontuação apropriada após inicio da terapia.
h.Resposta completa (pelo menos 1 das seguintes situações):
1- melhora importante dos sintomas associada a normalização
da AST, ALT, bilirrubinas e gamaglobulinas no prazo de 1 ano do início
do tratamento e mantido por 6 meses; 2- melhora dos sintomas com melhora de
50% da AST, ALT e bilirrubinas no primeiro mês de tratamento e com AST
e ALT permanecendo no máximo 2 vezes o limite superior da normalidade
durante os primeiros seis meses da terapia de manutenção; 3-
biópsia durante este período mostrando no máximo atividade
mínima.
i.Recaída (uma das seguintes situações
após resposta completa): 1- aumento da AST ou ALT acima de 2x o limite
superior da normalidade; 2- biópsia hepática mostrando doença
ativa; 3- retorno de sintomas que necessitem aumento da imunossupressão
acompanhado de aumento na AST ou ALT.
O diagnóstico de hepatite auto-imune é feito da seguinte forma:
a) Pacientes que ainda não tenham sido tratados com imunossupressores:
- ERDHAI de 10 a 15 (diagnóstico provável de hepatite autoimune);
- ERDHAI acima de 15 (diagnóstico definido de hepatite autoimune).
b) Paciente já tratados com imunossupressores:
- ERDHAI de 12 a 17 (diagnóstico provável de hepatite autoimune);
- ERDHAI acima de 17 (diagnóstico definido de hepatite autoimune).
4.CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Serão incluídos neste protocolo os pacientes que preencherem
os 2 requisitos abaixo:15
·Diagnóstico definido ou provável de hepatite autoimune
(ver ítem 3) e;
·Pelo menos um dos itens abaixo:
-AST 10x acima do normal;7
-AST 5x acima do normal associado a gamaglobulina duas vezes acima do normal;7
-Presença de necrose em ponte ou multilobular à histologia;16
-Cirrose com atividade inflamatória presente;10
-Presença de sintomas constitucionais incapacitantes.
5.CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
a)Ausência de infiltrado inflamatório (ausência de atividade),
mesmo com cirrose, pois não há evidência de benefício
de terapia imunossupressora nestes casos.
b)Pacientes que não concordaram com o Termo de Consentimento Informado;
c)Pacientes com contra-indicação à utilização
de prednisona e azatioprina.
Nota: Pacientes sem resposta prévia a imunossupressores não
exclui a possibilidade do diagnóstico de hepatite autoimune, contudo
recomenda-se que esses pacientes realizem investigação complementar
para exclusão de outras doenças, especialmente se eles apresentarem
alterações colestáticas no perfil bioquímico.
6.TRATAMENTO
Prednisona isoladamente ou em dose baixa associada a azatioprina é
a base do tratamento da hepatite autoimune.17 Ambos esquemas de tratamento
são eqüieficazes na indução da remissão,
sendo que a terapia combinada permite uso de metade das doses de prednisona.
A combinação de prednisona e azatioprina é preferida
pela menor freqüência de efeitos adversos secundários ao
corticóide (incidência de 10% versus 44%).18 O uso da azatioprina
isoladamente é uma alternativa (ver abaixo), como forma de tratamento
de manutenção, para pacientes com resposta incompleta ao tratamento
indutor de remissão ou com múltiplas recaídas.
Tabela 2 - Indicações ideais para monoterapia com prednisona
ou associação prednisona e azatioprina17
O tratamento é iniciado conforme as doses preconizadas na tabela 3
e mantido até a remissão,
falha terapêutica, resposta incompleta ou toxicidade por drogas, sendo
estas definidas da seguinte
forma:17
·Remissão: ausência de sintomas, normalização
das bilirrubinas e gamaglobulina, ALT e AST no máximo duas vezes o
limite superior da normalidade e melhora histológica com no máximo
infiltrado portal e ausência de hepatite de interface. A melhora clínica
e bioquímica precede a melhora histológica em 3 a 6 meses, sendo
essencial a comprovação da remissão histológica
antes da interrupção do tratamento. Desse modo, pacientes com
remissão clínica e laboratorial devem realizar biópsia
hepática seis a doze meses após.4 Sendo confirmada mínima
ou ausência de atividade inflamatória deve-se reduzir a prednisona
ao longo de 6 semanas e suspender a azatioprina, monitorizando-se o paciente
clínica e bioquimicamente.
