1.4.2 Kits Diagnóstico
 
Realizado para o Projeto Inovação em Saúde e com o objetivo de detectar oportunidades de desenvolvimento de reagentes de diagnósticos laboratoriais que atendem às doenças transmissíveis – controle de sangue: AIDS, citomegalovírus, dengue, doença de Chagas, filariose, hepatites virais, herpes, HTLV I e II, leishmaniose, leptospirose, malária, rubéola, sarampo, sífilis, toxoplasmose .  


Contextualização

O Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) organizou uma reunião com a participação de especialistas, pesquisadores e gestores para promover uma ampla discussão sobre o cenário atual de pesquisa e desenvolvimento de produtos diagnósticos no país. O objetivo desse encontro foi a identificação de prioridades em pesquisa, desenvolvimento e inovação de produtos diagnósticos para a área da saúde, de modo a subsidiar a definição de focos de investimento para o desenvolvimento de kits diagnósticos, em cumprimento à subagenda do Complexo Produtivo da Saúde na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, que estabelece como prioridade de fomento o apoio à pesquisa, o desenvolvimento e a inovação de produtos diagnósticos em saúde.

Metodologia

Como subsídio às discussões para a identificação das prioridades de fomento na área de kits diagnósticos foi apresentado o trabalho “Prospecção tecnológica nacional em reagentes para diagnóstico no âmbito da Saúde Pública”, realizado para o Projeto Inovação em Saúde e com o objetivo de detectar oportunidades de desenvolvimento de reagentes de diagnósticos laboratoriais que atendem às doenças transmissíveis – controle de sangue: AIDS, citomegalovírus, dengue, doença de Chagas, filariose, hepatites virais, herpes, HTLV I e II, leishmaniose, leptospirose, malária, rubéola, sarampo, sífilis, toxoplasmose. Esse estudo foi realizado em três abordagens: visão de mercado, visão de desenvolvimento e visão de inovação.

A visão de mercado identificou os principais produtos importados e as principais importadoras para as 16 doenças selecionadas para o estudo. Foi possível ter uma visão de quem faz importação, quais são os produtos importados e o montante de recursos envolvidos para cada doença. No tocante aos gastos governamentais com procedimentos, foi identificada a magnitude de freqüência e valor dos testes diagnósticos realizados pelo SUS. Esses dados, analisados nas doenças mais representativas: hepatite B, toxoplasmose, AIDS e hepatite C, apuraram um gasto de 224 milhões de reais de julho/03 a jun/04, desconsiderando o sub-registro e a qualidade dos dados, problemas inerentes aos bancos de dados públicos de saúde.

A visão de desenvolvimento buscou identificar as iniciativas presentes tanto nos programas de governo como na Academia e no setor produtivo. No setor público, não se identificou uma iniciativa que organize os programas do governo e facilite o acesso à informação. A P&D na Academia, por sua vez, revelou a que apenas 12 doenças são pesquisadas por 60 grupos de pesquisa, dos quais 41 atuam em apenas uma doença e 19 atuam em mais de uma doença. No setor produtivo, poucos grupos no País trabalham no desenvolvimento de kits, tendo sido identificadas apenas nove empresas que têm capacidade produtiva, em contraposição às 89 empresas distintas que têm produtos registrados na Anvisa , com o nome das doenças e/ou anticorpos.

Sob o foco da inovação, o estudo concluiu que há competências no país, mas as informações de mercado no Brasil são desorganizadas. Além disso, observou-se o desinteresse por parte das grandes empresas na produção de reagentes para a identificação das doenças transmissíveis que foram alvo do estudo.

Tomando como base os resultados do estudo e a experiência dos pesquisadores convidados foi possível identificar as principais deficiências e fortalezas que permeiam o desenvolvimento tecnológico nesse campo e que são passíveis de apoio por uma iniciativa de fomento nos moldes dos editais universais. Consideraram-se aspectos como viabilidade, factibilidade e oportunidade para a definição do recorte do edital, no intuito de potencializar os recursos disponíveis para fomento.

Para o edital de kits diagnósticos, o principal objetivo identificado foi a seleção de propostas que, em parcerias dos setores público e privado, estimulem a produção nacional de insumos e reativos para diagnóstico em doenças de impacto econômico ou negligenciadas para o abastecimento do sistema público de saúde. Como objetivo específico, além do estímulo a parcerias, pretende-se selecionar projetos para o desenvolvimento de insumos, equipamentos e reativos para diagnóstico de doenças negligenciadas ou doenças de grande impacto nos gastos públicos.

