1.3.3 Dengue

 
Os maiores problemas e desafios no controle da dengue são a inexistência de vacinas; áreas extensas de disseminação do mosquito; conhecimento científico insuficiente para a redução das populações do vetor; problemas na detecção e notificação precoce dos casos da doença; fragilidade da integração entre a vigilância entomológica e a vigilância epidemiológica.
 

Levantamento das necessidades de P&D&I

Segundo a especialista convidada para apontar as necessidades de pesquisa da área, existem três tipos de vírus circulando no Brasil, e genótipos mais agressivos, levam ao desenvolvimento mais recorrente de formas graves da doença. Duas prioridades apontadas pela pesquisadora nessa área como contribuições importantes para as políticas públicas no controle do dengue são o estudo das formas atípicas da manifestação da doença e o desenvolvimento de método de diagnóstico rápido. A elaboração de vacina para o combate a endemia também vem sendo um objeto de grande investigação.

A Área técnica do Ministério da Saúde destacou como prioridades de estudos para a área:

  • Desenvolvimento de metodologia de avaliação de densidade de infestação que trabalhe outras fases de desenvolvimento que não a larvária: pupa, adulto, ovo; a fim de se fazer correlações entre os métodos e determinar níveis de risco de transmissão.
  • Desenvolvimento de modelo operacional de campo estratificado, que considere diferentes graus de risco de transmissão (níveis de infestação, notificações, condições sócio-ambientais, depósitos preferenciais, entre outros) em grandes centros urbanos.
  • Aprimoramento do atual sistema de informações de dengue (operações de campo), de forma a torná-lo mais ágil, gerando relatórios que possam ser compatíveis com os sistemas atualmente utilizados e podendo ser analisados em qualquer nível.
  • Desenvolvimento de novas estratégias de monitoramento rápido para análises integradas de dados clínico-epidemiológicos, entomológicos e virológicos.
  • Desenvolvimento de modelos preditivos do risco de transmissão da infecção pelos vírus da dengue.
  • Desenvolvimento e aplicação de metodologia de avaliação das atividades dos Programas Municipais de Controle da Dengue nos aspectos relativos à gestão integrada de seus componentes (controle de vetores, vigilância epidemiológica, assistência, comunicação e mobilização).
  • Desenvolvimento de estudo para percepção de risco da população em relação à dengue.
  • Desenvolvimento de teste sorológico rápido para utilização em condições de campo, como ferramenta de apoio nas atividades de prevenção e controle da dengue.

Metodologia

O grupo adotou a metodologia proposta, percorreu as etapas e respondeu as questões apresentadas pelo roteiro. Dedicou parte do tempo discutindo e incorporando as recomendações de especialistas e da área técnica do Ministério da Saúde sobre o levantamento das necessidades de P&D&I para a área. Em alguns casos, contemplaram na íntegra as referidas recomendações.

Definição de Prioridades de Pesquisa em Saúde - Resultados

1. Qual a natureza e o tamanho da Carga da Doença e quais as tendências epidemiológicas?

O modelo que estima a carga da doença não é adequado para avaliar doenças agudas, como o dengue (por exemplo: o Daly não leva em conta o quanto a dengue sobrecarrega o sistema de saúde em um curto espaço de tempo).

2. Quais são as atuais intervenções disponíveis e as estratégias de controle da doença?

Controle do vetor.

3. Quais os maiores problemas e desafios no controle da doença?

Inexistência de vacinas; áreas extensas de disseminação do mosquito; conhecimento científico insuficiente para a redução das populações do vetor; problemas na detecção e notificação precoce dos casos da doença; fragilidade da integração entre a vigilância entomológica e a vigilância epidemiológica, inviabilizando uma intervenção oportuna.

Recomendações

  • Projetos de grande, médio ou pequeno porte?
    Preferencialmente médio porte.
  • Apoio individual ou em redes?
    Preferencialmente em rede, mas, dependendo da proposta, devem ser também contemplados projetos individuais. Em relação aos projetos com estudos clínicos, apenas devem ser contemplados aqueles projetos em rede.
  • Estudos multicêntricos?
    Apoio a estudos multicêntricos, dependendo da natureza do projeto.
  • Apoio a grupos emergentes?
    O apoio a grupos emergentes deve ser condicionado a projetos em rede, para ampliação de sua capacitação técnico-científica.
  • Como devem prioritariamente ser investidos os 30% dos recursos do Edital que obrigatoriamente têm que ser aplicados nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste? Além do mérito científico da proposta, deve-se dar prioridade aos projetos apresentados sob a forma de rede, principalmente no caso de grupos que não estão completamente qualificados.
 

Natureza das inovações desejadas

Tipo de “falha”
Causas
Exemplos
Nescessidades
Modalidades de inova;o
Exemplos
Ciência Conhecimento insuficiente impede o desenvolvimento de intervenções sanitárias eficazes Não sabemos ainda como desenvolver vacinas contra doenças parasitárias; “hiato 90/10” Mais pesquisa básica ou estratégica; maior envolvimento do setor produtivo Novos produtos, novas estratégias de P&D&I Bioinformática, genômica na identificação de novos alvos e drogas como fosmidomicina; PDPs; Lei de Inovação 2004
Mercado Custos elevados de intervenções existentes restringem uso ou acesso por populações marginalizadas Alto custo de medicamentos antiretrovirais e de combinações de antimaláricos DT de processos mais baratos de produção; novas estratégias de financiamento Novos métodos e processos; Novas estratégias de financiamento; Novas políticas orçamentárias Parcerias para o desenvolvimento de produtos; Fundos Globais; CPMF; filantropia; doação de medicamentos
Saúde Pública Incompetência, descaso, crises, guerras, corrupção, fatores culturais ou religiosos impedem acesso a intervenções baratas ou mesmo gratuitas Dificuldades na erradicação da pólio; oposição das indústrias de alimentos e de fumo a estratégias de combate à obesidade e ao tabagismo Controle social; educação; participação da sociedade civil; políticas de direitos humanos; boas práticas Processos; estratégias; políticas Dias nacionais de vacinação; campanhas por mais exercício físico; Convenção da OMS contra o tabaco
 
Foram definidos três temas prioritários com seus respectivos subtemas

Linhas Prioritárias

1.Vetores

•  Desenvolvimento de novas tecnologias para a construção de indicadores entomológicos não larvários, operacionalmente viáveis em campo, com vistas a serem utilizados como indicadores de risco de ocorrência de dengue e de densidade de infestação, no propósito de aprimoramento dos programas de controle.

•  Estudos sobre os mecanismos de resistência de Aedes a inseticidas, capacidade vetorial e relação entre resistência e capacidade vetorial.

•  Avaliações sobre a capacidade vetorial de Aedes albopictus em relação à dengue no país.

•  Estudos relativos à interação do vírus dengue com o vetor.

•  Avaliação de fatores entomológicos e sócio-ambientais determinantes na estratificação geográfica quanto ao grau de risco de transmissão de dengue em grandes centros urbanos.

2 . Epidemiologia, vigilância e controle

Aprimoramento do atual sistema de coleta e processamento de informações das operações de campo do Programa Nacional de Controle de Dengue (operações de campo), de forma a torná-lo mais ágil, gerando relatórios que possam ser compatibilizados com os sistemas atualmente utilizados e que permita análise em todos os níveis do sistema de saúde.

•  Desenvolvimento de novas estratégias de monitoramento rápido para análises integradas de dados clínico-epidemiológicos, entomológicos e virológicos para subsidiar o processo de decisão / ação da vigilância epidemiológica de dengue.

•  Desenvolvimento de modelos preditivos do risco de transmissão da infecção pelos vírus da dengue.

•  Desenvolvimento e aplicação de metodologias de avaliação de processos, resultados, impacto epidemiológico e em economia da saúde das ações de controle de dengue.

•  Desenvolvimento de estudo para avaliação dos conhecimentos, percepção de risco e práticas da população em relação à dengue com vistas a aportar subsídios ao aprimoramento do componente de comunicação e mobilização social do PNCD.

•  Desenvolvimento de novas tecnologias e estratégias de controle do vetor do vírus dengue com vistas ao aprimoramento do PNCD.

•  Pesquisas relativas a potenciais vacinas para a dengue, já em desenvolvimento.

•  Estudo de fatores preditivos de risco de ocorrência de formas graves de dengue.

3. Clínico-Laboratoriais

•  Estudos clínico-epidemiológicos de apresentações não usuais de dengue.

•  Desenvolvimento de novas metodologias de diagnóstico rápido para a dengue, economicamente viáveis para aplicação em grande escala, a serem utilizadas em condições de campo.

•  Estudos relativos à interação do vírus dengue com hospedeiro humano.

•  Estudo molecular do vírus dengue e sua relação com os padrões epidemiológicos da doença no país.

•  Desenvolvimento de metodologias de diagnóstico laboratorial, com especial atenção a métodos eficazes na discriminação entre o vírus dengue e outros flavivirus .

•  Desenvolvimento e avaliação de modelos animais para dengue.

Recomendações do GT Dengue para o MS

•  Desenvolvimento de estratégias operacionais de campo, estratificadas, complementares ou alternativas, que considerem diferentes graus de risco de transmissão (níveis de infestação, notificações, condições sócio-ambientais, depósitos preferenciais, entre outros) em grandes centros urbanos (proposta original do MS para o edital) - proposta de que este item não faça parte do edital. O GT sugere que o MS busque parceiros para realizar este projeto, junto com Instituições de Pesquisa e Secretarias Estaduais e/ou Municipais de Saúde.

•  Estímulo aos laboratórios que se disponham a colaborar com o monitoramento da resistência de populações de Aedes aegypti aos inseticidas usados no PNCD (MoReNAa) - proposta de recomendação ao Decit.

•  Capacitação de unidades para produção em grande escala de inseticidas no país - proposta de recomendação ao Decit e outras instituições de saúde que possuem unidades de produção.

•  Recomendação para uma maior integração entre os diferentes programas de controle de vetores.

•  Incluir técnicos do PNCD na comissão de avaliação dos projetos deste edital.

•  O MS deveria apoiar os grupos de pesquisa brasileiros que trabalham no desenvolvimento de uma vacina contra o vírus dengue.

•  Apoio a projetos de infra-estrutura de insetários e infectórios.

 

Grupo de Trabalho

Ana Cristina da Rocha Simplício
MS - Ministério da Saúde
Benedito da Fonseca USP - Universidade de São Paulo
Denise Valle IOC/FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz
Haroldo Sérgio da Silva Bezerra MS - Ministério da Saúde
Hermann Schatzmayr IOC/ FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz
João Bosco Siqueira Junior SMS - Goiânia/GO - Secretaria Municipal de Goiânia
Maria da Glória Teixeira UFBA - Universidade Federal da Bahia
Ricardo Lourenço de Oliveira (Relator) IOC/ FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz
Rita Nogueira (Coordenadora) IOC/ FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz
Sérgio de Paula UFV - Universidade Federal de Viçosa