“Agir agora. Agir juntos. Investir em DTNs”: 30/01 – Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas


 

As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) ameaçam mais de 1,7 bilhão de pessoas que vivem nas comunidades mais pobres e marginalizadas do mundo. Causadas por uma variedade de patógenos, incluindo vírus, bactérias, parasitas, fungos e toxinas, esses agravos cegam, incapacitam e desfiguram as pessoas, tirando não apenas sua saúde, mas também suas chances de permanecer na escola, de ganhar a vida ou mesmo de ser aceito por sua família ou comunidade.

Essas enfermidades também apresentam indicadores inaceitáveis e investimentos reduzidos nas áreas de pesquisa, produção de medicamentos e em seu controle.

Hanseníase, dengue, leishmaniose, esquistossomose, raiva humana transmitida por cães, escabiose (sarna), doença de Chagas, parasitoses intestinais e tracoma são algumas das mais de 20 patologias presentes na região – onde também são conhecidas como doenças infecciosas negligenciadas. Juntas, causam entre 500 mil e 1 milhão de óbitos anualmente.

“Prevenir e tratar essas doenças tem custo-benefício. As estratégias para combatê-las incluem aproximar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das comunidades vulneráveis, além de melhorar suas condições de vida, como acesso à educação, água potável, saneamento básico e moradia”, disse o diretor de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS, Marcos Espinal, em 2020, quando a data foi comemorada pela primeira vez.

São enfermidades “negligenciadas” por estarem quase ausentes da agenda global de saúde, receberem pouco financiamento e serem associadas ao estigma e à exclusão social. Acometem populações negligenciadas e perpetuam um ciclo de maus resultados educacionais e oportunidades profissionais limitadas.

A pandemia do COVID-19 e um cenário de mudança no financiamento, bem como um contexto internacional imprevisível, representam desafios para quem trabalha com DTNs.

Apesar das dificuldades desafiadoras, 47 países eliminaram pelo menos uma dessas doenças até o final de 2022 e os programas para sua prevenção e controle tiveram melhor desempenho em 2022 do que em 2021.

O progresso em direção às metas de 2030 deve ser mantido no caminho certo, promovendo operações inovadoras e financiamento sustentável.

A campanha mundial de 2023 convida a:

Falar: É preciso ser ouvido. Pedir aos governos, aos líderes mundiais e àqueles que estão no poder para que ajam agora, ajam juntos e invistam em doenças tropicais negligenciadas.

Agir:  Todos têm um papel fundamental a desempenhar. Ao trazer atenção renovada para as DTNs, criar vontade política e mobilizar recursos, e colocar os indivíduos e as comunidades no centro da resposta, é possível gerar coletivamente a atenção e os recursos necessários para atingir as metas delineadas no roteiro de DTN 2030 da OMS e ODS3 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 3 – Objetivo 3.3). Isso inclui erradicar duas doenças, eliminar uma doença em 100 países e diminuir em 90% o número de pessoas que necessitam de intervenções por causa dessas enfermidades.

Breve sumário das principais doenças tropicais negligenciadas:

– Úlcera de Buruli: Infecção cutânea micobacteriana debilitante que causa destruição severa da pele, ossos e tecidos moles.

– Doença de Chagas: Uma doença protozoária com risco de vida transmitida aos seres humanos através do contato com insetos vetores (triatomíneos), ingestão de alimentos contaminados, transfusões de sangue infectado, transmissão congênita, transplante de órgãos ou acidentes de laboratório.

– Dengue e chikungunya: Duas condições virais propensas a surtos transmitidas por mosquitos que causam uma doença semelhante à gripe que pode estar associada a sintomas graves, dolorosos e incapacitantes e, no caso da dengue, pode causar choque, hemorragia e morte.

– Dracunculíase (doença do verme da Guiné): Uma infecção helmíntica transmitida exclusivamente pela água potável contaminada com pulgas d’água infectadas por parasitas; um ano depois, os vermes fêmeas adultos ulceram dolorosamente através da pele, muitas vezes das pernas, para expelir suas larvas.

– Equinococose: Doença causada pelos estágios larvais de tênias formando cistos patogênicos em órgãos humanos, adquirida pela ingestão de ovos mais comumente eliminados nas fezes de cães e animais selvagens.

– Trematodiases transmitidas por alimentos: Um grupo de doenças infecciosas adquiridas pelo consumo de peixes, crustáceos e vegetais contaminados com parasitas larvais; clonorquíase, opistorquíase, paragonimíase e fasciolíase são as mais comuns.

– Tripanossomíase africana humana (doença do sono): Uma infecção protozoária disseminada pelas picadas de moscas tsé-tsé que é quase 100% fatal sem diagnóstico e tratamento imediatos para evitar que os parasitas invadam o sistema nervoso central.

– Leishmanioses: Um grupo de doenças protozoárias transmitidas pela picada de flebotomíneos fêmeas infectadas; a forma mais grave (visceral) ataca os órgãos internos e em sua forma mais prevalente (cutânea) causa úlceras na pele, cicatrizes desfigurantes e incapacidade.

– Hanseníase: Uma doença complexa causada pela infecção por uma bactéria de crescimento lento, afetando principalmente a pele, nervos periféricos e olhos.

– Filariose linfática (elefantíase): Uma infecção helmíntica transmitida por mosquitos e resultando em vermes adultos que habitam e se reproduzem no sistema linfático; está associada a inflamação dolorosa recorrente e aumento anormal dos membros e órgãos genitais.

– Micetoma, cromoblastomicose e outras micoses profundas: Doenças inflamatórias crônicas e progressivamente destrutivas da pele e tecidos subcutâneos que geralmente afetam os membros inferiores. As pessoas são infectadas quando lesões rompem a pele e permitem que fungos (e bactérias no caso do micetoma) entrem no corpo.

– Oncocercose (cegueira dos rios): Infecção helmíntica transmitida pela picada de borrachudos infectados, causando coceira intensa e lesões oculares à medida que o verme adulto produz larvas, o que acaba levando a deficiência visual e cegueira permanente.

– Raiva: Uma doença viral evitável transmitida aos humanos por meio de mordidas de animais infectados, especialmente cães, que é invariavelmente fatal quando os sintomas se desenvolvem.

– Escabiose e outras ectoparasitoses: Grupo de infestações da pele causadas por ácaros, pulgas ou piolhos; a sarna ocorre quando o ácaro da coceira humana se enterra na camada superior da pele onde vive e deposita seus ovos, causando coceira intensa.

– Esquistossomose (bilharziose): Grupo de infecções por trematódeos adquiridas quando formas larvais liberadas por caramujos de água doce penetram na pele humana durante o contato com água infestada; A esquistossomose está tipicamente associada a patologias hepáticas e urogenitais.

– Envenenamento por picada de cobra: Uma condição potencialmente fatal causada por toxinas injetadas através da picada de uma cobra venenosa, muitas vezes responsável por emergências médicas agudas. O envenenamento também pode ser causado pela pulverização de veneno nos olhos por certas espécies de cobras.

– Helmintíases transmitidas pelo solo: Infecções por helmintos transmitidas por solo contaminado por fezes humanas; eles causam anemia, deficiência de vitamina A, crescimento atrofiado, desnutrição, obstrução intestinal e desenvolvimento prejudicado.

– Teníase e cisticercose:  A teníase é causada por tênias adultas nos intestinos humanos; A cisticercose ocorre quando os seres humanos ingerem ovos de tênia que se desenvolvem como larvas em tecidos, incluindo o cérebro (neurocisticercose).

– Tracoma: Infecção bacteriana transmitida por contato direto com secreção ocular ou nasal infecciosa e associada a condições de vida e práticas de higiene inseguras; se não for tratada, causa opacidades irreversíveis da córnea e cegueira.

– Bouba: Doença bacteriana crônica e desfigurante que afeta principalmente a pele e os ossos. Outras treponematoses endêmicas semelhantes à bouba também são consideradas DTNs.

Prevenção e controle:

A prevenção e o controle das doenças relacionadas à pobreza requerem uma abordagem integrada, com ações multissetoriais, iniciativas combinadas e intervenções econômicas para reduzir o impacto negativo na saúde e no bem-estar social e econômico dos povos das Américas.

Principais ações:

– Até 2030, erradicar a epidemia de Aids, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas e combater a hepatite, as doenças transmitidas pela água e outras doenças transmissíveis.

– As doenças negligenciadas atingem populações já paralisadas pela pobreza e pela desigualdade: mulheres, crianças, populações indígenas, os pobres – são consequência da pobreza e estão carregadas de estigma e só podem ser enfrentadas com liderança e esforço político-econômico conjunto.

– A água segura, o saneamento e a higiene (WASH, na sigla em inglês) são componentes essenciais da estratégia de combate às DTNs e fatores críticos na prevenção e na prestação de cuidados para a maioria delas. Muitos dos agentes patogênicos que as provocam proliferam em áreas onde o abastecimento de água e o saneamento são inadequados.

– Zoonoses são doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos. Considerando que, na grande maioria dos casos, a intervenção ou controle na origem animal pode prevenir problemas de saúde pública subsequentes, é necessário considerar e desenvolver intervenções integradas que levem em consideração as causas que interagem e são responsáveis ​​pelos problemas inter-setoriais da saúde.

– As estratégias relacionadas com a ecologia e a gestão de vetores devem ser centradas no desenvolvimento e na promoção de diretrizes baseando-se nos princípios da gestão integrada de vetores – um componente importante na prevenção e no controle das doenças de transmissão vetorial.

 

Fontes:

Agência Fiocruz de Notícias
Biblioteca Virtual em Saúde: Vitrines do conhecimento: Doenças infecciosas negligenciadas
Nações Unidas Brasil
Organização Mundial da Saúde
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
World Neglected Tropical Diseases