O processo de definição
de prioridades de pesquisa em saúde descrito nesse
documento apresenta estratégias e metodologias diferenciadas,
considerando a vasta diversidade de temas e contextos implicados.
Os temas: Comunicação
e Informação em Saúde, Gestão
do Trabalho em Saúde, Gestão da Educação
em Saúde, Fármacos, Genética Clinica,
Saúde da População Masculina, Saúde
da Pessoa com Deficiência, Saúde da População
Negra, Avaliação de Tecnologias em Saúde,
definiu suas prioridades na oficina de trabalho - Editais
temáticos 2006. Cabe destacar que os temas Fármacos
e Avaliação de Tecnologias em Saúde
percorreram etapas diferentes dos outros grupos, com emprego
de estratégias mais apropriadas para obtenção
dos produtos esperados.
No caso do grupo de trabalho sobre
Fármacos o foco prioritário de discussão
foi a carta convite, resultado da parceria entre o Ministério
da Ciência e Tecnologia, FINEP e Ministério
da Saúde, sobre a seleção pública
das propostas para o apoio à cooperação
tecnológica entre o setor produtivo e instituições
científicas e/ou tecnológicas no escopo da
cadeia tecnológica e industrial na área farmacêutica.
Por uma demanda da área, o
grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde
utilizou metodologia específica e concentrou a discussão
na estruturação da Rede Brasileira de Avaliação
de Tecnologias em Saúde.
Uma outra modalidade de definição
de prioridades de pesquisa ocorreu por meio de fóruns
qualificados de discussão entre especialistas e gestores
da área com a participação do Decit.
Essa estratégia foi utilizada pelos grupos de trabalho:
Envelhecimento Populacional e Saúde da Pessoa Idosa,
Kits Diagnósticos, Determinantes Sociais em Saúde
e Saúde e Ambiente ‘’Os resultados obtidos
convergiram para a Plenária da Oficina de Prioridades
de Pesquisa - Editais Temáticos e subsidiaram a elaboração
do edital para o tema.
Os grupos de trabalho foram
compostos por pesquisadores e gestores de cada uma das nove
áreas e percorreu as etapas descritas a seguir.
- O ponto inicial foi
a consulta à ANPPS e conhecimento das linhas prioritárias.
- O segundo passo foi
a articulação permanente com as áreas
técnicas do Ministério da Saúde.
- Identificação
dos pesquisadores e gestores, com atuação
de destaque nos temas de discussão.
- Levantamento, a partir
da Plataforma Lattes do CNPq, dos pesquisadores com produção
científica significativa na área, preservando
a preocupação de contemplar todas as questões
importantes daquela área do conhecimento.
- Em reunião com
as áreas técnicas, foram compatibilizadas
as duas listagens gerando, de forma pactuada, a relação
dos componentes dos grupos de trabalho.
Buscou-se, nos estudos financiados
pelo Decit e parte dos financiados pelo CNPq, recorrer às
pesquisas desenvolvidas nas áreas contempladas. Este
material subsidiou a discussão dos grupos.
O cenário para iniciar os
trabalhos de grupos estava composto. Faltava então
definir as ferramentas para os grupos de trabalho atuarem
na definição de necessidades e estabelecimento
de prioridades de pesquisa para cada área.
A participação de um
consultor especialista na metodologia proposta teve como
objetivo disponibilizar um instrumento norteador das discussões
que não limitasse o debate. Em relação
a essa preocupação o consultor teceu o seguinte
comentário:
“Neste trabalho de grupo,
não vamos aplicar a Matriz Combinada, ou os cinco
passos, a todos os diferentes elementos. Eu quero que isso
fique bem claro, porque não temos tempo suficiente
nem é o objetivo deste grupo de fazê-lo. O
que queremos é, simplesmente, fazer uma apresentação
para que vocês comecem a pensar na priorização
da pesquisa em relação às diferentes
temáticas que se explicam muito bem com as experiências
de utilização da Matriz Combinada, em outros
exemplos”. Andrés de Francisco, representante
do Global Forum For Health Research.
A seguir, indicou os pontos relevantes
que devem ser considerados para a discussão:
- A pesquisa em saúde é
importante não apenas para a publicação
de documentos científicos, mas também no
desenho e implementação de ferramentas de
intervenções, de políticas e serviços
de saúde, com o objetivo de melhorar o funcionamento
do sistema.
- A busca da pesquisa deve estar
vinculada à eqüidade
- Para aumentar a cobertura deve-se
aumentar a eficiência e também descobrir
novas intervenções.
