Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde

CONSULTA PÚBLICA Nº 15, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2009

O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, adota a seguinte Consulta Pública e determina a sua publicação,

Considerando a importância do papel que desempenham os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a melhoria da qualidade da atenção à saúde, para a prescrição segura e eficaz, para a atualização e democratização do conhecimento, para a melhoria da qualidade da informação prestada aos doentes e para a melhoria dos processos gerenciais dos programas assistenciais;

Considerando a necessidade de se estabelecer critérios de diagnóstico e tratamento de enfermidades, e, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, promover o uso racional dos medicamentos para o tratamento de doenças por meio de regulamentação de indicações e esquemas terapêuticos;

Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas são resultado de consenso técnico-científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia;

Considerando a necessidade de estabelecer mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz;

Considerando a necessidade de se promover ampla discussão desses Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, possibilitando a participação efetiva, na sua formulação, da comunidade técnico-científica, associações médicas, profissionais da saúde, associações depacientes, usuários e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população em geral;

Considerando a necessidade de atualizar o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Endometriose, estabelecido pela Portaria SCTIE/MS nº 69, de 06 de novembro de 2006; e

Considerando a Portaria SAS/MS nº 375, de 10 de novembro de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS, resolve:

Art. 1º Submeter à Consulta Pública o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - ENDOMETRIOSE, constante do Anexo deste Ato e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade dele integrante.

Parágrafo único. O Protocolo Clínico e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade, de que trata este artigo, encontramse disponíveis, também, no sítio: www.saude.gov.br/sas - legislação.

Art. 2º Estabelecer o prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicação desta Consulta Pública, para que sejam apresentadas sugestões, devidamente fundamentadas, relativas ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de que trata o artigo 1º desta Consulta Pública.

§ 1º As sugestões devem ser encaminhadas, exclusivamente, para o seguinte endereço eletrônico: pcdt.consulta2009@saude.gov.br, especificando o número da Consulta Pública e o nome do Protocolo no título da mensagem;

§ 2º As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas em:

I. Estudos Clínicos de fase III - realizados no Brasil ou exterior; e

II. Meta-análises de Ensaios Clínicos.

Art. 3º Determinar que o Departamento de Atenção Especializada - DAE/SAS/MS coordene a avaliação das proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas ora submetido à Consulta Pública, para que, findo o prazo estabelecido no artigo 2º deste Ato, seja aprovado e publicado, passando a vigorar em todo o território nacional.

Parágrafo único. O novo Protocolo passará a vigorar em todo o território nacional após a devida aprovação e publicação por meio de Portaria específica.

Art. 4º Esta Consulta Pública entra em vigor na data de sua publicação.

ALBERTO BELTRAME

PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS ENDOMETRIOSE

1 - METODOLOGIA DE BUSCA DA LITERATURA

Foi realizada pesquisa no PubMed/Medline usando a estratégia de busca endometriose e terapia medicamentosa, a partir da Consulta Pública GM/MS de 2003, considerando metanálises e ensaios clínicos randomizados: ("1999"[Publication Date] : "3000"[Publication Date]) AND ("Endometriosis/drug therapy"[Mesh]). Foram encontradas 4 metanálises e 82 ensaios clínicos randomizados (ECR). Como a sintomatologia relacionada à endometriose é dor pélvica e infertilidade, e como pacientes somente com infertilidade serão consideradas como "Casos Especiais", foram incluídas nesta atualização 4 metanálises e 49 ECR onde pelo menos um dos desfechos avaliados foi melhora de dor com o tratamento. Foram excluídos 26 estudos nos quais o desfecho avaliado não incluía avaliação de sintomatologia dolorosa e 12 ECR em outros idiomas que não o inglês, português e espanhol.

2. INTRODUÇÃO

A endometriose é uma doença ginecológica definida pelo desenvolvimento e crescimento de estroma e glândulas endometriais fora da cavidade uterina1 que induzem uma reação inflamatória crônica.1 É diagnosticada quase que exclusivamente em mulheres em idade reprodutiva, mulheres pós-menopáusicas representam somente 2% a 4% de todos os casos que vão à laparoscopia por suspeita de endometriose.2 Como não há correlação entre sintomatologia e grau de doença, e como para confirmação diagnóstica é necessário a realização de um procedimento invasivo - laparoscopia - a determinação da prevalência é difícil.3,4 Estima-se uma prevalência em torno de 10%, sendo que em mulheres inférteis estes valores podem chegar a índices tão altos quanto 30% a 60%.5 As localizações mais comumente envolvidas são os ovários, fundo de saco posterior e anterior, folheto posterior do ligamento largo, ligamentos uterossacros, útero, tubas uterinas, cólon sigmóide, apêndice e ligamentos redondos.6

A patogênese da endometriose tem sido explicada por diversas teorias que apontam para a multicausalidade associando fatores genéticos, anormalidades imunológicas e disfunção endometrial.4,6

- teoria da implantação: através de menstruação retrógrada, tecido endometrial ganharia acesso a estruturas pélvicas através das tubas uterinas implantando-se na superfície peritonial, estabelecendo fluxo sanguíneo e gerando resposta inflamatória;7

- teoria da metaplasia celômica: propõe que células indiferenciadas do peritônio pélvico teriam capacidade de se diferenciar em tecido endometrial;

- teoria do transplante direto explicaria o desenvolvimento de endometriose em episiotomia, cicatriz de cesareana e em outras cicatrizes cirúrgicas;

- disseminação de células ou tecido endometriais através de vasos sanguíneos e linfáticos explica as localizações fora da cavidade pélvica.

As apresentações clínicas mais comuns são infertilidade e dor pélvica - dismenorréia, dispareunia, dor pélvica cíclica.8,9 Podem ser encontrados sintomas relacionados a localizações atípicas do tecido endometrial - dor pleurítica, hemoptise, cefaléias ou convulsões, lesões em cicatrizes cirúrgicas com dor, edema e sangramento local.2 O exame físico proporciona pouco auxílio ao diagnóstico não havendo nenhum achado patognomônico. Dor a palpação de fundo de saco e de ligamentos uterossacros, palpação de nódulos ou massas anexiais, útero ou anexos fixos em posição retrovertida podem ser alguns dos achados ao exame físico.1,2

O estadiamento mais comumente usado é a classificação revisada da American Society of Reproductive Medicine (ASRM)10,11 que leva em consideração o tamanho, a profundidade e a localização dos implantes endometrióticos e gravidade das aderências. Consiste de quatro estágios, sendo o estágio 4 o de doença mais extensa. Não há, entretanto, correlação entre o estágio da doença com prognóstico e nível de dor.3,4 A dor é influenciada pela profundidade do implante endometriótico e sua localização em áreas com maior inervação.12,13

- Estágio 1 (doença mínima): implantes isolados e sem aderências significantes;

- Estágio 2 (doença leve): implantes superficiais com menos de 5cm, sem aderências significantes;

- Estágio 3 (doença moderada): múltiplos implantes, aderências peritubárias e periovarianas evidentes;

- Estágio 4 (doença grave): múltiplos implantes superficiais e profundos, incluindo endometriomas, aderências densas e firmes.

3. CLASSIFICAÇAO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID-10)

N80.0 Endometriose do útero
N80.1 Endometriose do ovário
N80.2 Endometriose da trompa de Falópio
N80.3 Endometriose do peritônio pélvico
N80.4 Endometriose do septo retovaginal e da vagina
N80.5 Endometriose do intestino
N80.8 Outra endometriose

4. DIAGNÓSTICO

Segundo consenso da European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE) e da American Society for Reproductive Medicine (ASRM), o padrão-ouro para diagnóstico de endometriose é a laparoscopia com inspeção direta da cavidade e visualização dos implantes, não necessitando de biópsia para confirmação histopatológica.1,11 Embora alguns autores recomendem que todas as áreas de lesões suspeitas devam ser biopsiadas para correlação histológica, outros discordam, mostrando que as correlações dos achados laparoscópicos com histológicos são extremamente altas (97-99%)14 não necessitando de comprovação histológica, o que oneraria de maneira desnecessária a investigação destas pacientes. A discrepância entre os estudos ocorre devido aos diferentes delineamentos e número de casos estudados. Paciente com peritônio visualmente normal pode ter o diagnóstico descartado.15

5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Para tratamento com danazol ou análogos de GnRH serão incluídas pacientes que apresentarem todos os critérios abaixo:

- dor pélvica como manifestação clínica a ser tratada;

- tratamento prévio com contraceptivos orais ou progestágenos sem resposta ao tratamento por 6 meses ou com recidiva de sintomatologia de dor relacionada a endometriose;

- comprovação diagnóstica de endometriose por laparoscopia/laparotomia com laudo descritivo seguindo a classificação revisada da ASRM ou resultado de anatomopatológico de biópsia peritoneal.

6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Serão excluídas deste protocolo de tratamento pacientes que apresentarem pelo menos um dos critérios abaixo:

Para tratamento com Danazol:

-gestantes (possibilidade de efeitos androgênicos no feto de sexo feminino);

-mulheres que estão amamentando;

-sangramento genital de origem desconhecida;

-disfunção hepática grave;

-casos de hipersensibilidade ao fármaco.

Para tratamento com análagos do GnRH:

-gestantes;

-mulheres que estão amamentando;

-casos de hipersensibilidade ao fármaco.

7. CASOS ESPECIAIS

Precauções devem ser tomadas com o uso de danazol em pacientes com porfiria, pois pode causar exacerbações da doença, ou com história de eventos tromboembólicos.

O uso de anticoncepcionais orais deve ser evitado em mulheres tabagistas com mais de 35 anos pelo risco de tromboembolismo.

8. TRATAMENTO

O foco principal do tratamento medicamentoso é a manipulação hormonal com intenção de produzir uma pseudogravidez, pseudomenopausa ou anovulação crônica, criando um ambiente inadequado para o crescimento e manutenção dos implantes da endometriose.4

A escolha do tratamento vai depender da gravidade dos sintomas, da extensão e localização da doença, do desejo de gravidez e da idade da paciente. Pode ser medicamentoso ou cirúrgico, ou ainda a combinação destes.5 A eficácia dos tratamentos tem sido medida por avaliações de melhora da dor e taxas de fertilidade.5 Todos os tratamentos hormonais reduzem a dor atribuída a endometriose comparados com placebo e são igualmente efetivos quando comparados entre eles.9

Para o grupo de mulheres com infertilidade não se justifica o tratamento hormonal com supressão da ovulação.4 Não há indicação para uso de tratamento clínico na paciente com infertilidade relacionada a endometriose pois os estudos demonstram que nenhum dos medicamentos comumente usadas para o tratamento da endometriose são efetivos no tratamento da infertilidade.16,17 O tratamento cirúrgico, com cauterização dos focos mostrou-se eficaz para o tratamento de infertilidade secundária à endometriose nos estadiamentos I e II. Um grande estudo multicêntrico que avaliou 241 mulheres inférteis com endometriose mínima a moderada, mostrou taxas de gravidez significantemente mais altas no grupo onde foi realizada a laparoscopia com ressecção/ablação dos focos de endometriose.18 Desta forma, após a cauterização dos focos este grupo de mulheres será submetido ao tratamento de sua infertilidade.

Várias abordagens clínicas e cirúrgicas foram testadas até o momento no manejo da endometriose. Na escolha do tratamento deve-se levar em conta a apresentação clínica da paciente, se dor ou infertilidade, sua idade, história reprodutiva, localização e extensão da doença. Sendo que naquelas onde a laparoscopia foi indicada, durante o ato cirúrgico deve ser feita excisão e ablação da maior quantidade de focos possível.19

8.3 TRATAMENTO CLÍNICO

Anticoncepcionais orais (ACO) devem ser considerados no tratamento empírico da endometriose em mulheres com sintomas e exame físico sugestivos onde foram descartadas outras doenças relacionadas a dor pélvica.1 Este tratamento produz retardo na progressão da doença além da proteção nos casos de não haver desejo de gravidez.20 Em estudo comparando ACO (etinilestradiol, 0.035 mg + noretisterona 1mg) com placebo21 houve diminuição significativa dos escores de dismenorréia e dor não menstrual avaliados por escala verbal e EAV em ambos os grupos, no entanto, a redução foi significativamente mais alta no grupo ACO (-2) que no grupo placebo (0,6)(p<0,0001). O volume dos endometriomas diminuiu de maneira significativa no grupo ACO, mas não no grupo placebo. Não foram observados efeitos adversos sérios no grupo tratamento onde ocorreu maior incidência de náuseas e sangramento irregular. Um importante potencial viés neste estudo é que somente 10 das mulheres no grupo ACO e 7 no grupo placebo tinham diagnóstico por laparoscopia. Diagnóstico por ultrassonografia não tem valor para endometriose peritoneal,1 podendo ter acontecido mais paciente com endometriose peritoneal profunda no grupo placebo e permanência de dor.

Os ACO, usados de maneira cíclica, foram comparados com agonistas do GnRH, sendo os agonistas do GnRH mais efetivos para o alívio da dismenorréia; ambos os medicamentos foram semelhantes em relação à diminuição da dispareunia e igualmente eficazes no alívio de dor pélvica não específica.22 Um ensaio clínico randomizado comparando ACO com goserrelina mostrou esta ser superior na melhora da dispareunia e os ACO obtiveram melhor resposta no controle da dismenorréia.23 Ensaio clínico multicêntrico aberto demonstrou que ambos os tratamentos melhoram dismenorréia e dor pélvica não menstrual sem diferença de resposta entre eles.24

Danazol produz uma pseudomenopausa, inibe a liberação de GnRH e o pico de LH,25 aumenta os níveis androgênios (testosterona livre) e diminui os estrogênios (inibe produção de esteróides no ovário com diminuição de produção de estrogênios) o que causa atrofia dos implantes endometrióticos.26 Uma metanálise de 2007 demonstrou diminuição significativa de dor pélvica, dor lombar, dor para evacuar e no escore total de dor (IC 95% -7,5 a -3,8) em relação ao placebo em 3 e 6 meses de tratamento e também manutenção da melhora por até seis meses após descontinuação do tratamento.26 Nesta metanálise não houve melhora da dispareunia nas pacientes tratadas com danazol em relação ao placebo. Não demonstraram, entretanto, melhora nas taxas de fertilidade. Ensaio clínico randomizado avaliando medroxiprogesterona 100mg/dia e danazol 600mg/dia, mostrou que ambos os medicamentos reduziram de forma semelhante escores de dor em relação ao placebo, mantendo efeito até seis meses após a descontinuação do tratamento.4 Estudo comparando danazol 800mg/dia e análogos do GnRH (vários representantes), demonstrou vantagem estatisticamente significativa para o grupo do danazol ao avaliar tempo de recorrência após tratamento.27 Em ensaio clínico aberto comparando danazol 200mg 3 vezes ao dia comparado a triptorrelina 3,75mg de 6 em 6 semanas houve diminuição de escores de dor em ambos os tratamentos, sem diferença significativa entre o grupo danazol e o grupo tratado com triptorrelina. Mais pacientes no grupo do danazol não terminaram o estudo devido efeitos adversos, sendo os mais comuns ganho de peso, acne, seguido por rouquidão e edema. No grupo triptorrelina as queixa mais comuns foram sintomas vasomotores, alterações de humor, insônia e pesadelos.28 O danazol associou-se a muitos efeitos androgênicos, alguns irreversíveis, alterações lipídicas, dano hepático,5 diminuição de volume das mamas (OR 0,62; IC 95% 0,39-0,98), câimbras (OR 0,49; IC 95% 0,31-0,78), aumento do apetite (OR 0,59; IC 95% 0,360,97),29acne (OR 10,8; IC 95% 2,7 a 42,8), edema (OR 7,1; IC 95% 1,5 a 31,6).26

Progestágenos causam inibição do crescimento do tecido endometriótico diretamente através de decidualização e atrofia. Também inibem secreção de gonadotropina hipofisária e produção de hormônios ovarianos. O acetato de medroxiprogesterona (AMP) ocasiona melhora da dor e resolução dos implantes de maneira comparável ao danazol e superior ao placebo, com efeitos adversos que se resolvem após a descontinuação do medicamento.30 Um estudo comparando AMP 150mg IM a cada 90 dias com ACO de baixa dosagem associado a danazol, mostrou que o AMP foi melhor na redução da dismenorréia em período de 12 meses de observação e teve o benefício da amenorréia.30 Ensaio clínico randomizado multicêntrico,31 "avaliador cego" com 274 mulheres com endometriose sintomática AMP 104mg por via subcutânea com leuprorrelina 11,25mg por via intramuscular demonstrou que o grupo tratado com AMP 104 mg obteve melhora estatisticamente equivalente ao grupo leuprorrelina em relação a redução de dismenorréia, dispareunia, dor pélvica sensibilidade pélvica. Em relação a DMO, o grupo leuprorrelina teve diminuições significativas na DMO em fêmur e coluna, enquanto que no grupo AMP 104mg esta redução ocorreu apenas na coluna, em 6 meses. No seguimento de 12 meses o grupo leuprorrelina continuou com redução significativa na DMO de fêmur (-1,3%) e coluna (1,7%), p 0,001; enquanto que no grupo AMP 104 mg não se demonstrou redução significativa m ambos os sítios, respectivamente 0% (p=0,57) e 0,2% (p=0,75). Resultados semelhantes foram encontrados em outro ensaio clínico32 com 300 mulheres com endometriose sintomática onde o uso de AMP 104 mg ou de leuprorrelina obtiveram reduções equivalentes em pelo menos 4 categorias de avaliação de dor (p<0,02) e melhora em escore composto nos meses 6 e 18 (p<0,001) . Reduções na DMO do fêmur e coluna no mês 6 foram significativamente menores com AMP 104 mg em relação a leuprorrelina (p<0,001). Houve retorno da densidade mineral óssea a níveis pré-tratamento após 12 meses no grupo AMP 104 mg mas não no grupo da leuprorrelina. A produtividade total melhorou em ambos os grupos em 6 e 18 meses (p<0,05).

ECR comparando progestágeno desogestrel (75mcg) com ACO (etinilestradiol 20mcg + desogestrel 150mcg)33 em uso contínuo por 6 meses, em pacientes com dismenorréia ou dor pélvica após cirurgia conservadora para endometriose, demonstrou melhora tanto da dismenorréia quanto da dor pélvica com ambos os tratamentos (p<0,001). O uso do progestágeno desogestrel foi associado com sangramento de escape em 20% das pacientes, enquanto que, nas usuárias de ACO ocorreu aumento de peso significativo em 15%. Outro ECR aberto em mulheres com dor pélvica recorrente após cirurgia conservadora para endometriose em que as lesões de septo retovaginal não foram excisadas, o uso de ACO (etinilestradiol 0,01mg + acetato de ciproterona 3mg) ou acetato de noretindrona 2,5mg/dia por 12 meses demonstrou que após 12 meses de tratamento os escores de dismenorréia, dispareunia profunda, dor não menstrual foram reduzidos em ambos os grupos sem diferença significativa entre eles. Na análise por intenção de tratar 62% das pacientes no grupo ACO estavam satisfeitas ou muito satisfeitas após 12 meses de tratamento, comparado com 73% no grupo da noretindrona (OR 0,60; IC 95% 0,25 a 1,46).34

Análogos do GnRH proporcionam mecanismo de feedback negativo na hipófise gerando um hipogonadismo hipogonadotrófico; este leva a amenorréia e anovulação, de onde se tem o seu efeito terapêutico, sendo que este efeito inibitório é reversível.35,36 Não podem ser administrados por via oral porque são imediatamente destruídos pelo processo digestivo, sendo indicado seu uso por via parenteral - subcutâneo, intramuscular, spray nasal ou intravaginal.35 Causam regressão dos implantes e melhora da dor equivalente ao danazol, porém com menos efeitos adversos.36 Um estudo avaliou dor e qualidade de vida durante fase estimulatória do análogo do GnRH. Demonstrou em 2 semanas os escores da escala análogo-visual (EAV) de dor para o grupo tratamento foram maiores (P < 0.0001). Em 4 semanas, não houve melhora estatisticamente significativa para o grupo placebo na EAV de dor, enquanto que para o grupo tratado com leuprorrelina houve melhora significativa da dor. Em relação à qualidade de vida avaliada pelo SF-36 na escala física em 2 semanas houve melhora significativa no grupo placebo ( -0,19 ± 0,05; p 0,013) e piora não significativa no grupo tratado (-0,55 ± 0,09; p 0,218). Na escala mental em 2 semanas houve melhora significativa no grupo placebo e piora significativa no grupo tratado. Em 4 semanas não houve diferença significativa entre os grupos em ambas as escalas.37

- Leuprorrelina: comparada contra placebo, mostrou diferença significativa no alívio da dismenorréia, da dor pélvica, dispareunia e sensibilidade pélvica.38,39 Ensaio clínico comparando nafarrelina, leuprorrelina e placebo mostrou que ambos os medicamentos foram melhores que o placebo no alívio da dor, sendo que entre os tratamentos ativos não houve diferença significativa, porém houve diferença em relação ao perfil de efeitos adversos - o grupo em uso de leuprorrelina apresentou mais fogachos e maior diminuição da massa óssea na densitometria que o grupo da nafarrelina.40,41 O tratamento com leuprorrelina 3,75 mg comparando com manejo expectante por 3 meses em 89 mulheres com endometriose estádio III e IV sintomáticas não mostrou diferença estatisticamente significativa entre o grupo tratado com GnRH e grupo controle em relação a taxas de gestação (33% X 40%), recorrência de dor moderada a grave (23% X 24%) e recorrência total de dor em 18 meses (23% X 29%).42 Em estudo aberto comparando acetato de leuprorrelina 3,75 mg a cada 28 dias com danazol 200 mg 3 vezes ao dia por 24 semanas, houve melhora significativa em ambos os tratamentos dos sintomas de endometriose. Efeitos adversos devido a hipoestrogenismo (fogachos) foram os mais comuns no grupo leuprorrelina, enquanto que com danazol os efeitos anabólicos e androgênicos (ganho de peso e acne) foram mais frequentes.43

- Goserrelina: estudo comparando goserrelina (3,6mg, via subcutânea, a cada 28 dias) e danazol (200mg, 3 vezes ao dia) mostrou que ambos os tratamentos diminuíram os escores da AFS (aderências, implantes), sintomas pélvicos e achados do exame físico, sem diferença entre eles.44-46 A melhora foi observada mesmo após 6 meses.45

- Triptorrelina: ensaio clínico randomizado comparando triptorrelina (3,75mg, via intramuscular, a cada 28 dias) e placebo demonstrou uma superioridade do tratamento ativo em escalas de dor e uma redução na extensão da endometriose (redução de 50% no grupo triptorrelina comparado com aumento de 17% no grupo placebo).47 Em ensaio clínico randomizado aberto de tamanho amostral pequeno48 não houve diferença significativa entre os dois grupos em relação à persistência ou recorrência de dor pélvica avaliada por escala verbal, recorrência de endometrioma ou taxas de gestação. Seguimento de 5 anos nas curvas de recorrência de dor e gestação não diferiu de maneira significativa entre o grupo tratamento e intervenção.

Quanto a comparação entre os diferentes análogos do GnRH para tratamento da endometriose existem poucos ensaios clínicos, os resultados destes estudos mostram que não há diferença entre estes fármacos em relação a melhora sintomática das pacientes. Ensaio clínico randomizado, duplo-cego,controlado contra placebo comparando nafarrelina, leuprorrelina e placebo mostrou que ambas os medicamentos foram melhores que o placebo no alívio da dor, sendo que entre os tratamentos ativos não houve diferença significativa, porém houve diferença em relação ao perfil de efeitos adversos - o grupo em uso de leuprorrelina apresentou mais dias com fogachos, sem diferença na gravidade do sintoma; e maior diminuição da massa óssea na densitometria que o grupo da nafarrelina.40 Outro ensaio clínico randomizado comparando nafarrelina e leuprorrelina mostrou não haver diferença significativa na melhora de escore de qualidade de vida (instrumento não validado) em 3 e 6 meses,41 somente houve diferença na análise de subgrupo de pacientes com sintomas de endometriose mais severos onde houve uma melhora significativa dos sintomas nas pacientes tratadas com nafarrelina.

Em relação aos sintomas hipoestrogênicos o grupo em uso de nafarrelina apresentou menos dias com fogachos que o grupo em uso de leuprorrelina, esta diferença foi estatisticamente significativa apenas nos três primeiros meses de tratamento. Um estudo randomizado, duplo-cego,49 com triptorrelina (T) e leuprorrelina (L) na comparação de três meses de tratamento, não mostrou diferenças significativas em padrões bioquímicos de LH, FSH e estradiol, testes de função hepática perfil lipídico. Também não houve diferença no surgimento de sintomas de hipoestrogenismo e de sangramento vaginal. Neste mesmo estudo houve uma etapa de cross-over e os medicamentos foram avaliados por mais 3 meses, as pacientes foram avaliadas após 8 semanas da última dose do análogo, mais pacientes no grupo L/T (80 %) que no grupo T/L (51,9%) tinham níveis de estradiol e LH anormalmente baixos. O tempo para retorno das menstruações foi significantemente mais longo no grupo L/T que no grupo T/L, porém como houve alteração da sequencia dos medicamentos não se pode concluir se o prolongamento de ação foi pela último medicamento em uso ou se foi pela sua sequencia usada.

Comparação de goserrelina e nafarrelina em ensaio clínico randomizado, aberto50 mostrou que ambos os tratamentos reduzem escores de dor significativamente em relação ao início de tratamento, porém sem diferença significativa entre eles. Não foi observada nenhuma diferença significativa em escore de dor e em efeitos adversos (fogachos, cefaléia, sudorese, ressecamento vaginal, padrão de sangramento vaginal).

Tratamento combinado (Add-back therapy, associação de tratamentos hormonais ou não hormonais com análogos do GnRH) é indicada para diminuir os efeitos adversos dos análogos do GnRH hipoestrogenismo, sintomas vasomotores e perda óssea. Os tratamentos hormonais geralmente usados são os progestágenos, estrógenos ou combinação de progestágenos e estrógenos.

Estudo comparando goserrelina com ou sem TH (17-beta estradiol 2mg e acetato de noretisterona 1mg) demonstrou que o acréscimo de TH ocasionou menos fogachos, menor alteração da libido e da secura vaginal. O tratamento combinado (Add-back therapy) não causa perda da eficácia (melhora da dor e diminuição dos implantes endometrióticos) e apresenta melhora substancial dos sintomas hipoestrogênicos51 e de qualidade de vida.52 Metanálise que comparou tibolona, acetato de medroxiprogesterona 100mg/dia, noretisterona, associação de estradiol 2mg com noretisterona 1mg/dia como add-back não mostrou diferença entre os diversos esquemas em relação à melhora da dor. Ocorreu importante melhora dos efeitos adversos - fogachos, secura vaginal e diminuição de perda óssea.53-57 Já outro estudo mostrou um retorno mais rápido da dismenorréia, dor pélvica e nodularidades pélvicas aos valores iniciais no grupo de add-back therapy com estrogênio em dose mais alta (acetato de noretindrona 5mg/dia + estrogênios conjugados 1,25mg/dia) que nos demais grupos (placebo, acetato de noretindrona 5mg/dia e acetato de noretindrona 5 mg/dia + estrogênios conjugados 0,625mg/dia).58 Da mesma maneira um ECR mostrou comparando uso de análogo do GnRH com placebo ou associado a etinilestradiol 20mcg + desogestrel 0,15mg ocorreu melhora significativa da dismenorréia e dor pélvica em ambos os grupos, no entanto estes efeitos foram significativamente melhores no grupo do análogo associado a placebo. No grupo GnRH + placebo os níveis séricos de cálcio foram significativamente mais altos e ocorreu maior perda de massa óssea neste grupo.59

