No ano de 2018, em resposta histórica ao apelo de ação do Diretor-Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), um movimento social desencadeou uma tradição anual, reunindo comunidades de todo o mundo para um Dia de Ação para a Eliminação do Câncer do Colo do Útero.
Em 2020, com o apoio de 194 países, a OMS lançou a Estratégia Global para Eliminar o Câncer do Colo do Útero como um problema de saúde pública.
Segundo a União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), colo de útero é o quarto tipo de câncer mais prevalente nas mulheres em todo o mundo e ceifa uma vida a cada dois minutos.
No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 17.010 novos casos para 2022 e 6.606 mortes (dados de 2021).
As ações para prevenção do câncer do colo do útero (também chamado de câncer cervical) ocorrem por meio de práticas de educação em saúde, vacinação de grupos indicados e detecção precoce da doença e de suas lesões precursoras por meio de rastreamento.
O colo é a porção do útero em forma de canal que o conecta com a vagina. Esse tipo de câncer, também chamado de câncer cervical se desenvolve a partir do crescimento anormal de células nesta região.
Fatores de risco:
A infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), responsável pelo aparecimento de verrugas genitais, representa o maior fator de risco para o câncer de colo de útero (que pode infectar também os homens e estar associado ao surgimento do câncer de pênis).
Apesar de existir mais de uma centena de tipos diferentes desse vírus, somente alguns estão associados ao tumor. São classificados como de alto risco os tipos 16, 18, 45 e 56; de baixo risco, os tipos 6, 11, 41, 42 e 44, e de risco intermediário os tipos 31, 33, 35, 51 e 52.
Podem ser citados, ainda, como fatores de risco:
– Início precoce da atividade sexual;
– Múltiplos parceiros sexuais ou parceiros com vida sexual promíscua;
– Tabagismo;
– Baixa imunidade;
– Não fazer o exame preventivo citopatológico Papanicolaou com regularidade;
– Más condições de higiene;
– Histórico familiar.
Sintomas:
O câncer do colo do útero é uma doença de desenvolvimento lento, que pode não apresentar sintomas em fase inicial. Nos casos mais avançados, pode evoluir para sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal, dor durante a relação sexual, dor abdominal e queixas urinárias ou intestinais.
Detecção precoce:
A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar o tumor numa fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento. Pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença (diagnóstico precoce), ou com o uso de exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas (rastreamento) pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença.
Existe uma fase do câncer do colo do útero sem sintomas, em que a detecção de lesões precursoras pode ser feita através do exame Papanicolaou. Quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura são de 100%.
Tratamento:
Se confirmada a presença de lesão precursora, pode ser tratada em nível ambulatorial, por meio de uma eletrocirurgia.
O tratamento deve ser avaliado e orientado por um médico e dependerá do estágio de evolução da doença e fatores pessoais, como idade da paciente e desejo de ter filhos. Na maioria dos casos, em estágios iniciais, envolve cirurgia, por vezes seguida de tratamento complementar com quimioterapia ou radioterapia. Em estágios avançados, em que há comprometimento dos gânglios linfáticos (linfonodos) da pelve ou de outros órgãos, envolve uma combinação de quimioterapia e radioterapia ou apenas quimioterapia.
Prevenção:
A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo HPV. A transmissão da infecção ocorre por via sexual, consequentemente, o uso de preservativos (camisinha masculina ou feminina) durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer pelo contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal.
A vacinação e a realização do exame preventivo se complementam como ações de prevenção desse tipo de câncer. Mesmo as mulheres vacinadas, quando alcançarem a idade preconizada (a partir dos 25 anos), deverão fazer o exame preventivo periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos do HPV. Para mulheres com diminuição de resposta imunológica, vivendo com HIV/Aids, transplantadas e portadoras de cânceres, a vacina é indicada até 45 anos de idade.
O Ministério da Saúde lançou, em março de 2023, uma estratégia para zerar os casos de câncer do colo do útero no país. A medida prevê ações para reduzir casos, prevenção, vacinação e inclusão de teste molecular (PCR) para detecção do HPV no Sistema Único de Saúde (SUS).
Recomendado pela OMS, o teste identifica de forma mais precisa a presença do vírus e, com isso, será possível ampliar o rastreio da doença na população feminina entre 25 e 64 anos e reduzir casos graves e mortes. Atualmente, o diagnóstico é feito na rede pública de saúde pelo exame Papanicolau.
Outra ação é elevar os índices de vacinação contra HPV, que apresentam queda nos últimos anos. Em 2022, a baixa foi de 75% entre meninas. A meta é chegar a 90% de cobertura, percentual considerado fundamental para garantir a eliminação do câncer de colo do útero no país. A vacina é gratuita, está disponível nas unidades básicas de saúde e é recomendada para adolescentes de 9 a 14 anos, além de imunossuprimidos.
Fontes:
Agência Brasil
Dr. Dráuzio Varella
Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz
Instituto Nacional de Câncer (INCA)
Organização Mundial de Saúde (OMS)