Estudo revela do que adoecem e morrem os jovens brasileiros


 

O dossiê Panorama da Situação de Saúde de Jovens Brasileiros de 2016 a 2022: Intersecções entre Juventude, Saúde e Trabalho, elaborado pela Agenda Jovem Fiocruz e pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), mostra que os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos sofrem vários agravos à saúde por situações de violência, condições de trabalho e impactos na saúde mental. O levantamento traz resultados inéditos a partir de bases de dados do Sistema Único de Saúde (SUS). O lançamento ocorreu na segunda-feira (11/12) no canal do You Tube da EPSJV/Fiocruz.

O estudo revela que 30% dos acidentes de trabalho notificados no período ocorreram em jovens, principalmente homens. Também mostra que jovens são os que mais sofrem acidentes de trabalho com material biológico, em especial os trabalhadores da Saúde, que são majoritariamente mulheres.

Os dados de internação no SUS também revelam a grande quantidade de procedimentos de esterilização entre as mulheres jovens. Essa foi a principal causa de internação hospitalar de mulheres com 25 a 29 anos, um total de 152.637 procedimentos entre 2016 e 2022.

As mulheres jovens também aparecem como principais vítimas de violência, especialmente na adolescência. O dossiê mostra que 30% dos casos de violência atingiram jovens e que as faixas etárias mais novas são as mais vitimadas. Adolescentes de 15 a 19 anos têm uma taxa de ocorrência de violências duas vezes maior do que os jovens entre 20 e 29 anos em todas as regiões do Brasil, e 73% das vítimas jovens de violência são mulheres.

Outro achado importante diz respeito à saúde mental das pessoas entre 15 e 29 anos: Transtornos mentais são a primeira causa de internação de homens nessa faixa etária, enquanto as mulheres com emprego estável e carteira assinada são as que mais notificam transtornos mentais relacionados ao trabalho, que resultam em afastamento temporário na metade das vezes.

Para André Sobrinho, coordenador da Agenda Jovem Fiocruz e um dos organizadores do dossiê, as informações evidenciam a importância de entender os jovens como sujeitos detentores de direitos que precisam de atenção das políticas públicas de saúde. “A idade deve ser vista como um marcador social para compreendermos as condições que levam agravos à saúde. A juventude é um período de muitos percursos paralelos até a vida adulta, nos quais as pessoas buscam inserção em diferentes esferas da vida como o trabalho, a sexualidade e mudanças de posição na estrutura familiar. Ao mesmo tempo, a juventude é muito heterogênea, se consideramos as distinções entre adolescentes e jovens, além dos marcadores de gênero, raça e de localização territorial onde a vida acontece”, destaca o coordenador.

O levantamento utilizou bases de dados do SUS: o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Também foram usados dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisadora Bianca Borges, da Escola Politécnica e uma das organizadoras do dossiê, destaca a importância do uso dessa base de dados para revelar situações que precisam receber mais atenção. “O recorte feito neste dossiê mostra o potencial de uso dos sistemas de informação do SUS para trazer informações relevantes para os gestores, profissionais de saúde e, inclusive, grupos sociais organizados. Afinal, informação em saúde é um direito”, afirma Borges.

 

Fonte:

Agência Fiocruz de Notícias