Uma em cada quatro pessoas terá um acidente vascular cerebral (AVC ou derrame) durante a vida. 90% desses derrames poderiam ser evitados através da abordagem de um pequeno número de fatores de risco, que incluem: pressão arterial elevada (hipertensão), batimentos cardíacos irregulares (arritmia cardíaca), tabagismo, dieta e exercício.
A campanha do Dia Mundial do AVC 2023 deseja mobilizar a comunidade global para sensibilizar e impulsionar ações na prevenção do problema. Todos podem se envolver e mostrar que é possível ser maior que o AVC!
A ampla conscientização do público sobre os sintomas do AVC é fundamental para evitar a morte de cerca de 5,5 milhões de pessoas e melhorar os resultados para os 9 milhões de pessoas que sobrevivem ao derrame a cada ano.
Mais de 100 mil brasileiros perdem a vida anualmente devido ao AVC (segunda maior causa de morte), sendo que no primeiro semestre de 2022 houve cerca 56.000 óbitos. Além das mortes, as sequelas que ficam, como perda de memória, de fala, deglutição (mastigar e engolir alimentos), paralisia facial, desequilíbrio, entre outras, são fatores que limitam as pessoas de retomarem suas rotinas, fazendo com que o derrame seja o principal agente de incapacidade no mundo.
Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode ser definido como o surgimento de um déficit neurológico súbito causado por um problema nos vasos sanguíneos do sistema nervoso central. Classicamente o AVC é dividido em 2 subtipos:
– AVC Isquêmico: Ocorre pela obstrução ou redução brusca do fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral causando falta de circulação no seu território vascular.
– AVC Hemorrágico: Causado pela ruptura espontânea (não traumática) de um vaso, com extravasamento de sangue para o interior do cérebro (hemorragia intracerebral), para o sistema ventricular (hemorragia intraventricular) e/ou espaço subaracnóideo (hemorragia subaracnóidea).
Principais fatores de risco para o AVC:
– Idade e sexo: Ainda que um AVC possa surgir em qualquer idade, inclusive entre crianças e recém-nascidos, sua incidência cresce à medida que avança a idade. Quanto mais velha uma pessoa, maior a chance de ela ter um derrame. Pessoas do sexo masculino e de raça negra têm maior tendência ao desenvolvimento de AVC.
– História de doença vascular prévia: Quem já teve um AVC, ou uma “ameaça de derrame”, ou outra doença vascular como o infarto (no coração) e a doença vascular obstrutiva periférica (estreitamento das artérias que alimentam as pernas diminuindo o fluxo de sangue), tem maior probabilidade de ter um AVC.
– Doenças do coração: As doenças do coração, especialmente as que produzem arritmias (batimentos cardíacos desregulados), aumentam o risco de AVC. As arritmias provocam uma corrente sanguínea irregular e facilitam a formação de coágulos sanguíneos dentro do coração, que podem chegar pela circulação nos vasos do cérebro, diminuindo o fluxo sanguíneo e causando um AVC.
Alguns exemplos de doenças do coração que aumentam o risco de AVC: infarto, fibrilação atrial, doença nas válvulas, cardiopatia por Doença de Chagas.
– Tabagismo: Já está amplamente difundido que fumar é prejudicial à saúde. O hábito de fumar é fortemente relacionado com o risco para AVC. Mesmo o uso de pequeno número de cigarros (ou de cachimbo ou de charuto) associa-se ao risco aumentado. As substâncias químicas presentes na fumaça do cigarro passam dos pulmões para a corrente sanguínea e circulam pelo corpo, afetando todas as células e provocando diversas alterações no sistema circulatório. O fumo deve ser evitado sempre! Os benefícios de se parar de fumar são reais e estão presentes desde o dia em que seu uso é interrompido.
– Hipertensão arterial: A pressão elevada lesiona os vasos sanguíneos do cérebro e pode causar um AVC. O tratamento da hipertensão arterial é muito importante, pois reduz tanto o risco de AVC como de ataques do coração! Mesmo que uma pessoa tenha uma pressão só um pouco elevada é preciso consultar um médico para começar o tratamento adequado.
– Diabetes: Um bom controle da diabetes com dieta adequada e medicamentos torna os problemas circulatórios menos comuns. Pessoas com diabetes devem, ainda, cuidar atentamente dos níveis da pressão arterial.
– Sedentarismo: A atividade física confere redução do risco de doença vascular. O sedentarismo leva ao aumento de peso, predispondo à hipertensão, diabetes, níveis inadequados de colesterol no sangue, tidos como fatores de risco para AVC. Começar uma atividade física regular, por exemplo caminhadas três vezes por semana, traz benefícios à saúde.
– Dieta e colesterol: O excesso de gordura no sangue (dislipidemias), especialmente de colesterol, leva à formação de placas nas paredes das artérias, torna-as mais estreitas e reduz o fluxo sanguíneo – o que aumenta a chance de AVC. Mudar a dieta principalmente reduzindo o consumo de gordura animal, reduz este risco.
A obesidade deve ser controlada, principalmente por sua associação com diabetes, sedentarismo, hipertensão arterial e dislipidemias.
– Álcool e drogas: O consumo excessivo de bebidas alcoólicas associa-se a grande aumento na incidência de AVC. Seu uso rotineiro leva à hipertensão e níveis inadequados de colesterol no sangue – fatores de risco já citados. O uso de cocaína ou crack é capaz de gerar lesão arterial e picos hipertensivos, sendo associado ao desenvolvimento de AVC.
– Anticoncepcional: O uso de pílulas anticoncepcionais pode favorecer o surgimento de AVC, principalmente em mulheres fumantes, com hipertensão arterial ou com enxaqueca.
Sinais e sintomas do AVC:
– Alteração do equilíbrio, da coordenação, tontura ou alteração no andar;
– Confusão, alteração da fala ou da compreensão;
– Alteração na visão, dor de cabeça súbita, intensa e sem causa aparente;
– Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo;
– Assimetria facial.
Tratamento:
A partir do início dos sintomas o tempo para tratar o AVC é limitado. Se houver suspeita do derrame, imediatamente deve-se ligar para um serviço médico de emergência (192 – Ambulância SAMU) ou ir para um hospital preparado para atender casos de AVC.
Várias possibilidades de tratamento têm sido eficientes na recuperação após um AVC. A trombólise (tratamento de dissolução do coágulo) é uma importante opção para alguns pacientes e depende criticamente do tempo de espera: o tratamento ser iniciado em até 4h e 30 minutos após o início do AVC, mas quanto mais precocemente for administrado, melhor o seu efeito. Atualmente a trombectomia (tratamento por cateterismo cerebral) pode desobstruir a circulação se efetuado em até 8 horas do início dos sintomas e, em casos especiais, até 24 horas depois.
Prevenção e recomendações:
Identificar os fatores de risco e modificar os que podem ser modificados é o mais importante para prevenir a doença. Controlar com rigor a pressão arterial e o diabetes, deixar de fumar e realizar atividade física representam grandes benefícios. Se a pessoa tem alguma doença cardíaca, deve procurar um médico que irá orientá-la quanto aos tratamentos preventivos adequados para seu caso. Além disso, se ocorrer algum sintoma que possa sugerir AVC, mesmo transitório, é fundamental procurar atendimento imediatamente para, se necessário, controlar a doença e prevenir complicações.
Fontes:
Associação Beneficente Síria – Hospital do Coração
Dr. Dráuzio Varella
Hospital Risoleta Tolentino Neves – Belo Horizonte
Rede Brasil AVC
World Stroke Organization