Ministério da Saúde
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos

PORTARIA Nº 69, DE 1º DE NOVEMBRO DE 2006

O Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, no uso de suas atribuições legais,

Considerando a necessidade de estabelecer o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da Endometriose, que contenha critérios de diagnóstico e tratamento, racionalize a dispensação dos medicamentos preconizados para o tratamento da doença, regulamente suas indicações e seus esquemas terapêuticos e estabeleça mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz;

Considerando a Consulta Pública GM/MS nº 1, de 15 de julho de 2003, a que foi submetido o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Endometriose, que promoveu ampla discussão e possibilitou a participação efetiva da comunidade técnico científica, sociedades médicas, profissionais de saúde e gestores do Sistema Único de Saúde na sua formulação, resolve:

Art. 1º - Aprovar o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - ENDOMETRIOSE, na forma do Anexo desta Portaria. (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Endometriose revogado pela PRT SCTIE/MS nº 4 de 07.04.2010)

§ 1º Este Protocolo, que contém o conceito geral da doença, os critérios de inclusão/exclusão de pacientes no tratamento, critérios de diagnóstico, esquema terapêutico preconizado e mecanismos de acompanhamento e avaliação deste tratamento, é de caráter nacional, devendo ser utilizado pelas Secretarias de Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, na regulação da dispensação dos medicamentos nele previstos.

§ 2º As Secretarias de Saúde que já tenham definido Protocolo próprio com a mesma finalidade, deverão adequá-lo de forma a observar a totalidade dos critérios técnicos estabelecidos no Protocolo aprovado pela presente Portaria;

§ 3º É obrigatória a observância deste Protocolo para fins de autorização e dispensação dos medicamentos nele previstos;

§ 4º É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados ao uso dos medicamentos preconizados para o tratamento da Endometriose, o que deverá ser formalizado através da assinatura do respectivo Termo de Consentimento Informado, conforme o modelo integrante do Protocolo.

Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário

MOISÉS GOLDBAUM

ANEXO

PROTOCOLOS CLÍNICOS E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS ENDOMETRIOSE GOSERRELINA, LEUPRORRELINA, TRIPTORRELINA , DANAZOL

INTRODUÇÃO

A endometriose é uma doença ginecológica definida pelo desenvolvimento e crescimento de estroma e glândulas endometriais fora da cavidade uterina.1 Diagnosticada quase que exclusivamente em mulheres em idade reprodutiva, mulheres pós-menopáusicas representam somente 2% a 4% dos casos que necessitam de videolaparoscopia (VDLP).1 Estima-se uma prevalência de 10%, sendo que em mulheres inférteis estes valores podem chegar a índices tão altos quanto 30% a 60%.2 As localizações mais comumente envolvidas são os ovários, fundo de saco posterior e anterior, folheto posterior do ligamento largo, ligamentos uterossacros, útero, trompas de Falópio, cólon sigmóide, apêndice e ligamentos redondos.3

A patogênese da endometriose tem sido explicada por diversas teorias que apontam para a multicausalidade associando fatores genéticos, anormalidades imunológicas e disfunção endometrial.3,4

·teoria da implantação: através de menstruação retrógrada, tecido endometrial ganharia acesso a estruturas pélvicas implantandose na superfície peritonial;

·teoria da metaplasia celômica: células do peritônio pélvico teriam capacidade de se diferenciar em tecido endometrial;

·teoria da indução: associação das duas teorias anteriores, em que células endometriais que se implantam no peritônio teriam capacidade de liberar substâncias indutoras que induziriam o epitélio indiferenciado a transformar-se em células endometriais.

As apresentações clínicas mais comuns são infertilidade e dor pélvica - dismenorréia, dispareunia, dor pélvica cíclica.1,5 Podem ser encontrados sintomas relacionados a localizações atípicas do tecido endometrial - dor pleurítica, hemoptise, cefaléias ou convulsões, lesões em cicatrizes cirúrgicas com dor, edema e sangramento local.1 O exame físico proporciona pouco auxílio ao diagnóstico não havendo nenhum achado patognomônico. Dor a palpação de fundo de
saco e de ligamentos uterossacros, palpação de nódulos ou massas anexiais, útero ou anexos fixos em posição retrovertida podem ser alguns dos achados ao exame físico.1

