2.2 Mesa-redonda

2.2.1 A Importância da Definição de Prioridades de Pesquisa em Saúde Coordenação: Moisés Goldbaum

Fomento à Pesquisa em Saúde: A experiência do Decit

Suzanne Serruya

Prioridades de Pesquisa em Saúde utilizando a matriz combinada

Andrés de Francisco – Global Fórum For Health Research

O Mestre-de-Cerimônias convidou, para coordenar os trabalhos da Mesa Redonda sobre “A Importância da Definição de Prioridades de Pesquisa em Saúde” a senhora Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT, Antonia Angulo. Relembrou que permaneciam participando da Mesa Redonda a Dra. Suzanne Serruya e o Dr. Andrés de Francisco. Registrar que, por motivos de força maior, não contavam com a presença do Representante da Organização Pan-Americana de Saúde. Em seguida, passou a palavra à Coordenadora dos Trabalhos, Dra. Antonia Ângulo, Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT, que assim se expressou:

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do Decit

“Bom dia. É uma grande satisfação poder fazer a coordenação desta Mesa Redonda. Como indica o nome da Oficina - Definir Prioridades de Pesquisa em Relação aos Editais Temáticos de 2006 - eu queria resgatar o que o Moisés colocou na sua fala. O esforço de definir prioridades de pesquisa é bastante complexo. É um esforço que o Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação vem desenvolvendo desde 2003. Essa é a relação que nós tentamos fazer quando pensamos na composição desta Mesa e de forma as exposições e falas poderiam subsidiar os próprios trabalhos dos grupos para pensar essa definição de prioridades.

Devemos lembrar que temos uma Agenda Nacional na qual já foram definidas prioridades sobre os temas que serão discutidos. No entanto, a idéia fundamental é que, se a gente pensar que temos um processo e que a definição de prioridades não deve ser algo estanque, mas, que deve estar redefinida, reformulada, burilada, acho que esse é o principal objetivo desta Oficina.

Nesse sentido, convidamos a Suzanne Serruya para expor a experiência do Departamento de Ciência e Tecnologia em relação à definição de prioridades de pesquisa e Andrés de Francisco, Diretor-Executivo do Global Forum for Health Research . Eles vêm acompanhando, desde a década de 90, como tem se desenvolvido e melhorado a capacidade do sistema de ciência e tecnologia e a definição de prioridades nos países. Andrés deve expor uma das metodologias como insumo também para a definição de prioridades. Então, acho que podemos começar com as exposições.”

Suzanne Serruya

Diretora do DECIT, que assim se expressou

“Bom dia a todos. Eu quero começar dando as boas-vindas a todos os nossos convidados. Nós entendemos que essa é a primeira semana de um ano muito complicado, onde a gente acabou de ter o carnaval, vamos ter a Copa do Mundo de Futebol e depois a eleição. De fato, nós tivemos uma grande receptividade quando começamos a fazer os convites e percebemos uma disponibilidade imensa de todos vocês em participar deste evento, que é da maior importância porque elege, buscando o melhor alvo, usar o recurso que hoje nós temos disponível para a pesquisa em saúde, de uma maneira inédita, no Orçamento da União no Ministério da Saúde.

Então, eu quero agradecer a todos vocês e tenho certeza que nós vamos ter dois dias de intensos trabalhos, com uma plenária motivadora e espero que a gente consiga alcançar os nossos objetivos com a publicação dos editais e a contratação de novas pesquisas.

Esta Mesa deveria ter mais dois participantes. Um deles, Reinaldo Guimarães, que conduziu o Departamento até o início do ano passado, virá amanhã e falará logo no início, antes dos trabalhos dos grupos. O outro era o representante da OPAS e que, infelizmente, avisou não poderia estar aqui conosco. A OPAS tem uma área de investigação em saúde e que tem feito também um esforço mundial no sentido de priorizar a pesquisa voltada para as necessidades de saúde.

Eu e o Andrés vamos tentar trazer os elementos que consideramos principais para que vocês consigam pensar, cada um na sua oficina, de qual contexto nós estamos falando. A minha fala é, basicamente, um grande panorama do que o DECIT construiu desde a sua existência, começando em 2000, e fazendo um recorte de como elegemos prioridades.

Nós temos um marco institucional que todos vocês receberam. A legitimação da pesquisa em saúde, dentro do Ministério, veio com a 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde. Foi uma conferência convocada por três Ministérios, com uma participação de 15.000 pessoas, com conferências estaduais em 24 estados e conferências municipais em 200 municípios. Ela possibilitou que nós tivéssemos dois documentos fundamentais: o documento da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que diz seus eixos e que hoje é um documento de ciência e tecnologia com a cara do SUS e uma Agenda Nacional de Prioridades em Saúde, que diz que esse é o ponto de partida para que a gente possa escolher, a cada momento, as prioridades que devem ser eleitas.

Além desses dois marcos institucionais, foi fundamental para o DECIT, a criação de uma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Departamento de Ciência e Tecnologia foi criado por decreto em 2000. Começou a se organizar em 1999, foi criado em 2000, mas estava dentro da Secretaria de Políticas em Saúde. Passar a ter uma instância para discutir ciência e tecnologia e reunir numa única Secretaria, economia da saúde, insumos estratégicos, assistência farmacêutica e o DECIT, tudo isso permitiu que nós, de fato, tivéssemos, institucionalmente, um espaço muito maior.

O segundo instrumento que eu considero que foi muito importante na consolidação da nossa política é o Termo de Cooperação Técnica com o Ministério da Ciência e Tecnologia e as suas duas Agências - o CNPq e a FINEP. Chegou aqui o Barral, que veio agora do Piauí. Esse Termo de Cooperação foi fundamental. Não é que seja fácil para os Ministérios interagirem e trabalharem em conjunto. É difícil. Essa é a razão pela qual a maioria das políticas de Estado ainda é isolada e setorial. Mas, nós entendíamos, desde 2003, que não era possível construir uma Política de Ciência, Tecnologia e Inovação no Ministério da Saúde, sem interagir com aqueles que conduziam essa política no Brasil, por pelo menos 50 anos, como é o caso do CNPq e o caso da FINEP, embora, por menos tempo.

Nós nos tornamos bons parceiros. Brigamos muito e é importante saber que temos uma relação de proximidade de trabalho, de trabalho concreto. Todo o dia eu vejo aqui vários coordenadores e técnicos do CNPq. Isso possibilita de fato trazer a experiência deles, trazer o que o DECIT pensa, o que o Ministério da Saúde precisa e convergir numa política que seja não uma política de governo, mas uma política de Estado.

Por fim, nada disso se concretizaria se nós não tivéssemos operado, a partir de 2004, no novo PPA, um volume de recursos substancial. Nós passamos de 13,5 milhões para, 68 milhões, 75 milhões, 85 milhões e a previsão do ano que vem é de 100 milhões de reais. Foi esse aporte de recursos que concretizou que tudo aquilo que estivesse no documento da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e tivesse sido eleito como prioridade pudesse começar a ser realizado.

Essas são as nossas estratégias e este é um slide que é quase obrigatório em todas as nossas falas. Tudo o que nós pensamos, planejamos e discutimos no DECIT parte daquilo que está escrito no documento de políticas. No caso específico dessa reunião, ela vem atender à questão da construção de agenda. Como falou o Moisés e a Antonia, a construção da agenda não é um momento isolado. Nós não construímos a agenda, acabou e nunca mais vai ser revista. Ela é um esforço permanente de atualização que depende de gestores e profissionais.

Esse esforço começa em 2003. Eu vou contar agora um pouco desse processo porque ele traz para vocês a idéia de como a definição de prioridades vem amadurecendo no Departamento de Ciência e Tecnologia. Como eu disse, o Departamento existe anteriormente a essa gestão que criou a Secretaria. No primeiro momento, de fato, existia uma ausência de prioridades de pesquisa. Isso impossibilitava uma indução porque, se nós não temos prioridades selecionadas e legitimadas, fica muito difícil induzir e começar a fazer o fomento. Existia também, pelo pouco acúmulo do DECIT no seu momento inicial, uma falta de articulação entre a Política Nacional de Saúde e a questão do fomento científico. Essa passa a ser uma questão chave.

Essa é a fala inaugural da apresentação desse documento: “A Política Nacional de Saúde e a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde são partes integrantes do mesmo momento. Elas não podem ser separadas”. Com isso, até o final de 2002, nós tivemos uma edição pequena de pesquisa, feita apenas por encomenda de gestores e com editais voltados para a encomenda.

A partir daí, em 2003, com a criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, se tem a tarefa de estruturar o esforço nacional de pesquisa. O que é que a gente imagina? Existe muita pesquisa no Brasil. Nós temos mais de 20.000 pesquisadores em saúde; nós temos mais de 12.000 doutores; nós temos mais de 5.000 grupos de pesquisa. Então, nós precisamos fazer com que esse esforço de pesquisa consiga ser convergente e tenha resultados de alto impacto. Para isso, estava claro que era importantíssimo começar a construção de uma Agenda Nacional de Pesquisa. Ela começa imediatamente em 2003, assim que nós assumimos o DECIT e começamos a discussão de quais são os passos pelos quais nós vamos criar uma Agenda Nacional de Pesquisa.

No primeiro momento, achamos que era muito prudente ouvir quem já estava no campo. Encomendamos a 15 ou 16 dos maiores pesquisadores e suas equipes no Brasil, um diagnóstico da questão da saúde no Brasil. Esse diagnóstico buscava trazer o contexto que seria o estado da arte, um pouco um panorama. Esse livro foi publicado, trouxe elementos importantes, desde estudos muito específicos, como carga da doença até avaliações nacionais de como funciona a Vigilância, quais são as necessidades de avaliação em tecnologia, enfim, ele fez um grande panorama da saúde no Brasil e das suas necessidades de pesquisa. Nesse momento, concomitantemente, instalamos um Comitê Técnico Assessor para decidir quais seriam as primeiras agendas. Se não me fala a memória, na primeira reunião, só tinham 15 agendas. Depois, isso foi crescendo, esse Comitê, que era composto de 24 membros, achou que nós poderíamos ter outros grupos. Então, nós fizemos o primeiro grande momento dessa agenda, em novembro de 2003, com 20 sub-agendas.

Esse seminário, em novembro de 2003, é emblemático do esforço que era necessário fazer no Brasil para se ter uma agenda representativa das prioridades de fato. Nós contamos com 408 participantes e eu me lembro bem do espanto de muitas pessoas no Ministério da Saúde. Elas diziam: “Mas, vocês vão fazer uma reunião com 400 pessoas?”. E nós dizíamos: “É pouco. Muita gente gostaria de ter participado”. A maior parte desses pesquisadores era de pesquisadores das diferentes áreas do conhecimento que nos traziam os insumos das suas experiências. Pela primeira vez, nós reunimos gestores de saúde e pesquisadores em um Seminário.

A partir desse momento, nós tivemos um primeiro rascunho daquilo que seriam as nossas agendas e sub-agendas. Para isso, nesse Seminário, nós partimos dos critérios que deveriam definir o que nós priorizaríamos. Isso foi consensual? Não foi. Em 20 agendas, muito daquilo que nós queríamos que fosse discutido não encontrava ressonância no grupo. Mas, para a maioria dos grupos, esse roteiro de critérios permitiu fazer uma primeira priorização. Essa priorização passa por um conjunto de etapas que busca a sua legitimação num consenso político entre gestores, pesquisadores e usuários de saúde.

Depois do Seminário, nós abrimos uma consulta pública, por 45 dias, via internet. Houve mais de 2.000 acessos, mais de 600 contribuições e, notadamente, as universidades e os serviços de saúde no nível federal, estadual e municipal, participaram, trazendo as suas contribuições. Depois, esse documento passou por mais de 200 Conferências Municipais, pelas 24 Conferências Estaduais e chega para ser votado na Conferência Nacional de Saúde que traz os três setores - saúde, educação, ciência e tecnologia - e o documento final é aprovado na plenária de 491 delegados. Finalmente, depois de quase um ano de processo de trabalho, nós tínhamos uma I Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisas em Saúde no Brasil.

Essa é a nossa agenda. Ela é grande. Eu tive a honra e o desafio de ser a Relatora Geral dessa Conferência. Eu briguei muito com o controle social porque a agenda ficou muito grande. Ela tinha muita transversalidade. Para os coordenadores e relatores de síntese, que eram mais de 40 pessoas, nos parecia exagero repetir, a cada agenda, tópicos e linhas. Mas, muitas vezes, para os representantes de entidades de usuários e para os pesquisadores daquela área, aquilo era uma repetição necessária e indispensável. Hoje, nós temos 24 agendas e eu digo, também com muita alegria, que este ano nós encerramos a publicação de parte de quase todas elas. Não é a totalidade porque agendas como a Agenda de Doenças Transmissíveis levarão 10 anos para serem estudadas na sua íntegra. Mas, a maioria das agendas tem o seu coração atendido. Algumas delas, na sua totalidade, como é o caso da Agenda da Economia na Saúde.

Assim definido, era a hora do trabalho. A partir de 2004, nós começamos a publicar os editais em cima da Agenda Nacional de Prioridades. O ano de 2004 foi muito especial para o DECIT porque era o ano da Conferência Nacional, o ano em que nós assinamos o Termo de Cooperação e que implicou numa grande agilidade para que essa publicação e esse fomento ainda fossem em 2004. Isso só se deu, naturalmente, porque nós tínhamos essa parceria fantástica com o CNPq e com a FINEP.

No primeiro momento, o refinamento das prioridades das agendas para os editais foi um trabalho conduzido pelo DECIT, conversando, ora com os gestores, ora com pesquisadores da área. Não houve um momento coletivo como esse porque não havia tempo. Nós terminamos a Conferência em julho, o acordo foi assinado em agosto e os editais tinham que sair em setembro para serem outorgados ainda este ano.

O segundo momento foi no ano passado. Desde o final de 2004, nós já tínhamos elegido um conjunto de agendas que seriam de 2005. Mas, por uma série de razões - troca da Direção do DECIT, troca de Ministro da Saúde, troca de Secretário, troca de tudo o que poderia trocar no DECIT - não conseguimos fazer isso de uma maneira mais uniforme, como já desejávamos e agora estamos fazendo. Nós tivemos todos os formatos possíveis para os 14 editais publicados em 2005. Nós tivemos reuniões de oito pessoas que definiram as linhas do edital e tivemos reuniões com 50 pessoas para também definir algumas linhas, como foi o caso da Oncologia. Com metodologia própria, em dois dias, nós ouvimos 50 pessoas lideradas pelo INCA, no Rio de Janeiro, o que é que deveria ter num edital de oncologia. Foi uma experiência muito interessante.

Nós tivemos um cronograma absolutamente pulverizado e, na medida em que conseguimos reunir pesquisadores e gestores dos temas. Tivemos também experiências metodológicas muito diversas. Em algumas agendas nós tivemos, por consenso, um levantamento muito mais simplificado do ponto de vista metodológico do que seriam as prioridades daquele edital. Em algumas, como eu acabei de citar, isso implicou em grupos que se dividiram topograficamente pelos tipos de câncer, que se dividiram pela cadeia do conhecimento e da pesquisa básica transnacional. No final, tudo isso gerou um único edital.

Finalmente, chegamos em 2006. No ano passado, nós percebemos que a encomenda precisava ser refinada porque é claro que faltam recursos para a pesquisa em saúde. Essa questão é mundial, não acontece só no Brasil. Nós precisamos saber bem o que encomendar para ter bons projetos de eleição e, depois, ter projetos e resultados desses projetos aplicáveis e incorporados. Durante todo o ano, em cada momento em que nós preparamos um edital, acompanhamos a seleção e examinamos os projetos, nós percebíamos que era preciso amadurecer esse momento. Então, decidimos que, para 2006, nós deveríamos estabelecer algumas questões para o momento de eleição de prioridades. A primeira delas era que a gente precisava amadurecer do ponto de vista metodológico. Isso não é simples. Como o Andrés vai mostrar, há 10 anos, os países discutem as metodologias para eleger prioridades em saúde. Algumas áreas, como é o caso de Avaliação de Tecnologias em Saúde, existem na literatura numerosas experiências de como os países e grupos elegeram suas prioridades em saúde. Portanto, não é um assunto que tenham uma fórmula ou uma receita. Mas, era preciso amadurecer esse assunto. Então, por uma questão de cronograma, nós resolvemos que, este ano, para a eleição dos editais temáticos, nós deveríamos fazer uma única reunião em que pesquisadores e gestores participariam deste primeiro momento, estabeleceriam uma linha de base e, a partir daí, trabalhariam em grupo e voltariam para uma plenária.

Uma outra coisa que nós percebemos com os 22 editais publicados era que a economia da saúde tem avaliação de tecnologia em saúde; que assistência farmacêutica teve convergência com avaliação de sistemas e políticas. Se nós tivéssemos conseguido construir isso num grande momento, nós teríamos potencializado as linhas e os projetos.

A idéia é usar um pouco a experiência acumulada no mundo. Para isso, o Decit se desdobrou, não apenas em estudar o documento, mas traduzi-lo e ter o documento disponível para que a gente possa entender como funcionou a experiência internacional. Por outro lado, a Coordenação de Desenvolvimento Institucional, liderada por Márcia Mota, começou o trabalho muito antes. Esse trabalho começou no ano passado porque, no caso dos editais descentralizados, essa oficina acontecerá em cada um dos estados. Isso implica num esforço de uma equipe pequena, de apenas cinco pessoas, de estar em cada estado, discutir com os gestores e pesquisadores locais, as prioridades locais de saúde, em cima de uma metodologia própria.

Como resultado disso, nós passamos, de 2003 a 2005, a aplicar 90% dos nossos recursos em editais e apenas 10% aplicados em encomendas. As encomendas serão sempre necessárias porque nós temos urgências de áreas técnicas, temos necessidade de projetos que não são de editais, como projetos de desenvolvimento tecnológico, enfim, temos um conjunto de necessidades de pesquisa para a qual o edital, no formato de “Carta Convite” não se aplica.

Agora, vamos ao concreto. O que é que nós fizemos nesses anos? Como e disse, em 2004, nós tínhamos muito claro quais seriam as nossas primeiras agendas. Elas eram pautadas pela prioridade que o Ministério dava aos temas. “Alimentação e Nutrição” foi o primeiro tema eleito. Tinha uma razão muito clara para isso. Acho que todos os brasileiros ouviram, desde o momento do discurso da posse do Presidente Lula, que a questão do Fome Zero era uma prioridade nacional. Por outro lado, a comunidade científica e os pesquisadores da área de alimentação e nutrição mostraram um vigor absolutamente fantástico. Não só nesse ano, mas no ano passado, nós tivemos uma seleção absolutamente acirrada de propostas nesse tema. Então, ele tinha uma razão para ser um dos primeiros editais de 2004.

Um outro grande programa do Ministério da Saúde, que possivelmente é a marca desse governo, é a questão da qualidade e humanização no SUS. Para isso, era necessário pegar a agenda de avaliação de sistemas e políticas, refazê-la e publicá-la. Nós conseguimos selecionar 45 propostas. Uma outra agenda necessária é a de “Violência, Acidente e Trauma”. É um edital grande cuja preparação implicou em três reuniões, com a participação de mais de 100 pessoas e elegeu um conjunto de linhas prioritárias. Um outro tema considerado importantíssimo são as “Metas do Milênio”. O governo tem um programa especial para enfrentar a questão da mortalidade materna e a morbi-mortalidade neonatal, que está intimamente ligada à falta de assistência à mulher no momento do parto.

Nós tínhamos uma outra prioridade nacional que também saiu da boca do Presidente, que é a questão da “Saúde Bucal”. Também nessa área, os pesquisadores mostraram um vigor enorme, mas nós conseguimos atender menos de 10% dos projetos de pesquisa que chegaram. E há ainda uma questão emergencial porque, em 2004, vivemos um surto de antavirose e era necessário publicar uma agenda para essa questão.

Além disso, em 2004, nós começamos o embrião do projeto “InoVacina”. É um projeto nacional que espera deixar o Brasil absolutamente auto-suficiente em vacinas até 2008. Num primeiro momento, três institutos - o TECPAR, o Butantã e Bio-Manguinhos - receberam cerca de 16 milhões para o desenvolvimento de um conjunto de vacinas.

Em 2004, desenhamos e conseguimos concluir a chamada do maior estudo clínico já realizado nas Américas, em relação às células-tronco, em 1.200 pacientes. É importante lembrar que, naquele momento, nós não tínhamos ainda a Lei de Biossegurança aprovada, o que aconteceu apenas no ano seguinte.

Em 2005, o nosso número de editais foi maior e recorremos a um conjunto de temas. Aí sim, nós já tivemos dificuldades de escolher as sub-agendas porque nenhuma agenda queria ficar para 2006. Mas, era necessário priorizar. Essas são as agendas priorizadas. Eu quero chamar a atenção que existem duas agendas que elegem apenas um projeto porque elas são agendas de encomenda. Uma delas avalia o sistema CEP/CONEP, que é o sistema que hoje cuida da ética no Brasil. Ele faz 10 anos em 1996. A nossa 196/96 comemora muitos avanços. Nesses 10 anos, nós implantamos 400 Comitês de Ética no país, temos uma CONEP forte, mas, era preciso conhecer melhor como funciona esse sistema, quais suas fortalezas e quais suas necessidades de melhoramento. Temos ainda o Projeto da Baixada Santista, que veio atender uma questão específica de Cubatão em relação ao meio ambiente e à saúde.

Aqui, eu quero chamar a atenção para alguns editais. O Edital de Saúde Mental é um edital que surpreendeu enormemente, também pelo vigor dessa comunidade científica. Nós tínhamos duas grandes linhas e a qualidade dos projetos foi realmente surpreendente. Nós conseguimos, em parceria com a FUNASA, publicar um Edital de Saúde de Povos Indígenas.

Então, esse edital teria selecionado apenas 24 projetos, mas ele seleciona 83 porque a maioria desses projetos era considerada, pelo Comitê Consultivo, como AA, ou seja, de prioridade absoluta. Nós tivemos um edital de avaliação econômica em análise de custo que repete a nossa agenda. Foi o nosso único edital que repetiu a agenda. O Diretor de Departamento de Economia em Saúde tinha uma razão muito simples para isso. Ele dizia: “Eu quero conhecer a demanda de estudos em economia da saúde no Brasil e, se eu fizer um edital muito centrado, eu terei os mesmos pesquisadores pesquisando as mesmas coisas”. De fato, ele estava certo. Nós tivemos projetos muito interessantes e, hoje, esse edital tem 33 projetos selecionados. Uma das questões prioritárias no Brasil, que é a hanseníase, volta este ano na nossa ação de doenças negligenciadas e temos duas ações muito específicas e voltadas para o desenvolvimento regional e para a discussão das necessidades específicas do país.

Cinco estados brasileiros não tinham instâncias estaduais que fossem capazes de fazer editais de pesquisa: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins. Nós achávamos, desde 2004, que não era possível fazer um novo castigo para esses pesquisadores porque ali tem pesquisadores, tem mestres, tem doutores, pessoas comprometidas com a realidade local e que querem fazer pesquisa no seu local de origem. Então, para os pesquisadores desses cinco estados nós publicamos esse edital diretamente.

E tem o Edital da BR-163, que é uma chamada nacional para as questões pertinentes da área de abrangência da BR-163. Acho que a maioria deve saber que a BR-163 vai do Mato Grosso até Santarém no Pará. É uma área que este ano vai receber asfaltamento, que faz parte do grande projeto nacional do governo para a Amazônia e nós tínhamos certeza que era necessário que a saúde fosse a campo e pesquisasse algumas das questões mais complexas: endemias, serviços, saúde da mulher e saúde da criança. Ele também traz uma experiência muito interessante de fomento porque é feito em duas etapas, obrigando grupos a trabalharem em conjunto para maximizar seus esforços, uma vez que o campo de pesquisa é único e é um campo de pesquisa duro. Não é simples fazer pesquisa nessa reunião da Amazônia, que está coberta por problemas de violência de todo o tipo de alterações e de dificuldades sociais.

Já falei um pouco da avaliação do sistema CEP/CONEP da Baixada Santista. Nós tivemos um edital importante voltado para as questões da bioética que selecionou 18 projetos. Talvez esse seja um edital que volte e um edital de assistência farmacêutica. Esse edital foi tão impactante para a área técnica que, na semana passada, foi inaugurada uma coisa que nós todos achávamos que a área técnica deveria começar a fazer este ano, talvez, depois de junho. E isso já foi feito em fevereiro passado. A área técnica chamou pesquisadores da área de assistência, que tinham projetos selecionados, chamou os gestores e juntou pesquisadores e gestores antes da pesquisa começar. Com isso, maximizou, seguramente, seus resultados.

No ano passado, nós tivemos quatro grandes chamadas nacionais, formando redes. A primeira é a que forma uma rede de avaliação de implantes ortopédicos no Brasil. Esse é um dos problemas mais graves da nossa assistência, com grande impacto, não só nas nossas contas, mas seguramente, no sofrimento dos cidadãos que precisam de implante, colocam o implante que é para durar dois anos e, um ano e meio depois, ele quebra. Seguramente, essa é a nossa mais ousada ação em rede. De 54 hospitais que concorreram, nós implementamos, em 17 deles, unidades de pesquisa clínica, com um investimento de 35 milhões, em parceria com a FINEP e o MCT. Começamos o maior estudo longitudinal das Américas. É o maior estudo mesmo porque são 15.000 recrutados no Brasil que vão fazer o diagnóstico de hipertensão e diabetes, que são duas das doenças mais prevalentes e com maior impacto no SUS, além de algumas outras questões muito caras para nós como saúde da mulher, saúde mental e alimentação. E temos uma chamada de bioprodutos que também se repete este ano para manter um fomento contínuo a essa questão dos grupos que trabalham com bioprodutos no Brasil.

Duas outras pesquisas iniciaram, depois de longas e árduas negociações. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde no Brasil foi feita, pela última vez, em 1996. Nos últimos quatro anos, ela estava rolando no Ministério da Saúde e não conseguia, de fato, ser contratada. No ano passado, depois de um grande esforço, nós conseguimos contratar essa pesquisa. Nós já tivemos a primeira reunião que foi muito interessante em São Paulo. Ela foi inteligentemente chamada “Diálogos”, onde os pesquisadores sentaram do lado dos gestores e discutiram o passo a passo dessa pesquisa que vai entrevistar 5.000 mulheres, 15.000 mulheres e 5.000 crianças. É a locomotiva da PNDS no DECIT.

E tem o estudo multicêntrico para os portadores de hemofilia. É um estudo há muito reclamado por essa população, que é de importância fundamental porque o diagnóstico molecular permite conhecer exatamente o estado do portador. Em geral, é uma doença diagnosticada na infância e isso nos permite traçar o melhor tratamento. É um estudo caro que está sendo feito em parceria com a SAS.

Chegamos agora em 2006. Eu queria dizer para vocês que esta é uma grande reunião consultiva, é um fórum de absoluta democracia, como disse o Luis. Nós vamos ouvir vocês, vamos tomar em conta e, saindo daqui, nós vamos passar três dias trancados, fazendo os editais. É claro que as linhas vão eleger os temas. O edital vai ser igualzinho? Na! Existe um trabalho técnico dos gestores dessa área, do CNPq e FINEP que vai implicar em fazer com que esse edital tenha a melhor estratégia possível. São estudos que devem reunir instituições e o formato vai ser discutido. Isso é só para vocês saberem que as linhas que nós vamos receber de vocês amanhã na plenária, são o insumo principal. Podem sair iguaizinhas e podem necessitar de adaptações. Podem ser necessárias adaptações.

Em genética clínica, nós temos um orçamento previsto de quatro milhões; para o kit diagnóstico, já com um foco de doença negligenciada, temos cinco milhões; para avaliação de tecnologias, temos um total de dez milhões, sendo cinco milhões do DECIT e cinco milhões da SAS; e para fármacos, temos uma parceria com o MCT onde vamos ter um edital de 46 milhões, sendo 23 milhões este ano e 23 milhões no ano que vem. Todos esses outros editais são de valores menores: envelhecimento populacional e saúde do idoso, junto com a SAS e o MCT, num edital de quatro milhões. Esse edital já foi inteiramente discutido no ano passado e vai ser apresentado na plenária; temos o edital de população negra com a Secretaria de Gestão Participativa; de determinantes sociais, população masculina e pessoas com deficiência, numa parceria com a SAS; de saúde e ambiente, numa parceria com a Secretaria de Vigilância em saúde; gestão do trabalho em saúde e gestão da educação em saúde, com a SEGETS; comunicação e informação, com um edital bancado pelo DECIT; e um edital de saúde suplementar, solicitado e financiado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Eu fiz muita questão de trazer esses números, mas eles não são exatos. Apesar de a gente ainda não ter orçamento, eu já gastei todo o dinheiro deste ano e estou devendo 10 milhões. Então, nós vamos ter que fazer algum tipo de ajuste, embora o Moisés diga que o Ministro vai me dar mais dinheiro. Ele tem que me dar porque, senão, eu vou ficar devendo. Eu não deveria estar dizendo isso na frente do CNPq e da FINEP porque o calote vai ser para eles. Mas enfim, nós temos programado para este ano um desembolso de 95 milhões e temos um orçamento de 85 milhões, mas nós vamos conseguir os outros 10 milhões. O mais importante é que, pela primeira vez, nós temos uma participação de quase todas as secretarias no orçamento de pesquisa. Para nós, isso é tão importante quanto os 15 milhões que a SAS resolveu investir em pesquisa, quanto o dinheiro que a SGETES resolveu investir. Isso é sistemático e institucionaliza, dentro do Ministério da Saúde a ação de pesquisa, não como uma ação de um departamento e de uma secretaria, mas como uma ação ministerial, uma ação de governo.

Eu não posso deixar de falar deste programa porque é o programa mais exemplar da nossa estratégia de descentralização e fortalecimento do esforço nacional de pesquisa e da redução de desigualdades. Nós temos um programa que começa na gestão anterior e transfere, para as Fundações de Amparo à Pesquisa, em parceria com o CNPq, recursos para que cada estado promova um edital. Assim, de 2000 a 2003, nós temos um financiamento de 148 pesquisas, em 10 estados, com 52 instituições participantes e um orçamento de 3,2 milhões. A partir de 2004-2005, entendendo que esse era um instrumento fundamental, nós ampliamos o programa e ele passou a ter um orçamento de 21 milhões, sendo 11 milhões do Departamento de Ciência e Tecnologia e 10 milhões dos estados que, de uma maneira inédita, tiraram recursos de ciência e tecnologia para aplicar em pesquisa. Em mais de 100 instituições, nós temos financiado 435 pesquisas em 22 estados. Os cinco estados que não aparecem aqui são aqueles que eu já citei em que nós fazemos os editais diretamente porque eles não têm instâncias estaduais de pesquisa.

Para este ano, se eu gasto o dinheiro do DECIT mais da conta, a Márcia Mota, que é a Coordenadora do Programa, cada vez que me traz uma conta, me engambela. Eram 28 milhões, depois já eram 32 milhões e agora ela me trouxe uma conta que nós já vamos gastar 40 milhões nesse programa. É por isso que eu devo. Nós vamos ter 25 instituições participantes, esperamos apoiar 650 pesquisas e, desses 45 milhões, são 22 milhões nossos e 18 milhões de contrapartida.

Uma outra área que hoje se reúne para eleger prioridades, e que eu fiz muita questão de destacar, é a área de avaliação de tecnologias em saúde. É uma coordenação nova que nasce após a criação de um Grupo Permanente de Trabalho no Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele é fundamental para revelar aquilo que nós já sabemos. Nós temos um passivo imenso em relação aos recursos aplicados em tecnologia no seu sentido mais amplo - procedimentos, necessidade de uma tecnologia dura - enfim, um conjunto de ações que são praticadas pela saúde. É uma área que vem trabalhando enormemente e vem fazendo um conjunto de ações. Uma das ações mais importantes, que já começou antes do carnaval, foi a construção de uma política de gestão de tecnologia no SUS. Foi publicada uma Portaria e o Grupo de Trabalho fez a primeira reunião. Até ao final de abril, esse documento deverá ir para consulta pública. Nesse grupo, vocês vão ter a chance de discutir essa agenda que, de fato, é uma das agendas mais importantes para a área de assistência.

Agora, eu vou mostrar para vocês alguns dados da nossa reflexão sobre o que vimos fomentando. A Antonia Ângulo coordena a área de Assessoria de Políticas de Ciência e Tecnologia dentro do DECIT. Essa área é o fígado do DECIT, ela tem que metabolizar tudo aquilo que a gente faz e criticar para que a gente saiba se está cumprindo, se está cumprindo bem e se, de fato, quando essas pesquisas ficarem prontas, daqui a dois ou três anos, elas terão impacto naquilo que a gente deseja, que é a melhoria da saúde da população. Nós temos um conjunto de dados construídos no sistema que nos mostram que nós conseguimos selecionar e financiar 50% do total dos projetos. Isso é tudo referente a 2004 porque, os projetos de 2005 ainda não estão no sistema e não puderam sofrer essa avaliação desse conjunto de indicadores.

Apesar de que, em 2004, nós só tivemos essa agenda, apareceram coisas fantásticas. No caso de doenças transmissíveis, que é uma das principais agendas desse ano, já eram apontadas como uma das questões que mais incomoda o gestor lá na ponta e é parte de quase todas as agendas estaduais de pesquisa para o SUS. Além disso, começam a aparecer as questões transversais em todas as outras agendas. Isso mostra a necessidade de se fazer o exercício que nós faremos amanhã, cruzando linhas de pesquisa para potencializar os resultados. Nós temos um financiamento de pesquisa, surpreendentemente maior na região nordeste do que na região sudeste. Esse slide traz a informação que a gente mais gosta de mostrar: as duas regiões que, normalmente, no conjunto dos recursos, não recebem nem 2% do fomento no Brasil, que é o centro-oeste e o norte, conseguiram quadruplicar o acesso a esses projetos.

Esse é um outro slide que nos levou a uma grande reflexão no DECIT e, provavelmente, vai implicar no trabalho de vocês. Nós percebemos que, pelos projetos descentralizados de pesquisa pelo SUS e pela vontade que, às vezes, nas oficinas, os gestores queriam atender a todas as linhas, nós tínhamos um percentual muito exagerado de pequenos projetos. Eu diria que essa é a principal questão que nós precisamos olhar e tentar corrigir. Nós temos praticamente 90% dos projetos até 100.000. Temos projetos até 20.000 e de 20.000 a 50.000. Hoje, nós estamos convencidos de que projetos desse tamanho devem ficar restritos aos estados pequenos, que têm pouca experiência em pesquisa, que têm pesquisadores iniciantes e que, portanto, o esforço ainda é inicial. Isso está por regiões e mostra mais claramente que algumas regiões, como é o caso da região Nordeste, a imensa maioria dos projetos é de pequenos cujo impacto será muito menor. Para todo o Brasil, nós temos 261 projetos apoiados até 20.000; 308 projetos apoiados até 50.000; 120 projetos entre 50.000 e 100.000 e menos de 50 projetos acima de 100.000. Essa é uma das questões que nós pretendemos corrigir a partir deste ano.

Esses são os grupos populacionais atingidos que foram escolhidos nos estudos. Esse indicador permite que a gente veja a que população o projeto está se dirigindo. Em relação às instituições que participam, a imensa maioria é constituída de universidades e de instituições de ensino superior.

Aqui nós temos como as pesquisas estão em relação ao órgão executor. Novamente, nós caímos nas instituições públicas federais, relacionadas ou não com o setor saúde. Uma das nossas perguntas eram em relação a quanto os serviços de saúde estão relacionados com as pesquisas que envolvem o seu campo. Isso mostra um percentual de quase 40%. A gente espera que ele seja maior, doravante.

Em relação à natureza da pesquisa, como era de se esperar, embora nós tenhamos uma recomendação específica que o edital deve abranger toda a cadeia de conhecimento, os editais estaduais, principalmente, estão muito mais voltados à chamada “pesquisa aplicada”, menos à pesquisa básica e um pouco à pesquisa instrumental. Em relação ao tipo de pesquisa, a gente tem uma predominância da chamada “pesquisa epidemiológica e de ciências sociais”. Em relação ao que a gente espera da abrangência geográfica, a maioria dos pesquisadores aponta que essa abrangência é municipal e estadual. Mas há um dado interessante. Quando a gente pergunta qual é o impacto da pesquisa, quando ela estiver pronta e com os seus resultados, 1/3 diz que o impacto será nacional.

Em linhas bem gerais, para ser fiel ao tempo, e para não cansá-los, esses são os dados principais que eu queria trazer. Esse é o panorama das ações do DECIT, de maneira muito resumida, nos últimos três anos. Nós vamos estar publicando o nosso Relatório de Gestão, a partir do mês que vem e, provavelmente, ele chegará à mão de todos vocês.

Antes do final, embora não seja usual, eu queria fazer alguns agradecimentos. Primeiro, eu quero dizer que todas as homenagens que eu recebi na Mesa, como representante das mulheres, naturalmente, eu estendo a todas as mulheres presentes e a todos os homens presentes porque eu tenho certeza que, na medida em que a vida das mulheres muda nesse planeta, a vida dos homens também muda. Muda a vida dos nossos filhos e dos nossos companheiros.

Eu queria fazer um agradecimento à Diretora Substituta Oficial desse Departamento que virou Diretora nas últimas duas semanas em que eu estive fora do país, na maioria das vezes incomunicável, por estar algumas horas e alguns dias, perdida em aeroportos. Queria agradecer à Márcia Mota e a toda a equipe do DECIT, na pessoa dela. Eu queria dizer que esse é um departamento de gente jovem, gente bonita e mulheres. O DECIT tem 40 pessoas, sendo apenas seis homens. É um departamento absolutamente comprometido. Em 45 dias, a partir do momento em que foi tomada essa decisão, fizemos essa reunião, mesmo sendo janeiro e fevereiro, mesmo tendo o carnaval no meio, mesmo não conseguindo despachar todas as passagens. Até ontem, às 23 horas, a equipe ainda trabalhava. E por fim, e mais importante, queria agradecer à Antonia e a equipe dela que foi quem concretizou esse seminário. É uma equipe pequena - Cristina, Juliana, Carla, Renata, Luciana e Jaqueline - e se não fossem elas, esse seminário não teria se concretizado. Muito obrigada!”

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT

“Eu queria registrar a presença de nossos dois membros da Mesa de Abertura, o Diretor de Programas Temáticos e Setoriais, Manoel Barral Netto, representando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a Coordenadora do Convênio de Cooperação Ministério da Saúde/FINEP, Maura Pacheco.

Em seguida, convido o Andrés de Francisco a fazer sua exposição. Andrés deve fazer a exposição em espanhol, mas, acho que todos vão entendê-lo. Depois temos um debate“.

Andrés de Francisco

Global Fórum For Health Research

“Bom dia. Antes de tudo, quero desculpar-me por falar em espanhol e não em português. Espero que entendam a minha apresentação. Quero agradecer aos organizadores deste Grupo de Trabalho por me convidarem, e ao Fórum Global, para fazer esta apresentação. Parece-me que as apresentações que a Dra. Suzanne Serruya fez e, anteriormente, o Secretário, demonstram o compromisso político que existe neste país para trabalhar em investigação e pesquisa em saúde e também para identificar as prioridades de saúde a nível mundial, a nível global. No Global Fórum Health Research , a organização onde eu trabalho, estamos olhando atentamente o desenvolvimento dos programas no Brasil que têm muita importância para outros países em desenvolvimento no hemisfério sul.

No Fórum Mundial de Pesquisa, nós trabalhamos com o estabelecimento de prioridades em pesquisa, trabalhamos com fluxos de recursos e estamos trabalhando também com a Universidade do Rio de Janeiro e com a FIOCRUZ, buscando financiamento para a pesquisa. Temos trabalhado com a Suzanne e com a Antonia, em apresentações anuais que fizemos em vários países em desenvolvimento.

Em relação à investigação e pesquisa em saúde, creio que podemos começar dizendo que a pesquisa em saúde é muito importante, não somente para publicar documentos em revistas especializadas, mas é importante para o desenho e implementação de ferramentas para as intervenções em saúde, políticas e serviços de saúde. Quero dizer que a pesquisa é parte essencial de um sistema em saúde e deve ser a parte da inteligência para fazer esse sistema funcionar melhor.

Em relação aos elementos da pesquisa, há diferentes tipos de pesquisa: (1) a pesquisa biomédica, relacionada a remédios, vacinas, diagnósticos e aplicações. Há muitos trabalhos sobre pesquisa biomédica no Brasil; (2) pesquisa das ciências sociais e do comportamento, que busca atividades como eqüidade, determinantes sociais e fatores de risco; (3) a pesquisa em políticas e sistemas de saúde, que busca o que nós chamamos em inglês de scaling up, ou adaptação de programas a grandes grupos da população, financiamento, demanda de serviços de saúde e qualidade; (4) a pesquisa operacional em recursos humanos, gestão e acesso. Muitas vezes, as pessoas falam em pesquisa, pensando somente em vacinas e remédios. Mas realmente, a pesquisa vai mais além, atingindo grupos maiores.

A priorização da pesquisa pode ser feita de uma maneira sistemática, usando ferramentas desenhadas para esse propósito. A apresentação que eu vou fazer está focada em algumas dessas ferramentas e o que nós queremos é dar a vocês exemplos de situações referentes a alguns programas internacionais, nos quais, temos utilizado ferramentas para ajudar na priorização da pesquisa. Estas ferramentas utilizam informações disponíveis neste momento e nos ajudam a identificar lacunas do conhecimento e a determinar áreas de pesquisa. É importante ressaltar que essas ferramentas podem somente ajudar no sistema de definição de prioridades e não definir as prioridades por meio dessas ferramentas.

Temos os seguintes elementos de priorização da pesquisa. Primeiro, o processo para fazer a pesquisa. Dentro desse processo, teremos os atores, discussões e debates, quer por meio eletrônico, quer presenciais. A apresentação da Suzanne demonstrou como fizemos isso aqui no Brasil, desde o ano 2000. Em segundo lugar, temos o método e as ferramentas utilizadas, que vamos apresentar mais na frente, utilizando a informação disponível para identificação das lacunas. O terceiro e último elemento são os valores do sistema. São esses valores que definem as prioridades. Temos o valor de eqüidade. Nesse sentido, a contribuição mais importante que pode dar a priorização da pesquisa é continuar buscando eqüidade em saúde, igualdade de acesso e a maneira de incorporarmos a questão do gênero como uma das prioridades em pesquisa.

Este é um exemplo de análise de um problema para a definição de necessidades de pesquisa. É um exemplo de mortalidade materna. Neste gráfico, temos a cobertura da população e, neste lado, demonstramos a eficiência das intervenções para a redução da mortalidade materna. Vemos que já há algumas intervenções que são conhecidas e que podem reduzir a mortalidade materna. Por exemplo, o tratamento de eclampsia e hipertensão durante a gravidez. Entretanto, algumas dessas intervenções ainda não são conhecidas e seria importante serem pesquisadas para que possamos desenvolver as ferramentas necessárias. Deste outro lado, temos a cobertura da população. Se temos uma cobertura baixa, a maioria das pessoas envolvidas nessa pesquisa vão estar sendo beneficiadas por essa intervenção. Mas, na medida em que aumentamos a cobertura, necessitamos de uma melhor eficiência do sistema para que possa englobar todas essas pessoas. Mais na frente se quisermos aumentar essa cobertura até 100%, muitas vezes, é difícil abranger todos os serviços e, por conta do custo elevado, é impossível ofertar todos os serviços a toda a população.

V emos que a pesquisa ajuda a melhorar o programa de saúde. Se quisermos aumentar a cobertura e torná-la mais eficiente, as pesquisas dos sistemas e políticas de saúde nos ajudam a aumentar a cobertura, identificando alguns dos problemas. Por exemplo, a questão de recursos humanos e de encaminhamento de pacientes aos hospitais. Além disso, podemos desenvolver pesquisas para incrementar a eficácia e reduzir o custo desses serviços numa cobertura mais alta. Finalmente, a pesquisa pode nos ajudar também a identificar novas intervenções dentro dos serviços de saúde.

A Suzanne falou dos cinco passos de priorização. Nós pensamos que isso é algo que pode começar a direcionar a nossa ação:

A magnitude do problema. Temos que definir o problema, verificar qual é a carga da enfermidade, qual é a mortalidade, mas, o problema pode ser também uma deficiência ou iniqüidade. Então, o mais essencial é a definição do problema.

Fatores de Risco. Temos que identificar quais são as razões pelas quais o problema persiste. Já sabemos os resultados, sabemos como diminuir a mortalidade ou a iniqüidade.

O conhecimento atual. Basicamente, verificamos o que sabemos, quanto podemos intervir e qual é o estado do conhecimento, neste momento, para abordar o problema.

O impacto da pesquisa. O que queremos verificar aqui é que promessas trazem essa pesquisa no sentido de melhorar o serviço de saúde, o diagnóstico de uma enfermidade, como pode baixar o preço dos remédios ou como pode melhorar a eqüidade de algum programa de saúde.

O fluxo de recursos. Temos que verificar quem está investindo nessa pesquisa, quem está disponibilizando fundos para essa pesquisa e se os investimentos para a pesquisa estão relacionados a enfermidades ou fatores de risco. No Fórum, nós estamos falando de uma brecha 1090 porque acreditamos que os fluxos de recursos para a pesquisa de problemas que existem nos países subdesenvolvidos são muito baixos em relação à magnitude do problema. É isso que chamamos de “Brecha 1090” que faz referência ao fato de que necessitamos mais e melhor financiamento e priorização em pesquisa para podermos enfrentar o problema de saúde nos nossos países. Creio que este seminário é parte do processo de correção da “Brecha 1090” porque ajuda a melhor identificar as prioridades em saúde.

Estes cinco passos fazem parte do que chamamos de “Matriz Combinada”, que é uma das ferramentas que foi utilizada em vários programas. Vou dar alguns dos exemplos que foram usados no passado. Aqui temos os cinco passos que acabo de mencionar. Além disso, sabemos que saúde tem muito a ver com os determinantes ao nível do indivíduo, da família, da comunidade. Os ministérios e os sistemas de saúde têm muita relevância, bem como, alguns setores como educação, transporte, ciência e tecnologia. Temos ainda as políticas do governo central e a macro-política. Se os identificamos como os atores que ajudam a definir saúde e utilizamos estes quatro elementos e os colocamos nesta tabela, obtemos o que chamamos de “Matriz Combinada”, que é um método prático para organizar informação e identificar perguntas da pesquisa. Isso foi utilizado em alguns programas no passado e, basicamente, o que faz é tomar os exemplos dos cinco passos e os atores e fatores que eles determinam, ao nível da saúde, para tentar entender um pouco como identificar algumas dessas prioridades.

O que é a “Matriz Combinada?” É uma ferramenta para ordenar informações e apresentá-las de uma forma sistemática. É uma base para o diálogo das brechas de informação e de conhecimento e para a identificação de perguntas essenciais. É uma base para a discussão sistemática de prioridades porque não podemos identificar prioridades sem que haja discussões entre os atores que precisam fazer parte desta decisão. É uma ferramenta que facilita o planejamento dos passos seguintes para estabelecer os projetos de pesquisa. Suzanne estava falando como, depois que são definidas as prioridades, precisamos fazer os editais para os projetos.

O que não é a “Matriz Combinada?” Muitas vezes, nós temos uma ferramenta e pensamos que temos que aplicar somente essa ferramenta. A “Matriz Combinada” não é uma caixa mágica, não é um lugar onde se colocam as informações e recebemos as prioridades. Não define os valores do sistema que deve ser utilizado para a definição de prioridades. Por exemplo, há alguns sistemas em que se afirma: “Meu sistema é econômico. O que me importa é tratar o maior número de pessoas ao menor custo”. Há outros sistemas em que o que importa é a eqüidade, o que importa é que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens, que a população negra tenha os mesmos direitos que a população branca. Isso se define apenas através do sistema. A “Matriz Combinada” não define valores. Em terceiro lugar, não é eficaz sem o processo de discussão que define as listas de prioridades. O processo é importante. A ferramenta apenas ajuda.

Já aplicamos a “Matriz Combinada” em várias situações nacionais e internacionais. Vou a dar alguns exemplos. Por exemplo, no caso de enfermidades tropicais, trabalhamos com o Programa de Enfermidades Tropicais ( Tropical Disease Project ) da Organização Mundial da Saúde, em Genebra, que estabeleceu a definição de prioridades. O que fizemos foi utilizar a “Matriz Combinada”, em certas enfermidades com as quais eles estavam trabalhando. Foi um projeto bastante amplo, mas que, ao final, definiu certas prioridades em pesquisa para este programa que tem implicações a nível global. Também trabalhamos com saúde mental, especificamente, com prioridades para a epilepsia, no Programa de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde. Além disso, trabalhamos com doenças cardiovasculares, com uma Fundação da Índia que faz pesquisa em doenças cardiovasculares.

Temos aplicado a “Matriz Combinada” em fatores de risco, em poluição intra-domiciliar na África, no Quênia e também em relação à iniqüidade de gênero, na Índia. Também utilizamos esta ferramenta na Índia, Paquistão, Quênia e Colômbia, em programas do governo. Eles quiseram utilizar essa ferramenta, com vários graus de interesse, dentro de seus programas de priorização em saúde. Penso que seria interessante examinar alguns desses exemplos para verificar como utilizamos essa Matriz Combinada. Isso é apenas para mostrar-lhes como algumas dessas ferramentas podem ajudar no debate e na discussão e identificação de prioridades.

