Este texto não substitui o publicado no Diário Oficial da União
APROVA, NA FORMA DO ANEXO DESTA PORTARIA, O PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - ESPONDILOSE.
O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições,
Considerando a necessidade de se estabelecer parâmetros
sobre a espondilose no Brasil e de diretrizes nacionais para diagnóstico,
tratamento e acompanhamento dos indivíduos com esta doença;
Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
(PCDT) são resultado de consenso técnico-científico e são
formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de
indicação e posologia;
Considerando a Consulta Pública SAS no 19, de 23 de abril
de 2010;
Considerando a Portaria SAS/MS No- 375, de 10 de novembro
de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de
PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS; e
Considerando a avaliação do Departamento de Atenção Especializada
- DAE/SAS, resolve:
Art. 1º Aprovar, na forma do Anexo desta Portaria, o PROTOCOLO
CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - ESPONDILOSE.
§1º O Protocolo, objeto deste Artigo, que contêm o conceito
geral da Espondilose, critérios de diagnóstico, critérios de inclusão e
de exclusão, tratamento e mecanismos de regulação, controle e avaliação, é de caráter nacional e deve ser utilizado pelas Secretarias de
Saúde dos Estados e dos Municípios na regulação do acesso assistencial,
autorização, registro e ressarcimento dos procedimentos
correspondentes.
§2º É obrigatória a observância desse Protocolo para fins de
dispensação de medicamento nele previsto.
§3º É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu
responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados
ao uso de medicamento preconizado para o tratamento da
Espondilose.
§4º Os gestores estaduais e municipais do SUS, conforme a
sua competência e pactuações deverão estruturar a rede assistencial,
definir os serviços referenciais e estabelecer os fluxos para o atendimento
dos indivíduos com a doença em todas as etapas descritas no
Anexo desta Portaria.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
ANEXO
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
ESPONDILOSE
1. METODOLOGIA DE BUSCA DA LITERATURA
Como fontes de busca de artigos, foram utilizadas as bases
de dados Medline/Pubmed, Embase e livros-texto de medicina, acessados
em 03/03/2010. Não foram empregados limites de data ou
línguas. Com os termos "Spondylosis"[Mesh] e "Diagnosis"[Mesh] e
restringindo-se para artigos em humanos com os filtros "Meta-Analysis"[
ptyp], "Practice Guideline"[ptyp], "Consensus Development
Conference" [ptyp] ou "Guideline"[ptyp], foram obtidos 14 artigos.
Com os termos "Spondylosis"[Mesh] e "Therapeutics" [Mesh], restringindo-se para artigos em humanos com os filtros "Clinical
Trial"[ptyp], "Meta-Analysis" [ptyp], "Practice Guideline"[ptyp], "Randomized Controlled Trial"[ptyp], "Consensus Development Conference"[
ptyp], "Controlled Clinical Trial"[ptyp] ou "Guideline"[
ptyp], 42 artigos foram encontrados.
Utilizando-se os termos "spondylosis"/exp e "diagnosis"/exp
e restringindo-se para artigos em humanos com os filtros "cochrane
review"/lim, "meta analysis"/lim, "systematic review"/lim, foram obtidos
12 artigos. Com os termos "spondylosis"/exp e "therapy"/exp,
restringindo-se para artigos em humanos com os filtros "cochrane
review"/lim, "controlled clinical trial"/lim, "meta analysis"/lim, "randomized
controlled trial"/lim, "systematic review"/lim, foram encontrados
113 artigos.
O livro UpToDate, disponível no site www.uptodateonline.
com, versão 17.3, também foi consultado.
Todos os artigos foram revisados e os identificados como
revisões, consensos ou estudos clínicos sobre o tema foram selecionados
para a elaboração do protocolo.
2 INTRODUÇÃO
Espondilose é o termo geral utilizado para definir alterações
degenerativas inespecíficas da coluna vertebral. Estas alterações são
mais comuns nas porções relativamente móveis, como as regiões
cervical e lombar, e menos frequentes nas porções relativamente rígidas,
como a região dorsal(1).
