DETECÇÃO PRECOCE DE CÂNCER; DIRETRIZES PARA A PRÁTICA CLÍNICA
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MIGOWSKI, Arn et al. Diretrizes para detecção precoce do câncer de mama no Brasil. II – Novas recomendações nacionais, principais evidências e controvérsias. Cadernos de Saúde Pública, [online]. 2018, v. 34, n. 6. Disponível em Scielo
O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil. As novas diretrizes para detecção precoce no Brasil foram elaboradas com base em revisões sistemáticas da literatura sobre riscos e possíveis benefícios de diversas estratégias de detecção precoce. O objetivo do presente artigo é apresentar as recomendações e atualizar a síntese de evidências, discutindo as principais controvérsias existentes. As recomendações para o rastreamento do câncer de mama (mulheres assintomáticas) foram: (i) recomendação contrária forte ao rastreamento com mamografia em mulheres com menos de 50 anos; (ii) recomendação favorável fraca ao rastreamento com mamografia em mulheres com idades entre 50 e 69 anos; (iii) recomendação contrária fraca ao rastreamento com mamografia em mulheres com idades entre 70 e 74 anos; (iv) recomendação contrária forte ao rastreamento com mamografia em mulheres com 75 anos ou mais; (v) recomendação favorável forte de que o rastreamento nas faixas etárias recomendadas seja bienal, quando comparada às periodicidades menores do que a bienal; (vi) recomendação contrária fraca ao ensino do autoexame das mamas para rastreamento; (vii) ausência de recomendação favorável ou contrária ao rastreamento com exame clínico das mamas; e (viii) recomendação contrária forte ao rastreamento com ressonância nuclear magnética, ultrassonografia, termografia ou tomossíntese, seja isoladamente, seja como complemento à mamografia. As recomendações para o diagnóstico precoce do câncer de mama (mulheres com sinais ou sintomas suspeitos) foram: (i) recomendação favorável fraca à implementação de estratégias de conscientização para o diagnóstico precoce do câncer de mama; (ii) recomendação favorável fraca ao uso de sinais e sintomas selecionados nas presentes diretrizes como critério de referência urgente para serviços de diagnóstico mamário; e (iii) recomendação favorável fraca de que toda a avaliação diagnóstica do câncer de mama, após a identificação de sinais e sintomas suspeitos na atenção primária, seja feita em um mesmo centro de referência.
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MIGOWSKI, Arn et al. Diretrizes para detecção precoce do câncer de mama no Brasil. III – Desafios à implementação. Cadernos de Saúde Pública, [online]. 2018, v. 34, n. 6. Disponível em Scielo
O objetivo do presente artigo é apresentar os principais desafios à implementação das novas recomendações para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil, bem como refletir sobre as barreiras e estratégias para a sua superação. A implementação de diretrizes baseadas em evidências é um desafio em todo o mundo, e estratégias tradicionais baseadas apenas na disseminação de seu texto são comprovadamente insuficientes para gerar mudanças na prática clínica vigente. Um grande desafio à adesão às novas diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil é o atual padrão de uso do rastreamento mamográfico no país, que acaba incluindo muito frequentemente mulheres jovens e intervalo curto entre os exames. Essa prática danosa à saúde da população é reforçada pela lógica da medicina defensiva e pela difusão de informações equivocadas, que superestimam os benefícios do rastreamento e subestimam ou mesmo omitem seus riscos. Além disso, há carência de políticas e ações voltadas para o diagnóstico precoce de casos sintomáticos. Para superar essas barreiras, mudanças relacionadas à regulação da assistência, financiamento e a implantação do processo de decisão compartilhada na atenção primária são essenciais. Auditoria-feedback, detalhamento acadêmico e incorporação de ferramentas de suporte à decisão são algumas das estratégias que podem facilitar o processo de implementação das novas recomendações.