A metodologia adotada foi o Processo
de Cinco Fases do Comitê Ad Hoc da OMS, a partir a
liberdade para que os grupos de trabalho realizassem as
adaptações necessárias para cada temática
abordada.
Inicialmente, o Decit realizou a tradução
The Combined Approach Matrix publicada pela Global
Forum for Health Research, devido ao fato desse material
apresentar o método sugerido pelo Processo de cinco
fases do Comitê Ad Hoc.
Fase
1: Magnitude (carga de doença)
|
Estimar a magnitude
do problema ou a carga de doença, por meio da
utilização de métodos já
padronizados. |
Fase
2: Determinantes (fatores de risco) |
Analisar os
fatores de risco responsáveis pela persistência
das doenças, agravos ou problemas. |
Fase
3: Conhecimento |
Avaliar o conhecimento
disponível que pode auxiliar a solucionar um
problema, bem como reduzir ou eliminar a carga de uma
doença específica, agravo ou fator de
risco. |
Fase
4: Custo-efetividade |
Analisar o
custo-efetividade* das intervenções
necessárias para reduzir a magnitude de um problema
ou a carga de doença. Caso essa informação
seja indisponível, avalie os prováveis
impactos de futuras pesquisas sobre uma determinada
temática. |
Fase
5: Recursos |
Calcular e
identificar a quantidade de recursos atualmente disponíveis
para um grupo de doenças e agravos, para uma
doença específica, ou para os fatores
de risco. |
* Nota da tradutora:
entende-se por análise de custo-efetividade
a avaliação econômica completa, no âmbito
da saúde, que compara distintas intervenções
de saúde, cujos custos são expressos em unidades
monetárias e os efeitos, em unidades clínico-epidemiológicas.
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva.
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
Glossário temático: economia da saúde.
Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
2005, p.56.
Descrição das
Variáveis
Dimensões para a definição
de prioridades
Expressas no método de cinco
fases do Relatório do Comitê Ad Hoc de 1996,
as dimensões econômicas a serem consideradas
no processo de definição de prioridades3 são
representadas na CAM pelas seguintes variáveis:
a - Carga de doença
Observa-se que o termo “carga
de doença” tem sido amplamente utilizado nas
fontes de dados disponíveis, ou seja, em relatórios
nacionais, pesquisas científicas, relatórios
internacionais e estudos globais da carga de doença.
Ao mensurar a carga de doença é possível
constatar os anos de vida saudável perdidos, devido
à mortalidade, morbidade ou deficiência prematura.
O DALY pode ser usado para mensurar a magnitude da carga
de doença. Outros indicadores com o mesmo propósito
também podem ser utilizados; no entanto, o ideal
é obter dados disponíveis como os proporcionados
pelo DALY. Caso isso não seja possível, a
aplicação da CAM não é inviabilizada,
como ilustram os exemplos apresentados na Seção
III deste estudo.
b - Determinantes
Cabe empreender a análise
dos fatores responsáveis pela persistência
da carga de doença, tais como: falta de conhecimento
sobre o problema, doença ou agravos; ausência
de estratégias para a intervenção;
fracasso no emprego das estratégias existentes; limitações
das estratégias existentes; ou fatores externos à
área da saúde.
Essas informações se encontram disponíveis
nos relatórios globais e na literatura internacional.
É importante considerar também as razões
locais que explicam a persistência de alguns problemas.
Essas devem ser examinadas cuidadosamente para eleger as
prioridades de pesquisa em saúde.
c - Nível atual
de conhecimento
É preciso analisar a base
de conhecimento atualmente disponível que possa contribuir
para solucionar os problemas de saúde, bem como avaliar
a aplicabilidade das soluções propostas, considerando
o custo-efetividade das intervenções existentes.
Para esse propósito, os relatórios e a literatura
internacional fornecem diversas informações.
No entanto, ao se avaliar os exemplos de custo-efetividade
de outros países ou regiões, cabe ter presente
a necessidade de se considerar também as condições
e peculiaridades do local em questão.
d - Custo-Efetividade
Deve-se avaliar, em comparação
com outras potenciais intervenções, os esforços
de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em determinada área.
Esse exercício possibilita analisar o impacto de
pesquisas futuras e se essas podem produzir resultados capazes
de reduzir custos, permitindo que as intervenções
sejam comparadas e aplicadas a diversos segmentos populacionais.