Suas causas ainda não estão bem estabelecidas, mas idade é
o principal fator de risco. As alterações degenerativas ocorrem no
disco vertebral, nas articulações zigoapofisárias e uncovertebrais e
nos corpos vertebrais. Gradualmente, ocorrem neoformações ósseas
nestas áreas, chamadas osteófitos, os quais podem resultar em estreitamento
do forâmen neural, causando compressão das raízes nervosas
e consequente radiculopatia. Tais alterações ao longo da margem
dos corpos vertebrais e do ligamento longitudinal posterior podem
causar compressão da medula espinhal (mielopatia)(1).
A doença degenerativa cervical é muito freqüente e sua prevalência
aumenta com a idade(2). Quase metade da população apresenta
cervicalgia em algum momento da vida(3). Estudo de base
populacional inglesa mostrou que 25% das mulheres e 20% dos
homens em atendimento primário apresentavam dor cervical recorrente(4). Dados de alta prevalência da condição foram confirmados
em estudo que, avaliando 10.000 adultos noruegueses, identificou
quadro de dor cervical em 34% deles no ano anterior ao da pesquisa5.
No Brasil, dados de prevalência de espondilose não são disponíveis.
A dor cervical é a segunda causa mais frequente de consulta
nos serviços primários de saúde do mundo inteiro, ficando apenas
atrás da dor lombar(3,6). Aproximadamente 70%-80% da população
sofrem de alguma dor incapacitante da coluna ao longo da vida(7). Dor lombar é a primeira causa de absenteísmo ao trabalho nos países
industrializados, ficando atrás apenas do resfriado comum(7,8).
A espondilose pode levar a protrusão discal ou perda da
altura do disco, sobrecarregando outros elementos da coluna e causando
radiculopatia ou mielopatia(9). A idade média ao diagnóstico é
em torno dos 48 anos, e a incidência anual, de cerca de 107 por
100.000 em homens e de 63 por 100.000 em mulheres(1).
3. CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL
DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE
(CID-10)
- M 47.1 Outras espondiloses com mielopatia;
- M 47.2 Outras espondiloses com radiculopatia; ou
- M 47.8 Outras espondiloses.
4. DIAGNÓSTICO
4.1 CLÍNICO
A espondilose cervical é geralmente assintomática. Nos pacientes
sintomáticos, o diagnóstico se baseia no quadro clínico de dor
cervical indolente que, na maioria das vezes, se agrava com o início
dos movimentos, mas melhora com a sua continuidade (padrão mecânico)(1). Pode ocorrer dor referida na região occipital, retro-orbital,
temporal, nos ombros ou nos braços. Os sinais clínicos podem revelar
dor pobremente localizada, movimentos limitados dos braços e alterações
neurológicas menores. Os achados neurológicos podem ser
evidentes nos 10% da população sintomática em que há mielorradiculopatia(2).
Quando ocorre herniação do núcleo pulposo do disco intervertebral,
os sintomas podem se desenvolver de forma aguda. Neste
caso, parestesias ou formigamentos na distribuição da raiz nervosa
acometem 80% dos pacientes. Mesmo quando a radiculopatia é grave,
sua localização clínica é difícil em razão da extensa sobreposição dos
suprimentos nervosos nos dermátomos(1). Quando os sintomas são
intensos, o diagnóstico diferencial com outras dores cervicais, como
lesões mecânicas da coluna, doenças inflamatórias, doenças metabólicas,
infecções e neoplasias, deve ser considerado(3).
4.2 RADIOLÓGICO
Radiografias da coluna não são necessárias para o diagnóstico,
porém, quando realizadas, podem mostrar perda da lordose
natural e outras alterações degenerativas. Entretanto, alterações degenerativas à radiografia não se correlacionam com sintomatologia
clínica, sendo encontradas com grande frequência em pacientes assintomáticos(10).