·Falha terapêutica: aumento da AST em dois terços do
valor pré-tratamento, piora da atividade histológica ou surgimento
de encefalopatia ou de ascite a despeito de uma adequada adesão ao
tratamento. Estes pacientes devem ser tratados com as doses preconizadas para
falha do tratamento de indução da remissão (ver item
6.2). Apenas 20% desses pacientes alcançarão remissão
histológica, sendo que os demais necessitarão de tratamento
continuado.
·Resposta incompleta: melhora clínica, bioquímica e
histológica, contudo sem resposta completa após três anos
de tratamento contínuo. Esses pacientes devem ser mantidos em tratamento
de manutenção com prednisona dose baixa ou azatioprina (ver
item 6.2).19,20
·Toxicidade por drogas: toxicidade que necessita redução
ou interrupção do uso do medicamento. A droga mais implicada
é a prednisona. Se o paciente ainda não está em uso de
azatioprina e existe condições de fazê-lo, esta pode ser
utilizada para redução da dose do corticóide. Quando
os efeitos adversos são intensos, reduz-se à dose mínima
possível para evitar-se estes efeitos, sendo em alguns casos necessário
interromper o tratamento. Na presença de hepatite colestática,
pancreatite, “rash” ou citopenia importante secundários
à azatioprina, a interrupção dessa droga é mandatória.
Pacientes que tiverem recaída após a retirada da imunossupressão
que se segue à remissão histológica devem ser novamente
tratados com tratamento de indução da remissão (tabela
3). A recaída é caracterizada pela recrudescência dos
sintomas clínicos com aumento de ALT acima de 3 vezes o limite superior
da normalidade. A taxa de recaída é da ordem de 20% após
comprovada remissão histológica, enquanto chega a 80% quando
existe atividade periportal no momento da retirada da imunossupressão,
o que enfatiza a necessidade de comprovação histológica
da remissão antes de se suspender a imunossupressão. Após
uma segunda recaída a probabilidade de alcançar-se uma remissão
duradoura sem imunossupressão é muito baixa, devendo-se manter
o paciente em regime de doses baixas de prednisona ou de monoterapia com azatioprina
(ver item 6.2).
6.1 Apresentações disponíveis
·Azatioprina: comprimidos de 50mg.
6.2 Esquemas de Administração
Os esquemas de administração de imunossupressores são
os seguintes:
·Indução da remissão: em adultos utilizam-se
as doses preconizadas na tabela 3. Em crianças as doses iniciais recomendadas
são de 2mg/kg de prednisona (dose máxima de 60mg por dia), sendo
possível a associação de azatioprina como medida para
redução da dose de corticóide.17
Tabela 3 - Doses utilizadas em adultos do tratamento de indução
da remissão17
·Esquema para falha do tratamento de indução da remissão:
devem iniciar com prednisona monoterapia 60mg por dia ou prednisona 30mg associado
a azatioprina 150mg. As doses são reduzidas mensalmente enquanto houver
melhora laboratorial (redução de 10mg por mês para prednisona
e de 50mg por mês para azatioprina) até chegar-se a dose de 10mg
de prednisona e 50mg de azatioprina ou 20mg de prednisona monoterapia, sendo
então manejados conforme pacientes em regimes de tratamento convencional.
·Manutenção com prednisona dose baixa: preconizado para
resposta incompleta ou a partir da segunda recaída. Após remissão
clínica e bioquímica com a terapia de indução,
reduz-se a dose de prednisona 2,5mg enquanto houver estabilidade clínico
laboratorial até encontrar-se a dose mínima eficaz para manter
o paciente assintomático e com AST abaixo de 5x o limite superior da
normalidade. A maior vantagem da estratégia de monoterapia corticóide
em doses baixas é a prevenção da teratogenicidade da
azatioprina em mulheres em idade fértil.
·Manutenção com azatioprina monoterapia: tem as mesmas
indicações da manutenção com prednisona dose baixa.
Após remissão clínica e bioquímica com a terapia
de indução, a dose de azatioprina é aumentada gradualmente
até 2mg/kg/dia, permitindo redução na dose de corticóide.
A maior vantagem da estratégia de monoterapia com azatioprina é
a prevenção dos paraefeitos corticosteróides, em especial
nas pacientes pós-menopáusicas.
6.3Benefícios esperados com o tratamento
·Aumento na expectativa de vida;
·melhora na qualidade de vida;
·melhora nos sintomas clínicos;
·diminuição da atividade inflamatória à
biópsia hepática;
·normalização das aminotransferases;
·prevenção de recaídas.
7.CASOS ESPECIAIS
·Crianças: o tratamento preconizado para crianças é
semelhante ao de adultos, tanto com prednisona monoterapia quanto com prednisona
e azatioprina, mas o tratamento é menos estudado nessa faixa etária
do que em adultos. Com a intenção de diminuir os efeitos deletérios
sobre o crescimento, desenvolvimento ósseo e aparência física
é comum o uso de corticóide em dias alternados nesse grupo de
pacientes.17 Pacientes pediátricos podem se apresentar com mais gravidade
do que os adultos, com menor probabilidade de remissão sustentada sem
o uso de drogas e maiores taxas de recidiva.
·Mulheres pós-menopáusicas e pacientes idosos: estes
pacientes não diferem quanto ao benefício alcançado com
a terapia ou quanto à gravidade da apresentação clínica,
tendo as mesmas indicações de tratamento dos outros pacientes.
Entretanto, apresentam um risco aumentado para osteopenia, osteoporose e fraturas
com o uso de corticóide, especialmente com o uso prolongado. Estes
pacientes devem receber regimes de manutenção com doses baixas
de corticóide ou com azatioprina, caso tenham múltiplas recaídas.
Também deve ser oferecido profilaxia para osteoporose quando os pacientes
estiverem recebendo mais de 5mg de prednisona por mais de 3 meses (ver Protocolo
Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Osteoporose, Portaria SAS/MS
470, de 23 de julho de 2002).
·Portadores de cirrose: pacientes com cirrose respondem ao tratamento
tão bem quanto os não cirróticos.8 Pacientes com ascite
e encefalopatia hepática têm um pior prognóstico, mas
podem ter estabilização com terapia específica para a
descompensação hepática associada a imunossupressores.
A decisão de transplante deve ser adiada, se possível, por 2
semanas, a fim de se observar a resposta terapêutica. Pode haver maior
incidência de efeitos adversos do corticóide, secundária
à hipoalbuminemia e hiperbilirrubinemia, motivo pelo qual preconiza-se
uso de doses baixas de corticóide ou associação com azatioprina.
·Gestantes: pacientes com hepatite autoimune, mesmo com cirrose,
não têm contra-indicação para gestação,
mesmo que cirróticas, embora haja maior risco de parto prematuro, baixo
peso ao nascimento e necessidade de cesariana. Pacientes com quadros de cirrose
avançados podem complicar durante a gestação pelas alterações
hemodinâmicas que ocorrem durante este período, estando indicado
contracepção se estiverem com ciclos menstruais preservados.
A maioria das mulheres com cirrose avançada já estão
em amenorréia, não precisando de anticoncepção.
Existe preocupação com o potencial teratogênico da azatioprina.
