O processo de tomada de decisão e de formulação de políticas em saúde é complexo e influenciado por múltiplos fatores contextuais e atores sociais. Levando em consideração que as políticas são medidas implementadas para resolução de problemas prioritários, quanto mais os tomadores de decisão se apoiarem em evidências confiáveis, maior a probabilidade de sucesso da política.
Entretanto, na prática, frequentemente nos deparamos com o chamado know-do-gap (lacuna entre o saber e o fazer), um distanciamento entre o conhecimento técnico-científico existente sobre um assunto e a sua aplicação prática para a resolução de problemas. Isso pode ocorrer por vários motivos, entres eles:
– Pouca colaboração entre tomadores de decisão e pesquisadores ou produtores de evidências.
– Dificuldade de acesso ou interpretação das evidências, que podem estar disponíveis apenas em linguagem técnica, tornando complexa sua compreensão.
– Escassez de instrumentos para facilitar o uso das evidências de modo sistemático na prática assistencial ou de gestão.
O que são Políticas Informadas por Evidências:
O termo Políticas Informadas por Evidências (PIE) tem sido utilizado para definir um conjunto de mecanismos implementados para estimular e facilitar a incorporação de evidências científicas durante o processo de priorização, formulação, implementação e avaliação de políticas em saúde. Têm o objetivo de incorporar resultados de pesquisas nos debates de políticas e nos processos internos do setor público para qualificar as escolhas em saúde e assegurar que a tomada de decisão seja informada pelas melhores evidências disponíveis.
Passos das Políticas Informadas por Evidências:
Assim como ocorre na Prática Clínica Baseada em Evidências, a implementação das Políticas Informadas por Evidências é estruturada em passos:
Apoio institucional às PIE: É importante que sejam implementadas medidas para estimular as PIE de maneira contínua. Por exemplo, a instituição deve buscar profissionais capacitados para a elaboração de PIE, é necessária a colaboração entre pesquisadores e os tomadores de decisão (ecossistema de evidências), identificação de barreiras em mecanismos para a identificação e uso de evidências e procura de soluções para os problemas detectados.
Identificação e priorização de problemas para serem abordados: Descrever a natureza e a magnitude do problema a ser enfrentado é fundamental para saber qual a necessidade de evidências para enfrentá-lo. Em alguns casos, serão necessárias evidências justamente para a compreensão do problema. Em outros contextos, as evidências serão utilizadas para listar opções de solução dos problemas ou para identificar barreiras para implementação destas opções.
Identificação e avaliação das evidências: Existem vários tipos de evidências, apresentadas em diferentes formatos e nem todas elas são igualmente confiáveis. Assim, é necessário um pensamento crítico associado ao conhecimento técnico para identificar as evidências mais robustas, e avaliar sua aplicabilidade no contexto local. Este processo é realizado, preferencialmente, por meio de um documento chamado Síntese de Evidências para Políticas.
Transferência das evidências para o processo de decisão: A tomada de decisão é o desfecho de todo o processo da análise contextual e da tradução do conhecimento. As evidências devem apoiar conclusões e servir como subsídio para as políticas. Entretanto, para que a política seja o mais efetiva possível na resolução do problema, é necessário que as evidências sejam consideradas juntamente com outros aspectos como o diálogo e a troca de experiência entre atores sociais, e a ponderação sobre vantagens e desvantagens de cada opção analisada. Uma vez implementada, é essencial que haja uma contínua avaliação dos impactos e dos resultados para que o processo possa ser aprimorado.
Conclusão: O uso das melhores evidências disponíveis como subsídio para a elaboração de políticas é importante para a obtenção de bons resultados no enfrentamento de problemas prioritários em saúde. As Políticas Informadas por Evidências contribuem com a transferência e aplicação do conhecimento científico para a prática de modo sistematizado, transparente e equânime.
Conheça a coleção de documentos que contribui para os processos de tomada de decisões políticas fundamentadas pela melhor evidência científica disponível, incluindo processos de tradução do conhecimento e de intercâmbio entre gestores, pesquisadores e representantes da sociedade civil na gestão dos serviços e sistemas de saúde, disponível no Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde.
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