Escalpelamento é o arrancamento brusco e acidental do couro cabeludo (escalpo). Esse grave acidente costuma ocorrer em embarcações de pequeno porte, durante a pesca artesanal ou o transporte para a escola, o trabalho ou outros locais, quando, por descuido, os cabelos compridos, em sua maioria de mulheres e meninas, se enrolam nos eixos e partes móveis dos motores, causando o arrancamento parcial ou total do couro cabeludo. Em muitos casos, as vítimas têm orelhas, sobrancelhas, pálpebras e parte do rosto e pescoço arrancados, o que causa grave deformação e pode levar a morte.
Sequelas:
As consequências do escalpelamento são muito graves e variam conforme as áreas afetadas no acidente, como crânio, pálpebras, orelhas e face. As principais sequelas incluem dores de cabeça ou cervicais crônicas, dificuldade na audição, fala e visão. Essas disfunções comprometem a qualidade de vida, o lazer e o emprego das vítimas, que muitas vezes ficam impossibilitadas de trabalhar.
Em 2010, a Lei nº 12.199 instituiu o Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento com o objetivo de conscientizar os brasileiros sobre esse grave problema e dar visibilidade à realidade de exclusão e violência que as vítimas de escalpelamento enfrentam diariamente. Apenas com o apoio de toda a população será possível fortalecer a prevenção dos acidentes e garantir os direitos das vítimas, especialmente educação, proteção social e trabalho.
O longo tratamento consiste em cirurgia plástica reparadora e implante capilar, além de acompanhamento psicológico.
Prevenção e controle:
A Lei 11.970/2009 determina em seu art. 4º: “Sem prejuízo das normas adicionais expedidas pela autoridade marítima, é obrigatório o uso de proteção no motor, eixo e quaisquer outras partes móveis das embarcações que possam promover riscos à integridade física dos passageiros e da tripulação.”
Segundo dados da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), 93% dos casos de escalpelamento da região amazônicas têm mulheres como vítimas. Destas, 65% são crianças, 30% adultos e 5% idosos.
Em 2020 ocorreram cinco acidentes desse tipo no estado do Pará – número que aponta diminuição de 61% em relação ao ano anterior.
A complexidade de suas consequências torna necessário um tratamento especializado, de longa duração, em hospitais com equipe multidisciplinar e de alta complexidade.
O tratamento hospitalar, ainda que necessário, é um processo doloroso, complexo e inesperado nessa situação, que impõe mudanças em diversos aspectos para a paciente e sua família. Desde mudanças físicas, que as estigmatizam a alterações abruptas de ambiente, convivência e costumes, além de submissão a procedimentos desconhecidos, que geram medo, dúvidas, angústias, falta de colaboração e até aversão e recusa, contribuindo negativamente com a evolução do tratamento.
Recomendações aos usuários de embarcações:
– nunca arme rede ou sente de cabelos soltos perto do motor;
– prenda os cabelos, coloque um boné ou chapéu;
– evite usar colares ou cordões;
– mantenha as crianças sempre junto de você.
Fontes:
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
Conselho Federal de Medicina
Ministério Público do Trabalho – 11ª Região
Radio Senado
RODRIGUES, Elaine Valéria. Educação em saúde para pacientes vítimas de escalpelamento em tratamento hospitalar: Elaboração e Validação de cartilha educativa, 2018. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão e Saúde) – Diretoria de Ensino e Pesquisa da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, Belém (PA), 2018.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Telessaúde São Paulo