O alcoolismo é uma doença crônica que envolve aspectos comportamentais e socioeconômicos, caracterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela substância, desenvolvendo sinais e sintomas de abstinência quando ela é retirada.
O álcool é uma droga lícita, socialmente aceita e de fácil acesso às pessoas, o que a torna a mais consumida e a que mais afeta a população, mundialmente.
Por tratar-se de uma dependência química, para seu controle e superação é necessário que o indivíduo receba atendimento multidisciplinar, que reúna profissionais médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros especialistas.
Além dos danos à saúde do alcoolista e ao equilíbrio do grupo familiar, há custos indiretos atribuíveis ao consumo do álcool que incluem as perdas de produtividade pela mortalidade prematura, licenças e aposentadorias precoces decorrentes de doenças associadas ao alcoolismo, perda de dias de trabalho por internação hospitalar e licença médica previdenciárias, de acordo com o estudo “Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil”, realizado pela Fiocruz Brasília.
O levantamento usou como base estimativas de mortes atribuíveis ao álcool feitas pela Organização Mundial da Saúde e levou em consideração para o cálculo de custo um total de 104,8 mil mortes em 2019 no Brasil, o que significa uma média de 12 óbitos por hora. Os homens são as principais vítimas e representaram 86% das mortes, das quais quase a metade foi decorrente de doenças cardiovasculares, acidentes e violências. No público feminino, que responde por 14% dos registros fatais, os malefícios do álcool levaram a doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer em mais de 60% dos registros.
Intoxicação por álcool:
O álcool atravessa a barreira protetora que separa o sangue do tecido cerebral. Poucos minutos depois de um drinque, sua concentração no cérebro já está praticamente igual à da circulação.
Em pessoas que não costumam beber, níveis sanguíneos de 50 a 150 mg/dl são suficientes para provocar sintomas. Esses, por sua vez, dependem diretamente da velocidade com a qual a droga é consumida, e são mais comuns quando a concentração de álcool está aumentando no sangue do que quando está caindo.
Os sintomas da intoxicação aguda são variados: euforia, perda das inibições sociais, comportamento expansivo (muitas vezes inadequado ao ambiente) e emotividade exagerada. Há quem desenvolva comportamento beligerante ou explosivamente agressivo.
Algumas pessoas não apresentam euforia, ao contrário, tornam-se sonolentas e entorpecidas, mesmo que tenham bebido moderadamente. Segundo as estatísticas, essas quase nunca desenvolvem alcoolismo crônico.
Com o aumento da concentração da droga na corrente sanguínea, a função do cerebelo começa a mostrar sinais de deterioração, provocando desequilíbrio, alteração da capacidade cognitiva, dificuldade crescente para a articulação da palavra, falta de coordenação motora, movimentos vagarosos ou irregulares dos olhos, visão dupla, rubor facial e taquicardia. O pensamento fica desconexo e a percepção da realidade se desorganiza.
Quando a ingestão de álcool não é interrompida surgem: letargia, diminuição da frequência cardíaca, queda da pressão arterial, depressão respiratória e vômitos, que podem ser eventualmente aspirados e chegarem aos pulmões, provocando pneumonia, entre outros efeitos colaterais perigosos.
Em não alcoólicos, quando a concentração de álcool no sangue chega à faixa de 300 a 400 mg/dL ocorre estupor e coma. Acima de 500 mg/dL, depressão respiratória, hipotensão e morte.
Um adulto de 70 kg consegue metabolizar de 5 a 10 gramas de álcool por hora. Como um drinque contém, em média, de 12 a 15 gramas, a droga acumula-se progressivamente no organismo, mesmo em quem bebe apenas um drinque por hora.
O metabolismo no fígado remove de 90% a 98% da droga circulante. O resto é eliminado pelos rins, pulmões e pele.
A maioria dos usuários de álcool não se torna dependente, mas sofre com as consequências do seu uso – acidentes automobilísticos, violência, desemprego, problemas de saúde, como úlceras, cirrose hepática, tuberculose, hepatite, pneumonia, entre outras – que geram um custo considerável para os sistemas de saúde, no que diz respeito ao tratamento e à reabilitação.
Uma das características mais importantes do alcoolismo é a negação de sua existência por parte do usuário. Raros são aqueles que reconhecem o uso abusivo de bebidas, passo considerado essencial para livrarem-se da dependência.
Recomendações atuais para tratamento do alcoolismo:
– Desintoxicação: Geralmente realizada por alguns dias, sob supervisão médica, permite combater os efeitos agudos da retirada do álcool. Dados os altíssimos índices de recaídas, no entanto, o alcoolismo não é doença a ser tratada exclusivamente no âmbito da medicina convencional;
– Reabilitação: Depois de controlados os sintomas agudos da crise de abstinência, os pacientes devem ser encaminhados para programas de reabilitação, cujo objetivo é ajudá-los a viver sem álcool na circulação sanguínea.
Recuperação do alcoolista no Sistema Único de Saúde (SUS):
O alcoolismo é considerado um problema de saúde pública e deve ser abordado na Atenção Primária à Saúde. O SUS oferece atendimento aos dependentes químicos com acompanhamento adequado, sendo fundamental para seu sucesso, a participação dos familiares e amigos próximos.
O cuidado do usuário de álcool envolve o atendimento em seu território pela equipe da Estratégia Saúde da Família em Unidade Básica de Saúde e, em casos de maior gravidade, assim como nos momentos de crise, ele pode acessar os serviços da rede de atenção à saúde: Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad), no nível secundário da assistência ou, em casos extremos, no nível terciário, que dispõe de leitos para internação de dependentes químicos.
Para ajudar as pessoas que estão em processo de desintoxicação existe um grupo de voluntários que se reúne com o objetivo de auxiliar os seus membros a manter a sobriedade e a abstinência total de ingestão de bebidas alcoólicas – os Alcoólicos Anônimos (AA)® – uma irmandade de homens e mulheres que compartilham entre si suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo.
O Dia do Alcoólico Recuperado, 09 de dezembro, é uma data comemorativa, inicialmente instituída na cidade de São Paulo, em 1980, tendo se tornado uma celebração nacional, com o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade em favor do controle da doença alcoolismo e em alusão a todos os que conseguem se recuperar da dependência do álcool.
Conteúdo relacionado: Campanha ‘Quer uma Dose de Realidade?’
Fontes:
Agência Fiocruz de Notícias
Alcoólicos Anônimos do Brasil (AA)
Dr. Dráuzio Varella
Federação Médica Brasileira
Hospital Espírita de Porto Alegre
Instituto São Pellegrino