1.3 Resultados

 

Nesse item serão apresentados os resultados para cada agravo, percorrendo o processo de Definição de Prioridades de Pesquisa e Inovação em Doenças Negligenciadas, do levantamento das necessidades de P&D à definição de prioridades de pesquisa.

Para subsidiar as discussões dos grupos de trabalho, sistematizou-se o levantamento das necessidades de Pesquisa e Desenvolvimento apontadas pelas três áreas envolvidas no processo de construção do Edital: a área técnica do Ministério da Saúde, os especialistas convidados e os coordenadores do GTs da Oficina de Prioridades de Pesquisas em Doenças Negligenciadas.Os seis grupos que participaram da oficina de trabalho utilizaram a metodologia proposta pela coordenação do evento e os resultados obtidos em cada agravo podem ser conferidos a seguir.

 
1.3.1 Malária
 

Calcula-se uma perda de cerca de 16.500 anos por malária no país (600.000 casos com perda de 10 dias de trabalho por caso) por ano (ou homens parados por ano) com grande morbidade e tendência à expansão.

 

Levantamento das necessidades de P&D&I

Na etapa anterior à realização da oficina foram convidados especialistas reconhecidos para destacar as necessidades de P&D na área da Malária, conforme descrição abaixo:

Considerações Iniciais: Encontra-se em andamento o mapeamento dos grupos de pesquisa em malária por área: imunologia, entomologia, epidemiologia dentre. Ressaltou que o crescimento do número de casos é preocupante. Se em 2003 o número de casos registrados da doença foi de aproximadamente 300.000, em 2005 atingiu meio milhão, 80% causados pelo Plasmodium vivax. Apesar deste fato, relatou que o maior volume de financiamento é destinado à pesquisa de Plasmodium falciparum . Como necessidades foram apontadas: estudos em infectados assintomáticos e desenvolvimento de kit para identificação destes casos. A resistência à cloroquina, estimada entre 20 a 30% em pacientes nas regiões endêmicas, também aponta para a necessidade de desenvolvimento de novas drogas. Desenvolvimento de vacina antimalárica, seguindo o exemplo de laboratórios internacionais (principalmente os americanos), pesquisa genômica e ferramentas computacionais (bioinformática), são outras prioridades no controle da endemia.

Outra contribuição refere-se aos casos assintomáticos de malária, a discussão de como se caracterizar este tipo de manifestação clínica. Levantou a questão dos vetores transgênicos como perspectiva futura. Apontou também a necessidade do estudo de casos de malária extra-amazônica (epidemiologia e ampliação de cobertura pelo SUS).

A Área técnica do Ministério da Saúde destacou como prioritários estudos de Avaliação de métodos alternativos para captura de anofelinos; Competência vetorial de Anopheles marajoara e Fatores determinantes e associados à transmissão de malária na região Sudeste (ES e RJ).

O Coordenador do GT/Malária apresentou como relevante para compor o edital, os seguintes temas: Estudos clínicos e pré-clínicos; Mecanismos moleculares de resistência a drogas e virulência; Epidemiologia de pacientes assintomáticos; Identificação de novos alvos de controle (drogas e vacinas) utilizando genômica, pós-genômica e bioinformática; Novos alvos para diagnóstico e Epidemiologia e controles alternativos em vetores.

Metodologia

Inicialmente, o grupo propôs-se discutir por temas: clínica, vetores, epidemiologia e controle, ou por natureza das inovações desejadas: novos conhecimentos, novos métodos, novas intervenções, novas estratégias.

Decidiu por uma abordagem política do diagnóstico sobre o mau uso dos instrumentos disponíveis para o controle da malária e novos instrumentos para enfrentar a malária residual.

O grupo adotou integralmente a metodologia proposta, percorreu todas as etapas e respondeu às questões apresentadas pelo roteiro, conforme apresentação a seguir.

Definição de Prioridades de Pesquisa em Saúde – Resultados

1. Qual a natureza e o tamanho da carga da doença e quais as tendências epidemiológicas?

Calcula-se uma perda de cerca de 16.500 anos por malária no país (600.000 casos com perda de 10 dias de trabalho por caso) por ano (ou homens parados por ano) com grande morbidade e tendência à expansão.

2. Quais são as atuais intervenções disponíveis e as estratégias de controle da doença?

Diagnóstico, tratamento e controle de vetores são estratégias disponíveis. Os três vêm sendo usados pelo Ministério da Saúde, com maior ênfase no diagnóstico e tratamento precoces.

3. Quais os maiores problemas e desafios no controle da doença?

O primeiro tipo de problema é o gerencial (má utilização das ferramentas e métodos disponíveis na ponta da cadeia de instâncias envolvidas no controle) que se resolvido pode trazer o número de casos a níveis residuais (abaixo de 375 mil – dados de 2001, talvez abaixo de 200 mil). Para o enfrentamento dos obstáculos nesse nível se requerem inovações específicas (novos métodos de gestão, aproximação dos relacionamentos entre os setores federal estadual e municipal, envolvimento do setor privado - empresas instaladas em regiões de transmissão da doença).

O segundo nível de problemas é o de enfrentamento da malária residual no país. Para tal será necessário o desenvolvimento de novos conhecimentos e novas ferramentas (inovação de métodos e produtos) a partir da pesquisa científica e tecnológica, que priorizaremos no item 7.

4. Quais atividades de P&D&I seriam necessárias para enfrentar estes problemas e desafios?

Atividades de pesquisa científica e tecnológica, desenvolvimento e inovação nos campos de diagnóstico/tratamento (precoce) e controle de vetores, além do reforço das infra-estruturas necessárias para a realização de tais pesquisas, estruturação de redes de pesquisa, aproximação dos grupos das regiões endêmicas e não endêmicas.

5. Quais atividades do P&D&I já estão em andamento? Existem novas oportunidades?

Existem no momento 13 projetos de malária apoiados pelo Decit 2004/2005: diagnóstico (5), drogas (3), epidemiologia (3), biologia molecular (1). Além disso, existe um investimento do CNPq de RS 3.650.871,25 correspondentes a 10,9% do orçamento designado para Doenças Negligenciadas. Fora isso, há um levantamento recente dos Grupos de Pesquisa em Malária no Brasil, produzido para a Reunião IBSA (Índia, Brasil, África do Sul) de Teresina e que revelou a existência de cerca de 167 projetos de pesquisa (resumos submetidos para apresentação em congressos em 2005) oriundos de 67 grupo, divididos da seguinte maneira: 33 (20,4%) em Imunologia, 43 (26,5%) em vetores, 25 (15,4%) em epidemiologia, 14 (8,6%) em clínica, 10 (6,2%) (em diagnóstico), 19 (11,7%) em drogas, 18 (11,1%) em biologia celular e molecular.

Uma pequena parte dessas pesquisas se baseia , ou foi norteada , em dados e informações obtidas por tecnologias de genoma, pós-genoma e bioinformática.

6. Quais seriam as atividades de P&D&I em que o Programa de Doenças Negligenciadas teria uma vantagem comparativa de atuação, em comparação com programas já existentes?

Uma vantagem previsível é que, como se trata de um Programa de um Departamento de C&T do Ministério da Saúde, existe a chance de que, nos critérios a serem considerados para a aprovação e financiamento de projetos considere-se, além do mérito científico e a competência instalada do grupo proponente, a demanda de saúde pública diagnosticada com a participação de peritos na área com experiência em pesquisa científica.

7. Quais devem ser as prioridades específicas de P&D&I a constarem do próximo edital Decit?

Linhas Prioritárias

  • Estudos clínicos e pré-clínicos.
  • Identificação de novos alvos para vacinas, diagnóstico, imunoterapia, utilizando informações oriundas das tecnologias de genoma, pós-genoma, incluindo aspectos funcionais e de bioinformática.
  • Estudos sobre mecanismos moleculares de resistência de parasitas a drogas e de vetores a inseticidas e identificação de novos alvos e desenvolvimento de novos produtos, em particular a partir da biodiversidade e de conhecimento da genômica e pós-genômica, incluindo aspectos funcionais e de bioinformática.
  • Estudos de fisiopatologia, incluindo estudos moleculares do parasita, e terapêutica de formas graves de malária a P. falciparum e P. vivax.
  • Estudos epidemiológicos em áreas endêmicas e fora delas, em particular sobre prevalência e papel de portadores assintomáticos de parasita e de vetores (competência vetorial), e proposição de métodos alternativos de controle.

Propõe-se que o Programa contemple também:

A necessidade de melhoria da infra-estrutura para realização de pesquisa clínica (Referenciamento de centros clínicos entre os hospitais credenciados para a realização de pesquisa clínica de fase 1 e 2) e pré-clínica (reforço e melhoria de condições físicas e de recursos humanos de Centros de Primatologia já existentes no Ministério de Saúde).

  • A construção ou adequação de insectários/infectórios para a realização de pesquisas que envolvam o manejo de insetos vetores infectados, incentivando a colonização das principais espécies vetoras e obtenção de colônias de referência.
  • A criação de sistema de base de dados relacional e seu gerenciamento compartilhado para as seis doenças negligenciadas.

8. Recomendações para o edital:

  • Projetos de grande, médio ou pequeno porte?

Projetos de grande, médio e pequeno porte devem ser contemplados em função da qualidade e do impacto potencial da proposta, evitando, entretanto a excessiva pulverização de recursos .

  • Apoio individual ou redes?
    Todos incentivando o estabelecimento de redes de colaboração.
  • Estudos multicêntricos?
    Também, quando conveniente e impactante.
  • Apoio a grupos emergentes?
    Excepcionalmente, em função do perfil do Programa de busca de soluções para problemas de saúde pública (Decit no MS).
  • Como devem ser prioritariamente investidos os 30% dos recursos do Edital que obrigatoriamente têm que ser aplicados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste?
    Mantendo o rigor de qualidade e indicando, quando for o caso, a pertinência de associação em rede.
 

Grupo de Trabalho

Célia Garcia USP – Universidade de São Paulo
Cláudio Ribeiro IOC/ FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz da FIOCRUZ
Hernando Del Portillo USP- Universidade de São Paulo
Luis H. P da Silva IPEPATRO - Instituto de Pesquisas de Patologias Tropicais
Margareth Capurro ICB/USP – Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo
Mariano Zalis HUCFF/UFRJ - Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Marinete Povoa IEC/SVS/MS - Instituto Evandro Chagas da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde
Rui Moreira Braz SVS/MS - Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde