CONTAMINAÇÃO


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GONÇALVES, Aguinaldo; GONÇALVES, Neusa Nunes da Silva e. Exposição humana ao mercúrio na Amazônia brasileira: uma perspectiva histórica. Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v. 16, n. 6, p. 415-419, dez. 2004. Disponível em Scielo

O objetivo do presente artigo foi reunir as principais informações obtidas por um estudo multicêntrico realizado por pesquisadores brasileiros que, durante a década de 1990, com apoio de instituições nacionais e internacionais, trabalharam na caracterização da exposição humana ao mercúrio em áreas de garimpo da Amazônia brasileira. Habitantes das bacias dos rios Tocantins e Xingu foram considerados segundo três conjuntos de procedimentos: 1) exame clínico, realizado a partir de protocolo padronizado, por pesquisador único, permitindo identificar cinco condições básicas de acometimento; 2) avaliações dosimétricas do metal em sangue, cabelo e urina, por espectrofotometria de absorção atômica (Projeto Xingu); e 3) investigação genotóxica, envolvendo quatro indicadores citogenéticos. Na primeira etapa, alcançaram-se 41 pessoas, observando-se a presença de mercúrio no organismo de garimpeiros e de seus familiares. A contaminação por mercúrio teve também uma distribuição ocupacional significativa e correlacionada diferencialmente com indicadores de ação genotóxica. A seguir, o Projeto Xingu, que atingiu 625 pessoas, enfocou 417 nativos da nação Kayapó, pertencentes às aldeias Gorotire e Djudjetiktire, 142 garimpeiros e 66 ribeirinhos. Os índios apresentaram os valores mais elevados de metilmercúrio no cabelo e de mercúrio total no sangue e na urina, bem como, nestas matrizes, contaminação freqüente por formas inorgânicas. Entre os resultados de interesse, acolhendo a recomendação específica da Organização Mundial da Saúde, atenção diferenciada foi conferida ao grupo de índias gestantes, por constatar-se que, apesar de não estarem expostas diretamente ao vapor de mercúrio, apresentavam valores relevantes de intoxicação. Apesar desse quadro preocupante, diversas conquistas sociais na década de 1990 sugerem, inclusive para as vítimas de agravos ambientais, o surgimento de novos padrões de dignidade na saúde e de uma ética pública pioneira no Brasil.