O estadiamento mais comumente usado é a classificação revisada da American Society of Reproductive Medicine (ASRM)6,7 que leva em consideração o tamanho, a profundidade e a localização dos implantes endometrióticos e severidade das aderências. Consiste de quatro estágios, sendo o estágio 4 o de doença mais extensa. Não há, entretanto, correlação entre o estágio da doença com prognóstico e nível de dor.4 A dor é influenciada pela profundidade do implante endometriótico e sua localização em áreas com maior inervação.4

·Estágio 1 (doença mínima): implantes isolados e sem aderências significantes;
·Estágio 2 (doença leve): implantes superficiais com menos de 5cm, sem aderências significantes;
·Estágio 3 (doença moderada): múltiplos implantes, aderências peritubárias e periovarianas evidentes;
·Estágio 4 (doença grave): múltiplos implantes superficiais e profundos, incluindo endometriomas, aderências densas e firmes.

CLASSIFICAÇÃO - CID 10
N80.0 Endometriose do útero
N80.1 Endometriose do ovário
N80.2 Endometriose da trompa de Falópio
N80.3 Endometriose do peritônio pélvico
N80.4 Endometriose do septo retovaginal e da vagina
N80.5 Endometriose do intestino
N80.8 Outra endometriose

3.DIAGNÓSTICO

Segundo a American Society for Reproductive Medicine, o padrão-ouro para diagnóstico de endometriose é a videolaparoscopia (VDLP) com inspeção direta da cavidade e visualização dos implantes, não necessitando de biópsia para confirmação histopatológica. 7 Embora alguns autores recomendem que todas as áreas de lesões suspeitas devam ser biopsiadas para correlação histológica8, outros discordam, mostrando que as correlações dos achados laparoscópicos com histológicos são extremamente altas (97-99%)9 não necessitando de comprovação histológica, o que oneraria de forma absurda a investigação destas pacientes. A discrepância entre os estudos ocorre devido aos diferentes delineamentos e número de casos estudados. Paciente com peritônio visualmente normal pode ter o diagnóstico descartado.8

4.CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Serão incluídas pacientes que apresentarem ambos os critérios abaixo:

·diagnóstico de endometriose por VDLP com laudo seguindo a classificação revisada da ASRM

·dor pélvica como manifestação a ser tratada ou sintomas associados a endometriose de localização atípica.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Pacientes com diagnóstico de endometriose cuja manifestação clínica a ser tratada seja infertilidade não serão incluídas neste protocolo.

Serão excluídas deste protocolo de tratamento pacientes que apresentarem pelo menos um dos critérios abaixo:

Para tratamento com danazol

·gestantes (possibilidade de efeitos androgênicos no feto de sexo feminino);

·mulheres que estão amamentando;

·sangramento genital de origem desconhecida;

·funções gravemente alteradas em fígado, rins ou coração;

·casos de hipersensibilidade ao fármaco.

Para tratamento com análogos do GnRH

·gestantes;

·mulheres que estão amamentando (desconhece-se a excreção no leite);

·casos de hipersensibilidade ao fármaco.

CASOS ESPECIAIS

Precauções devem ser tomadas com o uso de danazol em pacientes com porfiria, pois pode causar exacerbações da doença, ou com história de eventos tromboembólicos.

O uso de anticoncepcionais orais deve ser evitado em mulheres tabagistas com mais de 35 anos pelo risco de tromboembolismo.

TRATAMENTO

O foco principal do tratamento medicamentoso é a manipulação hormonal com intenção de produzir uma pseudogravidez, pseudomenopausa ou anovulação crônica, criando um ambiente inadequado para o crescimento e manutenção dos implantes da endometriose. 4

A escolha do tratamento vai depender da severidade dos sintomas, da extensão e localização da doença, do desejo de gravidez e da idade da paciente. Pode ser medicamentoso ou cirúrgico, ou ainda a combinação destes.2 A eficácia dos tratamentos tem sido medida por avaliações de melhora da dor e taxas de fertilidade.4 Todos os tratamentos hormonais reduzem a dor atribuída a endometriose comparados com placebo e são igualmente efetivos quando comparados entre eles.5

Para o grupo de mulheres com infertilidade não se justifica o tratamento hormonal com supressão da ovulação.4 Até o momento, apenas a cauterização dos focos mostrou-se eficaz para o tratamento de infertilidade secundária à endometriose nos estadiamentos I e II. Desta forma, após a cauterização dos focos este grupo de mulheres será submetido ao tratamento de sua infertilidade.

Várias abordagens clínicas e cirúrgicas foram testadas até o momento no manejo da endometriose, em todas elas, o tratamento primário deve iniciar durante o ato cirúrgico, com remoção da maior quantidade de focos e cauterização dos mesmos, independentemente da manifestação clínica da endometriose.

Tratamento Clínico

Antiinflamatórios não-esteróides (AINE) demonstram alívio da dor (ácido tolfenâmico e naproxeno)1, são bem tolerados, seguros e de baixo custo. Estes medicamentos têm indicação como tratamento de primeira linha no alívio da dor da endometriose presumida enquanto se aguarda o diagnóstico definitivo pela laparoscopia.4

Anticoncepcionais orais (ACOs) podem ser considerados em casos de doença mínima ou leve, com mínimos ou nenhum sintoma, nas quais a doença foi detectada no exame físico ou como um achado ocasional em cirurgias por outros motivos. Este tratamento produz retardo na progressão da doença além da proteção nos casos de não haver desejo de gravidez.10 Os ACOs, usados de maneira cíclica, foram comparados com agonistas do GnRH, sendo os agonistas do GnRH mais efetivos para o alívio da dismenorréia; ambos os medicamentos foram semelhantes em relação à diminuição da dispareunia e igualmente eficazes no alívio de dor pélvica não específica4.Um ensaio clínico randomizado comparando ACOs com goserrelina mostrou esta ser superior na melhora da dispareunia e os ACOS obtiveram melhor resposta no controle da dismenorréia.11

Gestrinona, apesar de não ter sido comparada com placebo em estudos randomizados, apresenta eficácia semelhante ao danazol.5 Em uma metanálise que comparou-a com análogos do GnRH em relação a dismenorréia, demonstrou-se um pequeno benefício do GnRH durante o tratamento, porém, ao final de 6 meses, maior benefício foi observado no grupo da gestrinona.12 Fator limitante de sua utilização são os efeitos adversos, alguns graves e irreversíveis. 4

Danazol produz uma pseudomenopausa, inibe a liberação de GnRH e o pico de LH13, aumenta os níveis androgênios (testosterona livre) e diminui os estrogênios (inibe produção de esteróides no ovário com diminuição de produção de estrogênios) o que causa atrofia dos implantes endometrióticos.14 Vários estudos mostraram significante melhora da dor em relação ao placebo e também manutenção da melhora por até seis meses após descontinuação do tratamento. Não demonstraram, entretanto, melhora nas taxas de fertilidade. Ensaio clínico randomizado avaliando medroxiprogesterona 100mg/dia e danazol 600mg/dia, mostrou que ambos os medicamentos reduziram de forma semelhante escores de dor em relação ao placebo, mantendo efeito até seis meses após a descontinuação do tratamento.4 Estudo comparando danazol 800mg/dia e análogos do GnRH (vários representantes), demonstrou vantagem estatisticamente significativa para o grupo do danazol ao avaliar tempo de recorrência após tratamento. 15 A significância clínica desta diferença é, entretanto, questionável. O danazol associou-se a muitos efeitos androgênicos, alguns irreversíveis, alterações lipídicas e dano hepático nas doses recomendadas. 1,2,4

Progestogênios causam inibição do crescimento do tecido endometriótico diretamente através de decidualização e atrofia. Também inibem secreção de gonadotropina hipofisária e produção de hormônios ovarianos. O acetato de medroxiprogesterona (AMP) ocasiona melhora da dor e resolução dos implantes de maneira comparável ao danazol e superior ao placebo, com efeitos adversos que se resolvem após a descontinuação do medicamento.16 Não mostrou benefício nas taxas de fertilidade.1 Um estudo comparando AMP 150mg IM a cada 90 dias com ACO de baixa dosagem associado a danazol, mostrou que o AMP foi melhor na redução da dismenorréia em período de 12 meses de observação e teve o benefício da amenorréia. 16

Análogos do GnRH proporcionam mecanismo de feedback negativo na hipófise gerando um hipogonadismo hipogonadotrófico; este leva a amenorréia e anovulação, de onde se tem o seu efeito terapêutico, sendo que este efeito inibitório é reversível.12,17 Não podem ser administrados por via oral porque são imediatamente destruídos pelo processo digestivo, sendo indicado seu uso por via parenteral - subcutâneo, intramuscular, spray nasal ou intravaginal.17 Causam regressão dos implantes e melhora da dor equivalente ao danazol, porém com menos efeitos adversos.12 Não melhoram as taxas de fertilidade.1

·Nafarrelina: estudo comparando nafarrelina (200µg, intranasal, 2 vezes ao dia) com danazol (200mg, via oral, 3 vezes ao dia) mostrou que ambos os medicamentos foram igualmente eficazes para diminuição dos escores da AFS, diminuição das aderências, escores de severidade de sintomas e manutenção de menor severidade de sintomas em período de 12 meses de observação. Os efeitos adversos ocorreram de acordo com as características de cada medicamento.18-20 Horsnstein e colaboradores21 compararam 3 e 6 meses de uso de nafarrelina com resposta semelhante nos dois grupos, tanto em eficácia quanto em recorrência. Em função da via de administração desfavorecer a adesão ao tratamento e existirem outros análogos de igual eficácia esta opção na será disponibilizada.

·Leuprorrelina: comparada contra placebo, mostrou diferença significativa no alívio da dismenorréia, da dor pélvica, dispareunia e sensibilidade pélvica.22,23 Ensaio clínico comparando nafarrelina, leuprorrelina e placebo mostrou que ambos os medicamentos foram melhores que o placebo no alívio da dor, sendo que entre os tratamentos ativos não houve diferença significativa, porém houve diferença em relação ao perfil de efeitos adversos - o grupo em uso de leuprorrelina apresentou mais fogachos e maior diminuição da massa óssea na densitometria que o grupo da nafarrelina.24,25

·Goserrelina: estudo comparando goserrelina (3,6mg, via subcutânea, a cada 28 dias) e danazol (200mg, 3 vezes ao dia) mostrou que ambos os tratamentos diminuíram os escores da AFS (aderências, implantes), escores subjetivos (sintomas pélvicos e achados do exame físico), sem diferença entre eles. A melhora foi observada mesmo após 6 meses.26

·Triptorrelina: ensaio clínico randomizado comparando triptorrelina depot (3,75mg, via intramuscular, a cada 28 dias) e placebo demonstrou uma superioridade do tratamento ativo em escalas de dor e uma redução na extenção da endometriose (redução de 50% no grupo triptorrelina comparado com aumento de 17% no grupo placebo).

27 Add-back therapy (associação de reposição hormonal (TRH) aos análogos do GnRH) é indicada para diminuir os efeitos adversos dos análogos do GnRH - hipoestrogenismo, sintomas vasomotores e perda óssea. Estudo comparando goserrelina com ou sem TRH (17ß estradiol 2mg e acetato de noretisterona 1mg) demonstrou que o acréscimo da TRH ocasionou menos fogachos, menor alteração da libido e da secura vaginal. A associação da add-back não causa perda da eficácia (melhora da dor e diminuição dos implantes endometrióticos) e apresenta melhora substancial dos sintomas hipoestrogênicos. 4,28 Metanálise que comparou tibolona, acetato de medroxiprogesterona 100mg/dia, noretisterona, associação de estradiol 2mg com noretisterona 1mg/dia como add-back não mostrou diferença entre os diversos esquemas em relação à melhora da dor. Ocorreu importante melhora dos efeitos adversos - fogachos, secura vaginal e diminuição de perda óssea.12,29-32

Tratamento Cirúrgico

O tratamento cirúrgico é indicado quando os sintomas são graves, incapacitantes, em casos de endometriomas, distorção da anatomia das estruturas pélvicas, aderências, obstrução de trato intestinal ou urinário e nas pacientes com infertilidade associada a endometriose. 13 Pode ser classificada em conservadora ou definitiva:

·Conservadora: envolve destruição dos focos de endometriose, remoção de aderências com conseqüente restauração da anatomia pélvica.

·Definitiva: envolve histerectomia com ou sem ooforectomia (de acordo com a idade da paciente). Indicada quando há doença grave, persistência de sintomas incapacitantes após terapia medicamentosa ou cirúrgica conservadora, existência de outras patologias pélvicas com indicação de histerectomia e não havendo mais o desejo de gestação. A histerectomia com salpingooforectomia bilateral com excisão de todos os focos de endometriose mostrou taxas de cura de 90% (estudos não controlados).1

Um ensaio clínico randomizado demonstrou superioridade da VDLP cirúrgica (ablação dos implantes, lise de aderências e ablação do nervo uterossacro) quando comparada com a VDLP diagnóstica, demonstrando importante diminuição da dor por período de um ano em até 90% das pacientes.4,33 Em relação à infertilidade com diagnóstico de endometriose mínima e leve um estudo com 341 pacientes mostrou significantes taxas cumulativas de gravidez com a VDLP cirúrgica (ressecção ou ablação cirúrgica dos implantes).34 Tais resultados não se reproduziram em um estudo com menor número de pacientes.35

Tratamento combinado

O uso de supressão hormonal prévia a cirurgia pode diminuir a necessidade de dissecção cirúrgica, porém não prolonga intervalo livre de doença, não aumenta taxas de fertilidade e nem reduz taxas de recorrência.10

O acréscimo de danazol em dose baixa (100mg/dia) em esquema de tratamento cirúrgico mais análogo do GnRH mostrou melhora dos sintomas dolorosos e manteve controle da dor por 12 e 24 meses.36 Porém, o uso a curto prazo de danazol por 3 meses não mostrou benefício em outro estudo com pacientes em estágio III e IV da AFS.37 Outro estudo prospectivo, não controlado usando ACO pós-tratamento cirúrgico não mostrou diferença nas taxas de recorrência de sintomas de endometriose ou formação de endometriomas.38 Dois estudos usando análogos do GnRH (nafarrelina e outro goserrelina) após cirurgia para endometriose demonstraram melhor controle da dor e retardo na recorrência em período de acompanhamento de mais de 12 meses em relação ao placebo, porém sem alteração em taxas de fecundidade.39,40 Outro ensaio clínico, com pequeno número de participantes, e uso de nafarrelina por período curto - 3 meses - após cirurgia não mostrou benefício em melhora da dor e taxas de fecundidade.41 Assim sendo, as evidências do benefício do tratamento combinado não são inequívocas, ficando o tratamento medicamentoso reservado para pacientes sintomáticas após o tratamento cirúrgico.

Apresentações disponíveis

a)Danazol: cápsulas de 100mg;

b)Análogos do GnRH

·Goserrelina: seringa com dose única de 3,6mg ou de 10,8mg;

·Leuprorrelina: frasco-ampola com 3,75mg, 11,25mg;

·Triptorrelina: frasco-ampola com 3,75mg;

Esquemas de Administração

a)Danazol: 200mg via oral 2 vezes ao dia, podendo a dose ser aumentada até 400mg via oral 2 vezes ao dia.2

b)Análogos do GnRH

·Goserrelina: 3,6mg por via subcutânea, a cada 28 dias; ou 10,8mg por via subcutânea a cada 3 meses;

·Leuprorrelina: 3,75mg por via intramuscular, a cada 28 dias;ou 11,25mg intramuscular a cada 3 meses;

·Triptorrelina: 3,75mg por via intramuscular, a cada 28 dias.

c)Medroxiprogesterona: 150mg a cada 3 meses, via intramuscular, ou 10mg, via oral, 3 vezes ao dia2.

d)ACO's: uso contínuo sem intervalo entre as cartelas, procurar formulações com menos de 30µg de etinil estradiol.4

Benefícios esperados com o tratamento clínico

·Diminuição da dor (em geral dentro de 3 semanas)

·Regressão de nódulos endometrióticos (dentro de 6 semanas)

Tempo de tratamento

A maior parte dos estudos14,17,19,20,24-26,28 tratou os pacientes por um período de 6 meses, desta forma, a duração do tratamento deve ser de 3 meses a 6 meses.

MONITORIZAÇÃO

·Danazol - contagem de plaquetas a cada 4-6 meses (trombocitose/ trombocitopenia foram observadas). Em pacientes usando danazol e carbamazepina podem ocorrer significantes aumentos dos níveis de carbamazepina com resultante toxicidade.

·Análogos do GnRH - densitometria óssea deve ser realizada minimamente a cada 2 anos pelo risco de desenvolvimento de osteoporose.

·Medroxiprogesterona: como há inibição central da liberação de FSH, fica necessária a realização, também de densitometria óssea a cada 2 anos para descartar osteoporose.

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste Protocolo, o que deverá ser formalizado por meio da assinatura de Termo de Consentimento Informado.

Observação: os medicamentos medroxiprogesterona e ACO's que estão indicados neste protocolo e que não constam no título e no item “apresentações disponíveis” não fazem parte do elenco do Programa de Medicamentos Excepcionais, podendo ser obtidos através de outras estratégias de assistência farmacêutica no setor público.

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40. Vercellini P, Crosignani PG, Fadini R, Radici E, Belloni C, Sismondi P. A gonadotrophin-releasing hormone agonist compared with expectant management after conservative surgery for symptomatic endometriosis. Br J Obstet Gynaecol 1999; 106(7):672-677.

41. Parazzini F, Fedele L, Busacca M, Falsetti L, Pellegrini S, Venturini PL et al. Postsurgical medical treatment of advanced endometriosis: results of a randomized clinical trial. Am J Obstet Gynecol 1994; 171(5):1205-1207.

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
GOSSERRELINA, LEUPRORRELINA, TRIPTORRELINA , DANAZOL

Eu, ......................................................................................................... (nome do(a) paciente), abaixo identificado(a) e firmado(a), declaro ter sido informado(a) claramente sobre todas as indicações, contra-indicações, principais efeitos colaterais e riscos relacionados ao uso dos medicamentos gosserrelina, leuprorrelina, triptorrelina e danazol indicados para o tratamento da endometriose.

Estou ciente de que este medicamento somente pode ser utilizado por mim, comprometendo-me a devolvê-lo caso o tratamento seja interrompido.

Os termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram resolvidas pelo médico ............................................................................................ (nome do médico que prescreve).

Expresso também minha concordância e espontânea vontade em submeter-me ao referido tratamento, assumindo a responsabilidade e os riscos pelos eventuais efeitos indesejáveis.

Assim, declaro que:

Fui claramente informado(a) de que os medicamentos podem trazer os seguintes benefícios:
diminuição da dor; redução dos nódulos endometrióticos.

Fui também claramente informado(a) a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos colaterais e riscos:

medicamentos classificados na gestação como categoria X (seu uso é contra-indicado em gestantes ou em mulheres planejando engravidar).

contra-indicação para amamentação nos seguintes medicamentos: goserrelina, leuprorrelina, nafarrelina, triptorrelina e danazol. os efeitos colaterais já relatados são: gosserrelina: freqüentes: calorões, distúrbios menstruais, menos freqüentes: visão borrada, diminuição da libido, cansaço, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dificuldade para dormir, ganho de peso, vaginite; raros: angina ou infarto do miocárdio, tromboflebites. leuprorrelina: freqüentes: calorões, diarréia, distúrbios menstruais; menos freqüentes: arritmias cardíacas, palpitações; raros: boca seca, sede, alterações do apetite, ansiedade, náuseas, vômitos, desordens de personalidade, desordens da memória, diminuição da libido, ganho de peso, dificuldades para dormir, delírios, dor no corpo, perda de cabelo e distúrbios oftalmológicos.

triptorrelina: freqüentes: calorões, dores nos ossos, impotência, dor no local da injeção, hipertensão, dores de cabeça; menos freqüentes: dores nas pernas, fadiga, vômitos, insônia; raros: tonturas, diarréia, retenção urinária, infecção do trato urinário, anemia, prurido. danazol: freqüentes: distúrbios da menstruação, ganho de peso, calorões; menos freqüentes: inchaço, escurecimento da urina, cansaço, sonolência, acne, aumento da oleosidade do cabelo e pele, perda de cabelo, alteração da voz, crescimento do clitóris ou atrofia testicular raros: adenoma, catarata, eosinofilia, disfunção hepática, pancreatite, hipertensão intracraniana manifestada por dor de cabeça, náuseas e vômitos, leucocitose, pancreatite, rash cutâneo, síndrome de Stevens-Johnson, trombocitopenia, fotossensibilidade.

medicamentos contra-indicados em casos de hipersensibilidade (alergia) aos fármacos;

o risco de ocorrência de efeitos adversos aumenta com a superdosagem.

Estou ciente de que posso suspender este tratamento a qualquer momento, sem que este fato implique qualquer forma de constrangimento entre mim e meu médico, que se dispõe a continuar me tratando em quaisquer circunstâncias.

Autorizo o Ministério da saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento desde que assegurado o anonimato.

Declaro, finalmente, ter compreendido e concordado com todos os termos deste Consentimento informado.

Assim, o faço por livre e espontânea vontade e por decisão conjunta, minha e de meu médico.

O meu tratamento constará do seguinte medicamento:

 goserrelina
 leuprorrelina
triptorrelina
danazol

Observações:

O preenchimento completo deste Termo e sua respectiva assinatura são imprescindíveis para o fornecimento do medicamento.

2. Este Termo será preenchido em duas vias: uma será arquivada na farmácia responsável pela dispensação dos medicamentos e a outra será entregue ao paciente.

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