Contextualização
A escolha dos especialistas para participar
da oficina do edital de Genética Clínica realizou-se
com base numa lista de indicações elaborada
pelo Grupo de Trabalho, instituído pelo Ministério
da Saúde, para formular a Política Nacional
de Atenção em Genética Clínica
no SUS. Na lista constavam nomes de representantes da Sociedade
Brasileira de Genética Clínica e da Sociedade
Brasileira de Genética. Como existia a necessidade
de inclusão de um representante de cada uma das regiões
brasileiras e na lista proposta inicialmente existia uma
concentração de representantes das regiões
Sul e Sudeste, foi necessária uma complementação
por parte das sociedades acima citadas. Para cada um dos
especialistas indicados foi levantado o Currículo
Lattes para validar tecnicamente a indicação.
No caso dos gestores de saúde, foram convidados representantes
da área da Secretaria de Atenção à
Saúde (SAS) responsável pela política
da Genética Clínica, que é a Coordenação
Geral de Média Complexidade/DAE.
Foram destacados alguns pontos que
revelam a importância de estudos na área:
- Formulação da Política
Nacional de Atenção em Genética Clínica,
com foco na linha de cuidado – out/04.
- Cerca de 5% das gestações
resultam no nascimento de uma criança com algum
tipo de anomalia congênita, deficiência ou
doença genética.
- Etiologia total ou parcialmente hereditária
respondem por 15% a 25% das causas de mortalidade perinatal
e infantil em nações em desenvolvimento.
- Anomalias congênitas: 2ª
causa de mortalidade infantil no Brasil (DATASUS).
Em países desenvolvidos tais
condições são responsáveis por
36% a 53% das admissões em hospitais pediátricos.
IBGE 2000 – 1,6% da população com RM.
A seguir destaques da situação
atual de atenção à saúde nessa
área:
- Abordagem comum aos problemas: Aconselhamento
Genético.
- Atenção à saúde
na área centrada em serviços universitários
e de pesquisa.
- Atenção não organizada
nos níveis de atenção.
Metodologia
A discussão iniciou a partir
do levantamento preliminar dos tópicos da ANPPS elaborados
por membros do grupo e que diziam respeito à Genética
Clínica (GC). O grupo, na revisão, concluiu
que os temas de pesquisa, relacionados com Genética
Clínica, totalizavam dez subagendas: Saúde
Mental; Saúde da População Negra; Doenças
não Transmissíveis; Saúde do Idoso;
Saúde da Criança e do Adolescente; Saúde
da Mulher; Saúde dos Portadores de Necessidades Especiais;
Bioética e Ética na Pesquisa; Pesquisa Clínica
e Saúde Bucal. Esta etapa serviu para todo o grupo
conhecer a ANNPS e ter uma noção de como a
pesquisa Genética Clínica está apresentada.
Foi consenso encaminhar os trabalhos
utilizando a metodologia proposta pelo Decit.Antes de iniciar
o preenchimento dos campos, começou-se a discussão
sobre quais seriam os principais problemas/doenças
que afetavam a área da Genética Clínica.
Foram registrados numa lista, ainda sem priorização
e/ou cortes, todas as sugestões apresentadas pelos
presentes. Para entender o funcionamento da matriz selecionou-se
um dos problemas da lista - deficiência mental - para
iniciar o preenchimento da matriz. O coordenador informou
que já tinha levantamento dos dados sobre o indicador
Daly e outros dados epidemiológicos que seriam úteis
para completar a matriz. Durante o processo de preenchimento
percebeu-se que para maioria dos problemas/doenças
priorizadas existia uma repetição no conteúdo
dos campos – estratégias, desafios, tipo de
pesquisa necessária, o que gerou uma ansiedade em
relação à necessidade de preencher
toda a matriz e/ou alterar um pouco a forma de organização
dos itens prioritários, evitando assim a repetição.
O grupo voltou a discutir a lista
de problemas, procurando nesse momento decidir ou não
pela inclusão, como prioritários, de alguns
grupos de doenças que podem ser abordados em editais
de outras áreas, a exemplo das doenças tratáveis,
coagulopatias e problemas ligados à reprodução.
Optou-se pela exclusão destes problemas/doenças
para que os recursos destinados ao edital ficassem centrados
no atendimento à demanda de grupos prioritários
de agravos, com maior prevalência e possibilidade
de intervenção eficaz (manejo e/ou prevenção,
incluindo aconselhamento genético) no âmbito
da Genética Clínica. Todo o grupo concordou
com este foco, até porque era a primeira vez que
estava sendo realizado um edital dedicado exclusivamente
à Genética Clínica no país.
Outra preocupação foi
em não confundir os problemas de assistência
à saúde com os de pesquisa. Porém,
considerou importante que os projetos levem, mesmo que indiretamente,
a uma estruturação melhor da rede assistencial,
em especial nas áreas mais carentes do país.
Esta necessidade levou o grupo a incluir, como critérios
para medir a relevância dos projetos, fatores como
projetos estruturantes da atenção em saúde
em Genética Clínica, projetos de investigação
que possam minimizar as desigualdades regionais e projetos
multicêntricos e multidisciplinares.
Concordou-se também que o
item “anomalias congênitas” englobaria
os distúrbios sensoriais, genitália ambígua
e outras questões que não estavam tão
explícitas nos grupos considerados como prioritários.
Numa tentativa de facilitar os trabalhos,
o coordenador do grupo questionou se o Decit não
poderia disponibilizar e/ou relatar experiências anteriores
para servissem de referência para o grupo. Diante
desta solicitação, foi apresentada a proposta
elaborada para o edital de kits diagnósticos, que
resumiu as prioridades em forma de tabela, contendo os grupos/problemas
identificados versus os aspectos importantes a serem abordados
nas pesquisas. No caso da Genética Clínica,
o grupo conseguiu listar os seguintes aspectos a serem analisados
pelas pesquisas: Diagnóstico, Tratamento, Prevenção,
Epidemiologia; Organização de Redes e Divulgação.
A construção desta tabela realmente evitou
a repetição dos itens, pois, até então,
marcava-se um “X” naqueles itens que seriam
considerados prioritários para cada um dos grupos.
Realizar o exercício de elaborar a tabela ajudou
a clarear as idéias do grupo e acalmar a ansiedade
em relação à capacidade do grupo de
conseguir identificar as prioridades de pesquisa do edital.
Para possibilitar a complementação
do preenchimento da matriz, o grupo optou por dividir as
tarefas, sendo que cada um dos especialistas se responsabilizaria
por, pelo menos, um dos problemas listados. Esta divisão
de tarefas facilitou os trabalhos no dia seguinte, diminuindo
o estresse em relação ao tempo que, mesmo
assim, foi insuficiente para aplicação plena
da metodologia proposta.
Com a matriz preenchida, o grupo
partiu para a definição das linhas prioritárias
de pesquisa e dos critérios que deveriam ser priorizados
na seleção dos projetos. Em seguida foram
elaborados os slides para a apresentação na
plenária.
Resultados
Prioridades de Pesquisa:
Foram definidos como critérios para medir a relevância
dos projetos:
1. Valorização
de investigação etiológica e manejo,
incluindo aspectos de tratamento, suporte e aconselhamento
genético.
2. Valorização
de investigação que agregue informações
epidemiológicas, escassas no Brasil.
3. Valorização
de projetos estruturantes da atenção em saúde
em Genética Clínica.
4. Valorização
de projetos de investigação que possam minimizar
as desigualdades regionais.
5. Valorização
de projetos multicêntricos e multidisciplinares.
O foco do edital deve contemplar os
grupos prioritários de agravos com maior prevalência
e possibilidade de intervenção eficaz, com
destaque para manejo e/ou prevenção, incluindo
aconselhamento genético. A seguir, os seis temas
de pesquisa, com suas respectivas linhas prioritárias,
definidos no âmbito da Genética Clínica:
- Anomalias Congênitas.
- Câncer Familial.
- Doenças Neuromusculares
e Heredodegenerativas.
- Erros Inatos do Metabolismo.
- Hemoglobinopatias Hereditárias.
- Retardo Mental.
Prioridades de Pesquisa em Genética
Clínica
Anomalias Congênitas
- Desenvolvimento e validação
de testes diagnósticos.
- Investigação da história
natural dos agravos.
- Abordagens de prevenção
e intervenção.
- Investigação de impacto
de ações de saúde para prevenção
de anomalias congênitas.
- Estudos epidemiológicos de base
populacional.
- Investigação etiológica
e identificação de fatores de risco.
