Pesquisa avança no desenvolvimento de terapia para febre amarela


 

Considerada altamente segura, a vacina contra a febre amarela salva milhares de vidas anualmente, especialmente durante surtos da doença. No entanto, nem sempre a cobertura vacinal na população é total e há determinados grupos que não podem receber o imunizante por causa de possíveis reações adversas, como gestantes, idosos, pessoas com sistema imunológico debilitado ou que têm alergias a elementos do ovo (um dos compostos da vacina). Assim, a não imunização representa grave risco de vida. Sem medicamentos disponíveis contra o vírus, a taxa de óbitos fica entre 20% e 60% dos casos.

O desenvolvimento de uma terapia moderna contra a doença pode mudar esse cenário. Em ensaios com animais, um estudo, com participação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), demonstrou a eficácia de anticorpos sintéticos contra a febre amarela. Em macacos rhesus, que desenvolvem a doença de forma muito semelhante aos seres humanos, os compostos testados conseguiram impedir o agravamento da infecção e prevenir as mortes. Divulgada na revista científica Science Translational Medicine, a pesquisa foi liderada por duas instituições americanas: Universidade de Saúde e Ciência do Oregon e Universidade George Washington. O trabalho contou também com a participação da Universidade de São Paulo (USP), além de outras instituições internacionais.

Ação contra o vírus circulante no Brasil

Os anticorpos sintéticos, chamados de anticorpos monoclonais, são produzidos em laboratório. Essas moléculas reproduzem a estrutura dos anticorpos produzidos pelo corpo humano para combater microrganismos invasores. No caso dos anticorpos testados, as moléculas foram produzidas após os cientistas mapearem 1,2 mil anticorpos produzidos pelo sistema de defesa de pessoas vacinadas contra a febre amarela.

A partir dos resultados em laboratório, duas moléculas seguiram, então, para os ensaios em animais, realizados nos Estados Unidos. Os primeiros testes foram realizados com hamsters, considerados como modelos para estudo da doença. Com o sucesso da terapia nos roedores, foram conduzidos ensaios em macacos, que são afetados pela febre amarela de forma parecida com os seres humanos.

Embora tenham grande potencial, os anticorpos sintéticos trazem um desafio: o alto custo de produção. Neste contexto, os autores da pesquisa apontam que, além do risco de morte, casos graves de febre amarela podem levar a quadros de hepatite fulminante. Em 2018, cinco transplantes de fígado foram realizados em São Paulo por causa da doença.

Importância da vacinação

Na última epidemia registrada no Brasil, entre 2016 e 2019, cerca de 2,2 mil casos foram registrados e 759 pessoas morreram. Myrna Bonaldo, pesquisadora, chefe substituta do Laboratório de Medicina Experimental e Saúde do IOC/Fiocruz), destaca que a baixa cobertura vacinal alimentou a epidemia, contribuindo para o grande número de mortes.

“Existe a vacina. Ela é extremamente eficaz e continuará sendo a principal medida contra a febre amarela mesmo com o desenvolvimento de uma terapia”, ressalta a pesquisadora, acrescentando que o tratamento visa ampliar o arsenal contra a doença.

A vacina da febre amarela é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e recomendada, pelo Ministério da Saúde, em todo o território brasileiro. As crianças devem receber a primeira dose aos nove meses e um reforço aos 4 anos. Todo adulto que ainda não recebeu a vacina ou foi vacinado antes dos cinco anos deve se vacinar.

 

Fonte:

Agência Fiocruz de Notícias