As tentativas de uso do sangue para curar doenças vêm desde a pré-história. Durante muitos séculos, no entanto, os resultados foram totalmente infrutíferos, sendo que as primeiras transfusões, que datam de meados do século XVII, eram quase sempre feitas com sangue de animais.
A transfusão é classicamente dividida em três períodos: era pré-histórica, era pré-científica e era científica (até o presente).
A 1ª. transfusão de sangue que pode ser relatada no Brasil ocorreu em 1910 em Salvador. Na década de 40, a hemoterapia começou a ser vista como especialidade médica e vários “bancos de sangue” foram inaugurados em diversas capitais brasileiras. O primeiro “banco de sangue” público foi criado na cidade de Porto Alegre, em 1941.
Com a eclosão da II Guerra Mundial, surgem os primeiros bancos de sangue, a transfusão generaliza-se e torna-se rotina na prática médica, sendo decisiva para salvar a vida de civis e militares feridos. A guerra, aliás, foi motivação e estímulo para as primeiras campanhas de doação.
Desde os primórdios, o sistema de doação de sangue alicerça-se na doação altruísta e não remunerada, contando com a solidariedade e benevolência dos cidadãos.
Ao contrário da Europa, o sistema transfusional brasileiro baseava-se na doação remunerada: doadores dos bancos de sangue públicos e privados recebiam pagamento.
A prática favorecia a proliferação de bancos de sangue privados que recrutavam pessoas doentes, contaminadas por doenças infecciosas, anêmicas, alcoólatras ou que omitiam informações relevantes sobre seu estado de saúde no momento da coleta, provocando a transmissão de enfermidades aos que recebiam o sangue.
Em 1964 foi instituída a Comissão Nacional de Hemoterapia (CNH) no Ministério da Saúde e estabelecida a Política Nacional de Sangue.
O surgimento da Aids, na década de 80, transformou radicalmente o panorama da hemoterapia brasileira: o elevado número de casos de contaminação pelo HIV por meio de transfusão provocou o clamor da opinião pública, culminando na proibição definitiva da doação remunerada.
A Lei nº 10.205/2001 regulamentou o § 4º do art. 199 da Constituição Federal e estabeleceu o ordenamento institucional indispensável à execução adequada das atividades de coleta, processamento, estocagem, distribuição e aplicação do sangue, seus componentes e derivados.
Em seu art. 14, determinou:
II – utilização exclusiva da doação voluntária, não remunerada, do sangue, cabendo ao poder público estimulá-la como ato relevante de solidariedade humana e compromisso social;
III – proibição de remuneração ao doador pela doação de sangue;
IV – proibição da comercialização da coleta, processamento, estocagem, distribuição e transfusão do sangue, componentes e hemoderivados.
O sangue é um composto de células que cumprem funções como levar oxigênio a cada parte do corpo, defender o organismo contra infecções e participar na coagulação. É insubstituível e sem ele é impossível viver.
Essencial para tratamentos e intervenções urgentes, pode ajudar pacientes que sofrem de condições com risco de vida, além de apoiar procedimentos médicos e cirúrgicos complexos.
É, ainda, um elemento vital para o tratamento de feridos durante emergências de todos os tipos (desastres naturais, acidentes, conflitos armados etc.) e tem papel crucial nos cuidados maternos e neonatais.
A quantidade retirada não afeta a saúde de quem doa e a recuperação ocorre imediatamente após a doação – processo pelo qual um doador voluntário tem seu sangue coletado para armazenamento em um banco de sangue ou hemocentro, para uso subsequente em transfusões.
Uma pessoa adulta tem em média cinco litros de sangue e em uma doação são coletados no máximo 450ml.
O acesso ao sangue seguro ainda é um privilégio de poucos. A maioria dos países de baixa e média renda tem dificuldade para disponibilizar sangue seguro porque as doações são baixas e os equipamentos para testagem são escassos.
No mundo, 42% do sangue é coletado em países de alta renda, que abrigam apenas 16% da população mundial.
Segundo o Ministério da Saúde (MS), 1,8% da população brasileira doa sangue de forma regular. Esse número fica um pouco abaixo dos 2% ideais definidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), mas bem atrás dos 5% registrados em países da Europa.
O MS reforça periodicamente a importância de os brasileiros adotarem a cultura solidária da doação regular e espontânea para que os estoques se mantenham sempre abastecidos e não apenas em datas específicas ou quando algum familiar ou amigo precise.
Para ser doador, basta procurar as unidades de coleta de sangue, como os hemocentros ou bancos de sangue.
Homens podem doar de 2 em 2 meses, sendo, no máximo, 4 vezes ao ano;
Mulheres podem doar de 3 em 3 meses, sendo, no máximo, 3 doações anuais.
Pré-requisitos para ser doador de sangue:
– levar documento de identidade com foto e órgão expedidor;
– estar em boas condições de saúde;
– ter entre 16 e 69 anos de idade (de 16 e 17 anos com autorização do responsável legal);
– idade até 60 anos, se for a primeira doação;
– intervalo entre doações de sangue de 90 dias para mulheres e 60 dias para homens;
– pesar mais do que 50 kg;
– não estar em jejum;
– após o almoço ou jantar, aguardar pelo menos 3 horas;
– não ter feito uso de bebida alcoólica nas últimas 12 horas;
– não ter tido parto ou aborto há menos de 3 meses;
– não estar grávida ou amamentando;
– não ter feito tatuagem ou maquiagem definitiva há menos de 12 meses;
– não ter piercing em cavidade oral ou região genital;
– não ter feito endoscopia ou colonoscopia há menos de 6 meses;
– não ter tido febre, infecção bacteriana ou gripe há menos de 15 dias;
– não ter fator de risco ou histórico de doenças infecciosas, transmissíveis por transfusão (hepatite após 11 anos, hepatite b ou c, doença de chagas, sífilis, Aids, HIV, HTLV I/II);
– não ter visitado área endêmica de malária há menos de 1 ano;
– não ter tido malária;
– não ter diabetes em uso de insulina ou epilepsia em tratamento;
– não ter feito uso de medicamentos anti-inflamatórios há menos de 3 dias (se a doação for de plaquetas).
O Dia Nacional do Doador de Sangue, instituído pelo Decreto nº 53.988/1964, tem como objetivo agradecer aos doadores por sua ação solidária e sensibilizar a população para a importância do gesto.
A escolha do mês de novembro deve-se ao fato de que, por preceder um período de estoques baixos nos bancos de sangue, com a proximidade das férias, de datas comemorativas de fim de ano, carnaval e outros períodos de feriados prolongados, as doações caem drasticamente.
Fontes:
Fundação Hemocentro de Brasília
Fundação Hemominas
Governo do Estado do Espírito Santo
Ministério da Saúde
Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais
Telessaúde de Sergipe