O Programa de Epilepsia, que fizemos juntamente com a Organização Mundial de Saúde, foi basicamente no sentido de examinar a carga da doença e as causas da Epilepsia. Basicamente, colocamos a informação dentro da “Matriz Combinada”. No caso da Epilepsia, havíamos calculado uma carga da enfermidade no nível global de 0,5% e começamos a examinar as cargas que estão em branco. Verificamos que a carga da enfermidade é a mesma para todos os atores e fatores. A partir daí, examinamos as razões pelas quais a epilepsia persiste, em nível do indivíduo, família ou comunidade. Eles falaram de infecções, de asfixia, de dano cerebral, lesões na cabeça, exposição a substâncias tóxicas, predisposições genéticas. Identificamos os casos em que temos informações disponíveis e em que áreas não existem informações dentro do programa internacional. A partir daí, começaram a identificar as lacunas de informação e, eventualmente, acabaram por fazer parte de projetos de pesquisa.

No nível do Ministério da Saúde, os resultados nos demonstraram, como sendo algumas das causas principais, a atenção pré-natal, problemas no parto, ou seja, fatores em que o sistema de saúde tem algo diretamente a ver com o controle, tratamento, manejo e prevenção da epilepsia. No nível dos setores não exclusivos da saúde, entre as razões pelas quais a epilepsia persiste, temos: falta de informação nas escolas, falta de programas específicos em locais onde há agentes tóxicos, falta de avaliação psico-social e vocacional. Em nível de governo central e macropolíticas, foram identificas as seguintes causas: falta de compromisso político para lidar com a epilepsia, legislação discriminatória e falta de medidas e legislação para prevenir acidentes de trabalho ou de trânsito. Assim, começamos a discussão sobre as prioridades. Além disso, em relação àqueles fluxos de recursos, examinados que dinheiro se havia investido nessa área de pesquisa.

O segundo exemplo é sobre paludismo que fez parte do Programa TDR. Há alguns dados básicos do peso global dessa enfermidade e do percentual de crianças que morrem na África devido ao paludismo. O que vamos a fazer aqui é, rapidamente, examinar a carga da enfermidade, verificando, não as razões pelas quais a doença existe, mas sim, o nível de conhecimento atual focando os diferentes níveis. No nível do indivíduo teríamos: prevenção da infecção, prevenção do desenvolvimento da doença, quimio-profilaxia. No nível do Ministério da Saúde, teríamos: desenvolvimento de políticas nacionais e recursos humanos. Neste momento, um dos problemas mais importantes na África é justamente a falta de recursos humanos para controlar o paludismo, no sentido do diagnóstico precoce, por exemplo. No nível de setores não-exclusivos, teríamos: controle de vetores, manejo ambiental e outros. Além disso, é importantíssimo o compromisso político para o efetivo controle do paludismo, que não existe em muitos países africanos, bem como, políticas que facilitem o desenvolvimento do controle das enfermidades.

O último exemplo não é de uma enfermidade e sim de um fator de risco que é oriundo de um determinante social. Esse determinante social é basicamente a pobreza e o fator de risco é a contaminação intradomiciliar. Por exemplo, em muitos países, isso está ligado ao fato de as pessoas cozinharem seus alimentos com lenha, queimando madeira e outros produtos. Isso pode ser traduzido em certos parâmetros e afeta predominantemente mulheres e crianças. Rapidamente, vamos examinar as razões pelas quais o problema persiste. No nível do indivíduo, um dos fatores mais importantes de contaminação intradomiciliar é a pobreza, falta de atenção, preferências culturais, acesso a combustíveis mais limpos. No nível do Ministério da Saúde, colaboração inadequada. Muitas vezes, as pessoas que trabalham em saúde dizem: “Eu trabalho com os hospitais, com as regionais, mas não tenho nada a ver com outros setores”. Alguns desses fatores de risco são: falta de atenção, baixa prioridade como problema de saúde e o manejo de sistemas de saúde, principalmente, no manejo de casos de crianças com pneumonia. Além disso, há a falta de acessos alternativos a micro-crédito e organizações sociais. Estamos envolvendo setores que não fazem parte do Ministério de Saúde. Finalmente, ao nível do governo central, destacaríamos a falta de compromisso político e políticas específicas em relação a necessidades energéticas intradomiciliares.

O que o programa está fazendo é identificar o problema de contaminação intradomiciliar e avançar mais no campo biomédico, nas áreas das ciências sociais, detectando como podemos identificar as lacunas nas pesquisas.

Para concluir o que eu penso para este grupo de trabalho, como começamos a discutir a possibilidade de fazer parte deste processo, parece que é muito importante termos clara a definição do problema. Esse é um processo que começou no ano 2000 e já discutimos bastante a definição do problema, mas, parece-me importante que esta questão seja revisitada. Em segundo lugar, temos que identificar como o problema se manifesta. Em alguns casos, isso pode ser detectado pelas iniqüidades, pela falta de atenção e a maneira como o problema se manifesta. Em terceiro lugar, temos que identificar quais são os valores para o sistema, o que nos interessa. Estamos interessados em eqüidade, em crescimento econômico, igualdade de gênero? Tudo isso nos interessa, mas, temos que ter uma definição dos valores. Além disso, temos que verificar o uso da informação existente, ou seja, como utilizamos a informação que existe para que a pesquisa que fazemos seja importante e relevante. Não é duplicando o que já foi feito em outros locais, mas sim, utilizar o conhecimento oriundo de outros países e outras regiões, especialmente países em desenvolvimento. Um outro ponto importante é a identificação das lacunas de conhecimento. Eu acredito que é aqui que a pesquisa pode ter um insumo muito importante e, eventualmente, um impacto. É também fundamental a definição dos projetos de pesquisa, como a Suzanne explicou anteriormente e, finalmente, a melhoria dos programas de saúde. Creio que todos os esforços devem ser focados nesse sentido. É por isso que a pesquisa em saúde tem que estar muito ligada ao sistema de saúde. De alguma maneira, temos que trabalhar no sentido da melhoria dos programas de saúde porque a pesquisa de saúde não termina senão no momento em que as pessoas são beneficiadas pelos resultados dessas pesquisas e não apenas quando publicamos algo, quando fabricamos um remédio. No momento em que a população é beneficiada pelos resultados de uma determinada pesquisa é quando a podemos dar por concluída. Nesse sentido, é muito interessante ver o exemplo do Brasil, que foi apresentado esta manhã, como o sistema foi sofisticado para produzir insumos e inputs ao programa de saúde. Muito obrigado.”

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT:

“Gracias, Andrés. Agora, vamos começar o debate. Eu queria levantar algumas questões enquanto vocês preparam suas perguntas. Acho que a Suzanne mostrou a trajetória do Departamento de Ciência e Tecnologia nos últimos três anos, demonstrando, com alguns resultados, toda a complexidade da definição de prioridades. Há alguns dados, como por exemplo, a faixa de recursos, a distribuição regional desses recursos e o tipo de pesquisas que foram financiadas, mas acho que é necessário também aprofundar qual será o impacto dessas pesquisas. A gente poderia pensar qual o impacto que a grande maioria das pesquisas financiadas, com menos de R$ 50.000,00, poderia provocar para o sistema como um todo ou para os próprios serviços de saúde. A princípio, não poderíamos responder porque não são necessariamente pesquisas envolvendo um maior aporte de recursos que trariam um impacto maior. Muitos desses pequenos investimentos têm um impacto muito significativo.

Quando nós juntamos essa informação de faixa de recursos com os resultados esperados das pesquisas, provavelmente veremos que os benefícios para as populações locais envolvidas serão maiores.Uma segunda questão, que se pode apontar como um desafio, são as metodologias para enfrentar problemas que não são definidos como problemas de saúde, ou de agravos, ou seja, problemas que estão relacionados às questões de saúde. Nós vamos ter pelo menos três Grupos de Trabalho com esse desafio: comunicação e informação em saúde, gestão de trabalho em saúde e gestão da educação em saúde. Embora tenhamos sub-agendas que definam prioridades, a questão é como poderemos aprimorar esse exercício da definição de prioridades e decidir o que deveríamos financiar em 2006.

Eu convido vocês a fazerem também suas reflexões. A Suzanne e Andrés estão aqui para debater com vocês.”

Marise Ramos

Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz:

“Bom dia a todos e a todas. Eu quero louvar, com muita satisfação, toda essa iniciativa. Eu acho que esta parte da manhã nos mostra a riqueza e o avanço político dessa temática no campo das políticas da saúde e da ciência e tecnologia. De forma mais específica, queria saudar a escolha das temáticas a que a Antonia se referiu há pouco, principalmente o fato de a gestão da educação e a gestão do trabalho serem inseridas formalmente como áreas temáticas para a pesquisa, seu fomento e financiamento. Eu diria que, do ponto de vista da luta dos educadores e na especificidade do que é a educação no campo da formação de trabalhadores de saúde, esse é um marco relevante desde a VIII Conferência Nacional de Saúde.

De forma mais específica, a minha questão é que, quando nós tomamos a gestão da educação, tanto temos a dimensão dos usuários do serviço de saúde, quanto dos trabalhadores. Exatamente na perspectiva dos trabalhadores do serviço de saúde, quando nós vemos a sub-agenda previamente definida, nós vamos encontrar a gestão da educação e do trabalho em definido. Mas agora, são dois campos temáticos e, portanto, dois subgrupos diferenciados - um para a educação e outro para a saúde. Não há dúvidas de que, quando enfrentarmos a discussão sobre a educação dos trabalhadores em saúde, não há como pensar a gestão da educação sem implicações na gestão do trabalho e vice-versa. Então, eu perguntaria, do ponto de vista metodológico, tanto nas discussões desses dois dias, especialmente na plenária, quando vamos conhecer as prioridades definidas e depois, na formulação dos editais, como se prevê a abordagem e o tratamento dessas interseções, particularmente, em relação à gestão da educação e do trabalho em saúde, do ponto de vista das implicações para os trabalhadores.

A segunda questão diz respeito à Matriz Combinada e também se relaciona com o último questionamento da Antonia. Eu estava observando que, na linha horizontal, quando aparecem os serviços não-exclusivos de saúde e também as macro-políticas, no caso da gestão da educação e da gestão do trabalho em saúde, isso apareceria como serviços não-exclusivos para as outras dimensões específicas da saúde. Mas, para a pesquisa em educação e trabalho, eles se constituem como objetos em si. Então, como pensar, do ponto de vista da Matriz Combinada, a sua utilização para a questão da educação e do trabalho em saúde, nesse duplo estatuto de não serem serviços exclusivo da saúde, mas, por outro lado, serem também áreas de conhecimento. Obrigado.”

Márcia Mota

DECIT

“Eu tenho uma pergunta para o Andrés. Nós estamos utilizando nos estados o material do Fórum Global, que nós traduzimos, ou seja, os cinco passos para a definição de prioridades, para que possamos estar desenvolvendo o PPSUS. Só que nós estamos desenvolvendo a metodologia dos cinco passos, do Comitê Ad Hoc , porque não haveria tempo suficiente agora, em função da exigüidade de prazo que nós temos para lançar os editais, de utilizar a CAM. Mas, eu tenho uma dúvida em relação à CAM porque ela é muito mais voltada para doenças e agravos. Muitas prioridades de pesquisa levantadas nos estados e até nossos temas aqui hoje, não são relativos a doenças e agravos. São questões afetas à saúde, porém, não são agravos específicos.

Eu queria saber se, no Fórum Global, vocês estão pensando no desenvolvimento de uma metodologia voltada para questões afetas à área de saúde ou se vocês estão pensando em adequar a CAM a esse tipo de abordagem.”

Maria do Carmo Leal

FIOCRUZ

“Eu queria também parabenizar a Suzanne porque eu até fico emocionada em ver o crescimento do DECIT em tão pouco tempo. É uma coisa que orgulha todo mundo que assistiu a apresentação aqui hoje. E também queria parabenizar o Andrés pela clareza e objetividade de sua apresentação. Eu acho que isso vai nos ajudar na discussão das prioridades aqui hoje. A minha pergunta é dirigida aos dois.

Uma coisa que me preocupa muito é como o DECIT está se estruturando para aplicar o conhecimento que advém das investigações que estão sendo financiadas para incorporar este conhecimento na definição de políticas públicas do país, ou na redefinição de programas de governo. Nós vimos que a maioria das pesquisas tem esse caráter de serem aplicadas e têm mesmo esse objetivo de estar olhando as coisas dessa maneira. Eu acho que esse é um grande desafio. Acho que não é fácil, mas, precisamos nos preparar para isso. Talvez vocês já estejam com alguma coisa pensada e até já trabalhando nessa frente.

Eu queria saber do Andrés como é que tem sido a experiência dele nesse campo, considerando que ele já visitou vários países, eu gostaria que ele nos dissesse como é que isso se passou nesses países e se ele pode nos ajudar a pensar isso para o nosso país, tendo em vista a quantidade de conhecimento que vai ser gerado com as pesquisas que estão sendo financiadas.”

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT

“Minha idéia era que fizéssemos rodadas de perguntas. Neste momento, encerramos a primeira rodada e os palestrantes vão fazer suas intervenções.”

Andrés de Francisco

Diretor-Executivo do Global Forum for Health Research:

“Muito obrigado pelas perguntas. Eu espero ter entendido tudo o que foi perguntado. Antes de tudo, quero dizer que a minha apresentação foi no sentido de estimular algumas dessas questões, mas, neste grupo de trabalho, não vamos aplicar a Matriz Combinada, ou os cinco passos, a todos os diferentes elementos. Eu quero que isso fique bem claro porque não temos tempo suficiente nem é o objetivo deste grupo de fazê-lo. O que queremos é simplesmente fazermos uma apresentação para que vocês comecem a pensar na priorização da pesquisa em relação às diferentes temáticas que se explicam muito bem com as experiências de utilização da Matriz Combinada, em outros exemplos.

Quanto à questão de educação e trabalho, se entendi a pergunta, parece-me que trabalho e educação são parte de pesquisa em saúde e que a pesquisa também é parte do trabalho e educação. Então, acho que seria muito interessante, por exemplo, aplicar a Matriz Combinada à educação, num determinado grupo da população, verificando quais seriam as brechas na pesquisa em educação que poderiam ter alguma implicação para a saúde. Creio que essa poderia ser uma boa maneira de utilizar essa pesquisa.

Em relação à pergunta da Márcia, relativa a enfermidades e agravos, é verdade que esta metodologia tem sido bastante utilizada para enfermidades e agravos e esta é uma das formas mais fáceis de utilizá-la. Em relação à gestão em educação, acho que já respondi a essa pergunta. Entretanto, quanto a grupos da população, creio que não se pode aplicar nenhuma destas ferramentas se não se tem formação básica do que está sucedendo com a população que vai ser estudada, quer seja através de informações epidemiológicas ou de ciências sociais. Por exemplo, informações sobre a situação da população negra. Se não dispusermos de alguma informação para começar a trabalhar, acho que é impossível fixar prioridades para a investigação.

Em relação a como aproximar os resultados da pesquisa, digo que temos alguma experiência relativa ao uso da informação e creio que o fator mais importante é o envolvimento dos que policy makers, ou seja, os responsáveis pelo estabelecimento das políticas, nas discussões de prioridades para a pesquisa. Geralmente, quando temos apenas cientistas definindo as prioridades, os gestores e as pessoas que estão implementando essas políticas não recebem essas informações com agrado porque não foram envolvidos no processo. Nossa experiência é que, se os que estão tomando as decisões no nível político estão envolvidos nas discussões, por exemplo, como no Programa das Doenças Tropicais da OMS ( Tropical Diseases Research ) eles se dão conta de que é muito difícil fixar prioridades. Se eles tomarem parte da discussão e dos debates não ficam alheios aos resultados porque esses resultados também são parte do que eles pensam. Desta maneira, na nossa experiência, foi mais fácil utilizar os resultados para as políticas de saúde e financiamento dos projetos de pesquisa.”

Suzanne Serruya

Diretora do DECIT

“A Márcia vai responder sobre a gestão do trabalho em educação e saúde. Ela é dessa área e foi quem trabalhou com as áreas técnicas em relação a esse tema. Ela vai recuperar a memória dessa discussão.

De fato, o DECIT vem num crescendo. Como eu coloquei, essa institucionalização é fundamental para uma política nova no Ministério da Saúde. A gente sabe que os governos mudam e, para que as políticas não sejam mudadas, elas precisam estar legitimadas e, mais do que isso, reconhecidas como de fato políticas importantes para o setor. Nós temos praticamente um ano de discussão sobre a questão da avaliação e acompanhamento de projetos. Eu mostrei alguns resultados que a Antonia e a equipe dela montaram na Assessoria. Agora, deve haver um upgrade profissional e nós queremos torná-lo um conjunto de informações disponíveis para todo o controle social na nossa página. Ele começa com a preocupação do que é que nós vamos fazer com o resultado dessas pesquisas. Nós já temos pesquisas com resultados.

Quando nós chegamos no DECIT, em 2003, existiam realmente poucos projetos financiados. Alguns desses projetos eram justamente projetos do PPSUS nos estados. Nesse caso, a dificuldade dobrava porque nós tínhamos uma outra instância entre o DECIT, o pesquisador e a área da Secretaria de Saúde. Quando nós reformatamos o programa e passamos as quatro instâncias existentes hoje - DECIT, CNPq, Secretaria Estadual de Saúde e Fundação de Amparo à Pesquisa - o primeiro momento foi de avaliação do estado da arte dos projetos. Pessoalmente, eu acompanhei isso porque eu era a Coordenadora de Desenvolvimento Institucional naquele momento. Nos sete estados que tinham projetos selecionados nós estivemos conversando com pesquisadores. Já naquele momento, o nosso grande trunfo foi que quem participou das reuniões de avaliação foram as áreas técnicas das Secretarias Estaduais de Saúde. Esse é o nosso primeiro pressuposto na avaliação e acompanhamento dos projetos.

Do ponto de vista operacional, daquilo que é físico-financeiro, eu poderia dizer que o CNPq fará e a FINEP fará. A prestação de contas de cada pessoa que receber um financiamento do Departamento de Ciência e Tecnologia será feita, na sua medida mais operacional, da maneira como vem sendo conduzida pelas duas agências, naturalmente, com a nossa participação e coordenação nesse esforço. Mas, mais importante que isso é termos um olhar qualitativo. É exatamente o que foi perguntado aqui: O que é que nós vamos fazer com esses resultados? De que maneira nós vamos trazê-los para os gestores estaduais e municipais? É nesse sentido que nós vimos discutindo uma série de ferramentas. Uma delas começa no momento em que o projeto é aprovado. A Antonia já pensou num questionário muito pequeno, com quatro ou cinco perguntas, que o pesquisador responde como se falasse com o gestor, dizendo o que é o projeto, para que serve e para que pode ser recomendado pelo gestor.

Nós tínhamos uma primeira preocupação, que tem tudo a ver com o que vai ser discutido aqui hoje, no sentido de que, aquilo que é ciência pudesse ser entendido pelo gestor. Aquilo que é pesquisa pode ser traduzida por controle social e pelos usuários, honrando a nossa tradição no SUS de ter informação disponível e digerível para todas as pessoas.

Além disso, temos outras iniciativas. As áreas técnicas reconhecem que estão, pela primeira vez, com um elemento novo que devem passar a considerar no desenho das suas políticas, como é o caso da área técnica de assistência farmacêutica. Elas pegam o edital, vêem que pesquisas lhe interessam e chamam os pesquisadores. Por exemplo, nós temos um esforço nacional de pesquisa em oncologia, que é único neste país, com quase sete milhões investidos em 83 pesquisas da maior relevância. Esse pessoal tem que sentar junto desde o início - gestores, pesquisadores, representantes dos diferentes grupos - liderados pela instância nacional que cuida da política de câncer no Brasil, que é o INCA.

Eu acho que o DECIT foi amadurecendo as suas etapas, na definição de prioridades. Nós fomos organizando e conseguindo achar a melhor maneira de implementação de cada etapa. Na questão da avaliação, nós já temos alguns exemplos bem sucedidos, mas, ainda é um desafio. Há menos de um mês, nós fizemos uma reunião com o CNPq porque tem uma diferença fundamental. Os projetos que nós financiamos através da FINEP são projetos grandes. Então, a avaliação é in loco, com coordenador, avaliador convidado ad hoc etc. No caso do CNPq não dá para fazer isso porque são mais de mil projetos em 22 editais. Então, nós vamos ter que usar instrumentos mais tradicionais, como relatórios, questionários, seminários presenciais de avaliação. Por exemplo, em 2003, nós financiamos 39 projetos em conjunto em relação à dengue. Já fizemos uma avaliação presencial desses projetos e, a partir daí, já traçamos uma série de recomendações para os coordenadores do programa. Eu tenho dito que essa é a nossa tarefa mais importante. Não terá valido o esforço de conseguir recursos, de publicar editais, se o resultado dessas pesquisas não chegarem às mãos dos tomadores de decisão na área técnica. Não adianta dar prêmio para uma nova escala de altura uterina, se a área técnica da mulher não incorporar essa escala, não trocar o cartão de três milhões de nascidos vivos por ano, não conseguir implementar aquilo que a pesquisa mostrou. Essa é a ponte do nosso trabalho e acho que esse é o nosso maior desafio para 2006.

Este ano, ainda sem data definida, nós vamos fazer uma reunião chamada DECIT+2 porque nós estamos há dois anos da última conferência e a dois anos da próxima. Então, nós achamos que é muito importante fazer esse balanço do que fizemos, já com resultados, quantos projetos financiamos, quem são esses projetos etc. Nós ainda não definimos a data, mas deve ser em outubro ou novembro. A essa altura, nós esperamos devolver esse conjunto das primeiras avaliações.”

Márcia Mota

DECIT

“De fato, os temas “gestão da educação” e “gestão do trabalho” têm questões comuns. Existem também questões muito importantes e muito específicas, como a questão da precarização da força de trabalho, a forte concentração de profissionais, regionalmente falando, a questão da formação profissional na área da saúde, as capacitações etc.

Quando nós resolvemos separar esses editais foi para garantir que questões importantes fossem privilegiadas, enquanto temas de pesquisa. Se eu fizesse um edital único, eu poderia correr o risco de uma área abafar a outra, até porque tem um apelo maior, é mais antiga, a discussão já está mais consolidada etc. Na hora em que eu separo, eu garanto que temas importantes serão privilegiados em ambas as áreas. Inclusive, nós tivemos essa discussão com o Secretário de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde, que entende a necessidade de que essas duas áreas sejam separadas. Inclusive, estão separadas no Ministério da Saúde. Hoje, eu tenho um Departamento da Gestão da Educação em Saúde e um Departamento para a Gestão do Trabalho que têm temas muito específicos ligados à sua área. Então, a intenção da separação dos dois editais foi exatamente essa. Mas, nada impede que esses dois grupos conversem. Inclusive, eu acho que é mais rico que essa discussão saia desses dois grupos. Mas, ao final, para que a gente não esteja repetindo temas e linhas de pesquisa desses dois grupos, na impede que esses dois grupos conversem durante esses dois dias.”

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT:

“Tem uma pergunta que foi formulada por escrito e eu vou ler: ´Se ampliaria e aperfeiçoaria o conjunto de critérios para estabelecer prioridades à inclusão de itens relacionados com o potencial da pesquisa para a inovação tecnológica e incorporação de novas tecnologias para pesquisas e serviços de saúde?`. A pergunta é do Eduardo Mota. Em seguida, passo a palavra para o Júlio e à Margareth depois.”

Júlio Muller

Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde:

“Eu tenho uma pergunta e uma preocupação. A pergunta é referente aos temas prioritários que foram lançados em 2004 e 2005. Eu queria saber como é que está sendo pensada a continuidade do apoio e dos novos editais para a continuidade desse processo. Eu estou colocando isso porque o esforço de abarcar todo o campo de atividades é extremamente importante, mas, tão importante quanto é dar continuidade para um processo que nós iniciamos. Então, eu gostaria de saber como é que isso está sendo pensado e como é que vai ser implementado pelo Ministério.

A outra questão é uma preocupação. Eu achei muito interessante quando foi feita a avaliação e se mostrou a importância de novos centros e novas áreas do país em que se está fazendo pesquisa, como o norte e nordeste. Ao mesmo tempo, há uma coincidência com as pesquisas de pequeno valor desenvolvidas nessas áreas. Quando fazemos o levantamento das pesquisas de pequeno valor, vocês vão ver que elas estão distribuídas nessas áreas mais novas e mais recentes. Essa é a minha preocupação. Quando se fala da1090, e eu sou gestor e sei que você tem que concentrar recursos em cima dos nós, dos problemas, como devemos trabalhar para que a gente não impeça o desenvolvimento dessas novas áreas de pesquisa, desses novos centros, porque, em geral, trabalham com pesquisas de pequenos valores.

