O Dia Mundial da Saúde Baseada em Evidências é uma iniciativa global que aumenta a conscientização sobre a necessidade de melhores evidências para informar a política, a prática e a tomada de decisões de saúde, a fim de melhorar os resultados de saúde globalmente. É uma oportunidade para participar do debate sobre tendências e desafios globais, mas também para celebrar o impacto de indivíduos e organizações em todo o mundo, reconhecendo o trabalho dedicado de pesquisadores, formuladores de políticas e profissionais de saúde na melhoria dos resultados de saúde.
A campanha para 2023 está centrada em ‘Evidências e equidade global em saúde’. A evidência é um pré-requisito para alcançar a equidade global na saúde. Políticas, sistemas e serviços de saúde equitativos dependem de ecossistemas de evidências funcionais: a geração e aplicação de evidências, seja pelo público, profissionais de saúde, pesquisadores ou formuladores de políticas.
No contexto real dos sistemas de saúde, profissionais tomam decisões embasadas em sua experiência e formação, que podem ser cruciais para a evolução clínica do paciente. O processo de decisão clínica implica análise criteriosa e, no limite do possível, imparcial dos resultados de pesquisas científicas. Envolve, pelo menos num plano retórico, o respeito às preferências do paciente. Preferências e escolhas deverão estar devidamente esclarecidas, bem como as circunstâncias em que o paciente é atendido, por meio da verificação do estágio da doença e dos recursos disponíveis no local de atendimento, a fim de garantir-lhe maior probabilidade de benefícios. O profissional de saúde deve, portanto, ser capaz de tomar decisões a respeito da aplicabilidade do conhecimento científico a um paciente individual ou a um dado cenário clínico, para orientar intervenções e buscar resultados eficientes e efetivos.
Na dimensão das práticas, a qualidade da evidência, a ser identificada, avaliada, interpretada e integrada à realidade do paciente, é fundamental na clínica, em particular, a evidência sobre validade de testes diagnósticos, poder preditivo de marcadores prognósticos e efetividade de procedimentos terapêuticos e preventivos. Nesse aspecto, senso crítico, vivência profissional e expertise clínica do médico também são relevantes.
Na dimensão educacional, o enfrentamento dos problemas de saúde que atingem populações, tanto de países ricos como de países pobres, requer a formação de profissionais socialmente responsáveis, politicamente conscientes e aptos a se engajar num processo permanente de formação/educação. Esse processo de educação continuada deve ser eficiente não só do ponto de vista tecnológico, mas no desenvolvimento de competências interpessoais, calcado em valores humanitários e éticos, a fim de responder às múltiplas demandas geradas pela transição do padrão de doenças, pelas mudanças demográficas e pelos problemas resultantes da pobreza e das desigualdades sociais. O tema da consciência social responsável e das competências interpessoais tem sido de fato reconhecido como crucial para a formação de profissionais de saúde no Brasil
No final do século XX, a articulação desses princípios gerou o movimento da medicina baseada em evidências (MBE), em inglês evidence-based medicine (EBM), a partir de inquietações e necessidades vivenciadas na experiência pessoal de profissionais de saúde (principalmente médicos) e de movimentos políticos de organização de sistemas de saúde com cobertura universal, muito em função da demanda generalizada por mudanças na formação profissional. Buscava-se aumentar a eficiência e qualidade dos serviços de saúde prestados à população e diminuir os custos operacionais dos processos de prevenção, tratamento e reabilitação.
Desde seus primórdios, a MBE tem contribuído para ampliar a discussão acerca das relações entre ensino e prática da medicina, assumindo papel de destaque nas reformas curriculares no período pós-guerra, de tal modo que suas influências nos modelos de formação e nas práticas de cuidado em saúde hoje se manifestam de maneira significativa.
A expressão “baseada em evidências” se aplica à utilização de pesquisas na tentativa de ampliar o conhecimento (expertise) médico e diminuir incertezas no processo clínico (diagnóstico/terapêutica/prognóstico), mediante permanente consulta às informações produzidas (e validadas) em pesquisas de epidemiologia clínica.
Esse novo paradigma assistencial e pedagógico avalia a qualidade científica das informações nas áreas da saúde e representa a integração da experiência clínica, os valores do paciente e as evidências disponíveis ao processo decisório relacionado aos cuidados de saúde dos pacientes.
Cabe destacar o papel da PBE [prática baseada em evidências] – expressão expandida utilizada pela literatura para incluir outras áreas da saúde – que exige organizações comprometidas com as melhores práticas e com acesso universal, assim como a MBE. Os profissionais de saúde precisam compreender os princípios da PBE e desenvolver atitude crítica sobre a sua própria prática; devem reforçar aptidões de decisão baseada em evidência e centrada no paciente, para responder de forma mais satisfatória às necessidades da população em cuidados na atenção primária.
Fontes:
Global First Aid Reference Center
Saúde Baseada em Evidências e Recomendações para o SUS (SABERSUS)