27/10 – Dia Nacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Doenças Falciformes


 

Doenças Falciformes (DF) são um grupo de enfermidades causadas pela presença de hemoglobina anormal nos glóbulos vermelhos do sangue. Hemoglobina é a proteína responsável pelo transporte de oxigênio aos tecidos e está presente nos glóbulos vermelhos do sangue (hemácias).

As hemácias são células flexíveis e arredondadas que conseguem transitar por todos os vasos sanguíneos do organismo, levando o oxigênio ligado à hemoglobina.

As DF são hereditárias, portanto, herdadas dos pais e causadas por anomalias no gene da hemoglobina. Como resultado desta alteração genética, uma hemoglobina anormal, chamada hemoglobina S, é produzida em lugar da hemoglobina normal (hemoglobina A), presente nas pessoas adultas que não apresentam a doença.

Quando uma pessoa herda dois genes com esta alteração, (um do pai e outro da mãe), é portador de Anemia Falciforme. Quando herda a alteração de apenas um dos pais é considerada Traço Falciforme (HbAS), e não tem a doença, mas poderá transmitir este gene mutado para seus filhos.

A Hemoglobina S pode, ainda, associar-se a outras anormalidades da hemoglobina, como por exemplo Hemoglobina C, Hemoglobina D, Beta Talassemia, etc., gerando outras condições, todas elas sintomáticas. Todas as condições geradas pela presença da hemoglobina S são conhecidas como Doença Falciforme, e somente a presença de dois genes para HbS é chamada de Anemia Falciforme.

As hemácias de pessoas com Doença Falciforme sofrem alterações que modificam sua forma (adquirem o formato de foice ou meia lua) e as tornam mais rígidas, dificultando sua passagem pelos vasos sanguíneos e comprometendo a circulação sanguínea e a oferta de oxigênio aos tecidos.

Estas alterações ocorrem na presença de desidratação, infecções, estresse físico ou emocional, alterações bruscas de temperatura, etc. e provocam dores ósseas e lesões nos órgãos em consequência da falta de oxigênio. Além disso, as hemácias de forma anômala sofrem destruição (hemólise), causando icterícia (olhos e pele amarelados) e anemia. Ocorre ainda, risco aumentado de infecções.

As DF são diagnosticadas por meio do Teste do Pezinho, que deve ser realizado na primeira semana de vida, bastando levar a criança ao Posto de Saúde mais próximo. Este exame vai diagnosticar a Doença Falciforme e vai identificar os pacientes com Traço Falciforme. Em crianças a partir de 4 meses de idade e nos adultos que não realizaram o Teste, o diagnóstico é feito por outro tipo de exame de sangue, a Eletroforese de Hemoglobina.

Sintomas:

A doença falciforme pode se manifestar de forma diferente em cada indivíduo. Uns têm apenas alguns sintomas leves, outros apresentam um ou mais sinais ou sintomas:

Crise de dor: causada pela obstrução de pequenos vasos sanguíneos pelos glóbulos vermelhos em foice. A dor é mais frequente nos ossos e nas articulações, podendo, porém, atingir qualquer parte do corpo. Essas crises têm duração variável e podem ocorrer várias vezes ao ano. Geralmente são associadas ao tempo frio, infecções, período pré-menstrual, problemas emocionais, gravidez ou desidratação.

Icterícia (cor amarela na pele e olhos): quando os glóbulos vermelhos se rompem, aparece um pigmento amarelo no sangue que se chama bilirrubina, fazendo com que o branco dos olhos fique amarelo.

Síndrome mão-pé: nas crianças pequenas as crises de dor podem ocorrer nos pequenos vasos sanguíneos das mão e pés, causando inchaço, dor e vermelhidão no local.

– Infecções: pessoas com doença falciforme têm maior propensão a infecções e principalmente as crianças podem ter mais pneumonias e meningites. Por isso elas devem receber vacinas especiais para prevenir estas complicações. Ao primeiro sinal de febre é preciso procurar o serviço de saúde para que a infecção seja controlada com mais facilidade.

Úlceras: lesões que ocorrem mais frequentemente próximas aos tornozelos, a partir da adolescência. As úlceras podem levar anos para a cicatrização completa, se não forem bem cuidadas no início do seu aparecimento. Para preveni-las os pacientes devem andar com meias grossas e sapato.

Sequestro do sangue no baço: acúmulo de sangue no baço, que leva ao aumento de volume do órgão e pode provocar choque e morte. Essa crise é uma das principais causas de morte nas crianças com a doença.

Anemia: sinal mais frequente. A causa dessa anemia não é a falta de ferro, mas a destruição rápida de hemácias, que vivem menos tempo quando estão no formato de foice. Em algumas situações, a transfusão de sangue pode ser necessária.

Acidente vascular cerebral: entupimento dos vasos sanguíneos e redução da corrente de sangue no cérebro, causando derrame. Dependendo da área afetada, a criança pode apresentar paralisia de braços, pernas ou rosto, convulsões, coma e dificuldades da fala. Podem ocorrer sequelas neurológicas graves e morte.

Priapismo: entupimento dos vasos sanguíneos e redução da corrente de sangue no pênis, causando ereção prolongada e dolorosa. É mais frequente nos adolescentes ou pré-adolescentes.

Pneumonia: tosse, febre, dor na região dos pulmões, dificuldade respiratória e desânimo.

Crise aplásica: ocorre quando a medula óssea para de produzir hemácias. A aplasia medular transitória acontece principalmente entre crianças de quatro e 10 anos.

Tratamento:

O tratamento do paciente com Doença Falciforme é baseado, principalmente, na prevenção das situações que levam à modificação da forma das hemácias. Manutenção do calendário vacinal em dia, rápido tratamento de infecções, evitar desidratação ou exposição inadequada a temperaturas extremas, evitar atividades físicas muito intensas, etc.

Para tratar as crises de dor já instaladas são utilizadas hidratação e analgésicos, administrados em casa ou na unidade de saúde, dependendo da gravidade. Para as demais complicações, o paciente deve procurar prontamente o serviço de saúde na presença dos sinais e sintomas inicias. Dessa forma, o paciente deve ser bem instruído no sentido do autocuidado, para que conheça a doença, possa evitar as situações de risco e reconhecer os sinais iniciais das complicações mais comuns.

A data comemorativa foi instituída pela Lei nº 12.104/2009  e tem como objetivo incentivar ações de esclarecimento, educação, informação e intensificação do diagnóstico da Doença Falciforme, reunindo estudantes, profissionais de saúde, gestores, pesquisadores, pacientes e familiares para debater o assunto.

Depois da Síndrome de Down, a doença falciforme é a mais prevalente entre os brasileiros, principalmente entre a população negra.

Segundo estimativas do Ministério da Saúde, o Brasil possui cerca de 60 mil pessoas convivendo com a doença, entre adultos e crianças, mas somente metade deste total está cadastrado para acompanhamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

 

Fontes:

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Guia sobre doenças falciformes: manual do paciente
Dr. Dráuzio Varella
Hemocentro da Unicamp
Instituto Gonçalo Muniz. Fiocruz Bahia
Instituto Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil (PENSI)
Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad)