Mais de um ano após a última reunião presencial, representantes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai no Comitê Ad Hoc Para Promover a Expansão da Capacidade Produtiva Regional de Medicamentos, Imunizações e Tecnologias em Saúde (CAHECPR) se encontraram, dia 16/2, na Fiocruz, em busca de ações estratégicas para problemas comuns. O evento não se limitou a discutir as deficiências que ficaram claras durante a pandemia de Covid-19: ele mostrou que uma atuação conjunta poderá fortalecer os países e dar frutos além de suas fronteiras; a necessidade de incorporar a questão de medicamentos, soros e vacinas para doenças negligenciadas às iniciativas do grupo; e a importância da produção em escala.
Criado em 2021, o CAHECPR busca analisar e mapear as capacidades produtivas, de pesquisa e desenvolvimento dos quatro países, além de propor iniciativas para melhorar o acesso a medicamentos, vacinas e tecnologias. A realização da 6ª Conferência Global de Ciência, Tecnologia e Inovação (G-Stic Rio), deu a oportunidade de organizar uma reunião satélite e elaborar “uma rota” de atuação. Representante do Brasil no comitê, o vice-presidente da Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger, destacou o momento favorável para debater o assunto: unindo o aprendizado da pandemia e uma retomada da força do próprio Mercosul.
Modelo sustentável
O evento foi dividido em painéis, seguido por uma reunião dos membros do comitê no fim do dia. Kleber Barros trouxe a perspectiva do Ministério da Saúde brasileiro. Ele enfatizou que existe uma janela de oportunidades, mas que ela transita num campo complexo, que envolve questões regulatórias, necessidade de capacitação de alto nível e desenvolvimento de tecnologias. “Uma estratégia industrial demanda tempo. Precisamos ver os avanços que tivemos e o que podemos melhorar para torná-las efetivas. ” Barros apontou desafios como a dependência da produção estrangeira, identificar os melhores modelos de cooperação, discutir a propriedade intelectual e a redistribuição geográfica das capacidades produtivas. “Precisamos preparar a região para fornecer aos nossos países respostas rápidas e efetivas a pandemias e emergências”, disse. “Um projeto que seja sustentável mesmo em momentos não pandêmicos. ”
Bio-Manguinhos produz 13 vacinas, sendo que somente de Covid-19 foram entregues 210 milhões de doses ao Ministério da Saúde, além de testes e reagentes. A capacidade da Fiocruz deverá aumentar quando estiver pronto o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, no Campus Santa Cruz, com capacidade para produzir 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano.
O Butantan trouxe a experiência em soros, vacinas e educação. O instituto produziu 124 milhões de vacinas em 2022, além de mais de 600 mil frascos de soro. Ele está também desenvolvendo vacinas para dengue e chikungunya, com a expectativa de alcançar o registro em dois anos.
O esforço da região começa a ser notado no exterior. “Fomos procurados na G-Stic para conversar sobre a possibilidade de parceria com a Europa, num possível apoio às nossas iniciativas. É importante mostrar ao mundo que o nosso trabalho é sério”, disse Krieger.
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