Mais de 1,2 milhão brasileiros têm Chagas, mas 70% desconhecem


 

No mundo, o número de pacientes chega a 6 milhões. Os dados foram compilados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, SBC, com base em indicadores do Sistema Único de Saúde e internacionais.

Ainda que seja uma doença amplamente conhecida pela população, historicamente ela vem sendo negligenciada. A falta de políticas públicas e investimentos públicos e privados em medicamentos para cura pioram o prognóstico de quem tem a doença.

Provocada pelo protozoário Trypanosoma Cruzi, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a doença de Chagas negligenciada, apesar da alta incidência.

A falta do diagnóstico e de tratamento afetam o coração e o tubo digestivo, incluindo esôfago e intestino, ou ambos.

Os pacientes não tratados adequadamente e não acompanhados, invariavelmente se convertem em doentes cardíacos graves. Por essa razão, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) vem estudando a evolução da doença no país e estimulando o debate sobre políticas públicas específicas no tema.

Arritmias e Insuficiência cardíaca são as principais doenças do coração que se desenvolvem nestes pacientes. Também aumentam consideravelmente as chances de morte súbita.

“O diagnóstico precoce é fundamental, pois a chance de cura se ele for feito nos primeiros dias de transmissão é de até 100%, e diminui progressivamente com o passar dos anos”, explica a cardiologista Gláucia Maria Moraes de Oliveira.

A principal via de transmissão do tripanossomo é pelas fezes contaminadas do barbeiro, um percevejo (gênero Triatoma) que, ao picar o homem, elimina também o parasita nas fezes, mas têm crescido no mundo o número de casos de Chagas por outras vias de transmissão.

A principal delas, que ocorre até mesmo em grandes cidades com alto grau de desenvolvimento em infraestrutura, é através da ingestão oral. Ocorre no consumo de frutas e bebidas como o açaí ou cana-de-açúcar. Nestes casos, a letalidade é maior porque o barbeiro é moído junto ao produto e a quantidade de protozoários que são ingeridos é muito alta.

As demais vias de transmissão reconhecidas são pela passagem do parasita da mãe para o bebê durante a gestação, por transfusão de sangue, transplante de órgãos e por acidente laboratorial. No caso de Chagas congênita, o risco apontado no Brasil é de um bebê a cada mil mães com a doença (cerca de 2%).

Embora a incidência tenha reduzido consideravelmente nos últimos 40 anos, devido a melhorias, especialmente nas habitações e controle do vetor, a doença continua apresentando uma alta letalidade. Porém, a expectativa da OMS é erradicar a doença até 2050.

“Quando identificada no início, ainda sem a manifestação dos sintomas, o tratamento é muito mais efetivo. Porém, quando os sintomas são graves a terapia, é, em geral, mais custosa e dolorosa, explica a cardiologista.

Casos recentes têm surgido em países nos quais não existe o percevejo —como nos EUA, que têm hoje cerca de 300 mil casos registrados, maior incidência fora de país tropical. Espanha e Portugal são países também com milhares de casos. O avanço da doença em países mais desenvolvidos deve estimular pesquisas para medicamentos e até vacinas contra Chagas.

Em março, a SBC juntamente com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp),  realizaram um webinar sobre “Nova Diretriz de Doença de Chagas”, que será publicada pela SBC em maio. Clique e confira o evento!

 

Fonte:

Sociedade Brasileira de Cardiologia