23 a 29/10 – Semana Internacional de Prevenção da Intoxicação por Chumbo


 

A campanha acontece de 23 a 29 de outubro e tem como foco este ano: “Diga não ao envenenamento por chumbo” que objetiva o reconhecimento da urgência de atitudes adicionais, necessárias para eliminar todas as fontes de exposição ao chumbo.

A Semana Internacional de Prevenção da Intoxicação por Chumbo comemora, em 2022, dez anos de ação para eliminar tintas que contenham chumbo – esse período de atividades resultou em 88 países (45%) estabelecendo controles legalmente vinculativos sobre a produção, importação, venda e uso de tintas com chumbo.

A comemoração da data baseia-se no sucesso já obtido em proibir o uso de chumbo na gasolina e no progresso alcançado por muitos países no estabelecimento de leis que limitam seu uso em tintas, particularmente àquelas às quais as crianças são expostas em suas casas, escolas e playgrounds.

 

O chumbo é um metal tóxico cumulativo que afeta vários sistemas do corpo sendo particularmente prejudicial para crianças pequenas. Não há nível de exposição ao chumbo que seja conhecido como isento de efeitos nocivos. Seus impactos na saúde afetam, particularmente, os sistemas neurológico, cardiovascular, gastrointestinal e hematológico.

Crianças pequenas são as mais vulneráveis ​​porque têm exposições mais altas do que os adultos e o chumbo afeta o cérebro em desenvolvimento, resultando potencialmente em redução da capacidade intelectual.

A atualização de 2021 da Organização Mundial da Saúde (OMS) do “Impacto na saúde pública dos produtos químicos: fatores conhecidos e desconhecidos” estima que quase metade dos 2 milhões de vidas perdidas por exposição a produtos químicos conhecidos em 2019 devem-se à exposição ao chumbo.

Estima-se que o problema seja responsável por 21,7 milhões de anos perdidos por incapacidade (anos de vida ajustados por incapacidade) em todo o mundo, devido aos efeitos de longo prazo na saúde, com 30% da carga global de deficiência intelectual idiopática, 4,6% da carga global de doenças cardiovasculares e 3,0% da carga global de doenças renais crônicas.

Fontes importantes de exposição ao chumbo incluem contaminação ambiental por atividades de mineração, fundição, fabricação, reciclagem e uso de chumbo em uma ampla gama de produtos.

Mais de três quartos do consumo global do produto é para a fabricação de baterias de chumbo-ácido para veículos motorizados. Outros produtos incluem pigmentos, tintas, soldas, vitrais, cristais de chumbo, munições, esmaltes cerâmicos, joias, brinquedos, alguns cosméticos e medicamentos tradicionais usados ​​em países como Índia, México e Vietnã.

A água potável fornecida através de tubos de chumbo ou tubos unidos com solda de chumbo também pode contaminar e, ainda, grande parte do comércio global vem de operações de reciclagem.

Embora haja amplo reconhecimento dos efeitos nocivos do chumbo e muitos países tenham tomado medidas, a exposição a ele, principalmente na infância, continua sendo uma preocupação fundamental para os profissionais de saúde e autoridades de saúde pública em todo o mundo.

Segundo Kelly Polido Kaneshiro Olympio, a conscientização se faz necessária devido à quantidade de objetos do cotidiano que podem apresentar o metal em sua composição, tais como utensílios de cozinha e brinquedos em praças e parquinhos, tintas, maquiagens, joias e bijuterias são alguns exemplos.

Dentre as atividades relacionadas à exposição ocupacional, destacam-se a extração, a concentração e o refino de minérios contendo chumbo; a fundição de chumbo; a produção, a reforma e a reciclagem de acumuladores elétricos; a fabricação e a têmpera de aço de chumbo; as fundições de latão e bronze; o reparo de radiadores de carro; o manuseio de sucatas de chumbo; a instrução e a prática de tiro; as soldas à base de chumbo; o uso de rebolos contendo chumbo; a demolição, a queima, o corte ao maçarico de materiais revestidos de tintas contendo chumbo e a demolição de instalações antigas com fornos de chumbo.

Estima-se que cerca de 70% do chumbo usado no mundo destina-se à indústria automobilística para a fabricação de baterias. A ocorrência da atividade de fundição secundária de chumbo proveniente de baterias utilizadas foi identificada em vários estados do Brasil. Está associada, de uma forma geral, a condições precárias de trabalho, a intoxicação de trabalhadores e a contaminação ambiental.

 

Classicamente, os sintomas iniciais da intoxicação são sutis e inespecíficos. As manifestações clínicas evoluem de forma insidiosa e, muitas vezes, trabalhadores com evidências laboratoriais inequívocas de exposição apresentam-se assintomáticos.

Quadros crônicos de maior gravidade podem ocorrer após exposições prolongadas. Intoxicações agudas decorrentes de exposições curtas são raras. Entretanto, quadros agudos podem surgir no curso de intoxicações crônicas e caracterizam-se por encefalopatia aguda e neuropatia periférica grave com paralisia de músculos cuja inervação foi fortemente atingida. É também relatada a cólica abdominal de forte intensidade. Exerce, também, ação tóxica sobre a síntese da hemoglobina, resultando em anemia hipocrômica.

O chumbo produz efeitos deletérios no sistema nervoso central e periférico, gerando alterações neurocomportamentais relacionadas, tais como: alterações de memória, hiperexcitabilidade, depressão, apatia, insônia, dificuldade de concentração, irritabilidade, hostilidade, fadiga, perda da libido, déficits de inteligência, ataxia, alterações na percepção visual e na coordenação visual-motora, alterações psicomotoras e neuromusculares.

O sistema renal é um dos mais sensíveis aos efeitos tóxicos do metal. Os danos variam de uma discreta disfunção, passando por elevações importantes do ácido úrico, podendo chegar a quadros graves de insuficiência renal. No sistema gastrintestinal as alterações mais citadas são: cólicas abdominais inespecíficas de intensidade variável, anorexia, náusea, vômito, constipação intestinal e diarreia.

São ainda descritos: dores em membros, impotência sexual, diminuição do número dos espermatozoides, perda auditiva, gosto metálico na boca, palpitações, vertigens e alucinações. Em mulheres, o chumbo pode causar anormalidades menstruais, abortos e partos prematuros, além de atravessar a barreira placentária e estar presente no leite materno, com potencial para causar danos irreversíveis ao feto e ao recém-nascido.

Prevenção:

A adoção de medidas precedentes à contaminação é apontada como a estratégia mais eficaz de combate à doença. Segundo a professora: “A melhor forma de proteger nossas crianças é através da remoção de todas as fontes de chumbo no ambiente”, diz Kelly, que traz uma lista de recomendações para auxiliar pais e responsáveis com a tarefa:

– Fique atento a objetos do cotidiano, como brinquedos, utensílios de cozinha, joias e cosméticos. Dê preferência para aqueles com certificação de qualidade e afaste crianças de brinquedos descascando ou de procedência desconhecida. Lave sempre suas mãos, especialmente quando brincarem fora de casa, em praças ou parquinhos, e lembre de lavar também as mamadeiras, chupetas e brinquedos antes que elas os levem à boca;

– Priorize refeições de qualidade, ricas em ferro e cálcio: esses nutrientes protegem as crianças do chumbo;

– Limpe regularmente pisos, janelas, portas e outras superfícies utilizando métodos úmidos, como esponjas ou panos molhados, para evitar a dispersão de poeira. Faça, também, a manutenção da pintura e encanamento do local onde mora: casas muito antigas podem ter canos metálicos que passam chumbo para a água. Se esse for o caso da sua residência, não beba nem cozinhe com a primeira água que sai da torneira pela manhã. Use-a apenas para atividades de limpeza. Se decidir reformar o local, evite ficar no mesmo ambiente da obra, principalmente no caso de gestantes e crianças.

– Se o adulto da casa trabalha em produções ou serviços que envolvam tinta, pigmentos, baterias e soldas, não lave a roupa usada no trabalho junto com a roupa da família. Também não entre em casa com os sapatos usados no trabalho. Você pode carregar contaminantes no cabelo, sapatos e roupas. Caso o trabalho seja informal, nunca faça soldagens ou banhos químicos em ambientes fechados, junto com a família. As crianças não devem ter contato com pós de solda, fios de estanho e baterias. Além disso, você deve manter o ambiente muito bem ventilado e vestir equipamentos de proteção, porque a sua saúde também é importante!

 

Fontes:

CARNEIRO, Mariana. Jornal da USP

GUERRA, David Ferreira; SILVEIRA, Andréa Maria. Epidemia de intoxicação por chumbo em empresa de fundição secundária. Revista Médica de Minas Gerais, v. 20, nº 2, Supl. 2, 2010.

World Health Organization