O Dia Mundial da Paralisia Cerebral (PC) começou a ser comemorado em 2012. No ano passado, alcançou mais de 10 milhões de pessoas, tendo se tornado um movimento global que reúne indivíduos que vivem com paralisia cerebral, suas famílias, apoiadores e organizações de mais de 100 países com o objetivo de garantir um futuro no qual crianças e adultos afetados pelo problema tenham os mesmos direitos, acesso e oportunidades que qualquer outra pessoa na sociedade.
O tema da campanha mundial em 2024 é “Unicamente PC” e chama a atenção para o fato de que cada membro dessa comunidade é único, com paixões, buscas e identidades além daquelas de uma pessoa com deficiência. A PC é frequentemente mal compreendida na comunidade em geral e o chamado para a ação da data é superar esses estereótipos celebrando a individualidade e a personalidade desse grupo.
A paralisia cerebral, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é caracterizada por um grupo de desordens permanentes do desenvolvimento do movimento e postura, atribuídos a um distúrbio não progressivo que ocorre durante a formação do cérebro fetal ou infantil e que podem causar limitações no perfil de funcionalidades da pessoa. Globalmente, estima-se que existam 17 milhões de indivíduos com paralisa cerebral, sendo esta a deficiência mais comum da infância. No Brasil, ocorrem pelo menos 30 mil novos casos por ano.
Uma das principais causas do problema é a hipóxia (falta de oxigenação no cérebro), situação em que, por algum motivo relacionado à gestação, ao parto ou até os dois anos de vida da criança, tanto em relação à mãe quanto ao feto, resultam em uma lesão cerebral.
Geralmente, é resultado de uma combinação de fatores que aumentam as chances de lesão cerebral no bebê. Alguns fatores de risco identificados por pesquisadores incluem:
– Prematuridade (menos de 37 semanas);
– Baixo peso ao nascer (pequeno para a idade gestacional);
– Trombofilia;
– Inabilidade da placenta em fornecer nutrientes e oxigênio ao feto;
– Incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto;
– Infecções virais no início da gravidez;
– Infecções bacterianas que atingem o sistema nervoso central do bebê;
– Perda de oxigênio durante a gestação ou o parto;
– Icterícia severa logo após o nascimento.
Há uma grande variação nas formas como a paralisia cerebral se apresenta, estando diretamente relacionadas à extensão do dano neurológico. Os diferentes graus do comprometimento motor e cognitivo podem ir desde um leve acometimento com pequenos déficits neurológicos até a casos mais graves.
As alterações da parte motora incluem problemas na marcha (como paralisia das pernas), hemiplegia (fraqueza em um dos lados do corpo), alterações do tônus muscular (espasticidade caracterizada por rigidez dos músculos) e distonia (contração involuntária dos membros). Em casos graves, há necessidade do uso de cadeira de rodas. Já as alterações cognitivas incluem comprometimento na comunicação, no comportamento, na interação social e no raciocínio. Os pacientes também podem apresentar convulsões.
A paralisia cerebral pode ser leve, moderada ou grave, conforme a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da OMS. Existe ainda uma classificação quanto ao tipo de envolvimento do sistema nervoso: o problema pode ser apenas motor, cognitivo ou misto (quando tanto a parte motora quanto a cognitiva são afetadas).
Por ser uma das deficiências mais comuns em crianças, o acompanhamento médico com o pediatra é essencial para a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor e a detecção precoce de possíveis atrasos.
O tratamento requer a atuação de diversos profissionais de saúde, e o desafio consiste em trabalhar pela inclusão social e pela prevenção ou minimização das complicações motoras e cognitivas. Para isso, é importante o suporte de uma equipe multidisciplinar envolvendo áreas como ortopedia, neurologia, fisiatra, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia e outras.
Não há cura para a paralisia cerebral, mas o processo de reabilitação pode resultar em grandes avanços. Os tratamentos propostos podem melhorar muito a qualidade de vida desses pacientes mas, na maioria das ocorrências, permanecerá algum grau de limitação física. Não é possível falar de um prognóstico geral para todos os casos. Cada um deve ser visto isoladamente em razão da grande variedade de apresentações clínicas.
Prevenção:
Algumas causas de PC podem ser prevenidas antes do parto:
– Realização de acompanhamento pré-natal: se a gestante contrair infecções e doenças como: sífilis, rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, HIV ou sofrer de doenças crônicas (como hipertensão e diabetes), anemia grave, desnutrição ou ainda se a mãe for mais velha, há riscos de ocorrer PC no bebê;
– Não usar drogas, bebidas alcoólicas ou fumar durante a gravidez;
– Não se expor à radiação durante a gravidez (como por exemplo em exames de Raio-X);
– Ter atenção e cautela para evitar traumatismos no abdome, por pancadas ou quedas;
– Comunicar ao médico se estiver utilizando algum medicamento durante a gravidez, pois alguns remédios podem interferir no desenvolvimento do bebê.
Cerca de 33% dos casos de PC ocorrem durante o nascimento ou no período pós-parto, portanto, algumas medidas são preventivas:
– Optar por parto onde estejam disponíveis boas condições hospitalares;
– Realizar os testes de triagem neonatal, tipagem sanguínea, teste da orelhinha;
– Amamentar;
– Vacinar o bebê de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação da Criança.
Fontes:
Cerebral Palsy Alliance
Dr. Dráuzio Varella
Hospital Infantil Sabará
Instituto Nossa Casa
Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
Vida Saudável – Blog do Hospital Israelita Albert Einstein