Ensaio clínico60 envolvendo 133 mulheres com diagnóstico cirúrgico de endometriose e com recorrência de dor pélvica, dismenorréia ou dispareunia foram randomizadas para 3 grupos de tratamento: grupo A) Acetato de leuprorrelina 11,25mg de 3/3 meses associado a estrogênio transdérmico e noretindrona via oral 5mg; grupo B) Acetato de leuprorrelina 11,25 mg de 3/3 meses e grupo C) ACO E/P (etinilestradiol, 0,03mg + gestodeno 0,75 mg). Nas pacientes tratadas apenas com análogo do GnRH ou análogo do GnRH + addback mostraram maior redução de dor pélvica, dismenorréia e dispareunia que as pacientes tratadas com contraceptivo oral. As pacientes tratadas com addback therapy obtiveram melhores escores de qualidade de vida, medido pelo SF-36, menor taxa de perda óssea, menos episódios de fogachos em relação ao grupo em uso apenas de análogo de GnRH e semelhante aos escores do contraceptivo oral.

Em metanálise61 que incluiu 15 estudos e 910 mulheres com endometriose diagnosticada por laparoscopia o uso de add-back therapy apenas com progestágenos não demonstrou melhora de massa óssea em seguimento de 6 meses (IC 95% -0,21 a 0,52). Quando foi usada add-back therapy com estrógenos ou estrógenos associados a progestágenos houve aumento significativo de massa óssea em 6 meses (IC 95% -0,77 a-0,21) e 12 meses (IC 95% -1,02 a-0,10). Este resultado também foi demonstrado em ECR duplo-cego62 comparando acetato de leuprorrelina 3,75 mg mensal e após a terceira injeção associado a promegestona 0,5 mg + placebo (PP) com acetato de leuprorrelina 3,75mg mensal e após a terceira injeção associado a estradiol 2mg + promegestona 0,5mg (EP). Após 12 meses de tratamento as alterações da DMO foram -6,1 ± 3,7 e de -4,9 ± 4,0% no grupo PP. Esta perda óssea foi prevenida no grupo EP -1,9 ± 3,1 e 1,4 ± 2,3%, respectivamente (p < 0,0001 na comparação entre grupos). Em outro estudo63 com tamanho amostral pequeno também se observou que o número de implantes endometrióticos diminuiu significantemente em ambos os grupos (p 0,05), porém não houve diferença significativa do escore pela r-AFS entre eles (p 0,54). No grupo que recebeu goserrelina + placebo a DMO diminuiu em 5,02% e no grupo com TH houve um aumento de 0,18% (diferença entre os grupos p 0,001). O escore de Kupperman diminuiu em 75%, 129% e 113% no grupo com placebo, em 4, 12 e 24 meses, respectivamente (p 0,0004), sendo que a diferença entre os grupos no final do tratamento foi significativa (p 0,003).

Em estudo onde o acetato de goserrelina mensal sem add-back therapy foi comparado com uso de estradiol 2 mg/dia associado a acetato de noretisterona 1 mg/dia, ambos por via oral por 2 anos, não houve diferença entre os grupos na DMO ao final do tratamento. Após os 6 anos de acompanhamento a média da DMO foi de 87,2% no grupo com TH e de 86,8% no grupo sem TH (p 0,72). No entanto, este estudo tinha tamanho amostral pequeno e poder baixo para detectar diferença.64

Somente um pequeno estudo com 13 pacientes em que foi associado ao acetato de leuprorrelina estradiol 1mg ao dia via oral em 6 pacientes demonstrou uma tendência dos escores de dor serem maiores no grupo onde foi associado estrogênio. Os fogachos foram menos severos no grupo com estradiol. Entretanto estas diferenças não foram estatisticamente significativas.65

Outros tratamentos como dispositivo intrauterino com levonorgestrel,66-68 pentoxifilina,69,70 dienogest,71,72 anastrazol,73 linestrol,74 medicina chinesa com ervas,75,76 infliximab,77 implante de etonogestrel78 e raloxifeno79 foram testados no tratamento da endometriose, no entanto as evidências são limitadas e não justificam sua recomendação até o presente momento.

8.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO

O tratamento cirúrgico é indicado quando os sintomas são graves, incapacitantes, quando não houve melhora com tratamento empírico com contraceptivos orais ou progestágenos, em casos de endometriomas, distorção da anatomia das estruturas pélvicas, aderências, obstrução de trato intestinal ou urinário e nas pacientes com infertilidade associada a endometriose.1,25 Pode ser classificada em conservadora ou definitiva:

- Conservadora: envolve destruição dos focos de endometriose, remoção de aderências com conseqüente restauração da anatomia pélvica. Ocorre significativa redução da dor em 6 meses nas pacientes submetidas a laparoscopia em comparação ao manejo expectante, tanto para endometriose mínima, leve ou moderada (OR 4,97; IC 95% 1,85 a 13,39).80

- Definitiva: envolve histerectomia com ou sem ooforectomia (de acordo com a idade da paciente). Indicada quando há doença grave, persistência de sintomas incapacitantes após terapia medicamentosa ou cirúrgica conservadora, existência de outras doenças pélvicas com indicação de histerectomia e não havendo mais o desejo de gestação. A histerectomia com salpingooforectomia bilateral com excisão de todos os focos de endometriose mostrou taxas de cura de 90% (estudos não controlados).2

