Saúde e Estado Nutricional de Crianças Menores de Cinco Anos
Estado Nutricional
A prevalência da desnutrição na população brasileira de crianças menores de cinco anos, aferida pela proporção de crianças com déficit de crescimento, foi de 7% em 2006. A distribuição espacial dessa prevalência indica freqüência máxima do problema na região Norte (15%) e pouca variação entre as demais regiões (6% nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e 8% na região Sul). A estratificação da população infantil segundo nível de escolaridade das mães indica que a prevalência de déficits de crescimento diminui acentuadamente conforme aumentam os anos de estudo da mãe, variando de 16% entre filhos de mães sem nenhuma escolaridade a 2% entre filhos de mães com 12 ou mais anos de escolaridade.
Déficits de peso em relação à altura, indicativos de casos agudos de desnutrição quando sua freqüência ultrapassa 2 a 3%, foram encontrados em apenas 1,5% das crianças brasileiras menores de cinco anos, não ultrapassando 2% em qualquer região ou estrato social da população. Essa situação indica um equilíbrio adequado entre o acúmulo de massa corporal e o crescimento linear das crianças, apontando para o virtual controle de formas agudas de deficiência energética em todo o país.
Situações de excesso de peso em relação à altura foram encontradas em 7% das crianças brasileiras menores de cinco anos, variando de 6% na região Norte a 9% na região Sul, indicando exposição moderada à obesidade infantil em todas as regiões do país. A estratificação segundo escolaridade das mães indica tendência de aumento da exposição à obesidade com o aumento dos anos de estudo da mãe (4% de crianças com excesso de peso nos filhos de mulheres sem escolaridade e 9% nos filhos de mulheres com 12 ou mais anos de escolaridade).
Avaliações da prevalência dos déficits de crescimento, em comparações preliminares das PNDS de 1996 e 2006, indicam redução de cerca de 50% na prevalência da desnutrição na infância no Brasil: de 13% para 7%. Na região Nordeste, a redução foi excepcionalmente elevada, chegando a 67% (de 22,1% para 5,9%). Na região Centro-Oeste, a redução foi de aproximadamente 50% (de 11% para 6%). Nas áreas urbanas da região Norte, as únicas estudadas nessa região em 1996, a redução na desnutrição foi mais modesta, em torno de 30% (de 21% para 14%). Nas regiões Sul e Sudeste, os dados indicam estabilidade estatística das prevalências.
Comparações quanto à prevalência de déficits de peso para altura confirmam a reduzida exposição da população a formas agudas de desnutrição (3% em 1996 e 2% em 2006). Comparações quanto à prevalência de excesso de peso para altura não indicam mudança na exposição da população à obesidade (cerca de 7% em ambos os inquéritos).
No que se refere à suplementação de vitamina A (medida nos seis meses anteriores à pesquisa), o estudo revelou que a cobertura foi de 48% em crianças de 6 a 59 meses no Nordeste (alvo prioritário do Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A). Quanto à suplementação de ferro (medida no mesmo período), a cobertura nacional em crianças de 6 a 23 meses foi da ordem de 42%.
Aleitamento Materno
Embora 96% das crianças menores de 60 meses tenham sido amamentadas alguma vez, a PNDS 2006 mostra que ainda falta muito para se alcançar, no Brasil, o padrão de aleitamento materno recomendado pelos organismos de saúde internacionais e nacionais. Entre as mães entrevistadas, 43% relataram ter amamentado seus filhos na primeira hora após o parto. A prevalência de aleitamento materno exclusivo entre crianças de 0 a 3 meses é ainda baixa (45%), ainda que discretamente mais alta do que na PNDS 1996 (40%). Com relação à faixa etária de 4 a 6 meses, o aleitamento exclusivo caiu para 11% em 2006.
O aleitamento materno complementado ocorreu para 32% na faixa de 0 a 3 meses e 56% entre 4 a 6 meses, em 2006, sendo que 23% estavam completamente desmamadas na faixa de 0 a 3 meses e 33% na faixa de 4 a 6 meses. Nessa última faixa etária, 35% das crianças já consumiam “Comida de Sal”, evidenciando uma dieta inadequada para a idade.
Morbidade e Mortalidade
Com relação à morbidade recente (15 dias anteriores à entrevista) em crianças menores de cinco anos, observou-se um declínio na prevalência de diarréia e de tosse.
A prevalência de diarréia foi de 14% em 1996 e de 9% em 2006. Esse declínio assume maior significado levando-se em conta que a coleta de dados da PNDS 2006 foi realizada durante o verão (novembro de 2006 a março de 2007). O recurso à reidratação oral manteve-se praticamente constante no período, em torno de 57%. Alterou-se, entretanto, o tipo de produto administrado às crianças com diarréia. Em 1996, 44% receberam SRO (sais para reidratação oral) e 16% receberam o soro caseiro, situação que se inverteu em 2006 (19% e 37%, respectivamente). Em aproximadamente 40% dos quadros diarréicos, houve procura do serviço de saúde, com obtenção de atendimento em 84% dos casos.
No que se refere às infecções respiratórias agudas, a tosse acometeu 35% das crianças em 2006, em comparação a 47% (tosse e respiração rápida) em 1996.
Aproximadamente 50% do total das crianças que apresentaram pelo menos um desses dois sintomas receberam algum tipo de atendimento nos serviços de saúde, sendo maior a proporção entre filhos de mulheres de maior escolaridade, brancas e residentes na região Sul do país.
Com relação à mortalidade infantil, houve uma redução de 44% entre 1996 e 2006, a qual passou de 39 para 22 por mil nascidos vivos. Em 2006, as estimativas de mortalidade infantil apresentaram diferenciais por situação de residência (rural-28 e urbano-21 por mil nascidos vivos), cor da pele (negras-25 e brancas-20 por mil nascidos vivos) e anos de estudo da mãe (até 4 anos-29 e 8 ou mais – 19 por mil nascidos vivos).