Mesmo que este risco seja baixo, recomenda-se durante a gestação
tratamento com monoterapia com corticóide, que elimina esta apreensão.17
·Hepatite autoimune com apresentação aguda: os pacientes
podem se apresentar com hepatite aguda, e, raramente, com hepatite autoimune
fulminante. Estes pacientes devem ser tratados prontamente com corticóides
sendo a taxa de resposta semelhante a de outros pacientes com hepatite autoimune;
8.MONITORIZAÇÃO
·Para pacientes em uso de corticóides, recomendam-se dosagens
de potássio e sódio séricos e glicemia de jejum. Para
pacientes em uso de corticóides por períodos superiores a 6
semanas, recomenda- se avaliação oftalmológica.21
·A azatioprina pode acarretar leucopenia e/ou trombocitopenia graves,
e hemograma completo deve ser realizado semanalmente no primeiro mês,
quinzenalmente no segundo e terceiro meses e, após, mensalmente.22
Também se sugerem hemogramas se houver mudança na dosagem. Também
deve ser realizado controle de testes hepáticos, na mesma periodicidade
dos hemogramas nos primeiros 6 meses e depois trimestralmente. Pacientes homozigotos
para uma mutação no gene da tiopurina metiltransferase associada
com menor atividade da enzima tem maior risco de complicações
graves, embora o papel da genotipagem da tiopurina metiltransferase não
esteja estabelecido no tratamento da hepatite autoimune.4
9.TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
É obrigatória a cientificação do paciente, ou
de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais
relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste Protocolo, o que deverá
ser formalizado por meio da assinatura de Termo de Consentimento Informado.
Observação: os medicamentos que estão indicados neste
protocolo e que não constam no título e no item “apresentações
disponíveis” não fazem parte do elenco do Programa de
Medicamentos Excepcionais, podendo ser obtidos através de outras estratégias
de assistência farmacêutica no setor público.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. McFarlane IG. Definition and classification of autoimmune hepatitis. Semin
Liver Dis 2002;22(4):317-24.
2.Czaja AJ. Understanding the pathogenesis of autoimmune hepatitis. Am J
Gastroenterol 2001;96(4):1224-31.
3.Inquérito Nacional sobre Hepatite Autoimune (HAI) - Sociedade Brasileira
de Hapatologia (1997-1999). http://www.sbhepatologia.org br/nacional/inquer.htm
2003 [cited 2003 Jul 30]; 4. Krawitt EL. Autoimmune Hepatitis. N Engl J Med
2006;354(1):54-66.
5. Manns MP, Strassburg CP. Autoimmune hepatitis: clinical challenges. Gastroenterology
2001;120(6):1502-17.
6. Geall MG, Schoenfield LJ, Summerskill WH. Calssification and Treatment
of Chronic Active Liver Disease. Gastroenterology 1968;55(6):724-9.
7. Soloway RD, Summerskill WH, Baggenstoss AH, Geall MG, Gitnick GL, Elveback
LR, et al. Clinica, Biochemical, and Histological Remission of Severe Chronic
Active Liver Disease: A Controlled Study of Treatments and Early Prognosis.
Gastroenterology 1972;63(5):820-33.
8. Roberts SK, Therneau TM, Czaja AJ. Prognosis of histological cirrhosis
in type 1 autoimmune hepatitis. Gastroenterology 1996;110(3):848-57.
9. Cook GC, Mulligan R, Sherlock S. Controlled prospective trial of corticosteroid
therapy in active chronic hepatitis. Q J Med 1971;40:159-85.
10. Murray-Lyon IM, Stern RB, Williams R. Controlled trial of prednisone
and azathioprine in active chronic hepatitis. Lancet 1973;1(7806):735-7.
11. Schalm SW, Summerskill WH, Go VL. Prednisone for chronic active liver
disease: pharmacokinetics, including conversion to prednisolone. Gastroenterology
1977;72(5 Pt 1):910-3.
12. Johnson PJ, McFarlane IG. Meeting report: International Autoimmune Hepatitis
Group. Hepatology 1993;18(4):998-1005.
13. Alvarez F, Berg PA, Bianchi FB, Bianchi L, Burroughs AK, Cancado EL,
et al. International Autoimmune Hepatitis Group Report: review of criteria
for diagnosis of autoimmune hepatitis. J Hepatol 1999;31(5):929-38.
14. Czaja AJ, Souto EO, Bittencourt PL, Cancado EL, Porta G, Goldberg AC,
et al. Clinical distinctions and pathogenic implications of type 1 autoimmune
hepatitis in Brazil and the United States. J Hepatol 2002;37(3):302-8.
15. Czaja AJ, Freese DK. Diagnosis and treatment of autoimmune hepatitis.
Hepatology 2002;36(2):479-97.