A escolha das doenças a serem incluídas nesse edital foi regida por uma série de pertinentes considerações que refinaram a primeira seleção de doenças negligenciadas e doenças com grande impacto econômico na saúde pública. Além da avaliação e identificação dos aspectos mais relevantes no momento atual para cada uma das doenças, a listagem de doenças foi lapidada atentando-se para a capacidade dos possíveis proponentes em desenvolver produtos competitivos no mercado nacional. Como a maioria das instituições de pesquisa e desenvolvimento não tem capacidade de competir com grandes empresas, é fato que as doenças negligenciadas representam um nicho mais acessível do mercado a ser ocupado pela indústria nacional, o que remete à necessidade de obtenção da tecnologia por meio do estabelecimento de parcerias com pequenas empresas, de forma a suprir o mercado do setor público de saúde. Nessa estratégia, identificou-se a necessidade de desenvolver competências voltadas à gestão de negócios no setor público . Para tanto, se deve treinar pessoas para torná-las capazes de negociar e utilizar o poder público de compra para construir e fortalecer a capacidade nacional, buscando a autonomia na produção.

Resultados

Quanto às características desejadas para esse edital, um período inferior a um ano foi considerado inadequado ao tipo de desenvolvimento tecnológico que se deseja, tendo sido estabelecido o período de dois anos como o ideal para a execução de projetos entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões de reais

Os eixos identificados para o estabelecimento da lógica de apoio foram: doenças, tecnologia, etapa de desenvolvimento, equipamentos e gestão de negócios. No que se refere à proposta de edital, esses eixos foram considerados em seu conjunto para que não houvesse descompasso ou descontinuidade do desenvolvimento tecnológico, o que poderia acontecer caso se apoiasse apenas um dos eixos. Aprofundando o recorte para o edital, a especificação dos alvos para investimento foi centrada no desenvolvimento tecnológico e produção de insumos, equipamentos e reativos diagnósticos para ensaios enzimáticos, ensaios moleculares e testes rápidos, com foco nas prioridades sanitárias referentes às seguintes doenças:

  • Negligenciadas: dengue, tuberculose, leishmaniose tegumentar, leishmaniose visceral, leptospirose e malária.
  • De grande impacto nos gastos públicos : AIDS, citomegalovírus, hepatite B, hepatite C, toxoplasmose, rubéola e sífilis.

Optou-se pela demanda livre de projetos para insumos e equipamentos, com a exigência de que estejam voltados para as etapas de desenvolvimento estipuladas para o edital, que preconiza apenas os que estão em nível mais avançado, conforme gradação a ser explicitada no projeto (níveis de I a V). A intenção é concentrar a iniciativa em produtos e também em equipamentos para dar suporte a esses produtos, aspecto que deverá ser analisado pelos especialistas no julgamento das propostas apresentadas no edital.

Quanto aos reativos diagnósticos, deverão enquadrar-se nas prioridades de investimentoestabelecidas na tabela 1:

 

Após a definição das prioridades, o grupo considerou importante aliar critérios de pontuação (seleção e classificação) às etapas de desenvolvimento, tendo em vista o objetivo de apoiar projetos em estágio mais avançado, que se situem nos níveis II, III e IV, conforme critérios abaixo. Observa-se que os demais níveis foram incluídos apenas para guardar a noção do conjunto.

Critérios Prévios

1. Levantamento de patenteabilidade.

2. Demanda (projeção do MS).

3. Estudos epidemiológico, entendimento da doença e do agente etiológico.

4. Estudos de mercado.

5. Capacitação técnica.

6. Infra-estrutura (implantação de BPL e BPF).

7. Estudo de viabilidade (técnica, econômica, social, ambiental, política).

Nível I – Pesquisa em Prospecção (Pré-Desenvolvimento)

1. Caracterização do alvo (antígeno, anticorpo, conjugados e insumos).

2. Seleção do método de diagnóstico (plataforma tecnológica).

3. Avaliação interna no laboratório de pesquisa.

4. Adequação de BPL (relatório técnico, histórico do produto/projeto, bibliografia atualizada).

5. Análise e/ou aplicação de patenteabilidade (publicação).

6. EVT.

Nível II – Desenvolvimento Tecnológico

1. Análise documental da etapa de pré-desenvolvimento

2. Estabelecimento do lote semente (Varia de caso a caso, conforme antígeno, anticorpo ou insumo utilizados)

3. Definição da plataforma tecnológica

4. Definição do formato e padronização do teste e seus insumos

5. Avaliação frente a amostras e painéis de referência (Validação primária de sensibilidade, especificidade, reprodutibilidade e estabilidade)

