Com o tema “As nossas ações são o nosso futuro. Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor qualidade de vida”, o objetivo da campanha de 2021 é promover a consciência da necessidade de transformar os sistemas agroalimentares para que sejam mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis.
O Dia Mundial da Alimentação é comemorado anualmente em 16 de outubro, e está ancorado em quatro pilares: melhor nutrição, melhor produção, melhor ambiente e melhor qualidade de vida.
Este é um ano ainda mais importante para ação, que acontece pela segunda vez durante a pandemia de COVID-19, cujos impactos afetaram os sistemas agroalimentares e desencadearam uma desaceleração econômica global sem precedentes, levando a uma perda de meios de subsistência e renda e ao aumento da insegurança alimentar e da desigualdade.
Atualmente, o Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que quase 50 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar grave ou moderada. Isso acontece enquanto boa parte dos alimentos é perdida — devido a condições inadequadas de colheita, manuseio, armazenagem e transporte — ou desperdiçada no varejo e consumo.
O combate às perdas e ao desperdício de alimentos tem efeito direto na segurança alimentar, pois ajuda a melhorar o desempenho econômico, a promover uma alimentação adequada e a preservar o meio ambiente.
Para melhorarmos os nossos sistemas agroalimentares, toda a cadeia de abastecimento precisa ser mais sustentável, resiliente e inclusiva para trabalhadores, produtores e consumidores.
Dentro das possibilidades práticas de mudança, os governos, em colaboração com o setor privado e a sociedade civil, devem fortalecer e melhorar a quantidade e a qualidade dos dados e informações disponíveis sobre os sistemas alimentares.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos e tem sido também um campeão no desperdício. Milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras são jogados fora todos os anos.
Para mapear ações capazes de reduzir esse prejuízo, uma pesquisa de doutorado realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estudou as causas do desperdício de alimentos entre fornecedores e supermercados. O resultado apontou para a cultura alimentar da população, para a legislação brasileira e também para a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva.
Foram avaliadas atividades de distribuição, armazenagem, exibição, manuseio e descarte de frutas, legumes e verduras em lojas e centros de distribuição. Os supermercados não dizem para os fornecedores o quanto eles esperam vender ou mesmo o quanto eles costumam vender daquele produto. Essa falta de informação e de medição gera problemas gigantescos. Há muita dificuldade em prever a demanda e planejar a produção. Os fornecedores, em geral, acabam se baseando apenas no que venderam de cada alimento, sem saber, de fato, quanto está sendo comprado pelo cliente final.
Do total de alimentos desperdiçados diariamente no país, 40% das perdas ocorrem na distribuição após o processamento, sendo que o varejo é responsável por 12% desse total.
Além de identificar as causas do desperdício, a pesquisa realizada na UFSCar analisou ainda quais são as barreiras que impedem que o cenário seja alterado. E um dos principais obstáculos é a própria legislação brasileira sobre doação de alimentos.
Para a professora Andrea Lago da Silva, o início da solução desse problema está nos supermercados, que são o centro do sistema alimentar moderno e têm o poder de ensinar as pessoas a pensar diferente, atingindo tanto o público consumidor quanto os fornecedores.
O combate também deve passar pelo treinamento de funcionários do varejo para a redução do desperdício nas atividades ligadas a frutas, legumes e verduras. Ainda de acordo com a docente, supermercados que contam com nutricionistas e outros profissionais que usam alimentos que já estão machucados, porém continuam saudáveis, para criar produtos, como sucos e compotas na própria loja, desperdiçam bem menos.
Para o futuro, Silva acredita que inovações tecnológicas direcionadas ao rastreio de produtos, compartilhamento de dados, embalagens, além de uma discussão sobre o conceito de prazo de validade também podem ajudar a enfrentar o desperdício. “Desde já, precisamos ter a consciência e mudar o comportamento dentro de casa. Quando for jogar um alimento fora, se questione se não daria para fazer outra receita com ele. Temos que buscar alternativas”.
Fontes:
Agência FAPESP
Fundação Oswaldo Cruz – Brasília
Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
Nações Unidas – Brasil