19/9 – Dia Internacional de Conscientização sobre Picadas de Cobra


 

Globalmente, alguém é picado por uma cobra a cada 10 segundos! Estima-se que 5,4 milhões de pessoas no mundo são picadas a cada ano, provocando de 1,8 milhão a 2,7 milhões de casos de envenenamento e cerca de 81.410 a 137.880 mortes. A maioria deles ocorre na África, Ásia e América Latina.

Os acidentes por animais peçonhentos, especialmente com cobras, foram incluídos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na lista das doenças tropicais negligenciadas –  enfermidades que acometem, na maioria das vezes, populações pobres, desencadeando discriminação, abandono, perda de renda, dívidas, problemas de saúde mental e redução da qualidade de vida.

Acidentes por picadas de cobra afetam particularmente pessoas mais vulneráveis ​​da sociedade — geralmente aqueles que vivem em áreas rurais remotas. Trabalhadores agrícolas (incluindo crianças de 10 a 14 anos) e as que vivem em casas mal construídas enfrentam o maior risco e geralmente têm acesso limitado à educação, à assistência médica e até mesmo a calçados.

Crianças, em geral, sofrem efeitos mais graves do que os adultos, devido à sua menor massa corporal.

Esse tipo de acidente pode causar paralisia, impedir a respiração, provocar distúrbios hemorrágicos fatais, insuficiência renal irreversível e danos aos tecidos que levam à deficiência permanente e amputação de membros.

Em contraste com muitas outras condições de saúde complexas, existe tratamento altamente eficaz para o envenenamento por picada de cobra e a maioria das mortes e graves consequências deste tipo de acidente são totalmente preveníveis ao tornar os antivenenos mais amplamente disponíveis e acessíveis.

Os soros antivenenos são seguros, têm alta qualidade e consistem no tratamento mais eficaz para prevenir ou reverter a maioria dos efeitos das picadas de cobra. Eles estão incluídos na Lista de Medicamentos Essenciais (em inglês) da OMS e devem fazer parte de qualquer pacote de cuidados primários de saúde onde haja ocorrência do agravo.

Foi estabelecido um grupo de trabalho sobre envenenamento por picadas de cobra (Snakebite Envenoming Working Group), encarregado de informar o desenvolvimento de um roteiro estratégico da OMS sobre o problema. Esta estratégia se concentra em uma redução de 50% na mortalidade e na incapacidade causadas por envenenamento por picada de cobra até 2030. Este objetivo deve ser alcançado por meio de quatro metas principais: capacitar e envolver comunidades; garantir tratamento seguro e eficaz; fortalecer sistemas de saúde; aumentar parcerias, coordenação e recursos.

 

Devido ao alto número de notificações no Brasil, o agravo foi incluído na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública. Assim, todos os casos devem ser notificados ao governo federal imediatamente após a confirmação.

As regiões brasileiras onde há maior taxa de incidência de acidentes ofídicos são a Norte e a Centro-Oeste. Os meses de maior frequência são os quentes e chuvosos, períodos de maior atividade em áreas rurais. Os acidentes ofídicos são mais frequentes na população rural, em pessoas do sexo masculino e na faixa etária economicamente ativa (20 a 64 anos). A maioria dos acidentes é classificada clinicamente como leve, porém, a demora no atendimento médico e soroterápico pode elevar consideravelmente a taxa de letalidade.

Sintomas:

Os sintomas do envenenamento por picadas de cobra variam de acordo com o tipo de serpente que provocou o acidente:

– Acidente botrópico (Bothrops e Bothrocophias): Jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, comboia, cruzeira.

A região da picada apresenta dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas (edemas e equimose) e sangramento pelos pontos da picada, em gengivas, pele e urina. Pode haver complicações, como grave hemorragia em regiões vitais, infecção e necrose na região da picada, além de insuficiência renal.

– Acidente crotálico (Crotalus): Cascavel, boicininga, marabóia, maracabóia, maracá.

O local da picada muitas vezes não apresenta dor ou lesão evidente, apenas uma sensação de formigamento. Pode ocorrer dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento (fácies miastênica), visão turva ou dupla, mal-estar, náuseas e cefaleia, acompanhadas por dores musculares generalizadas e urina escura, nos casos mais graves.

– Acidente laquético (Lachesis): Surucucu-pico-de-jaca.

Quadro semelhante ao acidente por jararaca, a picada pela surucucu-pico-de-jaca pode ainda causar dor abdominal, vômitos, diarreia, bradicardia e hipotensão.

– Acidente elapídico (Micrurus e Leptomicrurus): Coral-verdadeira.

O acidente por coral-verdadeira não provoca alteração importante no local da picada. As manifestações do envenenamento caracterizam-se por dor de intensidade variável, visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Óbitos estão relacionados à paralisia dos músculos respiratórios, muitas vezes decorrentes da demora na busca por socorro médico.

Tratamento:

O tratamento é feito com o soro específico para cada tipo de envenenamento. Os soros antiofídicos específicos são o único tratamento eficaz e, quando indicados, devem ser administrados em ambiente hospitalar e sob supervisão médica.

Prevenção de picadas de cobra:

– Usar botas de cano alto ou perneira de couro, botinas e sapatos pode evitar cerca de 75% dos acidentes ofídicos;
– Usar luvas de aparas de couro para manipular folhas secas, montes de lixo, lenha, palhas, etc. Não colocar as mãos em buracos. Cerca de 20% das picadas atingem mãos ou antebraços;
– Serpentes se abrigam em locais quentes, escuros e úmidos. Deve-se ter cuidado ao mexer em pilhas de lenha, palhadas de feijão, milho ou cana, e ao revirar cupinzeiros;
– Serpentes se alimentam de ratos e por isso deve-se controlar o aparecimento destes roedores nas residências. Limpar paióis e terreiros, não deixar lixo acumulado. Fechar buracos de muros e frestas de portas;
– Evitar acúmulo de lixo, entulho, pedras, tijolos, telhas e madeiras, bem como não deixar mato alto ao redor das casas. Isso atrai e serve de abrigo para os pequenos animais que servem de alimento às serpentes.

 

A seguir, está disponível a lista dos hospitais de referência para soroterapia de acidentes por animais peçonhentos separadas por estado, constando as cidades onde estão localizados, nomes dos hospitais, endereços, telefones, Código Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e atendimento disponível para acidentes com animais peçonhentos. As informações disponibilizadas são de responsabilidade da respectiva Secretaria Estadual de Saúde. Em caso de emergência, contatar imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) ou o Corpo de Bombeiros (193).

Também pode ser feito contato com um dos 36 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats), que funcionam em hospitais universitários, secretarias estaduais e municipais de saúde e fundações de 19 unidades federadas, por meio do Disque-Intoxicação (08007226001).

 

O Dia Internacional de Conscientização sobre Picadas de Cobra foi instituído em 2018 e tem como objetivos destacar a importância do problema e promover a conscientização global. Compreender os riscos, aprender sobre prevenção e reconhecer os sintomas são passos cruciais para lidar com essa questão de saúde pública.

 

Fontes:

Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT)
Ministério da Saúde
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF)