“Futuros brilhantes começam sem chumbo” : 20 a 26/10 – Semana Internacional de Prevenção do Envenenamento por Chumbo


 

A 12ª. Semana Internacional de Prevenção do Envenenamento por Chumbo, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrerá em 2024, entre os dias 20 e 26 de outubro.

O tema da campanha deste ano “Futuros brilhantes começam sem chumbo” pretende lembrar aos governos, organizações da sociedade civil, parceiros da saúde, indústria e outros, sobre os riscos inaceitáveis ​​da exposição ao chumbo e a necessidade de ação para proteger a saúde das crianças.

Embora haja amplo reconhecimento dos efeitos nocivos, principalmente na infância, o chumbo continua sendo uma preocupação fundamental para os profissionais de saúde e autoridades de saúde pública em todo o mundo.

Estima-se que o envenenamento por chumbo seja responsável por 21,7 milhões de anos perdidos por incapacidade (anos de vida ajustados por incapacidade) em todo o mundo, devido aos efeitos de longo prazo na saúde, com 30% da carga global de deficiência intelectual idiopática, 4,6% da carga global de doenças cardiovasculares e 3,0% da carga global de doenças renais crônicas.

O chumbo é um metal tóxico que se acumula no organismo e afeta vários sistemas, sendo particularmente prejudicial para crianças pequenas. Não há nível de exposição que seja considerado seguro ou isento de efeitos nocivos. Sua neurotoxicidade, mesmo em níveis relativamente baixos, podem causar danos neurológicos sérios e, em alguns casos, irreversíveis. Seus impactos na saúde ocorrem, principalmente, nos sistemas neurológico, cardiovascular, gastrointestinal, hematológico e renal.

As recentes diminuições no uso do chumbo em gasolina, tinta, encanamentos e soldas resultaram em reduções substanciais nas concentrações médias do metal no sangue, em nível populacional. No entanto, fontes significativas de exposição ainda permanecem, particularmente em países em desenvolvimento.

Mais de três quartos do seu consumo global é para a fabricação de baterias de chumbo-ácido para veículos motorizados. Outros produtos incluem pigmentos, tintas, soldas, vitrais, cristais de chumbo, munições, esmaltes cerâmicos, joias, brinquedos, alguns cosméticos e medicamentos tradicionais usados ​​em países como Índia, México e Vietnã. A água potável, fornecida através de tubos de chumbo ou tubos unidos com solda de chumbo, também pode contaminar.

Dentre as atividades relacionadas à exposição ocupacional, destacam-se a extração, a concentração e o refino de minérios contendo chumbo; a fundição de chumbo; a produção, a reforma e a reciclagem de acumuladores elétricos; a fabricação e a têmpera de aço de chumbo; as fundições de latão e bronze; o reparo de radiadores de carro; o manuseio de sucatas de chumbo; a instrução e a prática de tiro; as soldas à base de chumbo; o uso de rebolos contendo chumbo; a demolição, a queima, o corte ao maçarico de materiais revestidos de tintas contendo chumbo e a demolição de instalações antigas com fornos de chumbo.

A ocorrência da atividade de fundição secundária de chumbo proveniente de baterias usadas foi identificada em vários estados do Brasil. Está associada, de uma forma geral, a condições precárias de trabalho, a intoxicação de trabalhadores e a contaminação ambiental.

Intoxicação por chumbo:

Classicamente, os sintomas iniciais da intoxicação são sutis e inespecíficos. As manifestações clínicas evoluem de forma insidiosa e, muitas vezes, trabalhadores com evidências laboratoriais inequívocas de exposição ao metal, apresentam-se assintomáticos.

Quadros crônicos de maior gravidade podem ocorrer após exposições prolongadas. Intoxicações agudas decorrentes de exposições curtas são raras. Entretanto, quadros agudos podem surgir no curso de intoxicações crônicas e caracterizam-se por encefalopatia aguda e neuropatia periférica grave com paralisia de músculos cuja inervação foi fortemente atingida. É também relatada a cólica abdominal de forte intensidade. Exerce, também, ação tóxica sobre a síntese da hemoglobina, resultando em anemia hipocrômica.

O chumbo produz efeitos deletérios no sistema nervoso central e periférico, gerando alterações neurocomportamentais relacionadas, tais como: alterações de memória, hiperexcitabilidade, depressão, apatia, insônia, dificuldade de concentração, irritabilidade, hostilidade, fadiga, perda da libido, déficits de inteligência, ataxia, alterações na percepção visual e na coordenação visual-motora, alterações psicomotoras e neuromusculares.

O sistema renal é um dos mais sensíveis aos efeitos tóxicos do metal. Os danos variam de uma discreta disfunção, passando por elevações importantes do ácido úrico, podendo chegar a quadros graves de insuficiência renal. No sistema gastrintestinal as alterações mais citadas são: cólicas abdominais inespecíficas de intensidade variável, anorexia, náusea, vômito, constipação intestinal e diarreia.

São ainda descritos: dores em membros, impotência sexual, diminuição do número dos espermatozoides, perda auditiva, gosto metálico na boca, palpitações, vertigens e alucinações. Em mulheres, o chumbo pode causar anormalidades menstruais, abortos e partos prematuros, além de atravessar a barreira placentária e estar presente no leite materno, com potencial para causar danos irreversíveis ao feto e ao recém-nascido.

Prevenção:

A adoção de medidas que precedam a contaminação é apontada como a estratégia mais eficaz.

Recomendações:

– Ter atenção com objetos do cotidiano, como brinquedos, utensílios de cozinha, joias e cosméticos. Dar preferência para aqueles com certificação de qualidade. Afastar as crianças de brinquedos com pintura descascando ou de procedência desconhecida. Lavar sempre suas mãos, especialmente quando brincarem fora de casa, em praças ou parquinhos. Lavar também as mamadeiras, chupetas e brinquedos antes que elas os levem à boca;

– Priorizar refeições de qualidade, ricas em ferro e cálcio: esses nutrientes protegem as crianças do chumbo;

– Limpar regularmente pisos, janelas, portas e outras superfícies utilizando métodos úmidos, como esponjas ou panos molhados, para evitar a dispersão de poeira. Fazer, também, a manutenção da pintura e do encanamento do local onde mora: casas muito antigas podem ter canos metálicos que passam chumbo para a água. Se esse for o caso, não beber nem cozinhar com a primeira água que sai da torneira pela manhã. Se decidir reformar o local, evitar ficar no mesmo ambiente da obra, principalmente no caso de gestantes e crianças.

– Se o adulto da casa trabalhar em produções ou serviços que envolvam tinta, pigmentos, baterias e soldas, não lavar a roupa usada no trabalho junto com a roupa da família. Também não entrar em casa com os sapatos usados no trabalho. É possível carregar contaminantes nos cabelos, sapatos e roupas. Caso o trabalho seja informal, nunca fazer soldagens ou banhos químicos em ambientes fechados, junto com a família. As crianças não devem ter contato com pós de solda, fios de estanho e baterias. Além disso, o trabalhador deve vestir equipamentos de proteção e manter o ambiente muito bem ventilado.

 

Fontes:

CARNEIRO, M. Intoxicação por chumbo afeta uma em cada três crianças no mundo, segundo o Unicef. Jornal da USP, fev. 2022
Conselho Federal de Farmácia. Aspectos toxicológicos do chumbo
GUERRA, D. F.; SILVEIRA, A. M. Epidemia de intoxicação por chumbo em empresa de fundição secundária. Revista Médica de Minas Gerais, v. 20, Supl. 2, 2010
Organização Mundial da Saúde (OMS)