- Avaliação da qualidade
do preenchimento do campo 34 da DNV e ações
que possam melhorar o instrumento.
- Abordagens de educação
em saúde quanto a anomalias congênitas para
a população e o trabalhador da saúde.
Câncer Familial
- Avaliação da potencial
contribuição de uma rede de laboratórios
e serviços para o diagnóstico no Brasil.
- Identificação de fatores
de risco genéticos somáticos e constitutivos
no câncer familial e tumores da infância.
- Estudos epidemiológicos e etiológicos
em tumores comuns ou com alto componente genético.
- Avaliação do impacto
do aconselhamento genético, quanto aos aspectos
reprodutivos, psicológicos e bioéticos,
dentre outros.
- Desenvolvimento e validação
de testes diagnósticos sintomáticos e pré-sintomáticos.
- Abordagens de educação
em saúde quanto a câncer familial para a
população e o trabalhador da saúde.
Doenças Neuromusculares
e Heredodegenerativas
- Caracterização de proteínas,
genótipos e fenótipos.
- Desenvolvimento e validação
de testes diagnósticos sintomáticos e pré-sintomáticos.
- Avaliação do impacto
do Aconselhamento Genético, quanto aos aspectos
reprodutivos, psicológicos e bioéticos,
dentre outros.
Erros Inatos do Metabolismo
- Avaliação da potencial
contribuição de uma rede de laboratórios
e serviços para o diagnóstico e tratamento
dos EIM no Brasil.
- Obtenção de dados epidemiológicos
sobre a freqüência nacional e regional, contribuindo
para a identificação de distúrbios
que possam ser incluídos em programas de triagem
populacional.
- Investigação da história
natural, que contribua para estimar sua morbi-mortalidade
e o impacto de programas de diagnóstico, tratamento
e prevenção.
- Investigação de métodos
de obtenção, conservação e
transporte de amostras, que sejam mais apropriados a países
de dimensões continentais como o Brasil.
- Investigação sobre processos
mais econômicos de análise, que substituam
os custosos procedimentos desenvolvidos nos países
industrializados.
- Investigação e desenvolvimento
de tratamentos inovadores ou que substituam com vantagens
os produtos de alto custo hoje empregados.
Hemoglobinopatias Hereditárias
- Desenvolvimento de métodos
diagnósticos sensíveis e eficientes para
talassemias.
- Avaliação do impacto
do aconselhamento genético em hemoglobinopatias,
quanto aos aspectos reprodutivos, psicológicos
e bioéticos, dentre outros.
Retardo Mental
- Diagnóstico etiológico
em RM.
- Investigação da história
natural dos agravos.
- Desenvolvimento e validação
de testes diagnósticos.
- Abordagens de prevenção
e intervenção.
- Investigação de impacto
de ações de saúde para prevenção
da RM.
- Estudos epidemiológicos de base
populacional.
- Abordagens de educação
em saúde quanto ao RM para a população
e o trabalhador da saúde.
Grupo de Trabalho
Alexandre R. Oliveira
|
CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico |
Ana Paula Reche |
DECIT/SCTIE/MS - Departamento de Ciência
e Tecnologia da da Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Insumos Estratégicos do Ministério da
Saúde |
Angelina X. Acosta |
UFBA – Universidade Federal da Bahia
Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz |
Cleide L. Borovik |
SBGC/ Einstein – Sociedade Brasileira de Genética
Clinica E Instituto Einstein |
Fernando R. Vargas |
INCA– Instituto Nacional do Câncer |
Helena Pimentel |
SAS – Secretaria de Atenção à
Saúde |
Isabel Cristina Santos |
DECIT/SCTIE/MS - Departamento de Ciência e Tecnologia
da da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos do Ministério da Saúde |
Jaime Brum |
Rede Sarah/DF |
João F. Guerreiro |
UFPA- Universidade Federal do Pará |
Luanne Helena A. Lima |
CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico |
Maria Cláudia Brauner |
DECIT/SCTIE/MS - Departamento de Ciência e Tecnologia
da da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos do Ministério da Saúde |
Roberto Giugliani |
UFRGS – Universidade do Rio Grande do Sul |
Victor E. F. Ferraz –Coordenador |
SBGC/FMRP- Sociedade Brasileira de Genética
Clinica
USP/SP- Universidade de São Paulo |
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