Em um mundo cada vez mais conectado, onde as distâncias parecem diminuir através da velocidade, um desafio persiste em ameaçar a integridade e a vida de milhares de pessoas: a (in) segurança no trânsito. A cada ano, as estatísticas revelam um cenário alarmante de mortes e feridos nas vias ao redor do mundo: um preço alto demais a ser pago pela mobilidade e pela pressa cotidiana. Dentro desse contexto, surge o Movimento Maio Amarelo: uma iniciativa que transcende fronteiras e une esforços para chamar a atenção da sociedade para o alto índice de sinistros de trânsito. Em sua 11ª edição, o tema “Paz no Trânsito Começa por Você” ressoa um convite individual e interpela cada um de nós.
Este tema não é apenas um slogan. É, primordialmente, um manifesto por mudanças profundas em nossa maneira de perceber o trânsito e de como nele nos comportamos. A paz desejada nas vias começa com a reflexão e a ação individual, mas também se expande em ondas, alcançando a coletividade. É um chamado que beira a filosofia e a sensibilidade espiritual, para que cada pessoa se perceba como parte essencial de um sistema maior, onde suas escolhas e comportamentos têm o poder de salvar vidas.
A paz no trânsito é construída sobre os pilares do respeito, da responsabilidade e da empatia. Respeito às leis, aos sinais e aos limites de velocidade; responsabilidade pelas escolhas de ação e reação; e empatia por cada vida que compartilha as vias, entendendo que cada pedestre, ciclista, motociclista e motorista é alguém com família, sonhos e o direito de chegar seguro ao seu destino.
A missão do Movimento Maio Amarelo, especialmente em 2024, é clara: difundir a mensagem de que o comprometimento com a segurança no trânsito é uma causa de todos nós. Para dar fim aos sinistros com lesões e mortes, é imperativo que a mudança comece individualmente, mas que não pare por aí. É necessário que se torne um comprometimento coletivo, mantido por todos, todos os dias e obstinadamente.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem, no mundo, por ano em acidentes de trânsito e, desse total, metade das vítimas são pedestres, ciclistas e motociclistas.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pela fiscalização e controle do trânsito em rodovias federais em todo o país, mostram que a principal causa dos sinistros nessas rodovias é a falta de atenção ou reação dos motoristas, motociclistas e pedestres (36% das ocorrências). Questões comportamentais estão associadas à boa parte dos acidentes, como a desobediência das regras de trânsito (14,4%), excesso de velocidade (10%) e uso de álcool (5%). O principal tipo de ocorrência é a colisão frontal, responsável por quase 40% das mortes no trânsito.
A política regulatória vem evoluindo desde a criação do novo Código Brasileiro de Trânsito (Lei 9.503/1997). Algumas ações, como a implementação da lei seca (Lei 11.705/2008), contribuíram para a redução de ocorrências e de mortes, mostrando a importância de políticas públicas para o trânsito. Na última década, também houve avanços na legislação de uso de álcool e suas penalidades, exigência de tecnologia de segurança nos veículos, além da obrigatoriedade de exames toxicológicos para motoristas profissionais. No entanto, ainda é um grande desafio tornar a legislação efetiva, o que requer fiscalização adequada e conscientização da sociedade.
Em 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a 2ª. década de segurança no trânsito, com metas de redução de mortalidade ousadas. A expectativa é que o Brasil alcance resultados positivos em termos de redução das mortes em sinistros de transporte terrestre. O país aderiu à campanha mundial e inseriu o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), criado em 2018, em suas metas. O objetivo é tornar as cidades brasileiras mais seguras para a circulação de pessoas e veículos.
Fontes:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Jornal da USP
Observatório Nacional de Segurança Viária (OSVN)