Picadas de insetos e animais peçonhentos – parte 2


Picadas por abelha:

Quadro clínico: as reações desencadeadas pela picada de abelhas são variáveis de acordo com o local e com o número de ferroadas, as características e o passado alérgico do indivíduo atingido.

As manifestações clínicas podem ser: alérgicas (mesmo com uma só picada) e tóxicas (múltiplas picadas).

Manifestações:

1. Locais: habitualmente, após uma ferroada, há dor aguda local, que tende a desaparecer espontaneamente em poucos minutos, deixando vermelhidão, coceira e inchaço por várias horas ou dias. A intensidade desta reação inicial causada por uma ou múltiplas picadas deve alertar para um possível estado de sensibilidade e exacerbação de resposta às picadas subseqüentes.

2. Regionais: são de início lento. Além da vermelhidão e coceira, o inchaço evolui para o endurecimento do local, que aumenta de tamanho nas primeiras 24-48 horas, diminuindo gradativamente nos dias subseqüentes. Podem ser tão exuberantes a ponto de limitarem a mobilidade do membro. Menos de 10% dos indivíduos que experimentaram grandes reações localizadas apresentarão depois reações sistêmicas.

3. Sistêmicas: apresentam-se como manifestações de reação alérgica grave, com sintomas de início rápido, 2 a 3 minutos após a picada. Além das reações locais, podem estar presentes sintomas como, dor de cabeça, vertigens e calafrios, agitação psicomotora, sensação de opressão torácica (aperto no peito) e outros sintomas e sinais, como:

– coceira generalizada, vermelhidão, urticária (placas avermelhadas na pele) e inchaço nos vasos sanguíneos das camadas profundas da pele.
– respiratórios: rinite, inchaço de laringe provocando dificuldade para respirar, rouquidão;
– digestivos: coceira no céu da boca ou na faringe, inchaço nos lábios, língua, úvula e epiglote, dificuldade para engolir, náuseas, cólicas abdominais ou pélvicas, vômitos e diarréia;
– cardiocirculatórios: a hipotensão (pressão baixa) é o sinal maior, manifestando-se por tontura. Podem ocorrer palpitações e arritmias cardíacas

4. Reações alérgicas tardias: há relatos de raros casos de reações alérgicas que ocorrem vários dias após a(s) picada(s) e se manifestaram pela presença de dor nas articulações, febre e encefalite.

5. Tóxicas: nos acidentes provocados por ataque múltiplo de abelhas (enxame) desenvolve-se um quadro tóxico generalizado denominado de síndrome de envenenamento, por causa da quantidade de veneno inoculada. Além das manifestações já descritas, há dados indicativos de hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos do sangue). Alterações neurológicas como torpor e coma, hipotensão arterial e insuficiência renal aguda podem ocorrer.

Complicações:
As reações de hipersensibilidade podem ser desencadeadas por uma única picada e levar o acidentado à morte, em virtude do inchaço na laringe ou choque anafilático. Na síndrome de envenenamento, descrita em pacientes que geralmente sofreram mais de 500 picadas, podem ocorrer distúrbios graves, como anemia aguda, depressão respiratória e insuficiência renal aguda.

Remoção dos ferrões: nos acidentes causados por enxame, a retirada dos ferrões da pele deverá ser feita por raspagem com lâminas e não pelo pinçamento de cada um deles, pois a compressão poderá espremer a glândula ligada ao ferrão e inocular no paciente o veneno ainda existente.

Picadas por cobras:

As principais cobras que provocam acidentes graves no Brasil são: a jararaca, a surucucu, a cascavel e as corais.

O veneno da jararaca e da surucucu provoca, em até 3 horas depois da picada:

– dor imediata;
– inchaço, calor e vermelhidão no local picado;
– hemorragia (sangramento) no local da picada ou distante dela;
– diarréia (em caso de picada por surucucu).

Complicações:

– bolhas, gangrena, acúmulo de pus, insuficiência renal aguda.

A cascavel possui veneno que não provoca reações graves no local da picada, mas pode levar à morte.

A pessoa que foi picada pode apresentar:

– nas primeiras horas: dificuldade em abrir os olhos; “visão dupla” ou “visão turva”; dor muscular; urina avermelhada.
– após 6-12 horas: escurecimento da urina.

Complicações: insuficiência renal aguda.

A ação do veneno das cobras corais no organismo é muito rápida; os sinais e sintomas aparecem em questão de minutos.

Sinais e sintomas:

– dificuldade em abrir os olhos;
– desorientação;
– falta de ar;
– dificuldade em engolir;
– insuficiência respiratória aguda.

O que fazer em caso de acidentes com picadas de cobras:

Muitas vezes, mesmo adotando cuidados de prevenção, podem ocorrer acidentes com cobras. Como medida de primeiros socorros, até que se chegue ao serviço de saúde para tratamento, recomenda-se:

– NÃO amarrar ou fazer torniquetes, o que impede a circulação do sangue, podendo produzir necrose ou gangrena;
– NÃO colocar nenhuma substância, folhas ou qualquer produto na picada;
– NÃO cortar ou chupar o local da picada;
– NÃO dar bebida alcoólica ou querosene ao acidentado;
– Manter o acidentado em REPOUSO, evitando que ele ande, corra ou se locomova, o que facilita a absorção do veneno. No caso de picadas em braços ou pernas, é importante mantê-los em POSIÇÃO MAIS ELEVADA;
– Levar o acidentado para o centro de tratamento mais próximo, para receber o soro adequado.

Algumas medidas de prevenção:

– nunca andar descalço. O uso dos sapatos, botinas sem elásticos, botas ou perneiras deve ser obrigatório. Dependendo da altura do calçado, os acidentes podem ser evitados na ordem de 50 até 72%;
– olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer;
– usar luvas de couro nas atividades rurais e de jardinagem. Nunca colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras;
– não colocar as mãos em tocas para pegar pelo rabo o tatu que é visto ao entrar; esta é a melhor maneira de ser picado por cascavéis que se abrigam nesses locais;
– não utilizar diretamente as mãos ao tocar em sapé, capim, mato baixo, montes de folhas secas; usar sempre antes um pedaço de pau, enxada ou foice, se for o caso. Esse tipo de cuidado pode evitar até 20% dos acidentes que acontecem nas mãos e no antebraço;
– tampar frestas e buracos em paredes e assoalhos;
– não acumular material inútil junto à habitação rural, como lixo, entulhos e materiais de construção. Manter sempre uma calçada limpa ao redor da casa. Essa faixa pavimentada junto às paredes tem várias utilidades: evita penetração de umidade nos alicerces, impede o contato com capim ou grama dos jardins e principalmente portas, que normalmente devem estar fechadas e ter um mínimo de vão no solo;
– evitar trepadeiras muito encostadas a casa, folhagens entrando pelo telhado ou mesmo pelo forro;
– não fazer piquenique às margens dos rios ou lagoas, deles mantendo distância segura, e não encostar em barrancos durante a pescaria;
– animais domésticos como galinhas e gansos, em geral, afastam as serpentes das áreas mais próximas às habitações.

IMPORTANTE: Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. As informações disponíveis em Dicas em Saúde possuem apenas caráter educativo.

Dica elaborada em julho de 2.010.

Fontes:

Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes com animais peçonhentos
Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Prevenção de Acidentes com Animais Peçonhentos (Cartilha impressa)
Universidade Estadual de Campinas. Hospital Virtual Brasileiro. Acidentes com animais peçonhentos. (Lopes, Angela Cristina)