6. Análise de patenteabilidade

7. Determinação de viabilidade técnica e econômica de produção

Nível III – Obtenção de Protótipo

1. Adequação de BPF

2. Obtenção de lotes pilotos

3. Definição preliminar da apresentação do kit

Nível IV – Validação

1. Validação (estudos multicêntricos)

a. Análise de sensibilidade

b. Análise de especificidade

c. Análise de reprodutibilidade

d. Análise de estabilidade

e. Análise da adaptação do produto à rede de usuários-alvo

f. Elaboração de Dossiês

2. Registro

a. Relatório técnico

  • Registro histórico do projeto
  • Fórmula padrão
  • Documentação de BPF e BPL

b. Análise prévia conforme exigência do órgão regulador

c. Certificação de BPF e BPL

d. Solicitação do registro

3. Transferência para a Produção

NÍVEL V – Acompanhamento e Controle do Produto no Mercado

1. Estudos de Pós-Marketing

a. Vigilância e acompanhamento do produto no mercado

b. Estudos do produto p/ prospecção mercadológica

c. Desenvolvimento de estudos visando exportação do produto

d. Transferência de Tecnologia

Uma vez definido o nível de desenvolvimento desejado, foram estabelecidos alguns critérios a serem observados tanto para a seleção como para a classificação das propostas. Nos critérios de seleção foi sugerida a explicitação da gestão de negócios como item a ser observado na infra-estrutura institucional, de forma a completar o modelo comumente utilizado nos editais universais da Finep. Quanto aos itens classificatórios, deu-se grande ênfase a: (1) aderência e viabilidade de implementação no SUS; (2) etapa de desenvolvimento do produto; (3) envolvimento do setor produtivo; (4) existência de pedidos de privilégios intelectuais (patentes); e (5) participação financeira do interveniente. Esses dois critérios podem ser observados nas tabelas 2 e 3 inseridas abaixo.

Critérios de pontuação - seleção

Nessa etapa, de caráter competitivo e classificatório, um Comitê de Avaliação, formado por consultores ad hoc analisará o mérito das propostas pré-classificadas de acordo com os critérios abaixo, passíveis de valoração em termos de graus de atendimento, para a análise comparativa das propostas concorrentes.

Tabela 2 - Critérios de seleção Nota
1.Qualificação e competência do coordenador do projeto na área de P&D *
1 a 5
2.Qualificação e competência da equipe na área de P&D*
1 a 5
3. Qualificação do projeto ( objetivo e metodologia) *
1 a 5
4. Infra-estrutura institucional disponível para o projeto (física, aderência às BPL e gestão de negócios)
1 a 5
5.Grau de inovação
1 a 5
 

Critérios de pontuação adicional - classificação

Tabela 3 - Critérios de classificação
Critérios acréscimo
Aderência e viabilidade de implementação no SUS
5
Etapa de desenvolvimento do produto (1)
de 3 a 5
Envolvimento do setor produtivo
3
Existência de pedidos de privilégios intelectuais (patentes)
3
Participação financeira do interveniente 50% acima do valor mínimo estabelecido (2)
2

( 1 ) Tendo em vista a necessidade de acelerar o processo de inovação no País, serão privilegiados projetos em estágio avançado de desenvolvimento, cujos produtos a serem gerados estejam mais próximos de serem transferidos para o mercado.

( 2 ) Serão também priorizados os projetos que a Interveniente Co-financiadora aporte recursos superiores a 50% do mínimo indicado pela classificação constante no item XXXX.

 

Considerações finais e recomendações do grupo de especialistas

Além do aprofundamento do estudo de prospecção tecnológica em reativos diagnósticos, em fase final de viabilização, o grupo de especialistas ressaltou a necessidade de medição da carga de doença por região do País como subsídio à tomada de decisão sobre temas relativos a kits diagnósticos. Para esse estudo, recomenda-se a execução de uma encomenda direta, tendo em vista tratar-se de uma análise de dados secundários.

Com relação ao edital propriamente dito, considerou-se estratégica a composição do grupo de especialistas que avaliará as propostas apresentadas, tendo em vista que alguns dos elementos importantes dependerão da experiência e do conhecimento do profissional para serem julgados.

Grupo de Trabalho

Adelaide Antunes
UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ana Paula Reche Corrêa DECIT/SCTIE/MS - Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde
Angélica Pontes DECIT/SCTIE/MS - Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde
Antonio Ferreira
FIOCRUZ - Bio-Manguinhos- Fundação Oswaldo Cruz
Carlos Morel FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz
Carmem Romero FIOCRUZ- Projeto Inovação Fundação Oswaldo Cruz
Cláudia Canongia UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro
Itajaí Albuquerque DECIT/SCTIE/MS - Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde
José Carvalheiro
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
Marco Aurélio Krieger IBMP-PR- Instituto de Biologia Molecular do Paraná
Ricardo Galler
FIOCRUZ -Bio-Manguinhos-Fundação Oswaldo Cruz
Simone Alencar UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro