“Raiva: Vacinar para eliminar” é o tema deste dia global de ação e conscientização sobre a prevenção da raiva – uma oportunidade para que indivíduos, ONGs e governos comprometam-se com o objetivo de eliminar as mortes por raiva até 2.030.
A vacina é a principal arma para combater essa enfermidade. Vacinar o maior número possível de cães em uma região cria imunidade coletiva, retardando a progressão das infecções por raiva entre os animais e reduzindo a possibilidade de pessoas serem vítimas dessa doença. 28 de setembro é a data do aniversário de morte de Louis Pasteur, químico e microbiologista francês que criou a primeira vacina antirrábica.
A raiva, também conhecida como hidrofobia, é uma zoonose (doença que passa dos animais ao homem e vice-versa) transmitida por um vírus mortal tanto para o homem como para o animal. O vírus tem predileção pelas células do sistema nervoso e, assim que é inoculado através de uma lesão na pele, se multiplica, invade os nervos periféricos e, movendo-se lentamente – cerca de 1 cm por dia – propaga-se pelos neurotransmissores, alcança o cérebro e provoca um quadro grave de encefalite (inflamação no cérebro). Dali, se espalha por vários órgãos do corpo, mas, é nas glândulas salivares que torna a multiplicar-se e é excretado pela saliva do animal doente.
Transmissão:
A transmissão da raiva ocorre quando os vírus da doença existentes na saliva do animal infectado penetram no organismo através da pele ou de mucosas, por meio de mordedura, arranhadura ou lambedura. A raiva apresenta três ciclos de transmissão:
– urbano: representado principalmente por cães e gatos;
– rural: representado por animais de produção, como: bovinos, eqüinos, suínos, caprinos;
– silvestre: representado por raposas, guaxinins, primatas e, principalmente, morcegos.
Sintomas:
Em todos os animais costumam ocorrer os seguintes sintomas:
– dificuldade para engolir;
– salivação abundante;
– mudança de comportamento;
– mudança de hábitos alimentares;
– paralisia das patas traseiras.
Nos cães, o latido torna-se diferente do normal, parecendo um “uivo rouco”, e os morcegos que, com a mudança de hábito, podem ser encontrados durante o dia, em hora e locais não habituais.
Raiva humana
Tempo de incubação e sintomas:
O tempo de incubação do vírus varia de acordo com o local da inoculação (quanto mais perto da cabeça, menor o tempo), a carga viral e a natureza do vírus. É um período sem sintomas, que pode estender-se de alguns dias a mais de um ano.
Os primeiros sintomas geralmente só aparecem quando o vírus alcança o cérebro. No início, são inespecíficos e podem ser confundidos com os de uma infecção banal: mal-estar, febre baixa, dor de cabeça e de garganta, falta de apetite, vômitos e desconforto gastrointestinal. Podem surgir, ainda, formigamento, ardência ou coceira no local da mordida ou arranhadura. Essa fase é marcada, também, por inquietação e ansiedade; dura de 2 a 10 dias e ocorre antes de a encefalite se instalar.
A inflamação progressiva do encéfalo, provocada pela proliferação do vírus no sistema nervoso central, provoca o agravamento dos sintomas neurológicos: hiperexcitabilidade (inclusive sexual), confusão mental, desorientação, agressividade, acessos de fúria, alucinações, crises convulsivas desencadeadas por estímulos táteis, auditivos ou visuais, espasmos musculares involuntários e dolorosos, produção excessiva de saliva, dificuldade para respirar e engolir. A febre sobe muito, chegando aos 40 graus; ocorre a manifestação de fobias (medo exagerado) – hidrofobia (água), aerofobia (ar), fotofobia (luz). O doente sofre espasmos violentos quando vê ou tenta beber água, quando recebe uma corrente de ar ou quando é afetado pelo excesso de claridade. A destruição causada pelo vírus da raiva atinge inúmeras áreas do sistema nervoso central e produz uma síndrome paralítica generalizada, que evolui para coma e morte por parada respiratória.
Tratamento:
O tratamento da raiva humana deve ser aplicado em duas situações distintas:
– profilaxia pré-infecção: tratamento preventivo, utilizando a vacina antirrábica. É indicado para pessoas que ainda não entraram em contato com o vírus da raiva, mas que pertencem a grupos com maior risco* de contato;
– profilaxia pós-infecção: é o tratamento indicado para depois que a pessoa foi mordida ou arranhada por um mamífero. O esquema terapêutico varia de acordo com a localização e a gravidade da ferida.
*São considerados grupos de risco:
– profissionais que estão em contato direto com animais: veterinários, zootécnicos, biólogos, tratadores e adestradores de animais, guias de turismo de maneira geral e de ecoturismo, em particular;
– atividades que favorecem o maior contato com o vírus: trabalho em laboratório de pesquisa e análise, em pet shops, na exploração de cavernas, ou em viagem para países, especialmente da África e Sudeste Asiático, onde o controle da infecção é precário;
– moradores de locais próximos a regiões que funcionam como habitat natural para mamíferos selvagens ou silvestres, como morcegos, gato do mato, raposas, macacos, etc.
A administração da vacina contra a hidrofobia e da imunoglobulina antirrábica humana ou, na falta desta, do soro antirrábico no local do ferimento, tem por objetivo impedir o desenvolvimento e a progressão da doença. Quando esses recursos não são introduzidos a tempo, o quadro torna-se irreversível e evolui para coma e morte em alguns dias. Na fase final da doença, toda a atenção deve concentrar-se nos cuidados paliativos a fim de aliviar o sofrimento do paciente. Depois que os sintomas se instalam, a possibilidade de cura é remota e, até o momento, só foram registrados cinco casos de cura da hidrofobia no mundo.
O que fazer quando agredido por um animal, mesmo que ele seja vacinado contra a raiva:
– lavar imediatamente o ferimento com água e sabão;
– procurar com urgência o serviço de saúde mais próximo;
– não matar o animal e sim, deixá-lo em observação durante 10 dias, para que se possa identificar qualquer sinal indicativo da raiva;
– o animal deverá receber água e alimentação normalmente, num local seguro, para que não possa fugir ou atacar outras pessoas ou animais;
– se o animal adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento, voltar imediatamente ao serviço de saúde;
– nunca interromper o tratamento preventivo sem ordens médicas;
– quando um animal apresentar comportamento diferente, mesmo que ele não tenha agredido ninguém, não o mate e procure o serviço de saúde.
Prevenção:
– levar os animais domésticos para serem vacinados contra a raiva, anualmente;
– procurar sempre o Serviço de Saúde, no caso de agressão por animais;
– manter seu animal em observação se ele agredir alguém;
– não deixar o animal solto na rua e usar coleira/guia ao sair.
Colaborar com os serviços de saúde nas medidas de controle da raiva:
– notificar a existência de animais errantes nas vizinhanças de seu domicílio;
– informar o comportamento anormal de animais, sejam eles agressores ou não;
– informar a existência de morcegos de qualquer espécie;
– providenciar a entrega de animais para coleta de material para exames de laboratório, nos casos de morte de animais com suspeita de raiva ou por causa desconhecida.
Evitar:
– tocar em animais estranhos, feridos ou doentes;
– perturbar animais quando estiverem comendo, bebendo ou dormindo;
– separar animais que estejam brigando;
– entrar em grutas ou furnas e tocar em qualquer tipo de morcego (vivo ou morto);
– criar animais silvestres ou tirá-los de seu habitat natural.
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Fontes:
Aliança Global para o Controle da Raiva
Conselho Federal de Medicina Veterinária. Raiva: previna-se. A raiva mata. (Folder impresso)
Dr. Dráuzio Varella
Ministério da Saúde: Vigilância em Saúde – anotações
Organização Pan-Americana da Saúde