16. Schalm SW, Korman MG, Summerskill WH, Czaja AJ, Baggenstoss AH. Severe
chronic active liver disease. Prognostic significance of initial morphologic
patterns. Am J Dig Dis 1977; 22( 11): 973- 80.
17. Czaja AJ. Treatment of autoimmune hepatitis. Semin Liver Dis 2002;22(4):365-78.
18. Summerskill WH, Korman MG, Ammon HV, Baggenstoss AH. Prednisone for
chronic active liver disease: dose titration, standard dose, and combination
with azathioprine compared. Gut 1975; 16( 11): 876- 83.
19. Stellon AJ, Keating JJ, Johnson PJ, McFarlane IG, Williams R. Maintenance
of remission in autoimmune chronic active hepatitis with azathioprine after
corticosteroid withdrawal. Hepatology 1988;8(4):781-4.
20. Johnson PJ, McFarlane IG, Williams R. Azathioprine for long-term maintenance
of remission in autoimmune hepatitis. N Engl J Med 1995;333(15):958-63.
21. Corticosteroids - Glucocorticoid Effects (Systemic). USP DI(R) Drug
Information for the Health Care Professional. 22th ed. Tauton: Micromedex
Thomson Healthcare; 2002.
22. Physicians' Desk Reference. 55th ed. Montvale: Medical Economics Thomson
Healthcare; 2001.
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO AZATIOPRINA
Eu,...............................................................................................................
(nome do(a) paciente), abaixo identificado(a) e firmado(a), declaro ter sido
informado(a) claramente sobre todas as indicações, contra-indicações,
principais efeitos colaterais e riscos relacionados ao uso do medicamento
azatioprina indicado para o tratamento da hepatite autoimune.
Estou ciente de que este medicamento somente pode ser utilizado por mim,
comprometendo-me a devolvê-lo caso o tratamento seja interrompido. Os
termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram
esclarecidas pelo
médico....................................................................................................
(nome do médico que prescreve). Expresso também minha concordância
e espontânea vontade em submeter-me ao referido tratamento, assumindo
a responsabilidade e os riscos por eventuais efeitos indesejáveis.
Assim, declaro que:
Fui claramente informado(a) de que os medicamentos podem trazer os seguintes
benefícios:
·aumento na expectativa de vida;
·melhora na qualidade de vida;
·melhora nos sintomas clínicos;
·diminuição da atividade inflamatória à
biópsia hepática;
·normalização das aminotransferases;
·prevenção de recaídas.
Fui também claramente informado (a) a respeito das seguintes contra-indicações,
potenciais efeitos colaterais e riscos:
·medicamento classificado na gestação como categoria
D (há evidências de riscos ao feto, mas um benefício potencial
pode ser maior que os riscos);
·os efeitos colaterais já relatados para a azatioprina incluem
anemia, diminuição das células brancas, vermelhas e plaquetas
do sangue, náuseas, vômitos, diarréia, dor abdominal,
fezes com sangue, toxicidade para o fígado, febre, calafrios, diminuição
de apetite, vermelhidão de pele, perda de cabelo, aftas, dores articulares,
retinopatia, falta de ar e pressão baixa;
·medicamento contra-indicado em casos de hipersensibilidade (alergia)
conhecida ao fármaco;
·o medicamento é distribuído no leite materno. Mães
em uso deste medicamento não devem amamentar, devido ao potencial risco
de efeitos adversos no bebê.
·o risco de ocorrência de efeitos adversos aumenta com a superdosagem.
Estou ciente de que posso suspender o tratamento a qualquer momento, sem
que este fato implique qualquer forma de constrangimento entre mim e meu médico,
que se dispõe a continuar me tratando em quaisquer circunstâncias.
Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde
a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento desde
que assegurado o anonimato.
Declaro, finalmente, ter compreendido e concordado com todos os termos deste
Consentimento Informado.
Assim, o faço por livre e espontânea vontade e por decisão
conjunta, minha e de meu médico.
Observações:
1.O preenchimento completo deste Termo e sua respectiva assinatura são
imprescindíveis para o fornecimento do medicamento.
Este Termo será preenchido em duas vias: uma será arquivada
na farmácia responsável pela dispensação dos medicamentos
e a outra será entregue ao paciente.