13/9 – Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas


 

Uma clínica radiológica que funcionava na cidade de Goiânia foi abandonada em 1985, deixando para trás mobiliários e equipamentos antigos, entre os quais, um aparelho radiológico contendo uma cápsula de césio-137 – elemento que emite radiação e é usado em radioterapia.

Em 1987, dois anos depois, o equipamento, indevidamente descartado, foi encontrado por jovens desempregados que buscavam uma fonte de renda nos escombros do antigo Instituto Goiano de Radiologia (IGR).

Os rapazes romperam o invólucro de chumbo e perfuraram a placa de lítio que isolava as partículas radioativas do contato com o ambiente.

A peça de chumbo foi vendida para um ferro-velho, cujo dono, fascinado com o azul brilhante que o cilindro emanava à noite, distribuiu a vários familiares e conhecidos os fragmentos que se desprendiam da cápsula. Seduzidos pela luz intensa, os moradores da região central de Goiânia que tinham contato com aquele material misterioso o fizeram circular de mão em mão. As vítimas e seus objetos se tornaram fontes de irradiação, elevando a disseminação.

Uma sucessão de falhas na fiscalização do descarte daqueles equipamentos e a falta de informação sobre a nocividade do césio-137, foram o cenário que levou várias pessoas à morte e deixou diversas sequelas em milhares de vítimas, que tiveram diferentes níveis de contato com o material radioativo.

Durante todo o mês de setembro de 1987, as partículas radioativas suspensas no ar contaminaram pessoas, animais, plantas e também o solo, sem que qualquer autoridade tomasse conhecimento nem, consequentemente, providências a respeito. Apenas no mês seguinte, com a recorrência dos sintomas relatados (náuseas, diarreia, tonturas, dores de cabeça e queda de cabelo), o acidente começou a ser constatado, mas ainda sem que se percebesse sua dimensão.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) foi acionada e tiveram início os processos para triagem de vítimas e descontaminação.

O tratamento, porém, não foi suficiente para impedir a morte de alguns dos primeiros contaminados, expostos a grandes doses de radiação.

Até hoje, o número total de afetados não é completamente mensurável, já que os sintomas das doenças provocadas pela radiação são confundíveis com os de outras, e/ou se manifestam apenas a médio e longo prazo no organismo humano. Mas todos os que tiveram contato direto com o césio-137 e com as primeiras vítimas foram contaminados e muitos já morreram.

O acidente, considerado o maior do mundo ocorrido fora de usinas nucleares e o maior da história do Brasil, foi a origem da data comemorativa, instituída pela Lei nº 12.646/2012.

 

Energia nuclear é a energia interna no núcleo atômico, isto é, a parte central de um átomo. Os átomos são as menores partículas nas quais um material pode ser dividido.

As aplicações mais conhecidas da energia nuclear são a geração de eletricidade; propulsão de veículos e mísseis (área militar); tratamento de pragas na agricultura, bem como para melhorar a qualidade de produtos alimentícios.

Na medicina, a radiação nuclear é usada para realizar radiografias, tratamentos radiológicos, esterilização de instrumentos cirúrgicos e produtos farmacêuticos. É altamente eficiente, econômica e segura, tendo a vantagem de proporcionar a esterilização dos produtos já na embalagem final. Exemplos de produtos esterilizados comercialmente: luvas e kits cirúrgicos, seringas descartáveis, suturas, implantes, agulhas etc.

A experiência internacional mostra que a resposta a uma situação de emergência envolvendo exposição à radiação pode exceder à capacidade técnica e logística de organizações, cidades, estados e países.

Diversas publicações de organismos das Nações Unidas, como da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), têm demonstrado que essa dificuldade só pode ser superada através de preparação e planejamento prévios, visando à aplicação integrada de ações, de maneira coordenada.


Fontes:

Assembleia Legislativa do Estado de Goiás
Comissão Nacional de Energia Nuclear
Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz. Mapa de Conflitos: Injustiça ambiental e saúde no Brasil