Um ensaio clínico randomizado demonstrou superioridade da laparoscopia cirúrgica (ablação dos implantes, lise de aderências e ablação do nervo uterossacro) quando comparada com a laparoscopia diagnóstica, demonstrando importante diminuição da dor por período de um ano em até 90% das pacientes.81 Em relação à infertilidade com diagnóstico de endometriose mínima e leve um estudo com 341 pacientes mostrou significantes taxas cumulativas de gravidez com a laparoscopia cirúrgica (ressecção ou ablação cirúrgica dos implantes).18 Tais resultados não se reproduziram em um estudo com menor número de pacientes.82

8.3 TRATAMENTO COMBINADO

O uso de supressão hormonal prévia a cirurgia pode diminuir a necessidade de dissecção cirúrgica, porém não prolonga intervalo livre de doença, não aumenta taxas de fertilidade e nem reduz taxas de recorrência.20

O acréscimo de danazol em dose baixa (100mg/dia) em esquema de tratamento cirúrgico mais análogo do GnRH mostrou melhora dos sintomas dolorosos e manteve controle da dor por 12 e 24 meses.83 Porém, o uso a curto prazo de danazol por 3 meses não mostrou benefício em outro estudo com pacientes em estágio III e IV da AFS.84 Outro estudo prospectivo não controlado usando ACO póstratamento cirúrgico não mostrou diferença nas taxas de recorrência de sintomas de endometriose ou formação de endometriomas.85 Dois estudos usando análogos do GnRH (nafarrelina e outro goserrelina) após cirurgia para endometriose demonstraram melhor controle da dor e retardo na recorrência em período de acompanhamento de mais de 12 meses em relação ao placebo, porém sem alteração em taxas de fecundidade.17,86 Outros ensaios clínicos, com pequeno tamanho amostral, testando nafarrelina, triptorrelina e leuprorrelina por período curto - 3 meses - após cirurgia não mostrou benefício em melhora da dor e taxas de fecundidade.16,42,87 Assim sendo, as evidências do benefício do tratamento combinado não são inequívocas, ficando o tratamento medicamentoso reservado para pacientes sintomáticas após o tratamento cirúrgico.

Uma metanálise88 que incluiu 11 estudos para avaliar a efetividade de tratamento clínico antes e após cirurgia para tratamento de mulheres com endometriose. Foi encontrado um ECR comparando somente tratamento cirúrgico com tratamento clinico pré-cirúrgico mostrando melhora significativa de escores AFS no grupo que associou medicamento (IC 95% -11,42 a -7,78). Em relação a tratamento pós-cirúrgico foram incluídos 8 ECR que não demonstraram benefício em melhora de dor ou taxas de gestação, porém ocorreu diminuição de recorrência da doença (IC 95% -4.02 a -0.58). Na comparação de tratamento clínico pré-cirúrgico comparado com tratamento pós-cirúrgico 1 ECR não mostrou diferença entre os grupos em relação a dor pélvica (RR 1,01; IC 95% 0,49 a 2,07). Em relação a nodularidades pélvicas e dispareunia também não ocorreram diferenças significativas (RR 1,63; IC 95% 0,94 a 2,81) e (RR 6,72; IC 95% 0,87 a 52,05), respectivamente. Tratamento clínico pré-cirúrgico associado a tratamento pós-cirúrgico comparado com somente tratamento pós-cirúrgico: 1 ECR que da mesma maneira não encontrou diferença entre os grupos em relação aos escores AFS e taxas de gestação. Os dados desta metanálise mostram evidências insuficientes que o uso de tratamento clínico em associação a cirurgia para endometriose tenha benefício significativo nos desfechos avaliados.

8.4 FÁRMACOS

a) Danazol: cápsulas de 50mg, 100mg e 200mg;

b) Análogos do GnRH

Goserrelina: seringa com dose única de 3,6mg ou de 10,8mg;

Leuprorrelina: frasco-ampola com 3,75mg, 11,25mg;

Triptorrelina: frasco-ampola com 3,75mg e 11,25mg;

8.5 ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO

a) Danazol: 200mg via oral 2 vezes ao dia, podendo a dose ser aumentada até 400mg via oral 2 vezes ao dia.2

b) Análogos do GnRH

- Goserrelina: 3,6mg por via subcutânea, a cada 28 dias; ou 10,8mg por via subcutânea a cada 3 meses;

- Leuprorrelina: 3,75mg por via intramuscular, a cada 28 dias; ou 11,25mg intramuscular a cada 3 meses;

- Triptorrelina: 3,75mg por via intramuscular, a cada 28 dias ou 11,25mg intramuscular a cada 3 meses;

8.6 BENEFÍCIOS ESPERADOS COM O TRATAMENTO CLÍNICO

- Diminuição da dor (em geral dentro de 3 semanas)

- Regressão de nódulos endometrióticos (dentro de 6 semanas).

8.7 TEMPO DE TRATAMENTO

A maior parte dos estudos26,40,41,45,51,89,90 tratou os pacientes por um período de 6 meses, desta forma, a duração do tratamento recomendada é de 3 meses a 6 meses. Pacientes que já fizeram uso de análogos do GnRH por período de 6 meses e que permanecerem sintomáticas ou com recidiva de dor relacionada a endometriose podem ser encaminhadas para serviços especializados em Endometriose.

9. MONITORIZAÇÃO

Danazol - contagem de plaquetas a cada 4-6 meses (trombocitose/trombocitopenia foram observadas). Em pacientes usando danazol e carbamazepina podem ocorrer significantes aumentos dos níveis de carbamazepina com resultante toxicidade.

