Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose : 10 a 17/8


 

As leishmanioses englobam um grupo de enfermidades provocadas por mais de 20 espécies de leishmania, um gênero de protozoários. Esses parasitas habitam e multiplicam-se no interior das células do sistema de defesa do corpo humano, conhecidas como macrófagos.

A infecção afeta tanto humanos quanto animais, como os cães. A transmissão somente ocorre por meio da picada de insetos vetores fêmeas infectadas, conhecidos como flebotomíneos ou “mosquito-palha”.

Os principais tipos de leishmaniose são a visceral, também conhecida como calazar, e a leishmaniose tegumentar ou cutânea. Segundo o Ministério da Saúde, a leishmaniose visceral é endêmica em 76 países, e, conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os cinco países que concentram 90% dos casos relatados.

A leishmaniose visceral em seres humanos é considerada pela OMS como uma das principais enfermidades negligenciadas do mundo, principalmente porque afeta, com mais frequência, populações socialmente desfavorecidas, especialmente crianças. Essa doença é grave e pode resultar em óbito se não for tratada de maneira adequada e oportuna.

Devido a esses fatores, a questão configura-se como um desafio significativo para a saúde pública global, sendo também um dos principais problemas de saúde veterinária em cães, com implicações relevantes para a saúde pública no Brasil.

A leishmaniose visceral (LV) afeta órgãos internos, como o fígado, o baço e a medula óssea. Se não for tratada, pode ser fatal. Os sintomas incluem febre intermitente, perda de peso, fraqueza, anemia e aumento do baço e do fígado. É mais comum em regiões tropicais e subtropicais, especialmente em áreas rurais e pobres.

A leishmaniose tegumentar (LT) afeta principalmente a pele e as mucosas. Ela pode causar úlceras na pele e danos às mucosas nas áreas afetadas, como nariz, boca e garganta. A LT não costuma ser fatal, mas pode deixar cicatrizes permanentes e causar graves impactos na qualidade de vida.

Transmissão:

Tanto a leishmaniose visceral quanto a tegumentar não são contagiosas e não são transmitidas de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro, ou ainda de animais para pessoas. Elas podem ser transmitidas de um hospedeiro infectado para um inseto vetor (mosquito-palha), que, por sua vez, pode transmitir a doença para outros hospedeiros, incluindo humanos e animais.

Há uma grande diversidade de hospedeiros, como cães domésticos, cavalos e mamíferos silvestres, como gambá, tamanduá e preguiça. A transmissão somente ocorre por meio da picada do mosquito fêmea infectado.

O crescimento do número de casos de leishmaniose no Brasil tem preocupado especialistas, principalmente pela mudança do padrão de transmissão da doença, que se expande pelos centros urbanos, deixando de ser predominantemente rural. Em relação ao aumento de casos em animais, especialmente em cães, a preocupação é a consequente ampliação da probabilidade de que a doença infecte seres humanos. Essa situação, segundo integrante da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), pode ocorrer devido a diversos fatores, incluindo:

Urbanização: À medida que as áreas urbanas se expandem, os habitats dos vetores da leishmaniose também se ampliam, levando a um aumento na exposição dos animais domésticos.

Migração de reservatórios: Os cães são considerados reservatórios da doença, ou seja, podem abrigar o parasita sem apresentar sintomas. Quando cães infectados se deslocam para novas áreas, podem introduzir a doença em locais onde ela antes não estava presente.

Falta de medidas de controle: A falta de medidas eficazes de prevenção e controle da leishmaniose em animais, como o uso de repelentes, coleiras inseticidas e tratamentos antiparasitários, pode contribuir para o aumento de casos.

Fatores ambientais: Mudanças climáticas e alterações no ambiente podem influenciar a distribuição e a atividade dos insetos vetores, tornando as áreas anteriormente não endêmicas mais propensas à transmissão da doença.

Falta de conscientização: A falta de conscientização por parte dos proprietários de animais sobre os riscos da leishmaniose e as medidas preventivas também pode contribuir para o aumento de casos.

Principais sintomas da LT: Lesões na pele e/ou mucosas, que podem ser únicas, múltiplas, disseminadas ou difusas. Elas apresentam aspecto de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor. As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, boca e garganta. Quando atingem o nariz, podem ocorrer: entupimentos; sangramentos; coriza; crostas; feridas.

Na garganta, os sintomas são:  dor ao engolir; rouquidão; tosse.

Principais sintomas da LV: Febre de longa duração; aumento do fígado e baço; perda de peso; fraqueza; redução da força muscular; anemia.

Tratamento:

O tratamento para as leishmanioses é feito com o uso de medicamentos específicos (ofertados pelo Sistema Único de Saúde – SUS), repouso e uma boa alimentação.

Prevenção:

A situação das leishmanioses pode variar de região para região, sendo necessária uma abordagem multidisciplinar para prevenir a doença, com o envolvimento de autoridades de saúde, profissionais médicos-veterinários, organizações de saúde pública e conscientização individual.

Entre as principais formas de prevenção, estão:

– Usar coleiras repelentes ou inseticidas em cães para reduzir a exposição aos insetos vetores;
– Manter os cães dentro de casa durante os horários de maior atividade dos vetores;
– Manter os quintais livres de matéria orgânica como folhas, fezes de animais, restos de comida, já que é nesse material acumulado que as fêmeas do inseto põem seus ovos;
– Realizar a poda de árvores regularmente, mantendo o ambiente com maior luminosidade;
– Utilizar produtos antiparasitários recomendados por um médico-veterinário para os cães;
– Fomentar a educação e conscientização, informando sobre a leishmaniose e suas medidas de prevenção;
– Controlar a população de cães infectados em áreas endêmicas para reduzir o risco de transmissão;
– Caso o tratamento de cães infectados seja considerado, seguir as orientações de profissionais de saúde veterinária;
– Manter a vigilância fazendo testagem em massa nos cães, ação que vem sendo realizada em algumas regiões do País.

Outras medidas, incluem:

Para a população humana: Adotar medidas de proteção individual, como usar repelentes e evitar a exposição nos horários de atividades do vetor (crepúsculo e noite) em ambientes onde este habitualmente possa ser encontrado.

Para o controle de vetores: Manejo ambiental, por meio da limpeza de quintais e terrenos, para evitar o estabelecimento de criadouros para larvas do vetor.

Educação em Saúde: Devem ser inseridas em todos os serviços que desenvolvam as ações de vigilância e controle da LT, com o envolvimento efetivo das equipes multiprofissionais e multi-institucionais, para um trabalho articulado nas diferentes unidades de prestação de serviços.

 

A Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose foi instituída pela Lei nº 12.604/2012 com o objetivo de incentivar iniciativas educativas e preventivas, fomentar discussões e outros eventos relacionados às políticas públicas de vigilância e controle da leishmaniose, respaldar as atividades de prevenção e combate à doença promovidas pela sociedade civil e disseminar os avanços científicos e técnicos associados à sua prevenção e enfrentamento.

 

Fontes:

Associação Brasileira de Profissionais de Epidemiologia de Campo
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro
Ministério da Saúde: leishmaniose tegumentar
Ministério da Saúde: leishmaniose visceral