Há ainda uma outra clivagem nessa questão. A gente sabe que determinadas pesquisas têm uma necessidade maior de investimentos de recursos. Por exemplo, as pesquisas da área biomédica, da área clínica. Nós sabemos que são pesquisas mais custosas do que, por exemplo, as pesquisas na área da saúde pública e da saúde coletiva. Em geral, há uma diferença. A minha preocupação é no sentido de que algum direcionamento que não considere essas questões possa reforçar uma matriz de desigualdade no financiamento que hoje já existe no país, exatamente, no sentido de uma concentração das pesquisas em centros mais desenvolvidos, inclusive, em áreas que já são contempladas com mais recursos. Era isso.”

Margarete Oliveira

“Bom dia. A minha pergunta é para o Dr. Andrés e é mais operacional. A CAM prevê a participação do controle social no seu desenvolvimento. A partir da experiência em outros países, eu queria saber se dá para prever em que tempo a gente conseguiria, de fato, executar a CAM, atendendo a todas essas etapas, inclusive, contemplando pesquisadores, gestores e o controle social, que é o que ela prevê na sua execução total.

Uma segunda questão é com relação ao indicador. O indicador proposto é o Daly para se trabalhar e buscar os índices de maior mortalidade. Em nossas viagens, já trabalhando um pouco a CAM e tentando buscar as prioridades de pesquisas junto aos estados, nós temos tido bastante dificuldade com as Secretarias Estaduais de Saúde, para que os coordenadores de área entendam, de fato, esse indicador. Eu queria saber de que forma nós poderíamos estar contribuindo para sermos facilitadores desse processo, tanto em relação ao indicador como à implantação da CAM.”

Linamara Rizzo Battistela

“Eu queria parabenizar, efetivamente, o grupo por este seminário extremamente importante e fazer um comentário que é pontual e que poderia até ser discutido dentro do grupo, mas eu entendo que é um conceito que precisa ficar melhor estabelecido dentro da sistemática do SUS. A questão da deficiência como área de assistência dentro do SUS é nova. Ela iniciou-se em 1992. Após um grande esforço da coordenadoria, em 2000, já se consolida uma Política Nacional de Assistência ao Deficiente. Por outro lado, o Brasil, como país, é signatário da Convenção da OEA que trata a questão usando a terminologia “pessoas com deficiência”. Nós evoluímos de uma terminologia “pessoa com deficiência” para “pessoa portadora de deficiência” e, finalmente, voltamos a chamar esse sujeito de “pessoa com deficiência”. Quando eu olho os documentos desta Secretaria, há uma dificuldade em se entender se nós estamos tratando “pessoas com deficiência” ou “pessoas com necessidades especiais”, que não são necessariamente pessoas com deficiência. Esta confusão conceitual vem alcançando as secretarias e os técnicos e cria alguma dificuldade no entendimento e na aplicação dessas políticas. Eu acho que, embora esse seja um aspecto irrelevante, frente à magnitude desse seminário, é importante que a gente passe a ter uma única nomenclatura para tratar essa questão, lembrando que nós estamos falando de financiamento e que, se nós usarmos a expressão “pessoas com necessidades especiais”, nós não estamos necessariamente falando de “pessoas com deficiência”. Este é um termo legal. Existem instrumentos legais que apóiam o fato de nós caracterizarmos este grupo como um grupo chamado “pessoa com deficiência”. Não tem demérito nenhum nisso. Eles preferem ser identificados assim. Eu queria só chamar a atenção para essa questão da terminologia. Isso não merece resposta nem discussão, mas eu acho que merece uma preocupação maior quando a gente tiver se apropriando desse termo em documentos oficiais.”

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT

“Não sei se alguém mais vai fazer alguma intervenção. Então, o Professor Barral fará a última intervenção e depois fecharemos com os comentários de Suzanne e de Andrés.”

Manoel Barral Netto

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

“O primeiro comentário é quanto a linha dos projetos de baixo valor. Na verdade, eu também considero que esse tipo de projeto faz parte do painel de financiamento. Em si, não tem defeito. Talvez o defeito seja a proporção que nós estamos agora. Acho que se a gente ficar na faixa de 40.000 e 50.000, há projetos que demandam esse tipo de recurso. O que a gente tem que entender é que, na verdade, o impacto desses projetos pode ser baixo, mas, a gente não está valorizando a interatividade e a potencialização de vários desses projetos quando feitos no conjunto do tempo. Então, na verdade, eles não podem ser erradicados do sistema. Eles têm um papel realmente importante, além do estímulo a grupos mais jovens etc. Mesmo grupos sólidos podem utilizar esse tipo de projeto para uma investigação inicial que, depois, se desdobrará num projeto maior. Quer dizer, são projetos de mais alto risco e que, por isso, o valor menor faz com que a gente possa tratá-los de maneira mais liberal. Nós já sabemos que o risco é grande, mas, sabendo isso, não há nenhuma restrição.

Um outro aspecto dos nossos editais que é interessante a gente observar é que, claramente, havia algumas comunidades muito carentes em que, na verdade, todos os recursos que estão sendo colocados têm uma utilização que poderia ser muito maior. Na medida em que o financiamento se estabilize e pela seqüência nos mesmos temas, já com outro tipo de foco e pelo aumento dos recursos, mais preocupante do que isso, pois são áreas em que a gente tem pouca demanda. Quando a gente tem poucos projetos em saúde indígena, por exemplo, isso é preocupante. Numa comunidade que está carente de recursos, isso é um outro tipo de foco que talvez a gente deva começar a colocar na nossa agenda em termos de formação de pessoal. A microbiologia brasileira vai mal, a virologia vai mal em termos de formação de pessoal e de atividade. Se esse sintoma do edital é verdade, nós temos que ver como vamos averiguar isso e que tipo de ação vamos desenvolver. Isso não é uma obrigação do DECIT, mas temos que ver o que resulta desse tipo de ação que pode servir de instrumento para outras atividades.

Quando a gente fala em impacto temos que ter uma preocupação muito grande de não fazer uma avaliação de impacto muito estreita e que, com isso, a gente perca a possibilidade de estar vendo coisas bem maiores em termos de interação de projetos, de maturação da informação. Grande parte dessas informações não vai ser utilizada e não vai ter um impacto a muito curto prazo. Na verdade, é importante não desvalorizar essa informação ao fazer a sua avaliação porque isso seria um tiro no pé. Você já utiliza uma metodologia de avaliação que, certamente, vai lhe dar um mal resultado se você fizer uma avaliação com esse foco muito estreito nesse aspecto. Se a avaliação de impacto não for bem pensada, a gente perde também aquele aspecto da potencialização dos projetos. Uma informação de um projeto em si pode não ter um impacto muito grande, mas as informações combinadas de alguns projetos podem ter um impacto grande.

Um outro ponto que gostaria de tratar é chamando a atenção de que cabem alguns aperfeiçoamentos na matriz, mas, mais importante do que qualquer pensamento desse tipo é o grau de confiança que a gente tem na informação que vai colocar em cada célula da matriz. Se o grau de confiança na validação dessa informação não for bom, seguramente, ela vai ser um instrumento que vai distorcer e criar viés. Há muita informação que não é necessariamente baseada em evidência. Então, nós temos que ver qual é o grau realmente de segurança que a gente tem de informação que estamos colocando em cada um desses elementos para podermos realmente fazer essa definição de prioridades. Essa é uma cautela que, a partir de reuniões desse tipo, a gente talvez tenha que criar toda uma metodologia para checar a informação em termos de carga de doença, em termos do grau do estado da arte nessa situação. Um outro aspecto, além do estado da arte é qual o grau de maturidade da comunidade científica naquele tema para resolver o problema. Esse é um outro elemento que a gente não pode desconhecer. Aliás, nós já vimos aqui nos nossos editais que talvez tenhamos que ter ações colaterais porque a comunidade ainda não está respondendo à demanda específica. Eram esses os comentários que eu gostaria de fazer. Obrigado.”

Suzanne Serruya

Diretora do DECIT:

“Eu vou começar pelo fim. Acho que o Barral colocou uma série de questões que a gente vem discutindo e que, de fato, merecem uma análise, daí, a nossa preocupação quando criamos esse sistema porque ele não usa um instrumento que é muito simples, que é o WEB-INFO. De fato, a gente pode colocar a lupa em cima do que nós estamos fazendo para tirar uma série de questões. Mas, fico feliz que ele e o Júlio tenham recuperado uma questão que talvez eu não tenha enfatizado na proporção correta. O que me preocupa hoje é a proporção dos projetos pequenos. Projetos pequenos sempre existirão, não só porque nós temos novos doutores, mas, naqueles cinco estados que eu mencionei, nós permitimos, inclusive, que mestres concorram. Isso não é uma regra que vale para o resto do Brasil.

Nós reconhecemos que existem estudos que, de fato, são mais baratos, mas que têm um custo e que há pesquisadores que, às vezes, precisam testar uma idéia para depois conseguir desenhar um projeto. Então, não existe nenhum preconceito, a nossa preocupação é que a proporção desses estudos possa comprometer o esforço. A gente também fica de olho naquele estudo e isso também é uma coisa que o sistema vem recuperando. Nós verificamos que, em vários estados, está todo mundo repetindo o mesmo estudo. Isso é excelente. Nós acabamos de financiar um estado a repetir um estudo que ganhou um dos prêmios. Ter vários estudos epidemiológicos onde muda o recorte, muda o local, pode ajudar, e muito, no conjunto dessas informações. Então, é preciso que fique claro que nós não imaginamos que estudos de menor valor não devam ser incentivados, principalmente, nessas condições que eu citei.

Eu queria dizer para o Júlio que, no DECIT, ainda quando eu era Coordenadora Geral, existiam duas questões sobre as quais eu sempre fiz uma discussão acirrada. Uma delas é a questão da participação das mulheres. Às vezes, isso não dá certo porque, em determinadas áreas do conhecimento, só tem homem fazendo pesquisa. Uma outra preocupação é a questão do desenvolvimento regional. Mesmo quando nenhuma instância estadual assumiu o edital, mesmo não tendo um acordo de cooperação técnica com o MCT, nós fizemos do DECIT um sistema que hoje existe para todos os estados. Nós temos certeza que, se não quebrarmos o ciclo vicioso, não tem fomento e isso não vai funcionar e virar um círculo virtuoso. Então, existe um compromisso enorme com isso.

O que é que nós queremos aprimorar num fórum como esse? Está garantido que, no fomento descentralizado, vai ter dinheiro para esses estados. É só através do fomento descentralizado que a gente conversa com oito estados no Brasil. Mas o que é que a gente pode fazer nos editais desse tipo? Em alguns temas, a gente deve colocar, como maior prioridade, os estudos cooperativos e colaborativos entre instituições do norte, nordeste, sul, centro-oeste, sudeste enfim, potencializando os grupos que nós temos no Brasil. Hoje, nós temos grupos importantes em todas as regiões, mas, todo mundo conhece os indicadores de C&T no Brasil e, em três estados brasileiros, além do Rio Grande do Sul, nós temos o maior potencial de pesquisa em saúde no Brasil. Nós temos isso em São Paulo, seguido do Rio Grande do Sul, que ultrapassou o Rio de Janeiro e em Minas Gerais, com cerca de 70% dos pesquisadores. Onde estão os pesquisadores é onde está o fomento e onde está o fomento é onde começa o grupo de pesquisa e começa o grande círculo. Então, esse é um compromisso nosso.

Você abordou uma outra questão que eu considero fundamental. Não adianta fazer esforços espasmódicos. Por exemplo, fazer um edital de saúde da mulher e nunca mais voltar ao tema. Vamos voltar ao tema sim e eu acho que o gancho para voltar é a avaliação. Foi como nós fizemos no caso da dengue. Nós temos 39 projetos em dengue. Dois não deram certo, 10 estão mais ou menos, e 3 são fundamentais para continuarmos com os estudos da dengue. Eu particularmente acho que a gente já vê lacuna já na fronteira do conhecimento, como acabou de lembrar o Barral. São coisas que a gente tem que se começar a preocupar porque estão chegando agora, como terapia celular, terapia gênica, nanotecnologia e uma série de outras questões que são importantes para a saúde. Há determinados casos em que a gente deve dizer que esse é um esforço de pesquisa que foi feito e que deve ser mantido porque nós treinamos pessoas, capacitamos e precisamos desenvolver mais habilidades nesse tema. Seguramente, acho que estamos preocupados com isso.

Em relação aos editais de 2007, eu já disse à Antonia que nós vamos começar a preparar na semana que vem. Vamos aplicar de fato toda a metodologia, encomendando os estudos e, para isso, temos dois projetos de prospecção. Um desses projetos chama-se “Inovação”, onde nós estamos prospectando, no campo do complexo produtivo da saúde, onde nós devemos investir em pesquisa. E há um outro projeto, chamado “Fronteiras”, onde nós estamos prospectando quais são as perguntas de pesquisa. Essa é um trabalho a ser feito. Na sexta-feira, nós temos a entrega das quatro primeiras prospecções em quatro temas: vacinas, bioprodutos, kit diagnóstico e hemoderivados. Nós fizemos esses quatro estudos junto à Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial e, no dia 10, os pesquisadores responsáveis vão apresentar esses estudos para que a gente olhe para esses estudos e veja onde começar a investir.

Eu me despeço aqui. Eu acho que esse primeiro momento foi fantástico porque ele mostrou a densidade dessa reunião e eu espero que amanhã, quando a gente se reunir aqui na plenária novamente, possamos de fato construir uma convergência de linhas que seja bem interessante. Muito obrigada.”

Andrés de Francisco

Diretor-Executivo do Global Forum for Health Research

“Muito brevemente, vou comentar as duas perguntas que me foram formuladas. Uma é em relação ao controle social da informação da Matriz Combinada. Os exemplos que eu mencionei, como a “ Tropical Disease Research - TDR”, da OMS, foram um estudo muito longo porque havia muitas pessoas envolvidas. Foi um exercício que levou um ano, para todas as diferentes enfermidades. Em relação aos indicadores, os indicadores de mortalidade e morbidade são bons indicadores, mas são muito específicos. Eu creio que mortalidade e morbidade são resultados de algum problema de equidade. Neste momento, estamos trabalhando com indicadores de gênero, de raça, de pobreza e também de manejo da gestão. Ainda não temos dados, mas vamos continuar trabalhando.

Quanto à questão da informação, eu estou de acordo em colocar o estado da arte da informação para não deformar ou mudar as prioridades. Nós começamos a trabalhar a matriz com informações tiradas exclusivamente da literatura, somente com referências e para que as pessoas que começassem a discuti-las pudessem ter um debate científico e afirmar: “Isto está comprovado cientificamente e isto aqui não sabemos”. Isso é algo muito importante que deve ser feito. Os ingleses chamam isso de “ garbage in, garbage out”, ou seja, se entramos com uma informação errada, a informação que será muito ruim.

Em relação às áreas geográficas, há um programa que nós temos, no nível internacional, onde temos também vários projetos. Geralmente, as propostas de projetos que vêm de países desenvolvidos, da Europa e dos Estados Unidos, são melhores, em questão da linguagem e da qualidade, do que aqueles que vêm dos países em desenvolvimento. Geralmente, o que nós fazemos é dizer, no edital dos projetos, que somente as pessoas de países em desenvolvimento podem aplicar esses projetos e, dessa maneira, forçamos a que se façam mais aplicações nos locais que mais necessitam.”

Suzanne Serruya

Diretora do DECIT:

“Desculpem, mas eu esqueci de dar uma resposta a uma pergunta que me foi feita pela Lindamara. Foi votado na Conferência que nós vamos adotar a terminologia “portador com deficiência”, inclusive, essa é recomendação da nossa área técnica. A Agenda saiu com a terminologia “portadores de necessidades especiais” porque ela foi votada num momento anterior a essa discussão. Algumas coisas foram votadas em separado. Então, na política, foi votado que, em todo o lugar, se usasse o termo “portador de deficiência”, mas a agenda saiu com “portador de necessidades especiais”. O Edital e a área técnica do Ministério reconhece como melhor terminologia “pessoas com deficiência”.”

Antonia Ângulo

Assessora de Políticas de Ciência e Tecnologia do DECIT

“Antes de dar por encerrada esta sessão, eu gostaria de lembrar como é a dinâmica dos grupos. Os grupos vão se reunir a partir das 14 horas, no prédio perto do Banco do Brasil. Todos os grupos vão trabalhar no segundo andar desse prédio. Na entrada, tem uma lista com os nomes dos participantes. Cada grupo já tem um coordenador designado pelo DECIT e cada grupo deverá eleger um relator. Tem dois técnicos do DECIT para apoiar na relatoria e também nos aspectos metodológicos. Como nós colocamos durante o debate, nós queremos que as metodologias nos ajudem a resolver a definição de prioridade das pesquisas e não que atrapalhem. Em última instância, nós gostaríamos que fosse feito um esforço em organizar as informações, de tal forma que, a definição dessas prioridades apareça claramente, com as evidências que os especialistas e gestores têm sobre determinados problemas. Nas pastas, vocês têm todo o material necessário para a discussão e, em cada grupo, haverá uma ou duas cópias de um estudo sobre carga de doença, a metodologia da Matriz Combinada. Para cada grupo será disponibilizado um computador e um datashow, de tal forma que a elaboração do trabalho de relatoria possa ser mais ágil e que o grupo consiga identificar e sistematizar melhor esses debates. Nós estamos à disposição para tirar qualquer dúvida e tem pessoal do DECIT apoiando cada um dos grupos. Um outro aviso é que teremos amanhã a apresentação do Reinaldo Guimarães, às 08h30min, neste local. Obrigado a todos!”

2.2.2 Prioridades de Pesquisa em Saúde. Contexto e lições aprendidas. O global e o local na definição de prioridades de pesquisa.

Reinaldo Guimarães

A exposição começou com um breve histórico da atuação do DECIT na tentativa de definição de prioridades de pesquisa. Em novembro de 2004 aconteceu o Seminário de Prioridades de Pesquisa em Saúde. Foi um momento bem sucedido, tendo a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde como um de seus eixos principais.

Dr Reinaldo afirma que não irá mencionar os aspectos técnicos da agenda, mas algumas considerações políticas e irá situar o ponto no qual o Brasil se encontra no tema de prioridades de pesquisa em saúde. Uma das coisas mais importantes que têm acontecido neste campo nos últimos 15 anos é o lugar que os países em desenvolvimento têm ocupado na pesquisa em saúde, a cargo da OMS. Países desenvolvidos passaram a olhar para os países em desenvolvimento. A partir dos anos 80 passou a haver um lugar de discussão para os países em desenvolvimento, principalmente sobre a emergência e re-emergência das doenças nesses países. A OMS desenvolveu/apoiou um conjunto de movimentos, realizado através de organizações, entre elas as mais importantes: CORED (Comissão para pesquisa em Saúde em Desenvolvimento) e o Global Fórum. Essas organizações lançaram um novo olhar sobre os países em desenvolvimento, nos anos 80 e 90.

Essa foi uma fase importante, porque começou a estabelecer uma clivagem no mundo em desenvolvimento, que é muito importante para o nosso país.

Um artigo publicado na Revista Science mostrava o fato de que 42 países com maior renda somavam 90% das publicações em pesquisa no mundo. Entre eles os cinco mais importantes eram responsáveis por 2/3 das publicações.

 

Grupos de países

Publicações

63 países de renda baixa

1,7

54 países de renda média baixa

5,4*

31 países de renda média alta

2,5

* China, Turquia, Brasil, África do Sul, Rússia.

 

Outro artigo mostra que existe no mundo um conjunto de países que tem força econômica relativa, mas com alta capacidade de pesquisa, entre eles China (que já não deveria estar aqui), Turquia, Brasil, Índia, etc. Carlos Moreu nomeou esse grupo de países como países em desenvolvimento inovativos. Países pobres, de força econômica pequena, mas que detém capacidade de pesquisa autóctone, inclusive na saúde.

E qual o lugar do Brasil na pesquisa em saúde? Pelo Censo de 2004 do CNPq, têm-se uma visão geral da pesquisa em saúde no Brasil: 1/3 do esforço de pesquisa no Brasil é relacionada à saúde, assim como 1/3 dos pesquisadores doutores.

 
Subdivisão da pesquisa em saúde no Brasil.
Clínica 50%
Biomédica

25%

Tecnológica 15%

Saúde Pública

13%

 

Um grupo de pesquisa comandado por Pelaggio (2003) desenvolveu um indicador (artigo publicado na Science) que utiliza o número de patentes norte-americanas por PIB per capita dos países. Neste estudo observa-se o perfil da pesquisa, não só nas universidades, mas também nas indústrias. Neste indicador o Brasil está em 12° lugar.

Outra informação apresentada foi uma tabela com dados da PINTEC (Pesquisa de Inovação Tecnológica), que mostra o cálculo formado pela fabricação de produtos farmacêuticos + fabricação de instituições médico-hospitalares. No Brasil, 20% das empresas do setor saúde tinham setores de pesquisa em saúde. O quadro é diferente quando se compara o lado da academia com o lado das empresas na produção científica em saúde. O que mostra uma questão estrutural no sistema de saúde.

Dados do DECIT

Dispêndio com a saúde = R$ 573.108.534
Setor público 72,8%

Setor privado

23,7%

Organizações internacionais

3,5%

 

A conclusão é que o Brasil depende exclusivamente de seus próprios recursos para investir na pesquisa em saúde. Do total do investimento em saúde no Brasil, cerca de 13 a 17% é apoio direto à pesquisa. Seria bom que houvesse maior investimento das organizações internacionais em pesquisa.

O Brasil é um país inovativo em desenvolvimento, com alto nível de pesquisa, porém baixo investimento em pesquisa em saúde, também por parte das indústrias (cujo investimento nessa área é medíocre).

Como histórico, o Brasil passou por um período de afastamento do governo da pesquisa em saúde e pobre experiência na definição de prioridades.

Para o MS ter um papel maior na pesquisa em saúde, considerações como fomento, investimento, política de pesquisa em saúde, devem ter prioridades.

Do processo que começou em novembro/2003 (DECIT) ele tira 5 lições aprendidas:

  1. A definição de prioridades a nível nacional é um processo de pactuação política. É essencial que as vozes sejam ouvidas para a definição de prioridades (prestadores/gestores, pesquisadores e usuários).
  2. Consenso político.
  3. A base técnica é assunto global. Posso estabelecer prioridades utilizando uma determinada base técnica em qualquer país do mundo. O que diferencia é o consenso político. Em países onde o sistema de saúde é menos participativo a base técnica tem maior contribuição. No Brasil é essencial que o SUS faça parte do processo. “Sem o SUS não há MS na pesquisa em saúde no Brasil”. Um balanço justo entre a base técnica e o consenso político é fundamental.
  4. Priorizar as prioridades: é necessário que haja alguém que vá priorizar as prioridades (governo). Não se pode estabelecer uma lista fechada em um dia. Quem deve decidir é o elemento de representação. A autoridade nacional de saúde é uma representante dos nossos interesses, é importante no processo de definição de prioridades. As críticas que dizem que a agenda não é de prioridades porque contém tudo são erradas.
  5. Panorama sanitário se modifica: a pesquisa se modifica conjuntamente, dependendo dos recursos e de vários fatores.

“O meio é a mensagem”: É ajustável sobre o que é a agenda. A agenda é o meio.

Respostas às perguntas

1. Alberto Pellegrine

A questão da pedagogia é uma mudança de cultura, os usuários e os gestores não tem intimidade com a pesquisa. Os pesquisadores sempre estiveram fora da saúde (da gestão e da prática). Para o Brasil não se pode pensar em apenas nos encontros presenciais, na conferência de 4 em 4 anos, mas isso não chega aos gestores. Há necessidade de oportunidades virtuais de encontro, e a Bireme é a principal ferramenta para isso. Fazer com que a pesquisa chegue na ponta, no gestor e no usuário.

2. Beatriz Raymann

Existe uma tradição entre o survey e service . A ausência de um espaço histórico desde que o MS foi criado. O MS não fornece espaço para o pesquisador, para o pensamento em pesquisa. Não existe cultura de valorizar os estudos, ou valorizar as evidências. No MS só interessava pesquisa se fosse relevante para o SUS, para aplicação imediata. Essas duas tradições estão sendo rompidas desde 2003. O MS abraçou a concepção de pesquisa em saúde que fosse além da pesquisa operacional.

3. Álvaro Atalah

Não sabe se existe preconceito com relação à pesquisa clínica. É de imensa tradição no Brasil. Tem problemas no Brasil. Dos 4 segmentos de pesquisa, a pesquisa clínica é o único no qual as diretrizes não são tomadas no Brasil, mas sim nas grandes empresas de medicamentos estrangeiras. É fundamental a pós-graduação. A rede de pesquisa clínica é pouco. Jorge Guimarães da Capes estará aberto a negociações.

4. Luiz Antônio

O movimento do MS com relação à pesquisa começou pelo mais fácil, pesquisa clínica nas universidades, mas o mais difícil ainda está por vir. O processo do Decit é um processo histórico.