Análogos do GnRH - em pacientes que forem encaminhadas aos serviços especializados em Endometriose e fizerem uso de análogos de GnRH por período maior que 6 meses deve ser realizada densitometria óssea pelo risco de desenvolvimento de osteoporose.

Medroxiprogesterona: como há inibição central da liberação de FSH, fica necessária a realização, também de densitometria óssea a cada 2 anos para descartar osteoporose.

ACOMPANHAMENTO PÓS-TRATAMENTO

As pacientes devem ser reavaliadas a cada 6 meses para liberação do tratamento com análogos do GnRH e danazol. Solicitações de retratamento ou por períodos mais prolongados entram no critério do item 7 - Casos Especiais: "Pacientes que fizeram uso dos medicamentos de maneira escalonada (contraceptivos orais, progestágenos, análogos do GnRH) e permanecem sintomáticas ou tiveram recidiva da sintomatologia dolorosa para reavaliação de retratamento devem ser encaminhadas para centro de referência de endometriose." Poderão repetir o tratamento sem necessidade de novos exames diagnósticos, requerendo-se apenas o laudo médico descrevendo a sintomatologia e ausência de resposta clínica.

0. REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTO R

A liberação de uso análogos do GnRH ou de danazol para tratamento da endometriose depende da comprovação por laudo médico de que a paciente foi tratada anteriormente com ACO ou progestágenos, sem resposta clínica, e ter apresentado anteriormente comprovação diagnóstica conforme solicitado nos itens4e5 deste protocolo.

11. TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE

É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos, benefícios e efeitos colaterais relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste Protocolo, o que deverá ser formalizado por meio da assinatura de Termo de Esclarecimento e Responsabilidade.

12. CENTROS DE REFERÊNCIA

Recomenda-se a organização de serviços especializados a serem habilitados e cadastrados pelo Gestor Estadual para avaliação médica e acompanhamento terapêutico das pacientes em uso de análogos de GnRH.

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TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE

GOSSERRELINA, LEUPRORRELINA, TRIPTORRELINA, DANAZOL

Eu, _________________________________________ (nome do(a) paciente), declaro ter sido informado(a) claramente sobre os benefícios, riscos, contra-indicações e principais efeitos adversos relacionados ao uso do (s) medicamento (s) gosserrelina, leuprorrelina, triptorrelina e danazol indicados para o tratamento da endometriose.

Os termos médicos me foram explicados e todas as minhas dúvidas foram resolvidas pelo médico ___________________(nome do médico que prescreve).

Assim declaro que:

Fui claramente informado(a), de que o medicamento que passo a receber pode trazer as seguintes melhorias:

- diminuição da dor;

- redução dos nódulos endometrióticos.

Fui também claramente informado(a) a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos colaterais e riscos:

- medicamentos contraindicados em gestantes ou em mulheres planejando engravidar;

- medicamentos contra-indicação em mulheres amamentando;

- os efeitos colaterais já relatados são:

- gosserrelina: freqüentes: calorões, distúrbios menstruais, menos freqüentes: visão borrada, diminuição da libido, cansaço, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dificuldade para dormir, ganho de peso, vaginite; raros: angina ou infarto do miocárdio, tromboflebites.

-leuprorrelina: freqüentes: calorões, diarréia, distúrbios menstruais; menos freqüentes: arritmias cardíacas, palpitações; raros: boca seca, sede, alterações do apetite, ansiedade, náuseas, vômitos, desordens de personalidade, desordens da memória, diminuição da libido, ganho de peso, dificuldades para dormir, delírios, dor no corpo, perda de cabelo e distúrbios oftalmológicos.

triptorrelina: freqüentes: calorões, dores nos ossos, impotência, dor no local da injeção, hipertensão, dores de cabeça; menos freqüentes: dores nas pernas, fadiga, vômitos, insônia; raros: tonturas, diarréia, retenção urinária, infecção do trato urinário, anemia, prurido.

danazol: freqüentes: distúrbios da menstruação, ganho de peso, calorões; menos freqüentes: inchaço, escurecimento da urina, cansaço, sonolência, acne, aumento da oleosidade do cabelo e pele, perda de cabelo, alteração da voz, crescimento do clitóris ou atrofia testicular raros: adenoma, catarata, eosinofilia, disfunção hepática, pancreatite, hipertensão intracraniana manifestada por dor de cabeça, náuseas e vômitos, leucocitose, pancreatite, rash cutâneo, síndrome de Stevens-Johnson, trombocitopenia, fotossensibilidade.

medicamentos contra-indicados em casos de hipersensibilidade (alergia) aos fármacos;

o risco de ocorrência de efeitos adversos aumenta com a superdosagem.

Estou ciente de que este(s) medicamento(s) somente podem ser utilizado(s) por mim, comprometendo-me a devolvê-lo(s) caso não queira ou não possa utilizá-lo ou se o tratamento for interrompido. Sei também que continuarei ser assistida, inclusive em caso de eu desistir de usar o medicamento.

Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento, desde que assegurado o anonimato.

O meu tratamento constará do seguinte medicamento:

�� goserrelina
�� leuprorrelina
�� triptorrelina
�� danazol

Local: Data:
Nome do paciente:
Cartão Nacional de Saúde:
Nome do responsável legal:
Documento de identificação do responsável legal:
______________________________________
Assinatura do paciente ou do responsável legal
Médico Responsável: CRM: UF:
________________________________
Assinatura e carimbo do médico
Data:____________________

Observação:

Este Termo é obrigatório ao se solicitar o fornecimento de medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica e deverá ser preenchido em duas vias, ficando uma arquivada na farmácia e a outra entregue ao usuário ou seu responsável legal.