O álcool é uma droga lícita, socialmente aceita, de fácil acesso e a mais vendida no mundo.
Do ponto de vista médico, o alcoolismo é uma doença crônica, com aspectos comportamentais e socioeconômicos, caracterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela droga e desenvolve sinais e sintomas de abstinência, quando a mesma é retirada.
Sem desprezar a importância do ambiente no desenvolvimento do alcoolismo, há evidências claras de que alguns fatores genéticos aumentam o risco de contrair a doença, que tende a ocorrer com mais frequência em certas famílias, entre gêmeos idênticos (univitelinos), e mesmo em filhos biológicos de pais alcoólicos adotados por famílias de pessoas que não bebem.
Intoxicação aguda por álcool:
O álcool atravessa a barreira protetora que separa o sangue do tecido cerebral. Poucos minutos depois de um drinque, sua concentração no cérebro já está praticamente igual à da circulação.
Em pessoas que não costumam beber, níveis sanguíneos de 50mg/dl a 150 mg/dl são suficientes para provocar sintomas. Esses, por sua vez, dependem diretamente da velocidade com a qual a droga é consumida, e são mais comuns quando a concentração de álcool está aumentando no sangue do que quando está caindo.
Os sintomas da intoxicação aguda são variados: euforia, perda das inibições sociais, comportamento expansivo (muitas vezes inadequado ao ambiente) e emotividade exagerada. Há quem desenvolva comportamento beligerante ou explosivamente agressivo.
Algumas pessoas não apresentam euforia, ao contrário, tornam-se sonolentas e entorpecidas, mesmo que tenham bebido moderadamente. Segundo as estatísticas, essas quase nunca desenvolvem alcoolismo crônico.
Com o aumento da concentração da droga na corrente sanguínea, a função do cerebelo começa a mostrar sinais de deterioração, provocando desequilíbrio, alteração da capacidade cognitiva, dificuldade crescente para a articulação da palavra, falta de coordenação motora, movimentos vagarosos ou irregulares dos olhos, visão dupla, rubor facial e taquicardia. O pensamento fica desconexo e a percepção da realidade se desorganiza.
Quando a ingestão de álcool não é interrompida surgem: letargia, diminuição da frequência das batidas do coração, queda da pressão arterial, depressão respiratória e vômitos, que podem ser eventualmente aspirados e chegar aos pulmões provocando pneumonia entre outros efeitos colaterais perigosos.
Em não alcoólicos, quando a concentração de álcool no sangue chega à faixa de 300mg/dl a 400 mg/dL ocorre estupor e coma. Acima de 500 mg/dL, depressão respiratória, hipotensão e morte.
Um adulto de 70 kg consegue metabolizar de 5 a 10 gramas de álcool por hora. Como um drinque contém, em média, de 12 a 15 gramas, a droga acumula-se progressivamente no organismo, mesmo em quem bebe apenas um drinque por hora.
O metabolismo no fígado remove de 90% a 98% da droga circulante. O resto é eliminado pelos rins, pulmões e pele.
A maioria dos usuários de álcool não se torna dependente, mas sofre com as consequências do seu uso – acidentes automobilísticos, violência, desemprego, problemas de saúde, como úlceras, cirrose hepática, tuberculose, hepatite, pneumonia, entre outras – que geram um custo considerável para os sistemas de saúde, no que diz respeito ao tratamento e reabilitação.
Uma das características mais importantes do alcoolismo é a negação de sua existência por parte do usuário. Raros são aqueles que reconhecem o uso abusivo de bebidas, passo considerado essencial para livrarem-se da dependência.
Por se tratar de uma dependência química, para a sua superação é necessário um atendimento multidisciplinar, com a participação de médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros especialistas.
Recomendações atuais para tratamento do alcoolismo:
– Desintoxicação: Geralmente realizada por alguns dias sob supervisão médica, permite combater os efeitos agudos da retirada do álcool. Dados os altíssimos índices de recaídas, no entanto, o alcoolismo não é doença a ser tratada exclusivamente no âmbito da medicina convencional;
– Reabilitação: Depois de controlados os sintomas agudos da crise de abstinência, os pacientes devem ser encaminhados para programas de reabilitação, cujo objetivo é ajudá-los a viver sem álcool na circulação sanguínea.
Recuperação do alcoolista no Sistema Único de Saúde (SUS):
O alcoolismo é considerado um problema de saúde pública e deve ser abordado na Atenção Primária à Saúde. O SUS oferece atendimento aos dependentes químicos com acompanhamento adequado sendo fundamental para seu sucesso, a participação dos familiares e amigos próximos.
O cuidado do usuário de álcool envolve o atendimento em seu território pela equipe da Estratégia Saúde da Família em Unidade Básica de Saúde e, em casos de maior gravidade, assim como nos momentos de crise, ele pode acessar os serviços da rede de atenção à saúde: Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad), no nível secundário da assistência ou, em casos extremos, no nível terciário, que dispõe de leitos para internação de dependentes químicos.
Para ajudar as pessoas que estão em processo de desintoxicação existe um grupo de voluntários que se reúnem com o objetivo de auxiliar os seus membros a manter a sobriedade e a abstinência total de ingestão de bebidas alcoólicas – os Alcoólicos Anônimos (AA)® – uma irmandade de homens e mulheres que compartilham entre si suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo.
O Dia do Alcoólico Recuperado é uma data comemorativa instituída na cidade de São Paulo, em 1980, através de decreto municipal e se tornou evento nacional, cujo objetivo é promover a mobilização em favor do controle da doença alcoolismo e em alusão a todos os que conseguem se recuperar da dependência do álcool.
Fontes:
Alcoólicos Anônimos do Brasil
Dr. Dráuzio Varella
Federação Médica Brasileira
Instituto São Pellegrino