5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Serão incluídos neste Protocolo os pacientes com quadro
clínico doloroso cervical ou lombar, com padrão mecânico, na presença
ou não de mielorradiculopatia.
6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Serão excluídos os pacientes com contraindicação ou intolerância
a medicamento especificado neste Protocolo.
7. TRATAMENTO
O tratamento da espondilose é sintomático(11), sendo paracetamol
o fármaco de escolha. Paracetamol é um analgésico não
opioide eficaz no controle da dor. Para pacientes em que o controle
dos sintomas com este fármaco é insatisfatório, a prescrição de antiinflamatórios
não esteroóides (AINEs) pode ser adicionada ao esquema
analgésico. Os AINEs são medicamentos efetivos no controle
dos sintomas dolorosos e têm papel agonista no controle da dor
quando ministrados em associação com paracetamol(11). Entretanto,
os AINEs não alteram a história natural das doenças degenerativas ou
inflamatórias. Dentre os efeitos adversos mais comuns, estão os gastrointestinais,
como dispepsia e úlcera péptica; e renais, como retenção
hídrica, hipertensão e perda de função renal(12,13).
Inexistem evidências que suportam o uso de sulfassalazina
para espondilose. A utilização de relaxantes musculares, antidepressivos
tricíclicos, benzodiazepínicos, opiáceos e medidas não medicamentosas - como orientação postural, exercícios, alongamentos e
aplicação de calor local - são utilizados, porém sem demonstração
inequívoca de benefício na literatura científica.
7.1 FÁRMACOS
- Paracetamol: comprimidos de 500 mg e solução oral de
200 mg/ml.
- mIbuprofeno: comprimidos de 200, 300 e 600 mg e solução
oral de 50 mg/ml.
7.2 ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO
- Paracetamol: administrar, por via oral, 500 mg até 6 vezes
ao dia.
- Ibuprofeno: administrar, por via oral, 600 mg até 3 vezes
ao dia.
7.3 TEMPO DE TRATAMENTO - CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO
O tempo de tratamento dependerá da resposta clínica e será
estabelecido com base na avaliação dos sintomas do paciente.
7.4 BENEFÍCIOS ESPERADOS
- Melhora dos sintomas de dor, atividade e capacidade funcional.(9,19)
8 MONITORIZAÇÃO
Os portadores de espondilose cervical e lombar devem ser
avaliados periodicamente de acordo com a intensidade dos sintomas. Naqueles que se encontram em uso de AINEs, devem ser consideradas
queixas gastrointestinais, pressão arterial sistêmica e sinais de
edema em todas as consultas. Se houver suspeita de perda de função
renal associada ao uso de AINEs, dosagens de creatinina e ureia
séricas deverão ser solicitadas.
9 REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTOR
Devem ser observados os critérios de inclusão e exclusão de
pacientes neste protocolo, a duração e a monitorização do tratamento,
bem como a verificação periódica das doses prescritas e dispensadas
e a adequação de uso do medicamento.
Cirurgia permanece como tratamento de escolha para os casos
de espondilose que apresentam acometimento mielorradicular ou
que não respondem ao tratamento clínico, devendo ser realizada em
hospitais habilitados em alta complexidade em Ortopedia ou Neurocirurgia(
9,10- 15- 19).
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Robinson J, MD, Clinical Features and Diagnoses of Cervical
Radiculopathy. 2009 UpToDate.
2. Fouyas IP, Statham PFX, Sandercock PAG. Cochrane Review
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2007;334: 527-31
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Roxby M, Simmons A, Williams G. Estimating the burden of muscoloskeletal disorders in the community: the comparative prevalence
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M, Guzman J, Peloso PM, Holm LW, Côté P, Hogg-Johnson S,
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la enfermedad degenerativa espinal. Análises de revisiones sistemáticas
sobre tratamientos quirúrgicos y conservadores desde el punto
de vista de la medicina basada en la evidencia.Neurocirurgia. 2005;
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11. Robinson J, Khotari MJ. Treatment of cervical radiculopathy.
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