O maior acidente radioativo da história, ocorrido fora de uma instalação nuclear, e o maior da história do Brasil, aconteceu em 13/9/1987 em Goiânia, Goiás, dando origem à data comemorativa instituída pela Lei nº 12.646/2012.
Dois catadores de materiais recicláveis das ruas da cidade entraram nos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), que estava em processo de demolição, e encontraram um objeto, aparentemente um aparelho pesado envolto por chumbo. Tratava-se de uma máquina para fazer radiografias.
Retiraram o equipamento, que pesava aproximadamente 200 quilos, dividindo-o em duas partes para facilitar o transporte. Com a ajuda de um carrinho de mão, em duas viagens, levaram o objeto para a casa de um deles a fim de desmontá-lo e vender suas partes separadamente.
Os dois catadores iniciaram o desmanche do aparelho rompendo a cápsula de Césio-137 nele contida.
A contaminação foi disseminada por meio de uma teia de relações pessoais (do contato físico entre as pessoas que manusearam a fonte radioativa) e de uma teia de relações comerciais (através da venda, compra e circulação das mercadorias contaminadas). Além da movimentação de pessoas e animais, ventos e chuvas também foram vias de dispersão do elemento.
Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material, contaminado ou com suspeita de contaminação, foi levado para uma unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capital, onde foi acondicionado e estocado em caixa de concreto recoberta com solo e grama, com mecanismos de monitoramento da água subterrânea, de acordo com as normas técnicas estabelecidas
Passadas mais de três décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo só deve desaparecer em pelo menos 270 anos.
Energia nuclear é a energia interna no núcleo atômico, isto é, a parte central de um átomo (as menores partículas nas quais um material pode ser dividido).
Já a radiação é a propagação dessa energia na forma de ondas eletromagnéticas ou de partículas.
As aplicações mais conhecidas da energia nuclear são a geração de eletricidade; propulsão de veículos e mísseis (área militar); tratamento de pragas na agricultura, bem como para melhorar a qualidade de produtos alimentícios.
Na medicina, a radiação nuclear é usada para realizar radiografias, tratamentos radiológicos, esterilização de instrumentos cirúrgicos e produtos farmacêuticos. É altamente eficiente, econômica e segura, tendo a vantagem de proporcionar a esterilização dos produtos já na embalagem final. Exemplos de produtos esterilizados comercialmente: luvas e kits cirúrgicos, seringas descartáveis, suturas, implantes, agulhas etc.
O adoecimento após exposição à radiação
A Síndrome Aguda da Radiação (SAR) é o nome aplicado a um grupo de sinais e sintomas que caracterizam um quadro clínico produzido pela exposição do corpo inteiro ou grande parte do corpo à radiação ionizante e pode ser dividida em 3 diferentes estágios:
– Síndrome do sistema nervoso central: ocorre com doses excessivamente elevadas e a morte do indivíduo acontece em horas. Náuseas e vômitos ocorrem quase que de imediato seguidas por sonolência, desorientação mental, dificuldade respiratória, incoordenaçào muscular, convulsão, coma e morte.
– Síndrome gastrointestinal: caracteriza-se por náusea/vômitos de intensidade variada, diarreia sanguinolenta e cólicas abdominais intensas. O quadro diarreico pode repetir-se mais de 10 vezes ao dia e leva a uma desidratação grave, distúrbios eletrolíticos importantes, perda de peso, septicemia e morte, ocorrendo geralmente entre 5 e 15 dias.
– Síndrome hematopoiética: ocorre depressão medular com severa diminuição dos leucócitos e plaquetas causando infecção com septicemia e hemorragias.
Há uma fase que geralmente antecede as subsíndromes mencionadas acima caracterizada por vários sintomas cujo início e gravidade dependem da dose a que o indivíduo foi exposto. Esses sinais e sintomas, caracteristicamente envolvem o trato gastrointestinal e o sistema neuromuscular: náusea/vômitos, diarreia, anorexia, cólicas abdominais intensas, perda hídrica com possível desidratação, apatia intensa, sudorese, cefaleia e febre alta.
Os sinais/sintomas não se apresentam em todos os indivíduos expostos e somente são observados com doses supra letais. Em doses menores, os principais sintomas são náuseas/vômitos, diarreia, febre ocasional, cólica abdominal e fadiga.
Esses sintomas são frequentemente observados, por exemplo, nos pacientes submetidos a irradiação de meio-corpo para fins terapêuticos.
Tratamento:
Nas doses supra letais, o tratamento é puramente de suporte. O paciente deve receber cuidados clínicos adequados para tratar náusea/vômitos, diarreia e cólicas abdominais, bem como medicamentos para dor. Pacientes com lesões na pele devem ser tratados como os de queimaduras de grandes áreas. A reposição hidroelétrica deve ser feita cuidadosamente e infecções também devem ser tratadas.
Prevenção de acidentes radioativos:
A experiência internacional mostra que a resposta a uma situação de emergência envolvendo exposição à radiação pode exceder à capacidade técnica e logística de organizações, cidades, estados e países. Diversas publicações de organismos das Nações Unidas, como da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), têm demonstrado que essa dificuldade só pode ser superada através de preparação e planejamento prévios, visando à aplicação integrada de ações, de maneira coordenada.
O atendimento a situações de emergência nuclear é função do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro – SIPRON, ligado ao Gabinete de Segurança Institucional de Presidência da República (GSIPR).
O Brasil é signatário da Convenção sobre Pronta Notificação em caso de Acidente Nuclear e da Convenção sobre Assistência em caso de Emergência Radiológica ou de Acidente Nuclear e junto à Organização Mundial de Saúde (OMS) sendo o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) designado como Centro Colaborador da OMS para Preparação e Assistência Médica em casos de emergência com radiações ionizantes.
Fontes:
Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT)
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)