Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas analisaram dados de 2004 a 2018 e fizeram mapeamento das regiões mais afetadas pela doença no País. Estudo oferece subsídios ao Ministério da Saúde para a tomada de decisões.
A pesquisa, publicada na Lancet Regional Health – Americas, analisou a série histórica da doença na região da Floresta Amazônica durante um período de 15 anos, descobrindo as áreas mais afetadas, os grupos de maior risco e informações sobre os tratamentos receitados aos pacientes.
Coordenado pelo professor Claudio Romero Farias Marinho e realizado pela pesquisadora Jamille Gregório Dombrowski, ambos do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental, o trabalho teve o objetivo de cobrir uma lacuna da falta de um conhecimento amplo sobre o problema para viabilizar o planejamento de políticas públicas. “Até então, os estudos que forneciam dados sobre a doença eram pontuais e não apresentavam um panorama do número de casos de uma forma mais ampla; agora podemos transformar esses dados em informações que possam subsidiar o Ministério da Saúde na tomada de decisões”, afirma Marinho.
A malária é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles, com duas espécies prevalentes: a Plasmodium vivax, a mais incidente na região, e a Plasmodium falciparum. Junto das crianças menores de cinco anos, as gestantes são consideradas o principal grupo de risco para a doença, devido às mudanças fisiológicas e à presença do parasita na placenta. Além dos sintomas característicos (febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça) serem mais intensos nelas, a doença aumenta os riscos de anemia materna, partos prematuros, baixo peso da criança no nascimento, abortos espontâneos e até microcefalia.
O estudo mostrou que houve uma redução de cerca de metade dos casos de malária gestacional ao longo do período analisado. Este fato deve-se à ampliação da rede de diagnóstico e tratamento em toda a região. Além disso, a partir de 2006, foram inseridos no tratamento os combinados de artemisinina, um fármaco com ação potente contra a doença. Porém, a tendência de queda sofre o empecilho da descentralização das ações públicas para o combate à malária. Os municípios possuem autonomia para lidar com os casos e podem sofrer perdas com a alternância de equipes vinculadas aos órgãos de saúde a cada nova eleição.
A malária placentária é uma das consequências graves da malária gestacional que acontece em cerca de 20% a 50% dos casos. Como as gestantes geralmente não apresentam sintomas, trata-se de um dos principais desafios para os programas de triagem e tratamento da doença. “A identificação de biomarcadores é fundamental para o diagnóstico precoce dessa complicação, melhorando o cuidado com a gestante e o bebê. A molécula ou as moléculas candidatas devem ser de rápida mensuração, bem como ter um custo razoável para ser acessível e introduzido à rotina de pré-natal”, afirma Dombrowski.
Apesar da redução do número de casos, a doença permanece sendo um grande problema de saúde pública. “Os índices de malária caíram devido a uma série de medidas adotadas para o controle da doença, mas continuam oscilando, ainda que apresentem uma tendência de queda”, pondera Dombrowski.
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