Essas informações são difíceis
de se obter, pois poucas organizações e instituições
podem fornecê-las. Trata-se, portanto, de um desafio
para quem busca aplicar a CAM em nível local e nacional.
e - Fluxo de Recursos
Por fim, cabe calcular o investimento
atual direcionado para a pesquisa em doenças específicas
e/ou determinantes. Não é fácil desenvolver
esse cálculo, pois, na maioria dos países
em desenvolvimento, o orçamento nacional e local
para a saúde não distingue entre informações
sobre doenças específicas e agravos, nem especifica
os recursos que se destinam à pesquisa em saúde.
Isso representa outro problema enfrentado, nos diversos
níveis (global, nacional ou local), pelos gestores
e pesquisadores de saúde durante o processo de definição
de prioridades.
Destacam-se as principais justificativas para a utilização
do Processo de Cinco Fases do Comitê Ad Hoc
da OMS:
- O Gap 10/90 indica que os países
subdesenvolvidos concentram os investimentos em poucas
doenças e investem pouco em problemas de saúde
com expressiva magnitude. A proposta da metodologia é
contribuir para melhorar a definição de
prioridades de pesquisa.
- A situação de saúde
depende de determinantes relacionados ao indivíduo,
à família e à comunidade.
- A metodologia proposta não
é uma ferramenta que somente se aplica e finalizou
o esforço. É importante definir valores
às categorias relevantes, como por exemplo, eqüidade.
- A metodologia foi utilizada em
vários países, sendo que em Genebra (TDR-WHO)
o processo foi bastante longo. Na Índia, aplicaram
para doenças cardiovasculares; no Quênia,
para poluição intradomiciliares; na Colômbia
a matriz foi utilizada para programas de governo dentro
dos seus programas de saúde.
- O exercício proposto deve
ser iniciado com o preenchimento das informações
conhecidas, possibilitando identificar as razões
da persistência do problema e, assim, determinarem
falhas de conhecimentos. Essas falhas resultarão
em definição de linhas de pesquisa.
- Para impactar na melhoria da saúde
da população a pesquisa tem que estar ligada
ao sistema de saúde.
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Dimensões Institucionais
para a Definição de Prioridades
As dimensões institucionais
são apresentadas pelas seguintes variáveis:
a - Indivíduo, família
e comunidade
Esta coluna apresenta, novamente,
os elementos que são relevantes para a redução
da carga de doença e que podem ser modificados no
âmbito individual, familiar ou comunitário.
Isso inclui intervenções preventivas, educativas
e em atenção primária (básica).
Por exemplo, no caso da malária, a prevenção
por meio de métodos de barreiras, como mosquiteiros
impregnados de inseticida, representa uma intervenção
significativa em nível individual.
b - Ministério da Saúde
e outras instituições de saúde
Apresenta as contribuições
do Ministério da Saúde e dos sistemas de pesquisa
em saúde para o controle de doenças específicas
e agravos que ainda precisam ser explorados. Esta coluna
enfatiza:
- Intervenções
biomédicas e suas aplicações em todo
o sistema de saúde.
- Políticas e estruturas
que podem ajudar o sistema de saúde a reduzir o impacto
de uma condição específica.
- Potencial da comunidade
científica da área de saúde para disponibilizar
instrumentos, processos e métodos que permitam que
o sistema de saúde reduza a carga de uma doença.
c - Outros setores
Enfatiza todos os ministérios,
departamentos e instituições que contribuem
para a melhoria da situação de saúde
da população. Esses setores não são,
necessariamente, vinculados ao Ministério da Saúde
ou a seus departamentos subordinados. Pelo destaque, cumpre
citar os seguintes exemplos:
- A importância do setor
de transporte na prevenção de seqüelas
causadas por acidentes automobilísticos.
- A relevância do sistema
educacional (formal e informal) para a mudança dos
hábitos em saúde (lavar as mãos, praticar
esportes, não fumar, não usar drogas e controlar
outros comportamentos de risco, etc.).
- A importância das
agências de proteção ambiental na redução
dos riscos à saúde.
d - Macro-políticas
Enfatiza os elementos em nível
nacional (governo) ou internacional que podem ser relevantes
para o controle de doenças e agravos. Por exemplo:
o impacto dos acordos sobre propriedade intelectual da Organização
Mundial do Comércio na distribuição
de anti-retrovirais para o tratamento da HIV/Aids.
Tendo
em vista as especificidades e diversidades presentes nas
áreas temáticas contempladas na oficina de
trabalho, foram elaborados dois roteiros para a discussão
nos grupos, sendo um para as áreas temáticas
e outro dirigido o para o grupo de trabalho de Avaliação
de Tecnologia em Saúde (ATS).
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