Imagine ver o mundo através de uma lente que deixa tudo embaçado, nebuloso e distorcido. Esta é a realidade diária de muitas pessoas com ceratocone – uma doença ocular incomum que altera o formato da córnea, a janela transparente do olho. O problema faz com que a córnea fique mais fina e protuberante em formato semelhante a um cone, curvando os raios de luz e afetando a visão. Esta condição pode impactar significativamente as atividades diárias, o bem-estar emocional e as interações sociais. Mas há esperança e ajuda para aqueles que vivem com ceratocone.
Lidar com a condição é desafiador. Enquanto doenças comuns geralmente têm pesquisas e extensas opções de tratamento, condições raras ou incomuns, como é o caso do ceratocone, geralmente têm menos pesquisas e menos alternativas para tratá-lo. Em alguns países, até mesmo obter um diagnóstico preciso pode ser difícil.
Viver com ceratocone geralmente significa se adaptar a uma nova maneira de ver o mundo. Muitas pessoas dependem de lentes de contato ou óculos especializados para melhorar sua visão, enquanto outras podem precisar de intervenções cirúrgicas. Apesar desses desafios, a comunidade é resiliente e solidária, compartilhando dicas, recursos e incentivo para ajudar uns aos outros a navegar na vida diária.
O Dia Mundial do Ceratocone, comemorado anualmente em 10 de novembro desde 2016, é promovido pela National Keratoconus Foundation (NKCF) e objetiva aumentar a conscientização global sobre o ceratocone e outras doenças da curvatura da córnea. Nesta data, várias organizações, empresas, profissionais de saúde, celebridades e indivíduos que vivem com a condição, juntamente com suas famílias, realizam atividades que incluem programas de triagem de ceratocone, seminários educacionais, eventos esportivos e muito mais.
Estima-se que o problema afete, aproximadamente, de 50 a 200 pessoas por 100.000 na população em geral. Ocorre no mundo todo e em todos os grupos étnicos.
Segundo pesquisas realizadas pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, cerca de 150 mil brasileiros desenvolvem ceratocone por ano, atingindo mais comumente indivíduos na adolescência e no início da fase adulta, em especial a parcela da população dos 10 aos 25 anos de idade.
Trata-se de uma doença ocular degenerativa em que a córnea, normalmente redonda, se torna progressivamente mais fina. Esse afinamento faz com que uma protuberância em forma de cone se desenvolva na área onde a córnea é mais fina, geralmente no centro. Se não for tratado, pode levar a deficiência visual significativa e até mesmo à cegueira, em casos raros.
A causa exata do ceratocone ainda não é totalmente compreendida. Contudo, há três principais fatores que contribuem para sua ocorrência: a questão genética, o histórico familiar e os hábitos. Inúmeras pessoas já têm uma fragilidade natural da córnea, e quando somada à mania de coçar constantemente os olhos, acabam por desenvolver a condição. O contato frequente com os olhos danifica as fibras musculares responsáveis pela sustentação e flexibilidade da córnea. Isso é muito comum entre pacientes com alergias crônicas.
Em alguns casos, a enfermidade se origina sem manifestar qualquer sintoma. Porém, quando esses aparecem, podem variar de acordo com a pessoa e com a fase da doença. Geralmente, há uma exacerbada sensibilidade à luz e o aumento da necessidade do uso de óculos. Além disso, ocorre a perda progressiva da visão, uma vez que se torna turva e distorcida.
Tratamento:
Embora a doença possa causar uma diminuição significativa na qualidade da visão, ela raramente leva à cegueira. Por meio dos cuidados médicos, a enfermidade pode ser controlada e a visão melhorada.
O tratamento inclui o uso de óculos ou lentes de contato especiais para melhorar a visão. Em casos mais avançados, procedimentos cirúrgicos – como o implante de anéis corneanos ou transplante de córnea – podem ser necessários.
Prevenção:
Por ser uma doença de caráter genético e hereditário, não se conhecem maneiras de prevenir o seu aparecimento. Porém, é possível controlar sua evolução nas pessoas geneticamente predispostas, corrigindo o hábito de coçar os olhos, tratando a rinite alérgica, as alergias dermatológicas e a asma, por exemplo, que podem causar a coceira. É importante, também, avaliar as condições de adaptação e higiene das lentes de contato, se for o caso.
Destaca-se, ainda, a importância das consultas periódicas, pois o acompanhamento oftalmológico permite a detecção precoce de problemas oculares, como o ceratocone. O oftalmologista pode fazer exames específicos para monitorar a saúde da córnea e recomendar o tratamento adequado, garantindo assim, uma melhor qualidade de vida visual.
Fontes:
Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo
National Keratoconus Foundation (NKCF – USA)
Sociedade Brasileira de Oftalmologia